_____ Viagem inesperada

1030 Words
Caio Victor Valentina estava raivosa e eu entendo eu fui embora sem me despedi e apareço três meses depois, assim como fui, é normal toda a sua decepção, mas isso não anula o que vim fazer aqui e sairei daqui com ela. ____ Valentina vamos conversar! ____ Eu vim-te buscar, meu anjo! — Ele completou, e eu senti a sua outra mão segurar o meu queixo para que eu erguesse o meu rosto outra vez. ____ Eu vou ouvir tudo que você quer dizer e juro que te vou recompensar por ir embora daquele jeito, mas agora nós precisamos ir. Eu nunca esqueceria da forma como o meu coração batia acelerado toda a vez que ele estava por perto e dizia-me coisas que eu não esperava ouvir, mas ali, diante das suas últimas palavras, eu percebi que nunca, nunca mesmo, me acostumaria com a sensação. ____ Caio Victor veio... veio-me buscar? — Eu repeti, incapaz de esconder o quanto aquilo me pegou desprevenida e mais inapta ainda a nem sequer reparar que falei como uma criança. Então ele sorriu o mesmo sorriso discreto que eu já tinha conhecido, parecendo se divertir com o meu jeito bobo de falar. ____ Você vem? — Ele perguntou, ainda sem me dizer para onde me pretendia levar, tampouco sem revelar as suas intenções. Mas assim como ele já parecia ter percebido, eu também estava ciente de que não importava o lugar. Eu queria ir com ele. Então todos os motivos que eu tinha para dizer que não iria ser subjugados, sem que eu sequer tentasse impedir isso quando balancei a minha cabeça num sim. Quando a mão de Caio Victor subiu do meu queixo até a minha bochecha e os seus dedos longos acariciaram a minha pele, eu soube que me arrependeria até a morte se dissesse que não. ____ Arrume uma mala pequena, só para hoje e amanhã. — Ele disse, com aqueles olhos escuros brilhando de uma forma que eu ainda não tinha visto nas poucas oportunidades que tive. E então a certeza do que aquilo significava fez o meu coração bater ainda mais forte. Porque Caio Victor estava feliz. ____ Eu vou-te esperar no carro. — Ele continuou, e eu senti as suas duas mãos soltarem-me simultaneamente para que se afastasse. ____Não demore muito. A capacidade de pensar com clareza não era uma das minhas qualidades naquele momento, então caminhar apressada até a minha casa foi um ato quase automático, e eu só parei de correr quando a minha mãe apareceu diante de mim e nós quase trombamos no corredor dos quartos. ____ Ainda bem que você chegou! — Ela disse, afoita, e então estendeu uma mochila que parecia cheia de coisas. Num reflexo eu segurei a bolsa, e logo depois o meu pai apareceu com um envelope que ele mesmo guardou em um dos bolsos menores da mochila organizada por minha mãe. ____ Esse dinheiro deve ser suficiente. — Ele disse, e eu alternei o meu olhar de um para o outro tentando entender o que acontecia. ____ Não abuse da bondade de Caio, Valentina, pelo amor de deus! Seja um bom exemplo da família. ____ Sim, sim, se comporte direitinho e não deixe ele gastar mais dinheiro com você - a minha mãe reforçou, se aproximando para passar as mãos nos meus cabelos que talvez estivessem um pouco desalinhados. ____ Ele já insistiu em pagar a hospedagem e teve o trabalho de vir até aqui só para falar connosco! Sinceramente, Valentina, por que você mesmo não pediu? Dando todo esse trabalho a alguém tão ocupado quanto Caio Victor... Santa mãe de deus, o que acontecia? ____ Só para confirmar... — Eu comecei, tentando não levantar suspeitas sobre algo que nem eu mesmo sabia o que era. ___ O que foi que ele disse? ____ Que vai-te levar para conhecer o ‘campus’ da universidade em Turim, oras. — Foi minha mãe quem respondeu como se eu devesse saber daquilo e eu deveria se isso fosse verdade. ____ Eu nem consigo acreditar que você está a pensar em ir para a universidade! - Ela completou, com a empolgação na sua voz crescendo exponencialmente, e eu senti-me m*l porque, na verdade, aquela nunca foi uma ambição minha. Mesmo assim eu assenti, meia embasbacada e ainda sem entender direito o que Caio Victor tinha-lhes dito. Mas ele tinha ido até ali me buscar e me levaria para Turim. Eu passaria a noite fora com ele, e isso foi o suficiente para me fazer perder todo o interesse nos outros detalhes. Sempre achei que detalhes eram superestimados, de qualquer forma. ____ Eu coloquei um pijama, uma roupa bonita para você usar amanhã, os seus sapatos bons e uma ‘necessaire’ e com tudo que você vai precisar para ficar arrumada. — Ela explicou, tirando a mochila da escola que ainda estava nas minhas costas para que eu ficasse apenas com a que ela tinha arrumado para mim.— Aproveite a oportunidade, meu amor. Eu vou estar aqui esperando para ouvir tudo que você achou da universidade quando voltar, sim? Mais uma vez eu assenti, ainda sem dizer nada, porque a suposta visita ao ‘campus’ da universidade era minha última preocupação. ____ E se comporte! — o meu pai repetiu quando a minha mãe começou a guiar-me até a porta pela qual eu tinha acabado de entrar. Com as despedidas devidamente feitas e os avisos sobre a minha conduta reforçados, eu segui finalmente o caminho de volta até o carro que estava estacionado lá na frente da recepção, ainda sem acreditar que eu ia mesmo viajar com Caio Victor. Uma viagem para um distrito que ficava a uma hora e trinta minutos de Vercelli, mas ainda assim... eu iria só com ele. Por isso, por toda a improbabilidade na situação, eu quase pedi para Isabella me beliscar de novo quando passei por ela e vi os seus olhos curiosos, mas tudo que fiz foi devolver o seu olhar com uma expressão que dava a certeza de que eu não ia parar para conversar, então não foi surpresa quando ela não interceptou meu caminho para começar o interrogatorio. Apenas acenei para ela sem jeito.
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