Bruno Alcântara
Desde que minha Deusa me deixou, as noites vem sendo as piores possíveis. Não tenho uma boa noite de sono há dias e com a casa silenciosa tem ficado ainda pior, sinto saudades dela e das nossas pipoquinhas que incendeiam a nossa casa.
Quando finalmente consigo cochilar um pouco para poder ir trabalhar, recebo a ligação da Vanessa, queria que ela tivesse me dado mais informação sobre o que aconteceu. Mas sei que se ela fez isso é porque minha Deusa realmente esteve em perigo.
Então não conto a ninguém que estava indo para Miami, consigo uma passagem em um voo comercial e embarco em direção à mulher que amo. Sei que minha irmã enlouquecerá quando chegar em casa e não me ver aqui, havíamos combinado de que iriamos conversar sobre o que fazer para a minha mãe tentar me proteger do Fritz.
Era cedo e o aeroporto estava lotado de pessoas, mantive a cabeça baixa, de boné e óculos escuros. Posso não ser uma celebridade Global, mas alguns paparazzi venderiam a alma para conseguir uma imagem minha sem a minha Deusa.
Passo pelo guichê e faço o check-in para o embarque, quando saio do meio do povo finalmente me sinto um pouco mais tranquilo, procuro uma poltrona e espero ser chamado.
Avisto meus seguranças não muito longe, eles liam um jornal ou apenas fingiam estar mexendo em algo no celular, o que me faz lembrar de Hassan que hoje não me passou o relatório sobre a Carol.
Com o celular nas mãos olho para a imagem que ele havia me enviado e não havia visualizado.
Minha Deusa estava sentada no chão brincando com Matheus e nossa pipoquinha brincava com a Helena, que estava sentada no sofá. Sinto uma bola fechando a minha garganta e o desejo de chorar começa a me incomodar.
Mudo de ideia e guardo o celular no bolso, graças a Deus o meu voo não demora e logo entramos na aeronave, somos conduzidos para a área executiva e nos acomodamos em nossos lugares.
— Senhor? — Meu novo segurança me chama da poltrona da frente.
Ergo os olhos e espero o que ele tem a dizer, assim como o outro segurança que estava me acompanhando na viagem.
— Deseja que ligue para Hassan e avise que estamos chegando? — Penso sobre o assunto e apenas n**o com a cabeça.
Podemos pegar um táxi assim que chegarmos, não me importo em surpreender a minha esposa, talvez seja isso que esteja faltando para podermos nos entender.
Agora é um pouco mais de oito da manhã, devemos chegar um pouco depois das duas da manhã por lá, espero que ela não me mate.
Reclino a poltrona e deixo a mente vagar na esperança de conseguir finalmente descansar, já que é questão de horas para ver a minha Deusa e descobrir como realmente ela está.
O voo foi relativamente tranquilo, consegui tirar algumas sonecas e me sentia muito melhor. Já havíamos recebido a alarme de apertar os cintos, estava a minutos de pousar.
Como estávamos apenas com mochilas, não havia necessidade de demorar mais que o necessário no aeroporto, assim que realizo todos os trâmites de imigração, vamos para o desembarque e entramos num táxi, informo o endereço de casa e sinto o meu peito começar a palpitar.
Estou pedindo a todos os deuses que Carol me escute, que aceite conversar comigo, ainda mais agora que algo aconteceu em nossa casa. Tenho certeza que ela passou por algo bastante perigoso para Vanessa achar a necessidade de me ligar.
Assim que chegamos em casa, noto que havia uma pequena luz acessa na janela lateral, provavelmente alguém deve estar na cozinha a essa hora da manhã.
Entramos em casa sem fazer alarde e somos surpreendidos por Frank, o segurança que Carol contratou para ficar aqui. Mas sinto falta do Marcos e Hassan, o segurança que fica com a Mariana.
— Sinto muito senhor, o dia hoje foi complicado na casa. — O homem que ainda estava com a pistola apontada em minha direção, diz.
— Tudo bem, que tal baixar essa pistola e nos contar o que houve! — Exclamo e olho em direção ao quarto e meus seguranças vão em direção ao corredor que dá acesso os quartos deles.
Aponto em direção à cozinha e vou com o Frank logo atrás de mim. Fico incomodado que ele esteja sozinho aqui fazendo a segurança da minha família.
— O que aconteceu aqui? — Pergunto sem paciência.
— A casa foi invadida, havia acabado de trocar o meu turno, aproveitei para resolver alguns problemas pessoais, quando retornei a senhorita Carrillo já havia rendido o homem que estava aqui. — Ele diz e me apoio na bancada da cozinha para poder ouvi-lo.
— E minha esposa? — Cruzo os braços esperando que ele me dê alguma boa resposta.
— Antes que Hassan pudesse retirá-la da casa, ela foi feita de refém. — Respiro fundo e olho em direção às escadas.
— Tudo bem, passe as coisas para os outros homens, eles ficarão aqui, pelo menos até que me vá. — O vejo concordar com a cabeça e sair em direção à sala de segurança.
