Apartamento novo, vida nova

2417 Words
Ruby sabia antes mesmo de estacionar o carro, que estava com problemas assim que viu as viaturas da polícia paradas na frente do seu apartamento. Assim que o carro se aproximou, todos voltaram o olhar para o carro. — Verônica com toda certeza deve ter um dedo nisso. Não sei como ela conseguiu, mas... — Ruby pensou alto enquanto estacionava o carro. Ruby só precisou descer do carro, para sentir Verônica a abraçando sem pensar duas vezes. Nos últimos anos, ela cuidou de Ruby como uma mãe, mesmo não tendo qualquer relação de sangue com ela. Mesmo quando outros filhos surgiram, ainda assim, a tratou como os outros, se tinha alguém no mundo que Ruby respeitava e admirava era aquela mulher que chorava abraçada com ela. — O que está acontecendo aqui? — Ruby perguntou baixinho, mesmo sabendo que só podia ser por seu desaparecimento. Podia ver de longe Lisa falando no telefone, parecia agitada, mas não tirava os olhos de mim. — Você desapareceu por mais de 24 horas. Onde você estava Ruby? Tentamos te ligar várias vezes. Rastrear o seu telefone também não funcionou. O localizador do seu carro também não estava funcionando. Lisa me ligou ontem a noite preocupada. — Verônica estava tremendo enquanto digitava uma mensagem para seu marido, tio de Ruby, também o homem que foi responsável legal por ela até que alcançar a maioridade, mas estava surpresa por seu tio não está ali também. — Eu estou bem, Verônica. Tive um problema com a bateria do carro. Fiquei no prego na estrada. O meu celular estava descarregado, tinha esquecido de carregar. E eu não sei qual foi o problema do localizador. Fazia tempo que eu não testava se estava funcionando, m*l sabia com aquela carro. Podemos liberar os policiais? Não acho que vai cair bem para o nosso primeiro dia aqui. A vizinha já deve está achando que somos problemáticas. — Ruby notou que havia muita gente olhando e ela queria evitar responder às perguntas dos policiais, afinal, ela sentia que precisava organizar os seus pensamentos para tentar lidar da melhor forma com o que aconteceu. — Você está certa. Vou falar com os policiais. Entre e descanse, irei resolver tudo aqui e subo para você me explicar bem direitinho o que está tentando esconder de mim. Acha o que? Que me engana. Acorda, Ruby, fui uma adolescente muito mais apocalíptica do que você jamais será , graças a deus. — Verônica disse antes de ir em direção dos polícias. Verônica tinha razões que Ruby desconhecia para também preferir que a polícia não fosse envolvida. Haviam segredos sobre o seu passado e a sua família enterrados que não podiam ser revelados jamais para segurança de Ruby. E Verônica faria tudo para continuar daquele jeito. — Quer ajuda para levar as coisas lá para cima? — Lisa, colega de quarto e amiga de Ruby, perguntou olhando para as malas e caixas que estavam no carro. — Você não deveria perguntar primeiro se eu estava bem? — Ruby brincou com a Lisa que já tinha uma caixa nas suas mãos. — Se chegou aqui viva e intacta, significa que o outro lado fico muito pior que você. A regra é clara. O importante é voltar para casa. Depois você me conta o que aprontou. Tenho certeza que foi divertido. Com você sempre é uma aventura nova. — Lisa piscou o olho antes de começar a andar em direção a porta do apartamento. Subindo alguns lances de escada. Ruby pode sentir meu corpo pesado por todo o estresse e as horas na estrada dirigindo. A soma de tudo isso parece ter sido demais para seu corpo, que desejava a cama com todas as forças. Com muita dificuldade, finalmente elas chegaram em frente ao apartamento. Ruby entrou no apartamento que já estava arrumado. Lisa havia adquirido esse hábito da sua madrasta Natália, sempre deixando tudo organizado e limpo. Se fosse por Ruby, passaríamos alguns meses com tudo encaixotado. — Tu arrumou tudo isso sozinha? — Ruby notou que até os móveis já estavam montados. Surpreendendo ela bastante, que esperava passar o resto do dia montando ao menos o essencial. — Óbvio que não. Os meus pais mandaram uma equipe de mudança. Eu fiquei apenas explicando onde eu queria tudo. — Lisa sorriu aliviada. Não sabia nem por onde começar a organizar uma casa do zero. Era sua primeira vez morando sozinha. Fazia muito tempo que morava no exterior com os seus pais. — Por que temos tantos livros? — Ruby perguntou vendo que a parede do corredor havia se tornado uma parede de livros. Ela gostou da decoração, mas não sabia de onde havia surgido tantos livros. — Tu roubou todos os livros da sua casa? Não que eu esteja reclamando, fica bonito e