Hassan Al-Makki
Senti meu coração se amolecer com o seu pedido, mas seus olhos estavam tão suplicantes, não iria conseguir dizer qualquer coisa que a fizesse ficar mais triste do que já estava.
Quero Sayidati tranquila, ainda mais agora que pode estar esperando uma pequena bidhara.
Era assim que chamava o meu bebê, quando minha esposa ainda estava viva ao meu lado. Com a Carolina ainda em meus braços, encosto o meu corpo no carro e a olho com ternura.
Como pode acontecer que sentimentos possam surgir assim tão rápido, não é apenas atração, não é apenas t***o e muito menos por status por ela ser quem é. Porque a mesma importância que ela tem, no meu país tenho também.
Mas sinto a responsabilidade de cuidar, proteger e resguardar a mulher que está agora em meus braços. É errado deixar que nossos sentimentos se tornem ainda mais ardentes do que está acontecendo, podemos nos magoar e sofrer meses a fio por um amor proibido.
— Não podemos nos apaixonar, você ainda é casada! — Digo com os seus olhos fixos nos meus.
Seus olhos pareciam tão confusos, provavelmente estou do mesmo jeito. Estou fugindo desses sentimentos há quinze anos e ver essa morena dos olhos cor de mel, seus cabelos na altura dos ombros e com uma pose tão majestosa como têm.
Me confunde…
É impossível não se envolver, não criar carinho e admiração na mulher que desejo lhe confortar, tentar lhe dar tranquilidade enquanto pensa e supera os problemas que estão surgindo em seu colo.
Tenho certeza que ela encontrará uma forma de não ficar longe de mim, me mantendo em sua segurança, já que hoje terá visitas importantes.
— Como deseja que isso não aconteça, Hassan? Se a cada oportunidade que temos estamos assim nos tocando. — Carolina rir ao falar.
Aperto a sua cintura, sorrindo em confirmação do que minha Sayidati acabou de dizer. Mas não posso evitar em tocá-la, é como se ela fosse uma extensão minha.
Afasto o cabelo que estava em seu rosto, deixando ele ainda mais visível.
— Você é linda Carolina! — Afirmo e lhe beijo mais uma vez.
— Você também não é de se jogar fora. — Deixo uma gargalhada sair.
— Vamos entrar, já coloquei a sua segurança e privacidade muito em risco nesse momento. — Digo e seguro em sua mão.
— Tudo bem, mas o quero ao meu lado. — Podia ver em seu rosto que precisava disso.
Concordo e entramos na clínica que graças a Deus estava vazia, a vejo preenchendo a sua ficha médica lhe dando algumas informações para a consulta. Enquanto aguardávamos o atendimento, meu celular vibra no bolso interno do terno.
Bruno: Bom dia, Hassan, Gustavo me disse que continua na vigilância e proteção de minha esposa, pode me informar como ela está?
Olho para a mensagem e poderia muito bem esconder dele o que está acontecendo, também posso dizer agora que ela está indo ver o fruto do seu casamento. Um dilema que entra em conflito com os meus desejos.
Me viro e fico de frente para Carolina, que estava folheando uma revista apenas para passar tempo. O seu rosto mostrava que ela estava inquieta.
Nunca passei e nem minha falecida esposa passou por algo relacionado a traição, sempre fui devoto a mulher que amei, guardo em minha memória com muito carinho todas as recordações que tenho dela.
Então não consigo oferecer qualquer tipo de apoio para a mulher que parece estar se agarrando nos orgasmos que estou lhe dando para não desmoronar de uma vez. Seguro em sua coxa e tomo a decisão certa.
Não posso me esquecer que ela é casada e mesmo que esteja dizendo que irá se separar, vejo em seus olhos, que Carolina ama o homem que a traiu. Acredito que quando ela se acalmar um pouco mais irão conversar e se entender.
Provavelmente destroçando o meu coração e os sentimentos que estão se esgueirando pelas beiradas.
Por isso preciso tomar cuidado para não me apaixonar e ficar sofrendo igual um cão que caiu do caminhão de mudanças. Coloco o meu celular em sua mão e deixo que ela leia a mensagem que acabei de receber.
