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O MORRO NA PELE

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Sou Júlio, e esse é o cara que gosta de participar de eventos, do tipo fisiculturismo. Uma modalidade competitiva focada na musculação e na hipertrofia muscular mais acentuada. Ou seja, exibo o corpo sarado para um grupo especializado na área, e eles julgam através de notas. Todavia, no mundo exterior de holofotes, prêmios e participações, preciso fielmente esconder de todos, o meu outro lado, aquele ser dominante, machão, que não aceita desaforo de ninguém. Esse é o Cezar, o chefe do morro do Gavião. E por que vivo assim? Aí, pequena... precisa se aprofundar na minha versão da história.

Me chamo Viviana, mais conhecida como Vivi das curvas largas. Sou modelo Plus Size, mas a minha vida gira de pernas pro ar, quando meu ex-namorado policial, tenta se vingar de mim, e por coincidência, ou não, acabo entrando de gaiato no mundinho desse traficante poderosissimo, e agora ele quer de qualquer maneira que eu assine um contrato de união estável, pois assim, poderia me dar guarita, proteger minha pele desse infeliz. Enfim, estou sentindo... O MORRO NA PELE.

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Capítulo 1
Júlio Gosto de receber essa atenção quando estou fazendo a minha apresentação no palco, as câmeras registrando tudo, a cada movimento uma pose específica, diferenciando da outra. Uma emoção sem limites, um segredo, duas vidas em uma. Os holofotes me pertencem desde que uma senhora bem gostosinha do grupo de avaliadores dos eventos de hipertrofia muscular, me cercou na academia. Como todas as galinhas da granja, essa daí caiu na minha p**a fácil, fácil. Normalmente, não sou homem de desperdiçar mulher, seja ela como for. Deu chance, “tô” comendo feito o bicho que sou. Embora a transa louca naquele estabelecimento tenha me rendido um novo sentido na vida, que era a chance de sair daquela pele de lobo mau, carrasco da favela do Gavião, constantemente tenho que tomar cuidado, sei o que faço pode ser arriscado. Aqui posso até ser conhecido, e ser reconhecido como uma ferramenta de modelo da área. Juntando uma bela fortuna limpa, sem envolvimento com a parte escura da minha longa trajetória, minha herança de família. A carga genética, meu fardo. Minha sina. Todavia, antes do verdadeiro reizão da comunidade morrer, deixou-me instruções de como não ser pego pelos fardados, e sigo essa recomendação sigilosa até os dias de hoje. Ele faleceu a dez anos atrás, pondo-me em seu lugar. Não tenho mãe, muito menos irmãos de sangue. Sempre foi somente nós dois, e muitas mulheres fogosas para nos fazer companhia. Tenho trinta anos, e muita experiência com armas, tráfico e damas da noite. As famosas boqueteiras de plantão. Não me apego a nada e nem a ninguém, porém, não admito que mexam com os cidadãos da minha moradia, pra mim, todo rapaz, moçoila e pivete dessa colina, está legalmente sob a minha responsabilidade. Por isso tenho um corpo praticamente blindado, gosto de pensar assim devido o meu tamanho, tenho quase três metros de altura, parrudo, com ombros largos, e um físico invejável pelo grupo masculino. Horas de treino me deram essa figura de cara super forte, durão. Implacável. Demolidor. O morro na pele não era somente uma ong para ajudar as pessoas de bem desse lugar, também consiste numa facção poderosa, eles ficam pelos pontos estratégicos de entrada, ficando difícil a passagem do caveirão. Mesmo com essa operação de vigilância diária precisamos ficar em alerta, pois, o ataque aéreo poderia ser a causa de nossa desgraça. Mas isso está sendo controlado, portanto, devido ao tratado com caras importantes, estaremos seguros até findar o acordo de paz. Quando isso acontecer, o outro lado exigiria outra compensação. São acordos necessários para termos o controle da favela, sem se preocupar muito com a possibilidade de invasão e aprisionamento. Mas sempre vai existir a sensação na alma de que algo pode acontecer não favorável aos nossos planos, por causa disso temos rotas de fuga subterrâneas, dessa forma poderíamos fugir em massa. Existia mentalmente outros detalhes, sou um cara muito pensante, detalhista. Um tanto perfeccionista. Devia ser uma característica da mulher que me pôs no mundo, vai saber. Não sabia nada a respeito da sua existência, o rei jamais tivera uma fiel, poderia ser filho de qualquer p**a que tivesse passado na rola do meu pai. Tem coisas que gosto de guardar a sete chaves. Nem mesmo minha cópia que ficava a frente dos meus negócios sabia, mas ele era o único que tinha conhecimento dessa minha versão. O único que eu poderia confiar. Mas se algum morador viesse me reconhecer… Isso colocaria tudo a perder caso abrisse o bico. Minha sorte é que o povo daqui gostava muito de assistir futebol, novela e alguns desenhos. Eventos dessa modalidade, era até desconhecida no meio deles. Poderia ser ignorância, mas eu sabia uma fórmula infalível para não haver possibilidade que a minha fuça aparecesse em suas telas televisivas, internet e tal. Uma magia da modernidade tecnológica, que somente eu conhecia, porque era um sistema de proteção criado por mim. Sou um traficante fisiculturista, que teve estudos. Meu pai fazia questão disso, dizia que faria diferença na hora de assumir seu trono. E sinto na pele a força líder, da qual somente os livros e o grau de escolaridade poderiam me proporcionar. Bandido sim, mas criminoso burro nem pensar. Claro que o meu sósia, tipo um dublê, ajudava-me nas minhas tramoias. Ele foi comprado há muitos anos, presente de aniversário do meu