O papel da família

1913 Words
— Mãe? Aconteceu alguma coisa? Vocês estão bem? Me diz... Não enrola. — Ruby sentiu o seu coração apertar. Tudo estava tão calmo nos últimos dias, que ela chegou a pensar ter encontrado a paz de alguma forma. — Mulher, se acalme. Como eu vou falar se tu desatinou a falar? Respira! Liguei para dizer que Vitor estava por aí por perto e decidiu passar no apartamento, vai te levar para almoçar ou algo assim. Liguei para não ter risco de vocês se desencontrarem, antes de você ir para aula. Não tem problema faltar hoje, não é? — Verônica não podia dizer a verdadeira razão para aquele encontro, tinha prometido para Vitor que deixaria ele contar. — Ele vai ficar quanto tempo por aqui? — Ruby perguntou achando estranho o tom da voz de Verônica, parecia mais sério do que o normal. — Ah, mas como? Eu sei que você deve está morrendo de saudade da gente, mas Vitor deve voltar no final do dia. Ele está fazendo de tudo para reorganizar a ilha e também os restaurantes. Os cozinheiros estão trabalhando nos hotéis por enquanto que os restaurantes estão em reforma. Abrimos as portas do restaurante do hotel também. Ulisses achou que seria uma forma de manter todos os funcionários e não perder tanto dinheiro. Por aí tu tira a bagunça que o negócio está. Vai ter que matar a saudade em algumas horas. Depois eu vou também. Quando tudo tiver mais calmo. — Verônica tentou mudar de assunto para Ruby não desconfiar do que realmente havia acontecido. — Entendi. Então o que você está tentando me esconder será meu pai que vai dizer quando chegar aqui? — Ruby soltou fazendo Verônica gargalhar. — Você realmente é a minha filha. Não tem como duvidar disso. É um gênio como a mãe. Filha, agora tenho que ir. Se cuide. Eu te amo muito. — Verônica desligou o celular vendo as grinaldas de flores brancas com faixas de despedidas sendo retiradas de um carro preto. — Só me responde algo. Os meus irmãos estão bem? — Ruby tinha certeza que os pais estavam bem, sobrava apenas os seus irmãos mais novos. Queria descartar a probabilidade. — Matias continua o mesmo adolescente chato que não quer sair do quarto por nada nesse mundo. Jade e Cristal estão sentindo sua falta e adorando não precisar ir para aula. Estão todos seguros. Todas as minhas pedras preciosas estão bem. Não se preocupe. Apenas se cuide, porque eu não posso fazer isso de tão longe, mas confio que a minha filha mais velha saberá agir da melhor forma possível. — Verônica tentou acalmar o coração da Ruby. — Mãe, você me criou para enfrentar tudo. Cuide dos meus tesouros. Eu ficarei bem. Aprendi com a melhor de todas. Eu te amo. — Ruby disse antes de desligar. * CHAMADA OFF * — O que aconteceu? — Lisa perguntou preocupada. Havia recebido uma mensagem da sua mãe perguntando se estava tudo bem. — Ainda não sei, mas deve ser algo tenso, o meu pai que vem até aqui para contar, mas não tem relação cou os meus irmãos ou meus pais. Terei que esperar um pouco. Tenho que te pedir um favor que você vai odiar. — Ruby disse fazendo arregalando os olhos para fingir fofura. — Não. Nem vem. — Lisa já suspeitava o que seria aquele pedido. — Que tipo de médica deixaria um paciente morrer de fome. Ele está bem. Não precisa que faça nada. Apenas deixe a comida na porta e vá embora. Ele já está quase 100%, estou deixando comida lá para ter certeza que aquele dali vai comer, porque a cozinha dele não tinha nada na primeira vez que eu fui lá. — Ruby já havia alguns dias que apenas alimentava MB, para evitar que ele saísse de casa para comprar comida ou encontrar alguém, afinal, ele estava se fingindo de morto. — Eu só vou fazer isso porque eu sei o quanto você se importa. — Lisa disse fazendo careta para Ruby que riu daquele pequeno surto de infantilidade da amiga. — Vai ficar me devendo essa. — Sim, quando você chegar da aula já teremos a resposta do que está acontecendo agora. — Ruby chegou a pensar que poderia ser a separação dos seus pais, mas achou difícil, eles sempre se deram muito bem. — Vai ficar tudo bem. Qualquer coisa me liga. — Lisa disse colocando a marmita de MB na bolsa dela, junto com o seu novo telefone, afinal, Ruby estava usando o seu antigo. — Devo só voltar no final do dia mesmo. Lisa desceu para ir deixar a comida de MB antes de ir para aula. Ruby foi se arrumar. Conhecia o seu pai o suficiente para saber que levaria para um restaurante de procedência duvidosa para comer antes de contar a verdade razão daquela conversa. — Vou acabar enlouqueceu antes dele chegar. — Ruby sussurrou olhando para suas roupas enquanto pensava no que vestir. Vitor chegou algumas horas depois, usando boné e o óculos escuros tentando esconder o seu rosto. Ele talvez fosse menos conhecido que Verônica, mas ainda assim, era famoso o suficiente para ser reconhecido em todo lugar. — Que tal passar um dia cheio de emoções com seu pai? Como nos velhos tempos? — Vitor sugeriu. Assim que as gêmeas nasceram, a atenção de Verônica ficou voltada para os filhos mais novos que precisavam de mais atenção, como Ruby era mais velha, para evitar que tivesse ciúmes dois irmãos mais novos, Vitor saia para passar o dia apenas fazendo tudo que a menina gostava — Comprei até ingressos para o cinema! Naquele momento, um nó surgiu na garganta de Ruby. Havia um segundo motivos para ter aqueles encontros, quando Vitor tinha que contar uma notícia muito r**m, mas tentava amenizar