O seu olhar vai para a tela do celular a vejo respirar fundo, noto quando a tela se apagar e voltar para a minha mão.
— Diga que pedi para me levar até uma cafeteria, que continuo triste e não tenho falado muito. — Afirmo com a cabeça.
Viro o celular e envio a mensagem, informando o que ela solicitou.
Hassan: Senhor Alcântara, não a vejo falar muito, se mantém sempre quieta, hoje ela me pediu para levá-la até uma cafeteria, estou aqui sentado olhando para ela tomando um café. Mais tarde receberá visitas da senhora Lira e a senhorita Carrillo.
Incremento um pouco mais a mensagem para não enviar outras perguntas e acabe aborrecendo a mulher que parece agora irritada.
Bruno: Obrigado Hassan, a noite aguardo alguma atualização de como foi o dia dela.
Antes que pudesse escrever outra mensagem, Sayidati é chamada, ela se ergue do meu lado e estende a mão para mim.
Vi em seus olhos o pedido que fosse com ela, que estivesse ao seu lado. Como poderia dizer não para ela, me sentia nesse momento o responsável por seu adultério.
Mesmo que ela esteja tão convicta assim de sua separação, corro o risco de ser descartado na chance que ela tiver uma conversa com o marido e se acertar com ele. E ainda perder o serviço.
Mas nesse momento não quero pensar nas futuras consequências, quero apenas relembrar da sensação que senti ao ouvir o coração de um bebê em formação.
Seguro em sua mão e retribuo o sorriso tão lindo e, ao mesmo tempo, cheio de ressentimentos.
Sei que não era eu que deveria estar ao seu lado. Arrumo a minha postura, fecho o terno e caminho ao seu lado parecendo um casal, entramos no consultório da médica.
— Bom dia, me chamo Julie, pelo que fui informada está desconfiando de uma gestação? — A ouço perguntar.
Puxo a cadeira e deixo que a mulher passe por mim e sente-se de frente para a médica, ficaria em pé atrás dela, mas recebo os olhares da médica e de minha Sayidati.
— Está nervoso doutora, é a primeira vez dele! — Sorrio para as duas meio constrangido. — Sente-se Hassan!
Olho para a minha patroa com as mãos nos bolso, meio sem saber o que fazer e sento ao seu lado, retiro o meu masbaha e o enrolo na mão e começo a passar as contas entre os dedos.
— Obrigado por ter me escolhido para fazer parte dessa jornada com vocês, vamos iniciar com algumas perguntas… — A médica abre o computador e começa a fazer inúmeras perguntas.
Estávamos há quase uma hora sentados, Carolina explicava que acabou esquecendo de retornar para aplicação do anticoncepcional que usa e só se deu conta quando passou m*l na outra noite.
Noto o seu corpo ficar tenso enquanto ela conta que teve um grande aborrecimento, deixando algumas lágrimas saírem. Mesmo não sendo o responsável, estou ali para ser o seu apoio.
Seguro em sua mão e puxo para beijar, deixando claro que estou ao seu lado.
E estarei provavelmente esperando por todo o tempo que seja necessário, que ela volte ser a mulher temida por todos.
— Tudo bem, já peguei todas as informações, como está de vestido, pode retirar somente a sua lingerie e deitar na maca. — Ouço a médica informar. — Podem ficar a vontade, já retorno.
Observamos a médica sair pela porta, volto a olhar para a Carolina que de algum modo parecia envergonhada.
— O que houve? — Pergunto preocupado.
— Desculpe! — Diz tão baixo que fico em dúvida se realmente falou algo.
— Pelo quê? — Fico confuso.
— Por isso, estar te envolvendo, te colocando em uma situação tão delicada. — Me aproximo da cadeira e com a mão ainda com o meu masbaha a beijo com ternura.
— Por mais dolorosa que esse momento esteja sendo para você e de certa forma para mim, estou aqui agradecendo a Allah por ter me escolhido. — Digo com carinho.
