— Fernanda
Acordei parecendo a Liza Minnelli de ressaca, tomei um banho e coloquei uma camisola de seda, vesti um robe por cima e fui até a cozinha, tomei um remédio pra dor de cabeça e almocei junto com o casal feliz e a Júlia, eles foram dormir e eu sentei na sala pra ver desenho com a pequena, mas na verdade eu tava vendo os comentários na minha foto no f*******:.
Quando menos espero meu celular toca e é o Lucas.
— O que foi?
— Temos problemas.
Solto um suspiro.
— Manda o endereço pelo w******p.
Me levanto e vou trocar de roupa, pego as chaves do carro e passo na cozinha.
— Lúcia fica de olho na Julinha enquanto a Sofia não acorda.
— Sim senhorita.
Dou um sorriso e saio de casa, entro no carro e olho o endereço, coloco no GPS e desço o morro a oitenta por hora. Em poucos minutos chego em frente a um bar, desço do carro e o Lucas vem ao meu encontro.
— Não consigo tirar ele daqui.
Entro e vejo o Miguel deitado sobre a mesa com um copo de cerveja pela metade a sua frente, um copo de whisky vazio e a garrafa pela metade. Solto um suspiro e vou até a bancada, p**o a conta e volto para mesa, Lucas está tentando fazer ele se levantar.
— Não! — Ele grita meio embolado.
— Vem Miguel, vamos embora.
— Fernanda? — Ela me olha um pouco torto.
Depois de muito custo conseguimos arrasta-lo até o banco de trás do meu carro.
— Não podemos levar ele pra casa desse jeito — Lucas diz.
— Vamos pra sua então.
Miguel não se mantém em pé dentro do elevador, arrastamos ele até o banheiro, eu ligo ele e a água fria caí, tiro a roupa do Miguel com muito custo o deixando só de cueca, Lucas aparece com toalhas e eu o enfio em baixo da água, ele grita e reclama igual uma criança, fecho o box e deixo ele em baixo da água. Meu celular toca e é Joice.
— O que você quer?
— Temos um problema com uma garota da escola.
— E eu com isso?
— Não podemos fazer nada sem suas ordens e...
— Façam o que quiserem, eu tenho mais o que fazer.
Desligo na cara dela e bufo, então pego a toalha, abro o box, desligo o chuveiro e tiro o Miguel de lá, ajudo ele a se secar e coloco a toalha em volta de sua cintura. Lucas aparece com um suco bem doce e comprimidos, forço Miguel a engolir e ajudo ele a trocar de roupa. Então Lucas carrega ele até seu quarto e ele caí na cama, dormindo em seguida. Suspiro aliviada e sento na cadeira do computador.
— O que houve com ele?
— Deve ser algum problema com o avô, isso acontece sempre.
Passo a mão pelo rosto, decidindo o que fazer em seguida.
— Vou embora, qualquer coisa você me avisa.
— Tá bom, obrigado Fernanda.
Pego minhas coisas e caminho em direção a porta.
— E, eu gosto mais desse seu lado — ele completa. Se refere a minha mudança drástica de personalidade, penso um pouco.
— Não quero agradar ninguém, principalmente as pessoas que tanto me humilharam, chamando-me de mendiga. As únicas pessoas que realmente merecem minha ajuda são a Sofia e o Miguel.
— Mesmo assim obrigado.
Dou um sorriso e vou embora.
Chego em casa e estão todos morrendo de aflição, Sofia corre pra mim e segura meus baços, ela está chorando, meu Deus o que aconteceu?
— Você viu a Julinha?
— Não, pedi pra Lúcia cuidar dela que eu ia sair.
— Eu olhei pra ela e fui até a cozinha, ela estava vendo desenho, quando voltei ela não estava mais lá.
Passo as mãos pela cabeça.
— Meu Deus, alguém entrou aqui.
— Mas quem ousaria invadir minha casa e s********r ela? — Pierre diz.
— Eu disse que vi um vulto — Sofia murmura.
— O que? — Pergunto.
— Isso não vem ao caso.
