_____ Encontro

1365 Words
Valentina Após se despedir daqueles que eu considerava "amigos". Eu fui para casa. Caminhando todo aquele percurso sozinha, eu não pude deixar de pensar em como queria ter coragem de mudar as coisas. Eu queria, sim, falar sobre Caio com Lisa. Queria falar sobre várias outras coisas, também, para tentar esquecer esse sentimento estranho e tão novo para mim. Em pouco tempo e poucas conversas. Lisa já me fazia sentir que era minha amiga, muito mais que os outros dois a quem eu realmente dava esse título. Eu estava triste e confusa com tudo isso. Com essa amizade que não podia se tornar real, com como aqueles sentimentos por Caio pareciam esfriar, mas nunca desaparecer, e sobre como eu não sabia lidar com nenhuma dessas duas coisas. Mas nesse dia, especial e principalmente, o que deu um verdadeiro nó na minha cabeça foi ver o carro da INTER-HOME estacionado em frente ao hotel, o mesmo em que estive com Caio, e o seu pai na última vez em que os vi. Para cada pontinha de esperança que surgiu, dez vezes mais de frustração. Porque eu sabia que Caio não estaria ali. Então desfiz-me de toda e qualquer crença de que existia a possibilidade de encontrá-lo novamente naquela tarde e atravessei a recepção para fazer companhia a Isabella, ignorando a lembrança que aquele carro trazia. ____Boa tarde. — cumprimentei sem qualquer empolgação, anunciando que já estava ali. Então ela me olhou, com a unha do polegar enfiada na boca, e os seus olhos tinham aquele aspecto assustador que eu só tinha visto quando ela falava sobre conquistar Caio Victor, três meses antes. E ela saiu de trás do balcão, correu até mim e bateu as mãos nos meus ombros. Com os olhos ainda esbugalhados em algo que eu não sabia se era ódio ou felicidade, ela disse: ____ Ele voltou! Ela não estava falando de Caio. Ela não estava falando de Caio Victor. Ela. Não. Estava. Falando. De. Caio. Não se iluda. Valentina. ____ Jesus? — Questionei, meio fria, mesmo sentindo o meu estômago revirar com a inevitável esperança. ____ Caio Victor! — Ela deu um grito, então cobriu a boca e me puxou para mais perto, até estarmos desconfortavelmente próximos. ____O homem da minha vida tá aqui. Valentina! - Aquilo só podia ser uma piada. Se não, definitivamente era um sonho. ____ E-ele hospedou-se aqui de novo? — Mesmo querendo, foi impossível disfarçar a ansiedade na minha voz, e eu odeio-me por gaguejar. Mas Isabella negou e a sua expressão assumiu uma característica desconfiada, um pouco confusa. ____ Ele vai embora ainda hoje — Ela disse, sem esconder a sua frustração. — Disse que só está de passagem e que precisava falar com os seus pais, então eles estão a conversar lá na sua casa. ____ Caio Victor veio até aqui só para falar com os meus pais? — Repeti, ainda sem acreditar naquilo. Porque Caio Victor precisava falar com eles? ____ Parece que é sobre você — Isabella continuou, ansiosa. Eu olhei para a passagem que levava até a minha casa, depois olhei para Isabella outra vez. ____Olha nos meus olhos e jura que você tá falando a verdade. — Eu apontei para a porta, percebendo que a minha mão tremia. — Caio Victor está mesmo ali? Ela balançou a cabeça para cima e para baixo, fervorosamente. Eu sentia que ia desmaiar a qualquer segundo. ____ Então belisca-me. Movi o meu braço, oferecendo-o para que ela o machucasse. — Quero ter certeza de que não é um sonho. Mesmo com alguma confusão no olhar, ela beliscou-me, e beliscou com força. Mas eu não acordei. Então era real. Caio Victor estava ali. Sem dizer mais nada, muito menos sem esperar que Isabella o fizesse, eu deixei-a para trás e avancei em direção à passagem interna, mas senti os meus pés congelarem ainda sobre o pequeno caminho de madeira quando eu o vi deixando a minha casa. Depois de três meses e mil quilômetros de distância entre nós dois, apenas três passos nos separavam. Mas eu não consegui-me mover, nem mesmo um centímetro. Com os meus olhos