_____ Pensamentos em Caio Victor

3108 Words
Valentina Na manhã seguinte, entender tudo que tinha acontecido naquela noite ainda era uma tarefa difícil. Nunca me considerei uma pessoa insistente, porque era preguiçosa demais para isso. Entretanto, eu gastei todos os segundos daquele dia insistindo para que a minha mente ainda ingênua e confusa compreendesse aquelas coisas, não importava se eu estava na aula ou no intervalo com os meus dois únicos amigos na escola Leonardo e Fernanda. Eu simplesmente não conseguia me concentrar em mais nada que não estivesse diretamente ligado a Caio Victor, o hóspede do hotel. Mesmo assim, deixei-me ser arrastada por Leo e Fernanda até um fliperama no centro da cidade, acreditando que aquilo me serviria como distração. Não funcionou. Enquanto eles dois bradavam furiosos durante as disputas, eu continuava aérea demais em meio às máquinas barulhentas e à iluminação em tons escuros do lugar. A minha cabeça estava exatamente como todos aqueles planetas representados no carpete do fliperama. No espaço. Por isso, ouvi piadinhas durante toda a tarde. Leonardo e Fernanda não eram o que eu gostaria de chamar de bons amigos, mas eles eram os meus amigos, mesmo com aquelas brincadeiras infantis de sempre, então muitas vezes me obrigava a engolir o incômodo que as suas brincadeiras e comentários maldosos criavam, já está na hora de crescermos, eu estou em outra fase da vida. Nesse dia, ignorar as provocações foi especialmente fácil, o que não quer dizer que eu queria continuar com eles, até os amigos cansavam às vezes. Então despedi-me e fui embora, deixando-os sozinhos numa batalha sangrenta de mortal combate. Jogar videogame era algo comum entre os alunos do ensino médio, era a maior diversão entre todos. Eu queria voltar para casa e tentar me distrair com qualquer coisa que realmente funcionasse. Ou talvez entrar num fórum na internet, criar um perfil anônimo e questionar através dele se me masturbar pensando num homem, Deus, o que estou pensando! Caio Victor você está ferrando com a minha cabeça. Assustada com a possibilidade, balancei a cabeça para os lados. Então continuei o meu caminho um pouco distraída, sem esperar que, ao virar na rua seguinte, eu veria a causa de toda a minha distração parada diante de um dos prédios comerciais. Lá estava Caio Victor. Blusa social, calça escura, sapatos lustrados, uma das mãos no bolso e a deliciosa expressão concentrada enquanto um homem mais velho lhe dizia alguma coisa. O único momento em que os meus olhos deixaram de analisar Caio Victor foi quando eu li o nome da empresa na fachada do prédio. INTER-HOME o maior grupo de engenharia de todos os tempos, eu já havia lido muito sobre essa empresa, e ela está com uma filial aqui para a revitalização da cidade, e no seu projeto está como criar shopping, clubes, prédios e outros. Caramba, ele é o CEO dessa empresa? Filho do grande fundador da INTER-HOME? Definitivamente eu estou ferrada. Antes mesmo que eu pudesse saber que gostaria de descobrir mais sobre ele, Isabella já tinha me contado várias coisas que descobriu ao stalkear nosso hóspede na internet. Uma delas era que a INTER-HOME era a empresa da família. Caio Victor e que, apesar de ser o filho mais novo, seria o sucessor na direção dos negócios. Por isso, e também pela semelhança física, presumi que o homem de meia-idade que falava com ele na entrada do prédio era seu pai. Essa suspeita deveria me fazer desconsiderar a possibilidade de me aproximar, mas não sei o que aconteceu. Antes que eu pudesse perceber que porcaria estava fazendo, comecei a atravessar a rua, caminhando na sua direção. Totalmente distraída, focada apenas numa única pessoa, como se o resto do mundo não existisse. Mas existia. Outras pessoas existiam, sinais de trânsito existiam e é claro que carros existiam também. Entretanto, só lembrei disso quando ouvi a buzina aguda de um que vinha na minha direção em alta velocidade para tentar passar antes que o sinal ficasse vermelho. Completamente assustada, olhei na direção do carro, vendo-o perigosamente próximo. O motorista freou bruscamente, eu fechei os olhos, parada no mesmo lugar. E então… nada aconteceu. Eu podia jurar que seria atingida e consegui imaginar os meus pais se lamentando sobre o meu túmulo, mas eu ainda estava viva. Inteira. Abri os olhos após pressionar por algum tempo, ainda assustada, e vi que o carro não me acertou por muito pouco. Mesmo assim, eu estava apavorada, e a coisa seguinte que aconteceu foi sentir as minhas pernas falharem, me levando a quase cair sobre o asfalto quente da rua. Quase! Não foi uma repentina retomada de equilíbrio que me fez continuar de pé. Foi o braço de Caio Victor segurando-me com firmeza pela cintura, me pressionando contra o seu próprio corpo para eu encontrar algum sustento. Então eu observei-o com os olhos arregalados, tanto pelo susto de quase ser atropelada quanto pela surpresa de ter sido amparada por ele. ____ Caio Victor... — Eu chamei e sei que a minha voz falhou miseravelmente porque, de repente, eu queria chorar, por ainda estar assustada demais. ____ Você está bem?