Cezar
Fui na loja feminina da rua na esquina, reparando a molecada brincando de pipa, mesmo sendo a noite. Pois aqui eles estavam seguros, sou restrito quando o assunto são as crianças do nosso país, não é a toa que a ong O morro na pele, tem uma ação social bastante significativa aqui dentro da favela.
Falo com eles à medida que caminhava para perto do estabelecimento vestil.
— Hum…
A voz dela preencheu os ouvidos antes mesmo de me dar conta do seu assanhamento pra cima da cabeça raspada aqui.
— Olha quem me aparece aqui. Rafinha…
Sua assistente Olhou-me de r**o de olho, não ia muito com a minha cara. Achando minhas atitudes com respeito à comunidade controladora demais. Claro, p***a. Sou o chefe do morro, tenho que ser assim pra pôr ordem nesse bagulho.
A mulher veio e logo se pendurou em meus ombros, não queria muito papo, chamego, denguinho ou conversa mole. Precisava ir direto ao ponto, então removi seus dedos de unhas vermelhas e longas do meu peitoral robusto, suado.
— Aí grandão.
Riu deixando se retirada no melhor estilo rude.
— Conheço quando não tá afim de dar uma trepada. Chefão.
Piscou o olho saindo para o balcão, apoiando o braço nele.
— O quê veio fazer na minha loja?
— Nossa loja. — Deixei bem claro pela milésima vez. — Tudo o que existe aqui no Morro do Gavião me pertence.
Disse sério apontando pro piso desgastado.
Dona Filó olhou-me centrada, perdendo aquele brilho de v***a. Sua marca registrada.
— Sei disso, e não precisa jogar na cara. - Ditou toda posuda, fazendo pose de sabichona pra cima de mim. Odeio fêmea que se acha empoderada ao ponto de me peitar, geralmente trepo com submissas caladas. Essa daí só passou pela minha rola uma vez e ganhou uma ocupação.
— Olha aqui… — Avancei impaciente pra pegá-la pelos cabelos, mas fui surpreendida pela sua empregada novinha.
— Creio que o Cezar veio atrás de roupas no estilo GG, estou certo?
Dei um passo para trás, dando alívio a menina de cabelos curtos cacheados, e óculos fundo de garrafa.
— Sim. — A olhei estreitando as sobrancelhas. — Como soube?
Empinei o queixo para perguntar, pondo as mãos na cintura.
A garota era tinhosa, olhava de frente. No rosto. Toda certinha.
— As notícias correm mais rápido que aviãozinho de pó dos becos do seu império. — Olhou o peito desnudo com desdenho. Corajosa essa aí. — Então, me adiantei e separei peça por peça, em cor e estilo. Para sua nova protegida.
— Hum… — Cocei o nariz. — Devia aprender mais com os subalternos sua…
— Olha aqui!
Desviei da p*****a safada a pedido da sua vendedora, mais eficiente que a dona. c*****o.
***
A garota me mostrou um arsenal de vestidos, calças, blusas, tops. Além de roupas íntimas. Claro que não entendia nada daquilo, só em tirar delas na base de muita raiva pois detestava mulher doida para da a x**a, na minha reta vestida. Não perco tempo com detalhes. Mas… olhando esses modelos comecei a apreciar porque imaginava a loira refém usando-as. E isso me deu uma enorme satisfação, em saber que podia oferecer isso a ela. Ainda mais sabendo que veio ao morro pra se esconder. Bom… isso foi a impressão dos meus comparsas logo após sua chegada. A gordinha linda, não abriu a boca, apenas demonstrava estar em desespero. Concluído as suspeitas deles. Poderia estar em apuros lá embaixo, quem sabe matou alguém… Humm… isso teria que ser investigado com cautela.
Os caras acreditam na sua inocência, mas a trancafiaram sendo um perigo para o morro. Ou fizeram o certo, esperando minha decisão final. Após ter falado com eles ficou claro a minha intenção com a nossa nova visitante. Se for uma criminosa, será bem vinda a nós. Mas caso seja um informante infiltrado, ou veio a mando do morro vizinho, na intenção de arrancar a minha cabeça… Sua vida estará nas minhas mãos, de qualquer maneira. Sobre o seu futuro decidirei mais tarde, por hora fiz as compras para a sua nova moradia.
Paguei, mesmo sabendo que sou dono dessa p***a. Mas sabia que daqui pagava o salário dessa moça, que embora não fosse com a minha cara, deu pra mim o melhor atendimento feminino não esperado. Isso tudo sem precisar esfregar b****a na minha boca feito uma vaca suja.
— Volte sempre.
Disse a abusada ao cruzar os braços, vendo-me levar as sacolas de papelão.
Um mundo sustentável. Pensamos em tudo aqui no Morro do Gavião, por que não? Somos gente também.
Nem me dei o trabalho de olhar pra essa sem classe. Vou em busca da minha gata.
Na rua, um grupo de crianças quiseram levar as bolsas. As deixei, na frente da casa dei uns trocados para voltarem pra casa.
Assim que passei da porta tranquei, mesmo desconfiando que a mulher aprisionada não tentaria fugir.
Mas ao caminhar, joguei as compras no sofá, indo diretamente no som que vinha da cozinha.
Parei no batente da entrada olhando a bela mulher de curvas esbeltas, vestindo uma blusa da minha coleção de treino. Larga, comprida, infelizmente tampando sua traseira. As pernocas bem a mostra… Lambi os beiços pela visão do paraíso. Loirinha toda largada, cabelo molhado, cantando sem auxílio de música enquanto mexia a panela de macarrão.
Distraída continuava cozinhando, passei por ela assustando-a propositalmente.
Abri a geladeira fingindo não olha-la, peguei uma cerveja geladinha e voltei pra sala.
— Tá cheiroso… aposto que está ficando uma delícia.
Comentei sentando com tudo, abrindo a tampa na beirada da mesinha de centro da qual amava por os pés cruzados depois de um dia cansativo como Júlio. Liguei a tv pondo direto na novela das vinte e uma horas.
Minutos depois a lindinha veio trazendo o nosso jantar, segurando a panela numa mão com a ajuda de um pano de prato, na outra pratos, talheres, e copos. Arrumou detalhadamente na mesinha, mas antes me empurrou para não atrapalhar.
— Hei! — Falei brincando em forma de briga.
— Pegue o suco de guaraná, por favor. — Disse sem me olhar.
— Ok… Só porque fez o rango sem pedir.
Fui e voltei logo reparando que havia se sentado sobre suas pernas, no tapete, sem encostar o centro naquele objeto.
Sentei igual a ela pondo a jarra ao lado da panela.
— Qual o seu nome? — Quis saber.
— Viviana…
Abriu a tampa saindo aquele perfume saboroso de comida caseira.
— Nossa… — Olhei aquele macarrão suculento, vendo ela montar o prato e entregando-me, olhando em meus olhos com ternura.
— Obrigada.
Peguei achando a mulher simpática demais para ser uma infratora da lei.
— Pelo o que?
Comecei a comer com gosto.
— Pelas roupas… e por ter sido bom quando achei que podia acontecer o pior. Mas não vou poder ficar, já decidi que vou embora amanhã, e fingi que nunca subi ao seu morro.
A fitei cheio de raiva.
— Cezar nunca deixa uma fêmea que ele deseja fugir.
— Fala de você na terceira pessoa… — Comentou fazendo sua refeição. — … — Será que o Cezar tem outra personalidade escondida?
Porra…