surpresos, talvez emocionados, eu concentrei todas as minhas forças em relembrar cada detalhe daquele homem. Desde as pernas longas e fortes, das veias nos seus braços, até o seu rosto, com aqueles olhos que continuaram tão vivos na minha memória por todo aquele tempo, mas que pareciam tão mais escuros e tão mais impenetráveis quando vistos de perto outra vez. E de repente, depois de tanto tempo me perguntando por que Caio Victor causava todos aqueles efeitos em mim, eu finalmente entendi. Não tinha explicação. Porque eu não tinha como explicar como ele me olhava, muito menos como colocar em palavras aquele sorriso contido ao ver-me, nem mesmo seria capaz de descrever o tom da sua voz quando, ainda me olhando, ele inclinou a sua cabeça suavemente para o lado e finalmente deu fim àquele silêncio. ____ Não vai falar comigo, meu anjo? De todas as possibilidades que se passaram pela minha cabeça, a que acabou se tornando real foi a mais inesperada de todas elas. Tudo bem, eu tinha motivos para ficar irritada quando Caio Victor me enganou daquele jeito. Três meses depois, entretanto, a raiva já deveria ter dado lugar a um ressentimento mais brando. Mas não foi isso que aconteceu, é claro, porque a irritação era tão intensa quanto todas as outras coisas que Caio Victor fazia-me sentir desde a primeira vez que o vi. Então após ouvir a sua voz eu continuei parada, ainda sem qualquer ação consciente, até que finalmente retomei o controle sobre as minhas pernas, mas não sobre os meus atos, já que caminhar até ele e empurrar o seu peito não é exatamente o que eu chamo atitude racional, mas foi isso o que fiz. Com um gesto brusco, ainda irritadiça, eu acertei as minhas mãos contra o seu peitoral e vi o pouco impacto que isso teve sobre o seu equilíbrio. Você mentiu para mim! — Bradei, empurrando-o outra vez e vendo ainda menos efeito que da primeira. Caio Victor não pareceu irritado com a minha própria irritação. Na verdade, se eu não estivesse a fantasiar, a única coisa que o seu olhar denunciava era uma compreensão calma quando ele colocou a sua mão sobre uma das minhas, ainda contra o seu corpo. ____ Eu realmente sinto muito por isso, meu bem. - Ele disse, com calma. Não imaginei que ia demorar tanto para conseguir voltar. A minha fúria recém-desperta foi deixada de lado para que eu permitisse um segundo de mansidão. Logo depois, entretanto, eu cerrei os meus olhos, ainda desconfiada. ____ Mentira — Rebati, ciente de que parecia uma criança birrenta. — Você é um mentiroso, Caio Victor! fez-me acreditar que eu ia poder-te ver, mas deixou-me com a maior cara de boba. ____ Valentina. — Caio Victor interrompeu o meu vergonhoso acesso de raiva e eu engoli as palavras seguintes porque sabia que exagerava, mas o pouco orgulho que eu tinha-me fez sustentar a minha expressão irritadiça, pelo menos até que ele terminasse de falar. ____ Eu não vim aqui para isso. E assim, simplesmente, o meu orgulho quebrou-se para dar lugar a um inevitável embaraço. Eu agia como uma i****a, porque é claro que Caio Victor não tinha feito todo aquele caminho de da sua cidade até aqui para me dar explicações ou tentar se desculpar comigo. Então eu senti todo o meu ânimo, inflamado de algo que alternava entre mágoa e excitação por vê-lo de novo, murchar de uma só vez. Reduzido a nada além de conformismo, até porque eu já me tinha convencido, depois da sua partida que todo o meu encantamento por ele era unilateral, eu abaixei o meu rosto e afastei as minhas mãos do seu corpo. Ou, pelo menos, foi o que tentei. Mas aquela que estava presa entre o seu peitoral e a sua palma quente e áspera continuou no mesmo lugar, porque Caio Victor não a libertou. ____Eu realmente sou ingênua, quando vou aprender? Sem querer mais prolongar essa situação eu abaixei a cabeça e ia sair quando a sua mão puxou-me para eu ficar. ____ Precisamos conversar Valentina!
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