6:30 da manhã. Por que tão cedo? Em casa, eu acordava para treinar às 8:00.
Ontem, quando Abby e Tobi chegaram, entregaram-me minha mala e perguntaram se eu queria conhecer os outros dois jovens, mas apenas agradeci e neguei o convite. Eles chegaram tarde, e eu só queria tomar um banho e ir dormir.
Levanto-me e vou direto ao banheiro. Ele é maravilhoso. Todo trabalhado no porcelanato. Tem uma ducha, uma banheira enorme, um vaso sanitário, uma pia e um espelho enorme. Tomo uma ducha rápida sem molhar os cabelos e me troco. Como sei que vamos treinar, coloco uma roupa fácil de se mover.
Saio do meu quarto antes das 7:00. Soube que os outros são dois garotos. Só tem eu e Abby de garotas nesse g***o e a personalidade dela não me agrada muito. Não sei se isso será uma coisa boa.
Daqui de cima, olho a sala de treinamento. Colocaram uma mesa onde 5 pessoas comem um café da manhã farto. Minha barriga ronca.
Vou em direção a eles rapidamente. Os únicos lugares vagos são ao lado de Tobi, entre Mike e um garoto que nunca vi.
Na dúvida, sento ao lado de Tobi.
—Bom dia. —Falo.
Todos me respondem com "bom dia" monótonos.
Um impacto de energia me atinge. Não só a mim. Todos parecem ter sentido, pois estamos nos olhando.
Tobi sorri sem mostrar os dentes e olha com expectativa para Abby.
—É um sinal. Vocês são os jovens certos. —Ele balança a cabeça como se nem acreditasse. Acho que não temos noção do quanto isso é importante para Tobi.
Abby respira fundo.
—O senhor nem imagina, essa sensação... —Ela sorri. —Me deixa mais forte.
Sorrio para mim mesma.
—A mim também. —Digo.
Todos parecem concordar. A mesma expressão nos rostos, não há dúvidas sobre a história de Tobi, há algo aqui. Algo grande.
—Tara Baker, esse é Adam Levine. —Tobi diz, apresentando-me para um garoto de cabelos pretos e brilhantes. Ele tem cara de travesso. Seus olhos emanam vitalidade. Ele parece ter uns 18 anos talvez. Aceno para ele. —E esse é Will Walker. —Agora ele me apresenta para um garoto mais novo. Ele parece estar um pouco acima do peso, seu cabelo é castanho e enrolado. Seus olhos são marrons e ele parece totalmente fora do seu habitat.
Também aceno para ele.
Percebo que Mike e Adam se encaram.
—Papai, explique o cronograma de hoje. —Abby diz, tomando um suco que parece ser de laranja.
Eu havia até esquecido que estou com fome. Pego um sanduíche e me sirvo de suco.
—Certo. Hoje e quantos dias precisarem, focaremos nos elementos de vocês. Para facilitar, Abby, eu e Mike tentaremos com vocês individualmente. Já que Mike e Tara têm uma espécie de ligação, Mike ficará encarregado por ela, Abby pode ajudar Adam, e eu cuidarei de Will.
Olho para Mike. Ele não parece nada satisfeito.
Durante o café da manhã, Tobi tenta fazer nós, os novatos, sentirmos mais à v*****e. É um gesto legal dele, mas acho que está forçando. Ainda está muito cedo.
—Então, vamos? —Tobi diz assim que terminamos.
Todos nós assentimos. Levantamo-nos e Tobi direciona cada um de nós. Ele pede para que eu e Mike andemos até o final da sala. Tem bastante espaço lá. Vou calada atrás dele.
—Como você vai me ajudar com meu elemento? —Pergunto assim que nos posicionamos.
—Do jeito que Tobi me ajudou com o meu. —Ele diz sem nem me olhar. —Espere aqui.
Fico parada enquanto ele vai até o arsenal e pega duas espadas. Faço uma careta. Eu sou péssima com armas assim.
Quando ele está a uns 5 metros de mim, ele joga uma das espadas para mim. A pego pelo cabo e sinto o peso.
—Eu não luto com armas. —Falo.
Ele levanta uma sobrancelha.
—Com o que você luta?