Beijo seus olhos e espero que se recomponha e crie coragem para levantar. Falta pouco para descobrir se realmente tem alguém se formando dentro dela. Que o sopro de vida de Allah lhe agraciou novamente.
A vejo criar coragem, ficar em pé e retirar a calcinha ridícula que estava usando.
— Não sei como ele nunca sentiu ciúmes de você. — Reclamo e retiro aquela porcaria de sua mão.
Melhor ficar sem do que andar por aí com a roupa marcada, deixando outros homens ter pensamentos pecaminosos com a mulher que está me fazendo ter muitos pecados na minha lista para o meu julgamento.
— Hassan sentiu ciúmes? — Ela pergunta rindo.
— Como posso sentir ciúmes… — Me aproximo de seu ouvido assim que se deita na maca. — Se ainda não me pertence Sayidati.
— Conver… — Nossa conversa é interrompida com a porta sendo aberta e a médica sentando-se ao nosso lado.
Confirmo com a cabeça e troco o cordão de lado, deixando que sinta as contas de marfim, um presente de meu pai assim que fiz quinze anos e comecei a acompanhá-lo nas funções de sheik.
— Começaremos, como é muito recente, optei por uma transvaginal, então sentirá um desconforto. — A médica diz.
Mantenho os olhos na tela a nossa frente, a imagem azulada e borrada começa a surgir ali mostrando imagens. De início não consigo entender nada, até que Carolina começa a tossir e se engasga…
— Não pode ser! — Ela exclama me assustando.
Olho de uma para a outra, a médica ria olhando para a tela.
— O que houve, está tudo bem? — Pergunto preocupado com o possível bebê que nem é meu.
— Você é da área da saúde? — A médica pergunta.
— Em uma vida passada… — Sayidati responde com o olhar perdido.
— Vai me contar ou não? — Pergunto angustiado.
— Estou gravida Hassan e não é só isso. — Ela diz e uma alegria se instala dentro de mim.
Olho para a médica para entender a reação do que via ali, ela estava mexendo o sensor tão rápido que não estava conseguindo entender porque tanta comoção.
— Aqui, papai, esse é o bebê um, não posso ver o sexo, pelo tamanho está de sete semanas de gestação. — A médica diz e fico ainda mais bobo.
Olho para a Carolina e beijo a sua mão, estou sentindo a emoção me dominar, ainda mais ter recebido o título de papai.
— E aqui é o bebê número dois, está com o desenvolvimento ótimo, parabéns pelos gêmeos. — Viro para a médica assustada com a informação.
— Parabéns — Sayidati diz insegura.
Seguro em seu rosto e naquele momento não me importo que ela seja de outro homem, que ela não seja minha e tão pouco que as crianças que estão dentro dela não me pertençam.
— Estarei ao seu lado Sayidati, ajudarei a criar e educar como meus se isso for de seu desejo. — Digo esquecendo que não estávamos sozinhos.
— Prepare a nossa ida para o Sudão, assim que passar o casamento. — Ela diz e sorrio com a possibilidade de viver uma história ao seu lado.
Ouvimos uma tosse atrás de mim, percebo que naquele momento Carolina o olhar que vejo surgir em seu rosto, é de uma mulher meiga e que precisava de carinho se constranger com a médica ao nosso lado.
Seu rosto se inclina querendo carinho, sua mão segura a minha e me aproximo para beijá-la antes de me afastar lentamente como os nossos olhos fixos um no outro.
E por poucos minutos a mulher poderosa que comanda muitas coisas somem, ficando apenas uma mulher que ainda não conheço, mas que me deixa intrigado com a beleza que deixou transparecer em seu olhar.
Sabíamos que uma tempestade estaria por vir na vida da Sayidati, mas não a deixarei passar sozinha, enfrentarei os perigos por ela.
Que Allah me perdoe, mas protegerei essa mulher até mesmo do marido se for necessário.
— Que tal um sorvete para adoçar o seu humor? — Pergunto assim que saímos da clínica.
— De nozes? — Ela pergunta com um sorrio.
— Tudo o que desejar, Sayidati…