Olho na direção que Frank foi com um sentimento estranho, é como se estivesse me escondendo algo, podia ver em seus olhos que ele estava nervoso e isso me incomodou.
Subo as escadas em direção ao meu quarto, mas antes paro no quarto do Matheus e vejo o meu campeão dormindo tranquilamente em sua cama, rodeado por seus dinossauros. Deixo um beijo em sua testa e saio do quarto lentamente, fecho a porta com um sorriso no rosto e tranquilo.
Passo direto pela porta do meu quarto e vou até onde é o quarto da Laís, ela fica com o quarto que a janela é de frente para o quarto da Helena, do outro lado da rua. Abro a porta devagar e vejo o seu tablet ligado em um filme e ela dormindo abraçada com o seu ursinho de pelúcia.
Desligo o dispositivo e o coloco na comoda ao lado de sua cama, arrumo a sua coberta em seu corpo e deixo um beijo em seu rosto.
Olho para o rosto e a tranquilidade que havia ali, sou apaixonado por meus filhos e por minha esposa também, tenho certeza que de alguma forma superaremos isso e voltaremos ser uma família feliz.
Saio do quarto da minha pipoquinha e vou em direção ao meu quarto, respiro fundo, encosto a testa na porta e seguro na maçaneta.
— Senhor que ela me aceite novamente… — Sussurro e abro a porta lentamente.
Entro no quarto e não encontro a minha mulher na cama, na verdade, acredito que a minha esposa se quer dormiu nessa cama, já que os lençóis estão dobrados e a cama está arrumada.
Caminho até o closet para ver se ela poderia estar lá, mas assim como a cama, ele estava impecavelmente arrumado e vazio. O que estranho é que havia algumas coisas faltando no armário e uma das malas não estava no lugar.
— Não acredito que Carol tenha viajado com nossos filhos aqui depois de uma invasão. — Levo a mão a barba e coço tentando encontrar uma explicação.
Ela está em casa ou Frank teria dito que ela havia saído. Mas com aquele olhar assustado dele, sinto que algo esteja acontecendo entre essas paredes.
Volto para o quarto e sento na cama, fico olhando para o lado que a minha Deusa deita, deslizo a mão pelo espaço desejando poder tocar na mulher que amo, sentindo uma pontada de raiva por não tê-la em meus braços nesse momento.
Não admito que estejamos nos perdendo, já admiti o meu erro, não deveria ter bebido. Está na hora de sentarmos como adultos e conversar sobre o assunto e estabelecer o que acontecerá.
Passar mais um dia na dúvida se a nossa casa será invadida pelos homens do Fritz para me matar está a ponto de me enlouquecer. Não consigo pensar no que se passa na cabeça da minha esposa.
Quero apenas saber como faremos para poder estar presente na gestação, quero estar ao seu lado, presenciar a sua barriga crescendo e lhe agradando a cada desejo que tiver. Suspiro olhando para o espaço vazio e me ergo para procura a mulher que não faço ideia por onde esteja.
Saio do quarto e olho para os dois lados no corredor que estavam vazios, e começo a entrar em todos os quartos que ficam no andar de superior de casa, entrando um após o outro.
Meus batimentos se aceleram por não conseguir achar a minha esposa em nenhum dos quartos no andar superior, no último quarto abro a porta em um rompante, sentindo o desespero me tomar.
— Onde raios essa mulher se enfiou? — Digo desesperado.
Desço as escadas a cada dois degraus e vou em direção o escritório, ela pode ter adormecido no sofá com o cansaço, vejo Frank se aproximando tranquilamente e voltando para a cozinha com a sua xícara.
— Onde está a minha esposa? — Falo um pouco mais alto, chamando atenção.
Em poucos segundos os meus homens estavam próximo à porta da cozinha sacando as suas pistolas.
— Senhor, a última vez que ouvi a madame, ela estava no escritório e disse que trabalharia até mais tarde, deve estar lá ainda! — Ele diz com o mesmo olhar assustado.
Estreito os olhos para o segurança e sigo em direção o escritório, abro a porta devagar para não causar nenhum susto em minha esposa gestante e assim como no quarto estava vazio, a diferença é que o no sofá havia uma blusa de botões ali.
Olho para as duas portas que tem no fundo do corredor, há outros dois quartos extras. Caminho lentamente até eles e sinto uma sensação excitante por reencontrar a minha esposa.
Atrás da primeira porta só havia um quarto vazio com a mesma decoração do resto da casa.
Viro em direção a outra porta que estava fechada, meus batimentos estavam me ensurdecendo, assim como sentia que algo estava errado, pelo menos dentro dessa casa.
Giro a maçaneta lentamente, o perfume adocicado de minha esposa me alcança antes que abrisse totalmente a porta e que pudesse vê-la na cama, seguro a porta e sinto olhos em cima de mim da mesma forma que percebo uma movimentação no quarto.
Coragem, homem!
Só mais dois passos e poderá ver a sua Deusa. Fechos os olhos e abro a porta completamente e me surpreendo com o que vejo ali…