_____ Férias de verão

1664 Words
Valentina Ando tão desanimada por dias, só sei que sinto uma dor imensa, se isso é se apaixonar eu não quero mais saber, não é justo isso, era para ser lindo a minha primeira paixão e está sendo muito difícil e doloroso. Três semanas depois, as minhas férias de verão começaram. O meu apreço pela escola não tinha crescido nesse pouco tempo que passou, mas acordar naquela segunda-feira sabendo que eu teria que ficar o dia todo em casa não foi algo que me deixou particularmente feliz. Não que eu detestasse a ideia de não ter obrigações, mas eu detestava, sim, a ideia de ter tempo livre demais, porque ter tempo livre demais significava que eu teria ainda menos motivos para não pensar em Caio Victor. Eu estava magoada e queria mais que tudo arrancar o seu nome, o seu sorriso e a sua voz me chamando de anjo da minha cabeça. Mas eles não dizem à-toa que querer não é poder. Então, enquanto parte da minha consciência dizia-me que eu precisava esquecer, a outra, a vencedora, fazia-me perder horas fantasiando sobre Caio Victor aparecendo na minha porta. Mas eu sabia que ele não apareceria. Eu era estúpida, mas não há esse ponto. Por isso, passei dias e dias ouvindo as lamentações de Isabella sobre a sua partida sem que ela soubesse que, mesmo em silêncio, eu lamentava-me muito mais. E então, com toda aquela confusão na minha cabeça e no meu coração, a minha vida seguiu de uma forma genérica e muito mais deprimente que o tedioso rumo anterior. Eu acordava e pensava em Caio Victor. Então eu esperava o almoço, porque acordava tarde demais para tomar café, e sentia raiva dele. Durante a tarde, fazia companhia a Isabella enquanto deslizava pelo feed do Twitter e sentia falta de algo que nunca cheguei a ter. Pela noite, após jantar com os meus pais, eu deitava-me e lutava contra o impulso de jogar o seu nome na barra de pesquisa do navegador, ao invés de ir dormir e reiniciar todo o ciclo na manhã seguinte. O meu maior problema foi perder essa luta várias vezes. Quando a madrugada chegava e eu já estava cansada de procurar compilações de vídeos engraçados dos meus artistas favoritos, os meus dedos teimosos digitavam o nome de Caio Victor e então eu perdia mais algum tempo procurando notícias sobre ele. Eram todas muito impessoais, sempre falando sobre a sua posição como herdeiro da INTER-HOME ou sobre a sua aparição nos eventos em Roma, mas as minhas favoritas eram aquelas, mesmo antigas, que tinham uma foto sua, porque então eu a salvava e deixava na minha galeria para que pudesse sempre ver aquele rosto bonito. Acho que é isso que chamam masoquismo. Mas as férias acabaram e a minha rotina improdutivo foi interrompida para que eu abandonasse o horror de sofrer integralmente por Caio Victor e voltasse ao horror que era minha escola. E de hoje em diante vou chamar só por um nome, soa menos informal, Caio. E por lá, nada de novo. Léo e Fernanda não tinham crescido espiritualmente naquelas poucas semanas, então continuavam com as brincadeiras maldosas. Lisa continuava a ser alvo de piadas de toda a escola, principalmente depois que todos descobriram que ela saía com homens mais velhos, e eu... eu continuava a agir como se nada daquilo me importasse, egoísta demais para me preocupar com ela quando ainda lutava contra os resquícios daquele sentimento estranho que Caio despertou em mim. Mas quando os outros alunos saíam da sala nos horários livres e eu ficava ali por não estar disposta a fingir que me divertia com o senso de humor dos meus dois únicos amigos. Lisa e eu ficávamos sozinhas, e então eu sempre tomava a iniciativa de conversar com ela, porque descobri que o nosso gosto por homens mais velhos não era a única coisa que tínhamos em comum. Naquela tarde, nos minutos livres entre a aula de história e inglês, nós ficamos sozinhas de novo, e ela continuou a mexer no próprio celular como se eu não estivesse ali. ____ Ei — Eu chamei-a, me arrumando na minha cadeira para poder olhar melhor para ela. — Viu o ‘trailer’ do live-action de Attack on titã? - Ela balançou a cabeça, ainda sem me olhar. ____ Tá do c*****o! ____ Né?! — Comentei, um pouco empolgada. — Acho que foi a primeira coisa que me deu alegria nesses últimos três meses. Lisa finalmente olhou-me com a usual careta de deboche. — Você deveria fazer umas coisas novas. Sua vida é deprimente. Eu suspirei, porque ela estava muito certa. Quer dizer, eu tinha uma boa família, boas condições financeiras e não me faltava nada de essencial, então eu posso dizer que sempre tive sorte. Mas eu tinha dezesseis, e aos dezesseis qualquer gota é uma tempestade. E, caramba, ser enganado por Caio Victor é uma gota enorme. ____O que você faz? — Perguntei, com a esperança de ouvir uma resposta que me pudesse