- Ele perguntou, com a voz e o olhar mais cuidadosos que na noite anterior. ____ Você perdeu o juízo, garota?! — Alguém bradou antes que eu respondesse, e vi o motorista saindo do carro e avançando com passos furiosos na nossa direção. - Olha a merda que poderia ter acontecido se eu não freasse a tempo! Eu encolhi-me um pouco, porque sei que estava errada, e senti o braço de Caio Victor apertar-me com um pouco mais de força como se tentasse proteger-me. ____ Você sabe que nada disso estaria a acontecer se você respeitasse os limites de velocidade, não sabe? Ouvi ele dizer, calmamente. Caio Victor era mais alto que eu, então precisei olhar para cima para ver o seu rosto, e vi que ele deixou o seu olhar escuro recair sobre o meu por dois segundos antes que voltasse a observar o motorista. Mas enquanto ele olhava para o homem furioso na nossa frente, eu olhava apenas para o seu rosto, ainda sentindo o seu abraço protetor. E então o meu coração agitado começou a se acalmar. ____ O sinal estava aberto! — O motorista rebateu, ainda possesso. — O problema é dessa garota irresponsável, i****a se ela acha que pode atravessar uma avenida desse jeito! ____ Caio Victor tire a garota daqui. — Alguém disse, e só então parei de olhar para ele e procurei o dono da nova voz, logo encontrando o homem que pressupus ser seu pai. — Deixe que eu resolva as coisas com esse senhor. Eu vi Caio Victor demorar um instante antes de assentir, concordando, para então olhar para mim com paciência. ____ Venha, Valentina. — Ele disse, e eu apenas me deixei ser guiada. As minhas pernas ainda estavam bambas, mas eu consegui caminhar com o braço de Caio Victor ainda me amparando até chegarmos à calçada. Mas os meus pés travaram, e só então eu percebi. Caio Victor chamou-me de Valentina, mas eu nunca tinha dito o meu nome a ele. Caio Victor me levou a uma pequena sala de espera dentro da INTER-HOME e fez-me sentar, parecendo consciente sobre a inconsistência nas minhas pernas. Naquele ponto, entretanto, eu não sabia mais dizer qual era a causa da fraqueza prolongada. Não me surpreenderia caso descobrisse, depois de uma análise meticulosa na minha mente, que tudo não passava de um pequeno teatro para que Caio Victor continuasse a demonstrar aquele cuidado por mim. ____ Caio, eu trouxe água para ela — O destruidor de frigobar entrou na saleta após bater de leve na porta, e passou para Caio um copo que logo foi repassado para mim. ____ Obrigado, Max. — Ele disse, ainda me olhando com atenção. Max. Isso o destruidor de frigobar. ____ Você está bem, menina? Olhei para Max enquanto bebia um pouco da água e assenti com a cabeça, desajeitada. ____ Menos m*l que nada pior aconteceu. - Ele disse e mostrou-me um sorriso discreto, mas com covinhas enormes, para logo depois voltar a olhar para o homem que quase me fez ser atingido por um carro. ____ Eu vou ver se o seu pai já conseguiu acalmar aquele motorista, tudo bem? Caio Victor moveu a cabeça uma única vez. ____ Me chame quando o nosso carro chegar. ____ Mando chamar um táxi para ela ou...? — Max perguntou, se referindo a mim. ____ Não precisa, ela vai no nosso. O destino é o mesmo. — respondeu parecendo ter muita certeza sobre o que dizia. ____ Oh — eu não era a única surpresa, então foi Max quem murmurou. ____ Ela também é hóspede daquele hotel? Caio Victor caminhou até a poltrona em frente à minha e sentou-se com calma antes de finalmente responder. Mas seus olhos não se viraram para Max, porque ele continuou a olhar para mim. ____ Ela mora lá. — Ele disse, aumentando a minha surpresa, e então aquele mesmo sorriso pequeno apareceu outra vez no seu rosto. — Não é. Valentina? Aparentemente, estar com os olhos arregalados era normal quando eu estava perto de Caio Victor, porque os meus não paravam de parecer que saltariam a qualquer segundo. Mesmo assim, me forcei a parar de