velho. Achei estranho porque queria uma morena cheia de curvas sensuais, achava que ia estrear a ferramenta nova com estilo, mas veio essa xerox, naquele instante pensei que fosse um irmão gêmeo perdido no mundo, mas logo explicou seu grande plano de mestre. O cara veio virgem, sem máculas, vícios ou outras maldades do ser humano. Uma máquina perfeita para ser moldada seguindo nossos princípios, na intenção de seguir nossas ordens cegamente sem questionar nada o que fazemos, ou como prosseguirmos na favela. E foi treinado no nosso meio, ele precisava enganar até os mais fiéis da boca de fumo, de cada beco e esgoto, do Morro do Gavião. Passou no teste rapidamente, era um cara jovem, meio bobo e facilmente manipulável. Realmente nasceu para esse propósito, me proteger com sua vida. Ser o meu escudo de carne e ossos. Hoje em dia tem autonomia em nosso país. Um alemão, que teve que aprender a língua estrangeira para não ser morto. Terminado a sessão de fotos, e as variadas exibições,seguimos na fila frontal para esperar a votação dos jurados. Não fazia amizade, evitando permanentemente a chance de estragar meu disfarce. Essa multidão não tinha a dimensão do que realmente foi criado para ser, o chefe do tráfico. Rio internamente desses denominados da zona sul, uns tremendos babacas de terno, adorando o fato de enganar, viver perigosamente no maior estilo, com toda a certeza do mundo, de que a minha vida não era monótona. Amava de paixão cada instante disso, dessa adrenalina ferrenha presente em minhas veias. A velha conhecida estava sempre presente, e se desse carta branca teríamos festa no cafofo dela, ou em algum hotel p**o pelo meu patrocinador. O professor de academia. - Júlio! Nota dez! O resultado final seguiu de aplausos de pé, e muitos lances de fotografia. Após a finalização fui cercado por revistas famosas querendo minha carinha estampada nelas, porém somente fazia assinatura com aquelas que queria mostrar apenas o meu corpo sarado. A desculpa que dava era referente a minha aparência de rosto, dizia que detestava. Me achava feio, o melhor homem camarão. Riam dessa minha articulação, mas era uma boa maneira de sair à francesa. E o Zé, responsável pelos meus treinos fora da comunidade para não ser pego por nenhum desavisado do perigo, dava-me escolta até o seu carro alugado, Carrego minha bolsa a tiracolo contendo a roupa usada pelo Cezar, somente eu podia tocar nela, senão perdiam a mão, ou os dedos. Sou curto e grosso, em qualquer identidade da qual estivesse exercendo. Esse era o meu jeito de ser e jamais mudaria. - Pelo visto a madame de milhões de dólares está ocupada, nessa tarde ensolarada. não é meu irmão ganhador? A faixa, o troféu, o cheque e a tanga, guardei no forro secreto do objeto que carregava orgulhosamente para a casa dele. Lá deixaria essas coisas, ele cuidava dos prêmios e dos depósitos. Nada ficava realmente no meu nome, e sim de um laranja. Dizia a ele que não tinha confiança nesses bancos, isso colou muito bem. Principalmente para os meus interesses escusos. - Não me interessa aquela coroa de b****a murcha. Vamos comemorar os ganhos, à noite escolho uma das amantes para passar a noite comigo. Como sempre não falta v****a para o papaizão aqui. Ele achou graça enquanto dirigia. - Queria ser como você, Júlio. Dessa vez eu que sorri, só que por dentro. - Garanto que não ia gostar de estar na minha pele. - Falei olhando as mensagens. Esse aparelho era secreto dessa realidade, só abria a tela com a minha impressão digital. Sigilosa, fora outras maracutaias presentes, Caso fosse descoberto. Infelizmente havia umas dezenas de chamadas, tudo da minha cópia. Ele parecia perdido, pela primeira vez desde que assumiu comigo o morro. Preocupado com o meu legado, precisei escolher. - Sei não… Sou muito mole com essas garotas… - Zé, outra hora lhe dou dicas de como pegar uma p*****a. Agora me leva até a frente da sua academia, de lá pegou um mototáxi para a minha comunidade. E para deixar novamente claro… - Nunca suba no Morro do Gavião para a sua própria segurança. - Relatou metodicamente. - Isso, e nem faça perguntas. O chefe de lá pode ficar injuriado contigo cara, longe de mim criar inimizades com um tipão perigoso desses. Preciso colocar terror, respeitarem meu reinado. - Ok, outra hora conversamos. - Por isso que estamos nessa juntos, camarada. - Conte comigo para o que precisar. “Tô” com você. - Perfeito, gosto de manter a lealdade. Leve os pertences, incluindo o cheque. Faça o combinado. - Sim, campeão. Fomos em silêncio o resto da viagem, e no final tudo ocorreu normal. Subi o meu morro a pé até uma certa rua. Esbarrando com ele na esquina. Nosso point de encontro de troca de posição, daqui ele ficaria escondido na casa que mandei construir exclusivamente, com condição de nunca, jamais de se apaixonar. Mulher podia se tornar a ruína de um homem, ainda mais uns feito nós. - Temos um grande problema. - Disse-me o Alemão. Naquela voz com o mínimo de sotaque. Suspirei cansado, enquanto mostrava-me na tela do seu celular, uma bela loira, encorpada, do jeitinho que me atraia. Vestida, mas parecia ter chorado. Maquiagem borrada. Totalmente capturada pelos nossos comparsas. Sua expressão de medo, deu-me uma raiva da p***a. - Que merda é essa?! Vou punir quem fez isso! A pegaram da onde? Qual carregamento? Achei que não trazíamos mais garotas pra cá por ser arriscado para os nossos negócios mais rentáveis. Passe por ele feito um furacão ao vê-lo abaixando o braço sem respostas. - Vá pra casa, deixe que o Cezar cuide disso agora.

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