—Com os punhos. —Respondo, colocando a espada no chão.
Ele me olha como se eu fosse inferior. Mais fraca. Isso me irrita. Mike tem uma coisa que todos os ninjas têm. Um ego gigante. É verdade, eu tenho, mas não menosprezo os outros assim.
—Está bem. —Ele solta sua espada no chão e fica em posição de ataque.
Faço o mesmo.
Ficamos nos encarando, esperando qualquer reação do outro. Então ele se mexe. Vem em minha direção com um soco e eu me abaixo, agarro seu braço e com um impulso, dou um salto e entrelaço minhas pernas nas suas costas, passo meu braço no seu pescoço e seguro as laterais do seu rosto com força. Se ele se mexer, posso quebrar.
Ele dá duas batidinhas no meu braço. Largo ele e vou pra longe. Mike parece completamente envergonhado e desconfortável. Torce o pescoço e fica em posição de ataque novamente.
—Como isso me ajuda? —Pergunto.
—Se acionarmos adrenalina suficiente em você, talvez você libere. —Ele diz com a voz áspera.
Talvez eu tenha exagerado.
—Isso não é adrenalina. Treino assim todo dia com meu pai e nunca despertei o elemento. —Gesticulo com os braços enquanto falo.
Ele pensa.
—Certo.
Então uma rajada de vento me atinge. Sou lançada para trás, numa ignorância, sem ter onde me segurar. Bato minha cabeça e meu ombro, mas ignoro a dor. É algo que aprendi desde pequena. Todo ninja vai se machucar. f**o. Mas isso não deve ser motivo para parar, se você for machucado, machuque o dobro. É o que minha mãe sempre diz.
Assim que o vento acaba, encaro Mike.
—O que foi isso? —Pergunto indignada.
—Eu achei que você se defenderia! —Ele grita comigo, como se fosse óbvio.
Tenho v*****e de rir sarcasticamente. Como vou me defender de uma rajada de vento surpresa?
Respiro fundo e me levanto. Isso não vai levar a lugar nenhum se continuarmos assim. Mike parece estar fazendo isso f*****o. Eu não me sinto muito bem, talvez eu possa falar com Tobi e pedir para que outra pessoa me ajude.
—Vamos continuar. —Mike diz.
Pegamos leve um com o outro. Agora que ele viu que não sou tão fraca como ele pensa, está mais esperto. Porém, depois de mais de uma hora de treino, ele não me acertou um único golpe. Meu pai sempre me dizia que sou ótima em esquivar.
Então uma luz branca e ofuscante invade toda a sala de treinamento. Tampo meus olhos com as mãos e me desequilibro. Tropeço nos pés de Mike e caímos os dois no chão. Mas não ousamos tirar as mãos dos olhos.
Quando a luz parece estar se esvaindo, abro meus olhos devagar. De primeira, vejo Abby. Ela está caída no chão. Parece bem, mas consigo ver uma ferida na sua perna. Tobi e Will também estão caídos.
Então eu vejo Adam. Seu cabelo preto parece mais cintilante que nunca, suas vestes estão negras e sua pele parece metálica quando se olha rápido. A luz emana dele.
Ele dá um sorriso e abre os braços. Consigo ouvir um trovão do lado de fora.
—Relâmpago. —Mike diz ao meu lado. Então dá um sorriso. —Eu achava que você iria despertar esse elemento.
—Por quê? —Pergunto.
—Porque relâmpago perde para o vento. —Ele diz e se levanta. Assim que em pé, limpa sua calça e me estende a mão.
Relutante, aceito sua ajuda. Fico em pé ao seu lado, mesmo com nossa diferença de altura, sinto que ele já está começando a me tratar como uma igual.
—Muito bom! —Tobi diz correndo para ajudar a filha. —Adam, você é do elemento relâmpago. Posso ver que você tem facilidade de controle, isso é ótimo!
Abby também parece feliz.
—Que bom que não somos opostos. —Ela diz a Adam.
Me viro para Mike.
—O que ela quis dizer com opostos? —Pergunto.
Ele olha para mim. Sabe aquela sensação de que ele estava me tratando como uma igual? Desapareceu.
