Valentina
A tal mulher de cabelos rosa, continuou sentada e com um sorriso arreganhado disse:
____ Finalmente, gato.
____ Eu só pedi para você deixar a porta aberta Milla. — Caio disse em resposta sem cuidado algum na voz, mas a tal Milla não pareceu se incomodar com isso.
Na verdade, o sorriso dela aumentou e então ela ficou de pé, caminhando calmamente até jogar os braços ao redor do pescoço de Caio. Eu não sabia quem ela era, mas definitivamente não gostava dessa mulher e ela sequer parecia ter percebido que eu estava bem ao lado.
____ E perder a oportunidade de dar um abraço no aniversariante mais gostoso? - Milla disse, ainda abraçando Caio.
De repente, eu não sabia mais se o odiava por tocar em Caio e chamá-lo daquele jeito ou se deixava o meu queixo cair por descobrir que era seu aniversário e ele não tinha-me contado.
____ Já chega — Ele disse, afastando a mulher estranha com as suas mãos. Milla ainda não parecia incomodada por ser empurrada, então ela olhou para mim e inclinou o rosto, curiosa, antes de apontar o seu indicador na minha direção.
____ Max costumava ser mais alto. — Ela disse, parecendo se divertir com a própria brincadeira.
____ Meu nome é Valentina e eu vim com o Caio. — apresentei-me, um pouco em burrada, tentando provar que não estava ali por acaso.
____ É, neném, eu vi-te a entrar com ele — Milla respondeu, sorrindo como se debochasse de mim, e então olhou para Caio de novo. — Sério que você vai ficar de babá logo no dia do seu aniversário, gato?
Caio apenas a olhou daquela forma demorada antes de caminhar até o sofá onde Milla estava antes, forçando-a sair do seu caminho.
Eu continuei parada exatamente no mesmo lugar, sendo analisada pela mulher estranha enquanto ela usava o indicador e o polegar para brincar com o próprio lábio.
____ Venha aqui, anjo. — Caio disse, quase como se eu já devesse estar com ele. Então eu olhei para Milla uma última vez, ainda
em burrada, e caminhei com passos irritados até onde Caio estava.
Quando eu parei próximo o suficiente, sem saber se ele queria que eu sentasse ao seu lado ou não, Caio colocou as duas mãos na minha cintura e puxou-me com cuidado até que eu parasse, ainda de pé, entre as suas pernas. Ele então segurou as pontas do suéter fino do meu uniforme e o puxou para cima, sem dizer nada. Mesmo assim, eu entendi e levantei os meus braços para que ele tirasse a peça do meu corpo. Ainda com calma, ele dobrou o casaco e o colocou ao seu lado. Depois, voltou com os dedos longos e afrouxou a minha blusa, me deixando só com a calça feia e a blusa do uniforme. Quando desabotoou o primeiro botão da minha blusa branca, ele parou e olhou-me, dali de baixo. Mesmo que eu estivesse de pé e ele sentado e, pela primeira vez, eu olhasse-o de cima, era impossível sentir-me superior com como aqueles olhos pareciam-me desarmar.
____Vá tomar um banho. — Ele disse, descendo as mãos direto até a parte de baixo da minha blusa e então a puxando para fora da calça. __ nós vamos jantar depois. Sentindo as mãos dele na minha cintura outra vez, era como se eu tivesse esquecido completamente que Milla ainda estava ali.
____Vamos? — Eu repeti, sentindo a minha pele arder no lugar onde ele me tocava sobre a blusa.
____Podemos sair ou pedir alguma coisa. — Ele disse, e então um dos seus polegares começou a deslizar sobre a minha barriga enquanto as suas mãos ainda me seguravam. — O que você prefere?
____Só... Só nós dois? — Eu perguntei, quase suspirando com o seu toque.
____Só nós dois! - Eu mordi o lábio para tentar conter um sorriso de satisfação e vitória, e então encolhi os meus ombros num gesto indeciso.
____Então eu prefiro o que você preferir. - Eu não sabia se aquela era a melhor resposta, mas como o canto da boca dele se curvou num sorriso orgulhoso fez-me sentir orgulho também.