parecer uma boba incapaz de falar e confirmei, ainda olhando para ele com o copo de vidro esmagado por minhas mãos ansiosas. ____ Eu sou filha dos donos... — Justifiquei, nem sei mais se para Caio Victor, que já parecia saber disso, ou para Max, que eu nem sabia se ainda estava lá. Era realmente difícil concentrar-me na realidade ao redor quando Caio Victor estava bem diante dos meus olhos. Eu estava toda perdida nessa situação. ____ Como vocês se conheceram, Caio? — Max perguntou, confirmando que ainda estava ali e que ainda parecia estar confuso com o fato de Caio Victor e eu sermos conhecidos. ____Você não estava indo ver se o meu pai já conseguiu acalmar aquele motorista, Max? — Caio Victor retrucou, deslizando os olhos até ele. Como ele o olhou pareceu entregar alguma impaciência sutil. Percebendo isso ou não, o outro deixou escapar um som condescendente. ____Vou checar agora. — Ele disse, simples. — Venho te chamar quando o carro chegar. Ele então me olhou analisando por um tempo, vendo eu ficar ainda mais sem jeito com aquela situação toda. Ele realmente se divertiu às minhas custas e eu era a única culpada, onde eu estava com a minha cabeça. ____ É sua empresa essa aqui? - tentei puxar um assunto para quebrar aquela sensação de estar sendo analisada, certamente ele está se perguntando o porquê de eu atravessar a rua daquela forma. ____É isso que você quer saber, boneca? — Não era... Mesmo assim, balancei a cabeça, confirmando. Caio Victor deslizou a língua entre os lábios, me fazendo perceber como esse seu hábito de emudecê-los com tanta frequência comprometia o meu já abalado equilíbrio emocional. ____ É, sim, umas da filial das nossas empresas! — ele respondeu. Então apertei um pouco os olhos e os lábios antes de deixar um sorriso inoportuno escapar. ____ Isso é incrível. — Eu disse, quase sem pensar. ____ Se você vê algo de adorável em ser o CEO disso tudo é incrível, sim, a minha família batalhou muito por isso tudo, e hoje somos os melhores no ramo. ____Posso fazer mais uma pergunta? — Pedi, olhando-o com expectativa. A confirmação veio num gesto pequeno e eu poupei todo o meu tempo antes de continuar. — Como você sabe o meu nome? A expressão de Caio Victor não entregou nada além de calma quando ele começou a brincar com um dos anéis nos seus dedos longos. ____Não é difícil fazer aquela recepcionista falar. O nome dela é Isabella? — Ele questionou sem real interesse, girando o anel de prata no seu mindinho esquerdo querendo. — De qualquer forma, ela fala muito. Saber que ele tinha conseguido as informações com Isabella deixou-me um pouco tensa. Ela não era maldosa e nem tinha como saber que eu boicotava o seu plano de se aproximar de Caio Victor, mas eu não me surpreenderia caso descobrisse que ela falou alguma besteira sem querer. Não é como se eu tivesse muitas qualidades a enaltecer, então se ela revelou algo além das informações básicas, era muito provável que Caio Victor já soubesse que eu sou uma aluna vergonhosa que nunca beijou na boca. ____O que mais ela falou? — Eu perguntei após voltar a olhá-lo, porque não queria ser repreendido como fui na noite anterior. ____Nada de muito interessante. — Ele respondeu, abandonando o anel no seu menor dedo para brincar com o do seu indicador. — Valentina Bianchi, filha dos donos do hotel Alvorada.— a sua voz fez uma pequena pausa e eu vi o seu olhar parar de observar as próprias mãos para pousar no meu rosto, dezesseis anos. Nenhuma informação comprometedora, mas como ele falou sobre a minha idade fez-me perceber que não era algo que o deixava satisfeito. ____Você é mais nova do que eu imaginei. Valentina. Ainda sem entender o porquê de ser um problema, de repente eu também me senti incomodada com a minha pouca idade. ____ Eu faço dezessete em outubro. — apressei-me em dizer, imaginando que dezessete não seria tão r**m quanto dezesseis. Não para Caio Victor, entretanto. ____ Dezoito. — Ele disse, simplista. — as minhas mãos estão atadas enquanto você for menor de idade. Os meus olhos estavam atentos à sua expressão, em busca de alguma coisa que me fizesse acreditar que ele estava brincando, mas não existia nada além de seriedade no seu rosto bonito. Mas eu estava confusa. Por que eu precisava ser maior de idade? Caio Victor queria me dar bebida alcoólica ou alguma coisa assim? ____ Por quê? — Questionei, mesmo sentindo que estava fazendo uma pergunta estúpida. Caio Victor também pareceu achar isso quando sorriu, embora não com humor. ____Você