—Você não sabe? —Ele pergunta e balanço a cabeça. —São cinco elementos. Mas cada um tem um ponto fraco. Relâmpago é fraco para o vento. Vento é fraco para o fogo. Fogo é fraco para água. Água é fraca para a terra, e Terra é fraca para o Relâmpago.
Certo. É fácil decorar. Então Adam tem um elemento que perde para Mike. Estou cada vez mais curiosa para saber o meu.
—Entendi. —Falo.
—Vamos continuar. —Ele diz.
Viramos de frente um pro outro e continuamos a lutar.
Após algum tempo, o cansaço tomou conta de mim. Abby e Adam foram buscar nosso almoço, enquanto continuarmos aqui. Para mim isso tudo é inútil. Esse treinamento que tenho com Mike, é o mesmo com meu pai. Apenas continuo porque Mike parece estar realmente se esforçando agora.
—Chegamos! —Abby diz trazendo várias sacolas.
—Tempo para almoço! —Tobi grita quando estou prestes a derrubar Mike no chão.
Então quando estou distraída, Mike me puxa e me faz cair em cheio no chão. Olho para ele indignada e assim que vejo um pequeno sorriso sarcástico no seu rosto, a raiva sobe em mim. Uma sensação estranha percorre meu corpo, quero me levantar e acabar com ele. Isso me tornará mais forte.
E quando vejo, já estou dando vários chutes seguidos enquanto ele tenta desviar. Ele empurra meu pé e dou um salto no ar, por pouco não o acerto. A luta está ficando mais séria, apenas eu ataco. Ele defende com o que pode. Está suando e eu também. Minha v*****e de acabar com ele apenas aumenta, sinto meus movimentos ficarem mais rápidos e Mike já parece cansado, mas eu apenas queria fazê-lo pagar. Percebo que ele tenta fazer um selo. Ele quer se transformar. Isso me deixa ainda mais nervosa.
Ataco sem dó nem piedade, como se ele fosse inimigo. Ele dá passos descontrolados para trás.
—Pare! —Mike diz, mas não consigo parar.
Então eu o atinjo. Um chute certeiro no lado direito do seu rosto. Ele cai a alguns metros de mim. Meu corpo está fraco. Sento no chão ofegante sem tirar os olhos de Mike.
Ele rapidamente se levanta. Há tanta raiva no seu olhar, que fico paralisada. Ele me encara por dois segundos, dá as costas para mim e sai andando.
O que aconteceu comigo? Por que fiz isso? Eu o ouvi pedindo que eu parasse, mas meu corpo não obedecia. E eu me sinto tão fraca. É como se eu tivesse colocado toda minha resistência naqueles golpes.
Me sinto m*l por Mike.
Tento me levantar. Meus pés doem. Minhas pernas fraquejam. Mas consigo. Não sei para onde todos foram, apenas vou até meu quarto devagar torcendo para não esbarrar em ninguém.
Então tiro a conclusão que eu devia torcer mais. O garoto novo, Will, está parado em frente ao quarto número 4.
Passo por ele fingindo não o ver, mas ele me chama a atenção.
—Ei. —Ele me chama. Me viro para ele e me escoro na perna manca atrás de mim. —Pode me ajudar?
Will se afasta e estende a mão. Metade de uma chave está na sua mão e a outra está na fechadura. Ele conseguiu quebrar uma chave.
—Desculpe, mas eu realmente preciso ir no meu quarto — Digo e continuo andando.
Então ouço um estrondo enorme. Me viro e Will está com o punho atravessado na porta.
—Não me olhe assim. Todos vocês são pessoas péssimas. —Ele diz enquanto enfia a mão no buraco e de alguma forma consegue abrir a porta.
Fico paralisada. Esse garoto não parece ter mais de 16 anos. Por que tanto ódio?
Ele entra e sua porta fica aberta. Deixo meus passos me guiarem para dentro do seu quarto. Ele está sentado na cama encarando o punho.
—Eu não sou uma pessoa péssima. Apenas acabei de fazer uma coisa h******l que me deixou completamente esgotada. —Falo e percebo o peso das minhas palavras.
Será que sou uma pessoa péssima como ele disse?
