Meu nome é Maria Isabel, como o da minha mãe, Maria Rita. Antes de tudo desmoronar, eu tinha uma vida confortável. Morava com meu pai, frequentava uma boa escola e fazia aulas de balé. Eu tinha tudo o que uma menina de 7 ou 8 anos poderia querer. Mas, quando o meu pai morreu num acidente de carro, tudo isso desapareceu.
Depois disso, fui morar com a minha mãe, ela já estava solteira.. E a minha vida foi sumindo aos poucos. A escola boa foi a primeira a ir embora. O balé também. A saúde emocional que eu tinha se foi. Minha mãe, Maria Rita, mudou completamente. Ela estava mais preocupada em garantir a própria sobrevivência do que em cuidar de mim.
E então, veio o pior. Aos 15 anos, fui entregue ao Coronel Reinaldo, um homem sem moral, de quase 60 anos. Cabelos grisalhos e curtos, barba bem feita e sempre de postura rígida, como se ainda estivesse no comando de um batalhão. Ele é grande, forte para a idade, com mãos pesadas que mostram que ele não tem medo de usar a força. Minha mãe me entregou a ele em troca de uma vida confortável. Ela conseguiu. Eu? Desde então, fui reduzida a ser a garota do coronel. Três anos, três amargos anos.
— "Você tem sorte, garota," ele dizia com aquele tom frio. "Eu te dei uma vida que muitas sonham ter."
A verdade? Eu nunca quis. Ele me deu uma casa, no meu nome, mas a que custo? Eu preciso me deitar com ele. Eu preciso obedecer. Um homem que não amo, que eu desprezo. Cada vez que ele me toca, sinto nojo. Mas, se eu tentar escapar, sei que ele vai me perseguir.
— Você não vai a lugar nenhum, Maria Isabel, ele sempre diz, os olhos duros como pedra. __ Você é minha, e essa casa, essa vida... são suas porque eu te dei."
Fui ao morro, tentar pedir ajuda. Eu sei que o único que pode me tirar dessa vida é Hugo, o ex-marido da minha mãe. Ele é um traficante poderoso, com influência suficiente para enfrentar o coronel. Fui até lá com a esperança de que ele me ajudasse. Mas não me deixaram entrar. Disseram que Hugo não me conhecia. E ele provavelmente nem se lembra de mim. Eu era apenas uma criança quando o vi pela primeira e última vez.
Depois disso, eu só queria fugir um pouco da minha realidade. Fui para a praia com algumas garotas do condomínio onde fica a minha casa. Moro sozinha, mas o coronel Reinaldo aparece todo dia. Ele controla minha vida, me observa de perto. O pior de tudo? Ele mora com a esposa dele. Eu sou só uma segunda opção, uma posse. Mas, mesmo assim, ele nunca me deixa em paz.
Fui à praia porque queria me sentir livre, pelo menos por algumas horas. Só por um momento, imaginei que poderia ter uma vida normal. Mas a sensação de liberdade durou pouco. Mais tarde, como se fosse um fantasma, o coronel apareceu. Ele sempre sabe onde estou. Sempre.
— "O que acha que está fazendo aqui?" — ele gritou assim que me viu, seu rosto se fechando em raiva.
Aquele olhar, o jeito que ele andou até mim, me fez c******r. Reinaldo tem esse poder sobre mim. É como se eu fosse um brinquedo que ele pudesse controlar. A praia inteira continuou como se nada tivesse acontecido, mas dentro de mim, tudo desmoronava.
Eu tentei me soltar quando ele me agarrou pelo braço, as unhas cravando na minha pele. Tentei resistir, mas foi inútil.
— "Você acha que pode escapar de mim, Maria Isabel?" — a voz dele soou como uma ameaça.
Ele me arrastou da praia na frente de todo mundo. A vergonha foi insuportável. As minhas amigas me olharam, mas não fizeram nada. Sabiam que não podiam. Eu era só uma sombra, alguém que parecia ter tudo, mas que na verdade não tinha controle sobre a própria vida.
O nojo que sinto dele cresceu dentro de mim. Mas o medo... o medo sempre foi maior. Ele me mantém presa, me lembra todos os dias que a minha vida, o que eu tenho, tudo isso depende dele.
Agora, de volta à minha casa, a casa que ele colocou no meu nome, estou trancada. Mais uma vez, prisioneira de uma vida que eu nunca escolhi. O que mais posso fazer?
Implorar socorro, e só posso implorar para Hugo Nascimento, o ex-marido que a minha mãe traiu.