passa uma vibe que a gente realmente veio para faculdade para estudar. — Quê? Não. Só trouxe os que ficavam no meu quarto. Deixei eles do lado de fora, porque achei melhor colocar na estante do meu quarto apenas os livros da faculdade, para não perder o foco. E eu vim para estudar, o que mais se faz em uma faculdade? — Lisa era bem estudiosa, ela havia passado em primeiro lugar no curso de medicina daquela universidade em sua primeira tentativa — Pedi para colocarem uma no seu quarto também. Não achei os seus livros na mudança, por isso está vazio. Eles estão nessa caixa? — Lisa, minha querida prima postiça, eu nunca sequer li um livro na minha vida. Não que eu me lembre. — Ruby brincou, mas realmente não era uma viciada em livros ou estudo, sempre foi uma aluna mediana, que só se preocupava em passar de ano e nada mais. — Aliás, já conheceu os vizinhos? Me disseram que aqui nesse prédio e no ao lado são apenas universitários. Aqui só de meninas e do lado, só meninos. Algo como uma república. Parece bem legal, não é? — Não é estranho que a nossa varanda seja praticamente colada na do vizinho do outro prédio? Eles podem pular aqui para dentro. — Lisa estava incomodada com isso desde que escolheram aquele prédio, mas era o mais perto da faculdade com duas vagas que conseguiram encontrar. — Depende. Se ele for gato. Acho completamente necessário, mas se não... — Ruby olhou com um sorriso sádico para Lisa. — Nem começa. A última vez que você sorriu assim para mim foi na nossa viagem para o México. Eu acordei na cadeia. Meu pai cortou minha mesada por semanas. — Lisa era o oposto de Ruby, mas sempre topava as suas loucuras. Quando eram mais novas, as duas se conheceram por acaso, um pouco antes do casamento de Verônica, tinha biológica de Lisa com Vitor, tio biológico de Ruby. A amizade entre as duas renderam sempre boas histórias, com o passar dos tempos, ambas mudaram bastante e mesmo sendo diferentes, ainda continuavam boas amigas. — Fico feliz que já esteja se sentindo em casa senhora Ruby, agora pode começar a falar. Onde você estava nas últimas 24 horas? — Verônica bateu na mesa irritada ao notar que Ruby estava completamente relaxada após ter deixado todos preocupados por horas sem notícias dela. Ruby e Lisa se assustaram com a batida na mesa. Se havia algo em comum entre elas, era Verônica. Que tinha uma personalidade não apenas explosiva, mas completamente imprevisível. Mesmo depois de anos morando com ela, Ruby nunca sabia exatamente com ela iria reagir se a verdade fosse dita. — Eu estou esperando uma resposta, Ruby. — Verônica cruzou os braços com os olhos focados na sua filha. Ruby estava pensando qual seria a melhor opção naquele momento. Contar a verdade sobre o sequestro, correr o risco de ser arrastada para ilha ou mentir e acabar afetando a relação delas duas. Não era o ideal, mas Ruby não queria arriscar ter que voltar para casa. Conseguir aquela oportunidade de morar fora da ilha podia não acontecer uma segunda vez. Ruby optou pela decisão mais segura. Deixar Verônica com raiva futuramente se descobrir a mentira. — Você não pode ficar com raiva, tá? — Ruby disse mesmo sabendo que Verônica iria querer esganar ela de tanta raiva. — Tarde demais. Já estou arrependida de ter te apoiado nessa ideia de estudar longe da gente. No primeiro dia, você já conseguiu a façanha de me tirar de uma reunião importante, fazer Vitor voltar às pressas de onde estava e ainda mobilizar a polícia. Talvez você ainda não esteja preparada para viver sozinha. — Verônica respondeu com um tom sério. O que era raro. Ela não era do tipo que pegava no pé, mas sempre exigiu sinceridade e confiança em troca. — Sabe como é... — Ruby tinha dificuldade de mentir para Verônica, ela sempre era pega no pulo. Precisa ser uma boa mentira para que ela acredite. E Ruby, não tinha tudo tempo suficiente para pensar em uma desculpa plausível. — Não sei, estou esperando que me conte como é, para que eu saiba. Se continuar enrolado, acho que terei que te levar comigo agora mesmo para ilha e deixar que o seu pai resolva como achar mais apropriado o seu castigo. Dessa vez, não irei me meter. Sempre te disse que escolhas têm consequências e você precisa lidar com elas, sendo boas ou ruins. — Verônica olhava com bastante preocupação para Ruby. Havia apenas raiva no seu tom de voz, mas seu semblante demonstrava algo totalmente diferente. As últimas horas quase levaram ela ao infarto. Verônica foi quem mais havia apoiado Ruby na mudança, acreditando que seria bom ela ter sua independência depois de anos morando em uma ilha