O Pierre passa um rádio pra todo o pessoal do morro e em minutos todo mundo está aqui, nem me importo do Menor estar no mesmo lugar que eu, temos um problema bem maior.
— Será que foi o Pixote? — Galinha pergunta.
— Alguém teria visto ele pelo morro — Pierre responde.
— E se for... — Sofia começa.
— E se for quem Sofia?
— A Raíssa. Você disse que ela fugiu da clínica.
— Por que ela sequestraria a Julinha? —Pergunto.
— Pra me atingir — Pierre murmura.
— Sofia
Em cinco minutos nossa sala estava recheada de homens armados, o Pierre passou o comando pra eles procurarem no morro inteiro e fora dele se fosse preciso, nada iria acontecer com a Julinha, Deus a proteja.
Todo mundo saiu, Fernanda e eu ficamos andando de um lado pro outro roendo as unhas, ela não parava de falar enquanto eu não falava nada.
— Meu Deus fala alguma coisa, tá me deixando nervosa!
— Tem umas mil coisas se passando na minha cabeça.
— Toma um copo de água.
Balancei a cabeça negativamete. Em uma hora o Galinha entrou com a Júlia no colo e atrás o Mineira carregando o Pierre que estava com o braço sangrando, a Fernanda limpou a mesa e ele o deitou ali, busquei os primeiros socorros correndo.
— O que aconteceu?
— O Juninho tava acobertando a Raíssa.
Respirei fundo e fui retirar a bala e limpar o ferimento, o Pierre gritou de dor. Fiz um curativo e a Fernanda desceu com a Julinha, tinha dado banho nela. Abracei ela com força e respirei aliviada. p**a que pariu.
— Você tá bem? Te machucaram?
Ela balançou a cabeça negativamente.
— Tia, quero sorvete.
— Tá bom, vamos na sorveteria.
— Eu acompanho vocês — Galinha disse.
— Galinha
Subi na moto e fiquei rodando pelo morro, passei um rádio pro Juninho que era o único que não estava com a gente procurando, ele nem atendeu, fiquei desconfiado e fui até sua casa. Quando cheguei me espreitei até a janela e vi a Julinha e a Raíssa, ele e a morena discutiam, passei um rádio pro pessoal que em um segundo chegou aqui, o Menor entrou por trás pra pegar a Julinha e o Coringa derrubou a porta.
Entramos e o Juninho sacou a arma e mirou no Coringa.
— Por que? Éramos parceiros — Coringa disse.
— Falou certo, éramos. Te ensinei tudo, te coloquei pra dentro, era pra eu estar no comando e não você.
Tinha muito remorso em sua voz, ele atirou e acertou o braço do Coringa, que deixou a arma cair. O Mineira atravessou uma bala na cabeça do Juninho e o Menor saiu por trás com a Julinha, eu peguei a Raíssa e arrastei ela para fora com ela se debatendo. Mineira ajudou Pierre a se levantar.
— O que eu faço com ela? — Perguntei.
— Manicomio. Clínica de reabilitação nenhuma vai cuidar dessa maluca, deixem ela na solitária — Coringa murmurou com uma expressão de dor.
Passei a Raíssa pro Menor levar e fui com a Julinha na moto pra casa. Assim que chegamos a Sofia já foi cuidando do braço do Coringa e a Fernanda subiu com a Julinha.
No dia seguinte — Sofia
Passei pelo quarto da minha mãe e ouvi ela falando com alguém, achei estranho e desci, tomei meu café e sentei na sala com a Julinha, ficamos vendo desenho até minha mãe descer toda arrumada. Me levantei.
— Onde a senhora vai?
— É, vou ali — ela se embolou um pouco.
Saí de casa e ela veio atrás, cruzei os braços e encarei ela.
— Você vai encontrar o papai não é?
Ela suspirou.
— Vou, ele está no Rio e quer me ver.
— Ele só nos trouxe desgraça mãe, a senhora não vê isso?
— Mas eu o amo querida.
— Se ele nos amasse, não teria fugido.
— Eu sei — ela baixou o olhar.
Levantei sua cabeça pelo queixo, sorri e a abracei.
— Eu vou com você.
— Não sei se é uma boa ideia.