é mesmo tão ingênua assim? — Foi o que ele retrucou, reforçando a minha ideia de que eu estava, sim, parecendo uma boba. Então encolhi-me um pouco na poltrona confortável, ainda segurando o copo de vidro sobre as minhas coxas. Sem saber o que dizer, eu optei pela única coisa que conseguiria falar. — Desculpa... Eu não sabia exatamente pelo que estava-me desculpando. Quer dizer, eu não tinha culpa de ser lerda. Para meu alívio, Caio Victor também pareceu acreditar nisso. ____ Não precisa se desculpar, meu anjo. — Ele disse, antes de prosseguir. — Não comigo. Outra vez, não entendi. ____ Com quem, então? - Então, perguntei, com medo de parecer burra de novo. ____ Com aquela recepcionista. — Ele disse, sem esclarecer muitas coisas. — Ela acredita que você me entregou um bilhete, mas você não fez isso, fez? Droga. Eu poderia tentar me fingir de desentendida, mas minhas bochechas gordas e vermelhas já tinham feito o trabalho de me denunciar. ____ Ela... ela tem namorado. — Eu murmurei, lutando contra o meu ímpeto de desviar o olhar. Estava realmente difícil olhar nos olhos de Caio Victor naquele momento, mas eu sabia que ele não ficaria feliz se eu não o olhasse enquanto falava e eu não queria irritá-lo. ____ Não é justo ela dar em cima de outros quando já está com alguém —Continuei, fingindo que realmente me importava com aquilo. Quando ela me pediu o favor, entretanto, eu não julguei a sua atitude nem por um segundo. — Então eu não quis mais fazer parte daquilo e desisti... Caio Victor olhou-me com as sobrancelhas sutilmente levantadas num gesto que deixava óbvio que ele não acreditava em mim. ____ Foi por isso que você desistiu. Valentina? Batidas na porta interromperam o que viria a seguir, mas nossos olhares não desviaram nem mesmo quando Max reapareceu. ____ Caio, o carro já chegou — Ele anunciou, e Caio Victor assentiu ainda sem parar de olhar para mim. ____ Vá na frente, nós já estamos indo. — Ele disse, e eu não ouvi a confirmação e nem vi quando Max se retirou, porque eu estava preso demais ao olhar de Caio Victor. Eu sempre estava preso demais ao seu olhar. ____ Você precisa saber que eu realmente não gosto quando mentem para mim. ____ Ele voltou a dizer, sem nenhuma entonação descontraída na sua voz firme. O meu silêncio foi a prova de que eu tinha entendido, mas estava constrangida demais para contar a verdade. Isabella disse-me uma vez que se eu já estou no inferno, devo abraçar o d***o e essa parecia a conotação perfeita para a situação. Eu tinha consciência de que Caio Victor sabia que eu não desisti de entregar aquele bilhete por um surto de moralidade. Mesmo assim, era difícil colocar em palavras que a real motivação foi o desejo que ele despertou em mim da mesma forma que fez em Isabella. Mas ele parecia não estar disposto a esperar que eu juntasse a minha fraca coragem, e então eu o vi levantar. ____ Vamos embora. — Foi o que ele disse, deixando de lado a conversa anterior e já caminhando em direção à porta. Saber que ele estava insatisfeito comigo disparou um alerta dentro de mim, e foi com pura impulsividade que eu também levantei após deixar o copo sobre a pequena mesa de centro, caminhei até ele e segurei a manga da sua blusa, impedindo-o de sair da sala antes que eu dissesse o que ele queria ouvir. Já era óbvio que às vezes eu falava coisas que não deveriam ser mencionadas, mas o que saiu da minha boca a seguir não me provocou arrependimento, apesar de ser vergonhoso como o inferno. ____ Eu toquei-me pensando em você! - Revelei, talvez alto demais. — E-eu não queria, mas foi impossível... Caio Victor não demonstrou surpresa, é claro que não. Ele viu o meu estado quando fechou a porta do seu quarto e deixou-me sozinha com aquela embaraçosa excitação e fogo subindo. ____ Não é justo ela pedir-me ajuda com alguém que me fez sentir todas aquelas coisas. Completei, reduzindo a minha voz a cada palavra dita, ainda segurando o seu braço. Sem perceber, o meu rosto tinha se voltado para o chão e os meus olhos estavam fechados com força, o que me impediu de ver o momento em que Caio Victor levou a mão livre ao topo da minha cabeça e acariciou-me quase como se acaricia um filhote. ____ Boa garota! Senti uma onda de satisfação percorrer cada parte do meu corpo. Eu tinha deixado Caio Victor satisfeito e ele tinha-me recompensado por isso com o seu carinho e a suas duas palavras. Então ergui o meu rosto com um sorriso enorme. Continua...
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