cercada por segurança. Vitor, seu pai de criação, achou que ainda era muito cedo e não havia necessidade de estudar tão longe. Ele sempre foi bastante cuidadoso quando se tratava da sua segurança. Mentir para Verônica agora era um pouco doloroso, depois do voto de confiança que ela havia dado ao apoiar Ruby. E isso fez ela repensar se era a escolha certa mentir naquele momento. — Ruby, não enrola. Tia, vou contar a verdade antes que essa daí se enrole toda. Como estava se mudando, decidiu passar para se despedir daquele ex-namorado safado dela. Acabou que a despedida esquentou mais do que o esperado e ela perdeu a noção da hora e adormeceu, quando acordou veio direto para cá. Olha a cara de cansada dela! — Lisa se aproximou de Ruby batendo de leve nas suas costas — Melhor contar a verdade para tia, ela vai entender. O amor deixa a gente i****a. Sabe como é... — Como diabos eu vou entender uma irresponsabilidade dessa? Vocês duas que não entenderam ainda. Estão aqui porque acreditamos que podem ser independentes, mas isso não quer dizer que possam fazer o que der na telha e deixar todo mundo preocupado. Se querem confiança, tem que dar razões para isso. Não estamos pedindo que nos avisem de cada passo de vocês, mas desaparecer sem avisar a ninguém e nem atender o telefone é inaceitável. Se forem fazer alguma merda que vamos desaprovar, ao menos falem uma para outra, o mundo é muito perigoso e as duas não são crianças, sabem disso. E eu odeio dar sermões. Me sinto a própria Natália, mas essa é a verdade. — Verônica fez careta. Ela realmente não era do tipo que dava sermão, mas que deixava aprender com o próprios erro, exceto quando algo passava dos limites e colocava a segurança em jogo. — Falando nisso, minha mãe até gravou alguns sermões para mim. Com o título dependendo do erro que eu cometi. Ela é de outro nível. — Lisa brincou ao ouvir Verônica falar de sua mãe. — Espero não ter que dar outro sermão. Deixo isso para meu irmão e cunhada. Foi o primeiro Striker, combinamos que no terceiro as duas voltam para casa sem desculpas. — Verônica pegou a bolsa, mas logo voltou me entregando um envelope. — Ruby, isso chegou para você. Seu pai pediu para te entregar. Não sabemos do que se trata, não abrimos. E o remetente... Você vai descobrir... — Desculpa, mãe. — Ruby disse olhando para o chão. Ela se sentia um pouco estranha em chamar Verônica de mãe. A referência de mãe que lembrava, não era das melhores. — Sempre estarei do seu lado. Até para fingir que estou acreditando em uma mentira. Eu confio em você. Espero que esteja tomando a decisão certa e se não estiver, sabe que pode sempre contar comigo. Eu amo você. Amo as duas. Então por favor, não se metam em problemas. Se sentirem que precisam de ajuda, liguem para mim. Não tenho medo. Só não se coloquem em risco. É a única coisa que peço para as duas. — Verônica abraçou as duas garotas, além de ter deixado claro que não caiu no papo de ex-namorado, mas ela sabia que não havia uma forma de descobrir a verdade naquele momento, achou melhor investigar. — Ah! Não esqueçam de ligar para o Muriel, Natália pediu pra ele ficar cuidar de vocês duas. Fiquei até com pena dele. Sinto que ele vai se arrepender de ter concordado com isso. Verônica era diferente dos outros adultos. Ela não batia a boca ou exigia nada. Se desconfiasse de uma mentira, ela iria atrás até descobrir tudo que estava acontecendo e colocava o mentiroso na parede. Ruby sabia disso, mas esperava que desse tempo de resolver tudo que havia acontecido na polícia e ela mesmo contar toda a verdade depois de tudo resolvido. Ruby suspirou fundo, olhando pela janela Verônica entrando no carro apressada. Não havia mais a multidão do lado de fora, tinham desaparecido junto com os polícias, mas mesmo que estivesse aliviada de não ter que voltar para a ilha ainda, ainda assim, sentia seu coração apertado. Está por conta própria não era tão divertido como ela havia imaginado. — O que realmente aconteceu, Bibi? — Lisa perguntou olhando sua amiga pensativa na janela. — Bebi um pouco com um cara desconhecido no bar, passamos a noite juntos, mas não foi nada de mais. Que tal a gente ir conhecer esse, tal de Muriel? Esse não é aquele garoto nerd que você é apaixonada desde nova e ele nunca nota? Estou curiosa para saber como ele é. Se merece mesmo toda essa devoção da sua parte. — Ruby não apenas mentiu, como também, mudou de assunto. Falar de Muriel deixava Lisa completamente extasiada.— Que tal chamar o seu crush para beber hoje a noite?
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