_____ A caminho de Turim

1033 Words
Valentina Então, quando eu estava do lado de fora outra vez, Caio Victor saiu do carro e deixou a porta aberta para que eu entrasse. E eu o fiz, ainda com a minha cabeça girando e girando e girando. Eu olhei para ele, que sentou a uma distância de dois palmos de mim, depois olhei para a mochila que eu ainda abraçava quase inconscientemente e por fim voltei toda a minha atenção ao seu rosto. ____ Caio Victor. — chamei, um pouco incerta, porque não sabia se a minha dúvida era justificável ou se era mais uma das coisas que eu não entendia por ser devagar demais. ____ Eu ainda não entendi o que tá acontecendo... Ele olhou-me em silêncio, paciente, esperando que eu continuasse. ____ Por que você tá me levando para Turim? A minha mãe disse que é para me levar para uma universidade, mas... não faz sentido... — finalizei, baixinho. ____ Você realmente não entendeu, meu anjo? - Caio perguntou, e eu tive medo de encontrar impaciência na sua voz, mas não havia nada além de uma entonação quase brincalhona. ____ Não... — Respondi, um pouco sem jeito. — explica-me, por favor. Eu vi Caio mover o rosto para o lado, ainda sereno, enquanto repetia o já conhecido gesto de girar um dos anéis nos seus dedos. ____ Seus pais não deixariam você vir se eu dissesse a verdade sobre os meus motivos para te trazer comigo, então eu tive que pensar em algo melhor. Eu apertei os meus lábios, ainda tentando montar o quebra cabeça que era entender as suas intenções. ____ E qual é a verdade? — Perguntei, ansiosa, com os olhos atentos somente a ele. Caio Victor piscou devagar, ainda calmo, quando voltou a olhar para mim. ___ Eu só queria passar algum tempo com você. Não seria novidade dizer que senti o meu coração perder o controle, mas eu juro que, dessa vez, todos os efeitos da confissão de Caio foram dez vezes mais devastadores que em qualquer uma das outras vezes. E enquanto metade de mim transbordava de alegria, porque eu realmente acreditava que ele estava sendo sincero, a outra podava o meu sorriso, impedindo-o de crescer tanto quanto sei que cresceria, porque eu achava que não deveria acreditar. ____ Você não parece feliz. — Ele disse, talvez um pouco decepcionado, mas sem demonstrar isso verdadeiramente. Balancei a minha cabeça, negando. Eu estava feliz, mas também estava com medo. ____É só que... parece que você tá brincando comigo. — Confessei, envergonhada, abraçando a minha mochila com ainda mais força. Eu não queria desconfiar de Caio Victor e soube que ele queria isso menos ainda quando vi como ele respirou fundo e umedeceu os próprios lábios. ____ Eu não tenho tempo pra esse tipo de coisa. Valentina. — Ele disse, e eu realmente não gostava de quando ele falava o meu nome daquela forma. — Se eu vim até aqui, foi porque queria te ver. E só. ____ Então porque você não veio antes? — Insisti, com a voz baixa e tímida porque eu não queria estar fazendo aquelas perguntas. ____ Essa é a primeira chance que eu tenho de sair de Turim nos últimos meses. ____ Quando ele respondeu, eu o vi massagear a própria nuca e fechar os olhos, e isso deixou-me ainda mais frustrada. Eu não diria que ele estava irritado, mas também não estava calmo como antes. E se Caio tinha mesmo ido até Vercelli só por mim, não era justo que eu fosse a causa de qualquer sentimento negativo seu. Então eu juntei a minha coragem nos segundos seguintes, um pouco sufocada pelo silêncio, e finalmente deixei a minha mochila de lado para que eu pudesse me mover sobre o banco até encostar as minhas pernas nas suas. Ainda ansiosa, porque eu não sabia se ele ia me repreender por aproximar-me daquela forma, eu segurei o seu braço com as minhas duas mãos e o encarei com os olhos arrependidos. ____ Desculpa... Caio... — Eu balbuciei sem confiança alguma, sentindo a vergonha fazer-me querer desmaiar por chamá-lo daquela forma. Quando Caio deixou escapar o que poderia ser facilmente identificado como uma risada, eu só me envergonhei ainda mais e desejei com um pouco mais de força que a minha vida fosse ceifada naquele exato momento. ____ Não me chame assim. Valentina. — Ele disse, e aí eu encolhi-me ainda mais porque achei que brigava comigo, até que ele continuou. ___Eu gosto de ouvir você dizendo o meu nome. Com um clique, o meu sorriso abriu-se na mesma hora. E então durante o restante do tempo que passamos dentro daquele carro, Caio me deixou daquele jeito, bem pertinho dele, enquanto me explicava que estava indo a Turim para uma reunião com um dos clientes da INTER-HOME, e depois me deixou falar pelos cotovelos sobre todo tipo de assunto que talvez nem fosse do seu interesse, mas ele prestou atenção mesmo assim. Talvez eu fosse muito boba e estivesse-me a contentar com pouco, mas mesmo que ele não tivesse saído de Turim só para me ver, eu não conseguia parar de sorrir a cada vez que percebia que Caio deu um jeito de me levar para perto dele. Quando finalmente chegamos em Turim, quase duas horas após termos entrado no sedan preto, o motorista deixou-nos na frente de um prédio alto, mas ele não parecia um hotel. ____ Parece um condomínio normal... — Eu murmurei, meio sem pensar, e Caio apoiou a mão na base da minha coluna para me guiar para o interior. Prendi a respiração com o seu toque, e deixei que o meu corpo seguisse o comando silencioso e firme da sua palma. ____E é, anjo! Ele disse em resposta, sem explicar nada mais, até que estivéssemos dentro do elevador. Quando as portas se abriram no décimo terceiro andar, eu o segui até um dos apartamentos e quase caí para trás quando nós entramos e vi, no pequeno sofá da sala iluminada, uma mulher com os cabelos tingidos de rosa. Ao perceber que nós tínhamos entrado. – não, seria muito mais coerente dizer que foi quando ela viu Caio a desconhecida sorriu, mas não fez menção alguma de se levantar.
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