a situação, deixando Ruby ter um dia do jeito que desejava. — Eu aposto que você comprou um filme de desenho animado que nem Matias assiste mais, quem dirá eu. — Ruby brincou, seu pai adotivo sempre tratou ela da mesma forma, independente da sua idade, aos seus olhos, ainda era apenas aquela menininha. — Qualquer coisa que eu comprasse, vocês iriam odiar. Desde que se cresceram um pouquinho, parece que não gostam de mais nada. Vamos! Entre no carro, vamos perder o filme se a gente demorar muito. — Vitor que estava conversando com a filha de dentro do carro, chamou ela para entrar. Ruby queria ir direto ao ponto e perguntar o que realmente estava acontecendo, mas com os anos descobriu que o seu pai não faz isso apenas por ela, mas por ele mesmo também, para ganhar confiança para contar algo que ele não gostaria. — Pensei que iríamos almoçar juntos. Eu estou morrendo de fome. — Era justamente o horário do almoço. Ruby entrou dentro do carro ouvindo o seu estômago roncando. — Claro que vamos comer. Eu reservei um restaurante maravilhoso. Fica afastado do Campus, mas a comida de lá é nostálgica. Quando eu era mais novo, passei por uns momentos difíceis financeiramente, o senhor do lugar que iremos sempre me oferecia comida quando eu passava da escola. Nunca cobrou nenhum sentado. Acho que foi uma das minhas inspirações para querer me dedicar a administrar restaurantes. Um bom prato de comida pode mudar o destino de alguém, era o que ele sempre falava. — Vitor explicou pensativo, havia anos que não passava nem ali perto. Algumas horas depois, chegaram no restaurante, era pequeno, dentro dele cabiam apenas seis mesas e não havia ninguém quando eles entraram. Vitor tocou um sino assim que entrou, fazendo duas pessoas se aproximarem, um senhor bem velho com ajuda de um homem um pouco mais velho do que o Vitor. — Pensei que morreria e não iria encontrar mais você. — O senhor disse com um semblante contente — Quem é essa mocinha acompanhando. — Eu disse que nunca deixaria de te importunar, nem quando eu fosse pai, vim aqui provar isso. Essa é Ruby, mas eu ainda tenho mais três pedras preciosas além dela, há a Cristal e a Jade e o único filho homem, Matias, mas essa aqui me acompanhando hoje é a mais velha deles todos. Tem dezenove anos. Decidiu estudar fora esse ano. O coração do pai quase não aguenta no misto de felicidade e medo. — Vitor contou passando a mão na cabeça de Ruby. — Os pais criam os seus filhos para o mundo, mas, no fundo, gostariam que nunca deixassem o ninho. Tenho certeza que a sua filha vai voar muito, mesmo assim, sempre voltará para visitar aqueles que ela ama, assim como você sempre volta aqui para me importunar. — O senhor tinha um semblante tão feliz que fez Ruby esquecer totalmente a angústia que tomava conta dela. — Espero que seja assim. E esse restaurante é só de enfeite? Não tem mais cardápio? — Vitor perguntou mudando de assunto. — Aqui só servimos baião de dois, porque iríamos precisar de cardápio? Nada mudou por aqui. Quer dizer, só o cozinheiro, que agora é meu neto. Ele decidiu que iria mudar tudo e fazer o nome da família ser conhecido. Os meus filhos não quiseram assumir o restaurante, mas meu neto, ele fez até curso. Quer provar? — O avô estava muito orgulho do seu neto. — Não poderia sair daqui sem experimentar. Tragam dois. — Vitor sorriu relembrando da infância. Não demorou cinco minutos, as porções foram servidas. Ruby não notou nada de diferente no sabor da comida. Era um bom baião de dois, mas não tinha nada de especial, mas estranhamente, ela sentia como se tivesse comido o melhor prato do mundo. Depois de ouvir algumas histórias de Vítor quando era pequeno e todas as suas travessuras, partiram para o cinema. Chegaram atrasados, mas conseguiram entrar, mesmo com o filme já tendo se iniciado. Ruby se surpreendeu ao ver que o cinema estava vazio, Vitor havia alugado toda a sala para eles dois. A maior surpresa foi o filme que passava naquela tela enorme, era preferido de Ruby quando pequena, também o primeiro que ela assistiu junto de Verônica e Vitor, quando finalmente aceitou os dois como a sua família depois de um bom tempo convivendo juntos. No caminho até o apartamento, Vitor fez um apanhado de tudo que aconteceu. Contou cada travessuras que as gêmeas aprontaram para tentar tirar Matias do quarto e até às de Verônica, desligando a internet para tirar ele do quarto, fingindo que haviam cortado. _ Aconteceram muitas coisas em um mês. Eu nem acredito. — Ruby se surpreendeu em quantas coisas perdeu nos últimos dias longe de casa. Estava acostumada a conviver com aquilo, não tinha como não sentir falta. — A vida passa muito rápido, por isso devemos valorizar sempre quem amamos e não se importar com o que os outros falam sobre nós. No fim, só restará ao nosso lado quem sempre esteve. — Vitor disse quando estava estacionando o carro na frente do prédio de Ruby. — Sim. Quer subir? Posso fazer um chocolate quente ou café para você. Lisa sempre mantém a cafeteira repleta de cápsulas. — Ruby sugeriu esquecendo totalmente da razão do seu pai ter ido até lá. — Não vai dar. Já está escurecendo. Eu tenho que voltar, mas antes disso temos que conversar algo importante sobre o seu pai biológico, o meu irmão gêmeo. Você de lembra dele, Ruby? — Vitor não sabia como iniciar aquela conversa tão importante.
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