— É sim, espera um minuto.
Entrei e fui até meu quarto, troquei de roupa e escovei os dentes, então saí. Minha mãe e eu descemos até a pista e pegamos um táxi, ele foi até um hotel no bairro mais pobre da cidade, seguimos até o segundo andar de escadas e batemos no 101.
Ele abriu e minha mãe pulou em seus braços, revirei os olhos e passei por eles entrando no apartamento, dei uma olhada em volta. Era pequeno e cheirava a mofo.
— Filha — ele disse animado, fazendo eu me virar para encara-lo.
Ele me abraçou e eu acabei retribuindo.
— Como vocês estão.
— Bem — minha mãe disse.
— Não graças a você — completei.
— Eu sei, me desculpem. Mas isso vai mudar. Podemos todos ir pra Dubai, o que acham?
— Eu não vou me mudar e largar as pessoas que eu amo como você.
— Vai ser melhor pra família.
— Melhor pra família seria você deixar essa ganância de lado.
— Filha eu não seria um bom pai atrás das grades.
— Seria um pai honesto!
— Não vamos brigar agora — minha mãe murmurou.
— Pai, sua esposa é a melhor advogada desse Rio. Tínhamos tudo, você está sem um tustão, olha esse hotel.
Ele suspirou.
— Se você quiser continuar sendo meu pai, vai ligar pra polícia e se entregar. Caso o contrário é melhor esquecer que eu existo.
— Sofia...
— Você escolhe!
Ele respirou fundo e pegou o telefone.
— Não! — Minha mãe gritou.
Puxei ela e a abracei, então ela começou a chorar.
Mais tarde — RJTV
"Nessa manhã o advogado Ricardo Cicolín se entregou as autoridades e foi preso, ele vai a julgamento na próxima sexta feira e..."
— A gente fez o melhor mãe — murmurei.
— Sim — ela sorriu.
Olhamos em volta nossa casa, já tinham liberado nossas contas e agora só faltava ligarem a luz do apartamento, abracei ela com força e fomos embora pro morro.
— EU ACABEI DE VER O NOTICIÁRIO, O QUE ACONTECEU? — Fernanda estava toda afobada.
— Pois é — dei um sorriso — é isso aí.
— Meu Deus! — Ela me abraçou.
— Vamos comemorar então — o Pierre disse entrando com dois fardos de skol beats.
— Opa — eu disse animada e fui até ele, que se abaixou e selou nossos lábios.
Fomos todos pra cozinha, fiz um suco pra Julinha enquanto o resto de nós bebíamos beats. A Lúcia fez uma lasanha maravilhosa.
— Tenho uma ótima notícia, achei alguém pra ficar no cargo do Talibã — Pierre disse.
— Quem? — Fernanda sorriu.
— O Galinha.
Bati palmas animada.
— Ele merece.
— Pierre
Eu tive que ir trabalhar então pedi ao Galinha que levasse a Sofia e a mãe pra casa, a Júlia iria junto sim já que a Sofia havia adotado ela e eu confesso que sentiria falta das duas. Fiquei resolvendo a rota de um assalto junto com o Mineira quando o Menor apareceu e deu a ideia de fazermos um baile no sábado. Meu celular vibrou.
Sofia: Cheguei bem, obrigada por ter nos acolhido e pelos momentos que passamos juntos.
Coringa: Fico mais tranquilo, valeu por avisar e nem precisa agradecer, foi um prazer tê-las comigo.
Sofia: *Carinha sorrindo*
Sofia: Quero que venha me visitar logo.
Coringa: Já está com saudades?
Sofia: Hahaha, convencido.
Coringa: Você gosta.
Sofia: Mais ou menos.
Ri e dei algumas ideias pro baile, o Menor saiu pra resolver tudo enquanto eu e o Mineira terminamos de ajeitar a rota e selecionamos os caras pro corre. Passei a noite na boca e tomei café na padaria.
A tarde fui em casa, encostei na cama e apaguei, só fui acordar quando eram seis da tarde, tomei um banho, me vesti e me perfumei e quando desci tinha um pacote em cima da mesa.
— Pra quem é isso?
