Carolina Alcântara
Sento no meio da cama e espero pacientemente que Hassan venha ao meu encontro, não quero magoar o homem que está ali tão disposto me estendendo a mão e não me deixando afundar na tristeza que estou.
Abraço um dos travesseiros e sinto o perfume almiscarado, me surpreendo que ele não me enjoa. Sorrio ao olhar para a tapeçaria ao lado da cama e notar que posso, sim, me apaixonar por tudo isso.
Posso passar um período longe dessa loucura, curtir a minha gestação ao lado desse homem que parece estar começando a se envolver comigo. Com uma mulher traída, nesse momento insegura e praticamente o usando como escape da minha realidade.
— Está pronta? — Olho para o homem apenas de toalha na cintura.
— Acho que sim. — Sinto minhas bochechas queimarem.
— Há quanto tempo não se sente assim envergonhada Carol? — Um sorriso brota em meus lábios.
Enquanto penso no que ele pergunta, pondero sobre isso. Estou a mais de dez anos com o Bruno, já passamos por várias situações juntos que a vergonha e o constrangimento é algo que ficou há muito tempo esquecido.
Hassan é uma novidade, ainda me sinto envergonhada com todas as marcas que existe em meu corpo, um dia já fui muito acima do peso, deixando as suas marcas. Fora que viver tanto tempo na máfia me fez aprender a treinar, trocar hábitos alimentares e principalmente saber me defender. Com isso perdi muita gordura e ganhei um corpo um pouco mais definido.
Porém, ainda tenho muitas marcas…
— Há tanto tempo que m*l consigo me lembrar. — Digo e volto olhar para a tapeçaria.
Hassan se aproximou e desliza a sua barba volumosa em meu pescoço, me tirando um suspiro longo. Fecho os olhos e deixo que ele me dê o carinho.
— Diga o que deseja conversar. — Ouço seu sussurro, enquanto sinto seus lábios roçarem por minha nuca.
Sei que não era a sua intenção que t*****r agora, ele apenas estava tentando mudar o foco dos meus pensamentos.
— Meu casamento em primeiro lugar. — Digo e um beijo demorando em meu pescoço me faz rir.
Como meu árabe já estava na cama, ele apenas retirou a toalha e se sentou atrás de mim nu e me puxou contra a seu peito.
— Ok, o que tem em mente, sei que é uma mulher perspicaz! — Exclama.
— Não contarei ao conselho o que aconteceu, mas contarei as nossas mães, sei que terei o apoio delas…
— Hum! — As mãos dele ergue a barra da minha camisa e pousa a mão sobre os meus bebês.
— Você o ama Carol, jamais fará nada contra ele. — Sua mão começa a fazer círculos em meu umbigo. — Mas acho que deve contar a ele sobre os bebês, antes do casamento da senhorita Carrillo, porque precisarão aparecerem juntos.
Relaxo em seus braços e me viro levemente em sua direção.
— Hassan, tem certeza? Sou uma confusão, estamos apenas experimentando o t***o, nem sei o que será do futuro. — O vejo sorrir e tocar em meu nariz se divertindo.
— Todos na vida merecem um pouco de diversão e adrenalina, acho que você será a minha cota. — Diz tranquilamente.
Reviro os olhos para a ideia que ele tentou me passar fugindo da minha real pergunta.
— Estou falando sério… — Insisto.
— Sayidati, deixe-me aproveitar, sei que não me ama e longe de estar apaixonada, que pode em algum momento decidir voltar com o Bruno, e prometo que se esse momento chegar…
Sua mão ergue o meu rosto e posso ver em seu olhar o peso da verdade que há em suas palavras.
— Assim como um passarinho machucado que veio até minhas mãos, deixarei que se vá. — Um beijo terno em meus lábios me tira um sorriso.
— Quero me apaixonar por você, não quero te usar como estepe. — Digo baixinho, lhe olhando nos olhos.
Seus olhos escuros ganham um brilho lindo assim como o sorriso que surge.
— Farei o meu melhor, agora o que deseja fazer? — Suspiro e organizo a mente.
— Hector Carrillo, ele precisa de meu apoio para entrar na organização, precisará enfrentar uma situação com os Gonzaléz e mostrar o seu valor, precisarei estar lá! — Digo a contragosto.
Uma missão agora é inviável, ainda mais comigo gravida, deito em seu peito nu e coloco a minha mão sobre a dele. Percebo que ele está incomodado.
— O que houve? — pergunto.
— Não gosto como o Carrillo te olhou, Bruno está certo sobre isso, ele te cobiçou. — Seguro seu rosto pela barba e começo a rir. — Adoro quando sentem ciúmes de mim.
O beijo e o vejo revirar os olhos.
— Acho que se vocês dois se entendessem eu enlouqueceria, já imaginou? — Pergunto com a possibilidade.
— Não entendi, você diz ter nos dois, como seus maridos? — Ele pergunta e explode em uma gargalhada.
— Porque não, na sua religião vocês não podem ter quatro esposas? — Pergunto me divertindo com as caretas que faz em minha direção. — Poderia ter dois maridos!
— Abra as pernas! — Ouço o seu comando e paro de rir. — Vamos, deixe de ser cética e obedeça.
Reviro os olhos e apenas retiro uma perna de cima da outra, afasto um pouco os joelhos e olho para a mão que estava em minha barriga descer até a minha i********e, minha respiração trava. Fixo meus olhos nos seus e então sinto a sua outra mão se encaixando na minha b***a.
Deixo um gemido escapar quando sinto massagear as duas áreas.
— Imagina, eu e ele… — Fecho os olhos e aperto as minhas pernas.
Então a escuridão do que Bruno fez me faz travar.