Ele me encara. Aperta os lábios e consigo ver lágrimas brotando nos seus olhos. Mas elas se vão rapidamente.
—Desculpa, mas é que eu não sou igual a vocês. Esse não é meu lugar. —Ele diz.
Seguro sua mão.
—Claro que é. Somos ninjas. —Falo.
Ele puxa sua mão bruscamente.
—Não. Eu não sou. Meus pais são pessoas normais. De repente um estranho bate na minha porta e me leva como ele me dizendo que sou um ninja. Eu nunca recebi nenhum treinamento, fiquei sabendo ontem que meu avô é um ninja. Nem isso ninguém teve o trabalho de me contar.
Me levanto. Ele não quer companhia, ele apenas precisa pensar um pouco mais.
—Escuta, nós estamos fazendo parte de algo bom. Algo que pode salvar muita gente e se você está aqui, você é capaz. —Falo e vou para meu quarto.
Me jogo na cama e o sono me domina.
Várias batidas surgem. Demoro um pouco para meu cérebro se acostumar com a ideia de ter que levantar, mas assim que faço, percebo que estou revigorada. Faminta, porém revigorada.
—Quem é? —Pergunto antes de abrir a porta.
Ninguém responde. Fico parada encarando a porta. Eu estou sentindo algo e tenho suspeitas de quem seja.
Assim que abro, vejo que minhas suspeitas estão certas. Apesar de eu não acreditar no que estou vendo.
Mike está na minha frente com uma bandeja. Observo seu rosto onde uma marca vermelha enfeita seu olho direito. Isso vai ficar f**o amanhã.
—Você não foi almoçar. —Ele diz. Não me olha nos olhos, apenas entra e deixa a bandeja em cima da cama.
Agora estou sentindo algo bom. É muito confuso essas sensações. Elas mudam o tempo todo e eu nunca sei de onde elas vêm. Algumas eu consigo identificar e saber o porquê, essa me parece vir de Mike. Algo relacionado ao seu humor. Ele está calmo e eu não esperava isso.
Mike se posiciona ao lado da porta. Ereto como um soldado. Ele observa a comida por um instante, então olha para mim.
Minha barriga ronca. Eu nem sei que horas são.
—Não vai comer? —Ele pergunta.
—Ah... é, vou. Obrigada. —Digo me sentando na cama. — Que horas...?
—Passa um pouco das duas da tarde.
Certo. Não faz muito tempo desde que caí no sono. Mike me trouxe frango. Belisco a comida pouco confortável. Não sei o que ele quer parado na porta, está começando a me assustar.
—Eu vim pedir desculpas. —Ele diz a frase como se não costumasse usá-la. O encaro. Ele não devia me pedir desculpas, foi eu que deixei essa marca vermelha no seu rosto. —Cuidado, nós sentimos uns aos outros, lembra?
Isso que vem de você... está se sentindo culpada? Está confusa?
De fato, é exatamente o que sinto. Tenho que trabalhar em esconder minhas emoções.
Me levanto e fico à sua frente. Involuntariamente, minha mão vai de encontro com seu rosto traçando as marcas do machucado.
—Eu fiz isso. —Digo. —Não sei o que deu em mim, apenas fiz.
Ele olha para mim. Seus olhos negros estão brilhando. Tem tanta coisa ali. Coisas que eu não tenho coragem de desvendar.
—Tudo bem. —Ele fala e sua voz está suave. —Eu estou bem.
Respiro fundo. Meu coração parece acalmar um pouco.
—Ei. —Ele me chama enquanto saio do quarto.
Me viro para ele.
—Pensei que você ia me dizer que eu devia tomar cuidado com você. —Ele diz com um sorriso brincalhão. —Você é perigosa.
Forço uma risada. Ele é engraçado, mas tenho que estar alerta. Não sei de onde vêm essas sensações que eu tenho por ele.
—Você não devia brincar assim. —Digo e saio do quarto.
Não sei o que fazer sobre Mike. Essas sensações são tão estranhas. Eu m*l consigo distinguir minha fome do meu cansaço, não sei de onde essas sensações vêm.
No fim das contas, me deito na minha cama e durmo até Tobi me chamar para o jantar. Nem percebi que tinha caído no sono.