— Pra você — Fernanda respondeu trocando de canal.
Peguei o pacote e li o cartão.
"Pro mais chato, beijos, Sofia."
Quando abri tinha um porta retrato que eu tinha certeza ser de ouro com uma foto do Talibã, dei um grande sorriso, já estava me esquecendo do rosto do meu amigo. Levei o porta retrato pro meu quarto e coloquei na cabeceira da cama.
— Sofia
Depois da aula fui ao shopping e levei a Julinha pra escolher os móveis do seu quarto enquanto o homem que contratamos pintava-o de rosa claro. Ela escolheu mais brinquedos e doces para comer enquanto eu comprava móveis e roupas, aproveitei e comprei um porta retratos, revelei uma foto do Talibã e mandei pro Pierre.
Quando cheguei em casa estava super cansada, as coisas da Julinha chegariam no dia seguinte, tomei um banho, banhei ela e fomos até a cozinha, a Rosa tinha voltado, eu já estava morrendo de saudades.
— Senhorita Sofia!
— Rosa!
Nos abraçamos e eu apresentei a Julinha pra ela, comemos um bolo que a Rosa havia feito e minha mãe chegou toda contente, vestia seu uniforme de serviço, terno preto e salto fino. Ela se sentou e comeu uma fatia também, depois fui pra sala e coloquei um desenho pra Júlia.
Pierre: Obrigado, adorei o presente.
Sorri ao ler a mensagem.
Sofia: Por nada.
Pierre: Como posso te recompensar?
Sofia: Relaxa, não foi nada.
Pierre: Aquele porta retrato não foi menos de três mil Sofia.
Coloquei uma carinha dando risada.
Sofia: É, não foi barato.
Pierre: Vou te surpreender então.
Sofia: Você sempre me surpreende.
Pierre: Não venha com nada muito curto no sábado.
Sofia: O que tem sábado? Ciúmes?
Pierre: Baile. Claro.
Dei risada.
Sofia: Ótimo, então nada de piranhas no camarote.
Pierre: Você que manda mon amour.
Na manhã seguinte Julinha foi para o balé enquanto eu fui para aula e minha mãe visitar meu pai. Finalmente eu iria dirigir, saudade do meu carro, do vento no rosto, de dançar nos sinais vermelhos... Quando cheguei na escola fui até meu armário, onde encontrei Fernanda e Miguel discutindo, aliás, como sempre. Peguei meu material e nem me manifestei, fui direto para aula de literatura. Cheguei, me sentei em meu lugar e aos poucos o pessoal foi entrando, o sinal bateu e o professor se levantou da sua mesa, escreveu algo na lousa e se virou para nós.
— Galera — pois é, ele queria ser "descolado" — tenho uma bomba pra vocês.
Revirei os olhos enquanto algumas pessoas perguntavam o que era.
— Na semana que vem vocês vão ganhar uma excursão a chalés.
Muitas pessoas comemoraram enquanto eu me imaginei dormindo o dia todo. Fernanda, que se sentou atrás de mim me cutucou.
— Valeu por me defender do seu amigo ogro.
— Você sabe cuidar dele muito bem — respondi dando uma risadinha.
— E os que tirarem as melhores notas na minha prova de quinta poderão levar um acompanhante.
A sala gritou e o professor fez uns gestos de, sei lá, ele é maluco. Então depois da notícia ele começou a passar matéria enquanto eu copiava com meus fones berrando Going to hell nos ouvidos.
O sinal bateu, juntei minhas coisas e saí, Fernanda estava animada, então suas três servas fiéis apareceram na porta da sala e elas saíram falando de sei lá o que. Fui até meu armário e peguei o material da próxima aula após guardar esse.
— Acha que a Larissa iria comigo? — Me virei e Lucas me encarava.
— Você precisa tirar notas boas primeiro.
— É... mas se eu tirar, será que ela vai?
— Acho que sim. Você deveria saber disso melhor do que eu.
— Sonda ela pra mim?
— Hmmm, tudo bem. Mas vai pagar meu almoço.
Ele passou o braço por cima do meu ombro rindo e caminhou comigo até a próxima aula.