____ Se arrume. Nós vamos jantar fora - Ele disse, e eu sorri de novo, ainda mais.
____ Tá bom! — Respondi empolgada, mesmo que não estivesse tão satisfeita por afastar as suas mãos de mim.
Então quase corri até a minha mochila, que ainda estava ao lado da sua mala na entrada do apartamento, e senti os meus passos diminuírem quando vi como Milla alternava o olhar entre mim e Caio, sorrindo como se estivesse a assistir a um espetáculo.
Eu encarei-a de volta, incomodada, antes de abraçar a minha mochila e caminhar até o banheiro, que não foi difícil de achar. Antes que eu fechasse a porta, eu ouvi a voz de Milla outra vez.
____ Ela já veio adestrada assim? — Ela perguntou, debochada, e eu soube que falava de mim.
____ Não provoque a Valentina. — Caio ignorou a sua pergunta e eu estava tão curiosa com a conversa que, quase sem perceber, saí do banheiro e escondi-me atrás da parede para poder ver e ouvir melhor. Eu não a trouxe aqui para ser vítima desse seu humor.
Eu então espremi-me atrás da parede para que eles não me vissem espionando, e eu só queria que, dessa vez, Caio não me notasse.
____ Ah, que dom protetor... — Milla voltou a falar ainda debochada, sentando no espaço livre do sofá, e eu não entendi muito bem o que ela quis dizer com dom. — dói-me admitir que ela é exatamente do tipo que você gosta. Sabe o que mais? Lembra-me um pouco a Duda antes de vocês terminarem...
____Se você quer dizer algo, diga. Você sabe que eu odeio esse tom sugestivo. - Milla sorriu, se sentando com o braço apoiado no encosto do sofá e inclinando o rosto com um trejeito meio-divertido.
____O que eu poderia estar a sugerir, gato? Ela parece a sua ex. É só isso que eu quero dizer. — Eu apertei as minhas mãos contra a parede, incomodada com aquela afirmação, mas eu nem entendia o porquê.
____ Valentina é diferente. — Caio disse, depois de algum tempo, e não havia impaciência na sua voz. - Ele estava calmo como estava quando me encontrou na minha casa. — Não ache que eu estou a tentar substituir alguma coisa.
____ Longe de mim achar que você é sacana a esse ponto. E aquela garota parece tão fácil de iludir... - Milla continuou, sem se desfazer do tom divertido.
____ Mas tem outra coisa que me deixa mais curiosa, e é porque eu não consigo entender porque você veio hoje se a sua reunião é só segunda-feira.
____ Não posso-me adiantar um pouco?
____Você nunca chega com três dias de antecedência. — Milla rebate sorrindo. — E se não me falha a memória, você disse que Max vem no domingo, você poderia muito bem ter deixado para vir com ele.
____ Sim, poderia. — Caio disse, simplesmente.
____ Me diz... — A mulher estranha aproximou os seus rostos, abaixando o tom de voz. ___ Por um acaso aquela garota ingênua e engraçada é o seu presente de aniversário para você mesmo? - Eu o odiaria pela forma como se referiu a mim, mas parece que tudo isso perdeu o efeito quando eu vi o sorriso pequeno de Caio.
____ Você é muito curiosa, Milla. — Foi o que ele disse, em resposta. A mulher de cabelos cor de rosa ergueu os ombros, displicente.
____ Não posso evitar, você sabe que desperta isso nas pessoas. — Ela resmungou, ficando de pé.
____ Vou-te deixar sozinho com o seu presente, mas ela ainda parece muito nova... então não faça nada que te vá mandar para cadeia, hum? Uma delícia como você não pode ser trancafiado numa cela suja.
____ Eu sei até onde devo ir. — Caio disse, e ele parecia bem-humorado como nunca o vi antes. — É vergonhoso receber conselhos de uma pessoa como você, então não faça isso.
____ Ai, meus sentimentos! — Milla dramatizou, levando a mão ao próprio peito, mas sorriu. Mas parabéns, gato. — Ela disse e depois se abaixou para dar um beijo na bochecha de Caio. — Se você cansar de brincar de babá e querer comemorar como uma adulta, já sabe onde me encontrar, né?
____ Boa noite, Milla.
Milla ainda sorriu mais uma vez antes de finalmente se afastar, e eu me escondi para que ela não me visse quando caminhava até a porta, e finalmente saiu. Eu ainda estava confusa com a conversa que ouvi e não sabia a que ponto dela deveria dar mais atenção, mas eu sabia muito bem o que queria fazer após ouvir de Milla que Caio tinha antecipado a sua ida a Turim por minha causa.