— Por favor, não, não me leve a pensar dessa forma, acredito que não seja o que deseja e mesmo que crie uma fantasia, doe. — Suas mãos se afastam do meu corpo e o sinto me apertar contra seu peito.
— Desculpe, era apenas para entender, que aceitarei possibilidades, mas tudo bem continuaremos falar sobre o s seus planos. — Ele diz e beija a minha testa.
— Vou ligar para ele hoje e me encontramos com ele na Colômbia, podemos usar o lugar para conversar… — Começo a planejar como farei.
Já que não vou entregá-lo para o conselho, Bruno vai precisar saber que estou me envolvendo com outra pessoa, deixando livre para se envolver com quem quiser. Caso decida não ser morto, assim como também não quero, seremos discretos e manteremos essa separação debaixo dos panos.
— Acho que levar esse assunto para lá, pode ser perigoso! — Ele me diz olhando para o teto, talvez pensando em algo.
— Bruno nunca me machucou, não acredito que começaria agora. — Digo colocando as mãos nos bebês.
Com a minha decisão de contar para o Bruno que nesse momento estava decidida a seguir em frente e que as decisões sobre as nossas vidas seria dele nesse momento. De certa forma Hassan concordou comigo em revelar o que estava acontecendo e que nosso relacionamento seria algo que seria um segredo para todos, apenas os meus soldados de confiança saberiam e minha família.
Mas que Claudio não teria conhecimento já que ele não sabe guardar segredo, meu irmão não se envolveu com as questões da máfia, então não o colocarei em perigo com a decisão que estou tomando.
— Então a sua agenda para a próxima semana está pronta? — Hassan pergunta beijando o meu seio.
Confirmo com a cabeça, aceitei as minhas escolhas, agora é só questão de tempo para poder conseguir falar com minha mãe e minha sogra, elas são fundamentais para meus planos. Estávamos deitados na cama há tanto tempo, que começava a sentir fome.
Mas cedo ele já havia notificado que não queria visitas e que ainda essa noite estaríamos indo para a Colômbia, o que me daria tempo de voltar para curtir o casamento da Vanessa, mas o que decidi é que após o casamento iriamos para o Sudão.
— Tem certeza que não quer Laís e Matheus ao seu lado? — Já é a terceira vez que ele me pergunta.
— Tenho, pelo menos por enquanto. — Digo.
Como posso explicar para uma garotinha de dez anos que estou separada de seu pai e que já tenho outro homem ao meu lado. Quero ser honesta com todos eles, mas sei que ainda não é momento de contar aos meus filhos que existe algo diferente em nossa casa.
— Tudo bem, podemos conversar com eles aos poucos, vou me manter afastado quando eles estiverem na casa. — Digo sinto seus beijos e minha barriga.
Fico curiosa com o tamanho de dedicação e carinho que Hassan vem demostrando desde que chegamos em casa. Seu zelo é lindo de se ver.
— Depois do seu casamento, nunca pensou em casar novamente e constituir família? — Não resisto e pergunto.
— Estou fazendo isso nesse momento… — Avisto um sorriso e sua honestidade está ali estampado.
— Faremos dar certo, já que nossas vidas estão em risco. — Digo o obvio.
Passamos o praticamente o resto do dia no quarto do Hassan, não sinto nenhuma vontade de falar com ninguém nesse momento, quero apenas aproveitar que estou em uma bolha com essa novidade, que me mantém inteira e cuida de tudo para não explodir.
Já perto do anoitecer, preciso ir trabalhar um pouco ou sei que deixarei Juliana e Tânia loucas com as finanças da parte que me convém do Suíça.
Mesmo que o nosso restaurante seja um lugar para os mafiosos se encontrarem para selar acordos ou encontrar soluções para seus conflitos. Ele recebe pessoas que não fazem parte desse mundo ao qual pertenço.
Então os lucros dessa parte é exclusivamente delas, não interfiro isso. Para mim, somente sediar os conflitos entre chefes do crime, governos e mafiosos, já me é o suficiente.
Sem contar que tenho uma porcentagem da empresa com o Bruno, então a cada trimestre entra um bom valor em minha conta.
Estava algumas horas sentada olhando os números e os diversos pedidos para usar o Suíça como um lugar neutro, quando o telefone da mesa começa a tocar, respiro fundo e atendo.
— Alô?
“Por favor, precisamos conversar…” — Ouço dizer.
— Tudo bem, realmente temos, preciso te contar algumas coisas que estão acontecendo. — Digo.
“Minha Deusa, não sei mais o que dizer a Laís, ela quer falar com você, Matheus acredita que você está com as estrelas, já que não responde as minhas ligações.”
Me inclino na mesa e cubro o rosto com as mãos, irritada comigo mesmo que não percebeu que os próprios filhos poderiam pensar em algo do tipo.
— Eles estão acordados? — Pergunto.
“Sim, Arthur e Aurora estão aqui!” — Sorrio, sinto saudade dos meus sobrinhos.
— Procurarei o meu celular e te chamo por vídeo, já retorno. — Não espero que ele diga algo, desligo o telefone e vou atrás do meu celular.
Largo o que estou fazendo, procuro por cada um dos cômodos, subo para o quarto, entro e ouço o telefone tocar, o encontro caído no meio algumas roupas, me sento ali mesmo no chão e atendo a chamada de vídeo.
Sorrio ao ver os motivos de enfrentar todos os perigos, mentir para que eles não percam o pai que amam como um super-herói.
“Pipoca, a mamãe tá no fone do papai. — Matheus grita para a irmã.” — Tô com saudades, mamãe.
Sorrio e ali no chão converso com meus filhos e engulo o choro da saudade que tenho de minha família.