ajudar. ____Sexö. - Ela respondeu, direta. — Poucas coisas deixam-me tão feliz quanto uma boa trepada. Eu desviei o olhar, desconcertada. ____Imaginei. - Lisa então riu, acho que percebendo que eu ainda não tinha propriedade alguma para falar sobre isso. ____Cadê aquele seu s*********y que não tem idade para ser s*********y, hm? ____Ela perguntou, e pareceu que estava curiosa de verdade. — Você nunca fala sobre ele. ____E eu vou ficar falando sobre um cara que disse que ia-me encontrar, mas foi embora e não deu sinal de vida por três meses? — Resmunguei, tentando parecer brava. — Ele só estava brincando comigo. ____Nada de novo sob o sol, bebê. — Lisa disse, relaxada. — Você ainda vai passar muito por isso, vai se acostumando. Eu olhei-o novamente, um pouco chocada. Ela não podia, sei lá, tentar-me consolar? ____Não sei por que acreditei que você tentaria me convencer de que entendi errado ou qualquer coisa assim — Suspirei, relaxando a minha postura debaixo do seu olhar divertido. ____Você tem muita fé em mim. — Foi o que ela disse, debochada. — Mas olha, para não dizer que eu sou só má... — Lisa abaixou-se para abrir a mochila e eu quase acreditei que ela tiraria o seu cantil de lá, então ela jogou uma barrinha de chocolate para mim. Eu olhei para a embalagem após pegá-la no ar e até sorri, mas depois balancei a cabeça tentando-me livrar da vontade de devorar o chocolate ali mesmo. Então o joguei de volta. ____Obrigada, mas estou de dieta! Ela pareceu confusa, com os olhos apertados e as sobrancelhas unidas. — Dieta para que, c*****o? Depois de várias conversas furtivas com ela, eu já estava-me acostumando com a sua forma agressiva de falar, então não fiz grande caso sobre como ela perguntou, apesar de ficar, sim, incomodada com a sua pergunta em geral. Quer dizer, era óbvio o porquê de eu precisar de uma dieta. Eu sempre soube que não era magra o suficiente, mas, após ver o corpo de Caio, eu me convenci de que precisava começar a dar um jeito na minha aparência desleixada. Eu queria ser bonita como ele, mesmo sabendo que seria impossível, para sentir que estava à sua altura. ____ Eu preciso emagrecer. — Respondi com firmeza o suficiente para mostrar que aquilo era uma verdade absoluta. — Quero ficar mais bonita. Ainda confusa. Lisa continuou com os olhos comprimidos. — E o que o cu tem a ver com as calças, garota? E aí fui eu quem fiquei sem entender. — Quê? ____ Eu quis perguntar o que magreza tem a ver com beleza. — Ela explicou, revirando os olhos, e então jogou o chocolate de volta com mais força, acertando na minha testa. Deixa de ideia errada, sua maluca. Eu massageei minha testa e olhei para o bendito chocolate que caiu na minha mesa, um pouco assustada. Lisa era muito estranha, mas eu acho que ela estava tentando-me animar, então resolvi aceitar o seu agrado, após relutar por um tempo, e rasguei o plástico para morder o primeiro pedaço. ____Obrigada. — Eu disse, com a boca cheia e uma satisfação crescente dentro de mim. Eu sempre amei chocolate, mas fazia tanto tempo que não comia um e aquele parecia especialmente gostoso. ____Você ainda quer falar sobre o macho da tatuagem? Ela perguntou, ignorando o meu agradecimento. ____ Qual é a tatuagem dele, afinal? ____ Um dragão enorme — Respondi e apontei para minhas costas, para o exato lugar onde estava o corpo do dragão n***o, e depois deslizei o meu dedo até o meu ombro, onde ela acabava. ____ Enorme mesmo! ____Será que é uma referência ao que ele tem no meio das pernas? Eu demorei uns cinco segundos para entender o que ela quis dizer, e quando entendi comecei a tossir como uma tuberculosa por me engasgar com a minha saliva. Mas antes que eu pudesse acusá-la por sua indiscrição, dois dos outros alunos abriram a porta e entraram na sala, conversando sobre qualquer coisa. Acuada, eu me impedi de continuar falando com Lisa e arrumei-me na minha cadeira, olhando para a frente e continuando a comer o chocolate que ela me deu, mas principalmente fingindo que nunca tinha trocado palavra alguma com ela. Eu sentia-me m*l por ser assim, tão covarde, mas tinha muito medo de ser alvo de todas as brincadeiras maldosas daquela gente. Já sofri algumas e era horrível, imagine fazerem comigo o que fazem com ela. Então a única coisa que fiz foi olhar discretamente para trás, alguns segundos depois, somente para ver que Lisa tinha voltado a mexer no seu celular, fingindo também que nunca tinha conversado comigo. O gosto do chocolate ficou um pouco mais amargo quando voltei a desviar o olhar, deixando as coisas como estavam. No final das aulas, Léo e Fernanda decidiram que gastariam mais tempo na rua, mas eu estava cada vez mais indisposta para ficar perto deles e decidi voltar logo para casa.
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