Capitulo 4 - O garoto de pedra

3012 Words
— Pessoal, aqui comigo. — Tobi chamou nossa atenção no começo de mais um dia de treinamento. Já faz uma semana desde que comecei a treinar com ele, mas ainda não despertei meu elemento. Falta apenas eu e Will. Falta apenas descobrir se o elemento é Terra ou Fogo. No fim de semana, fui para casa e contei aos meus pais tudo o que aconteceu. Eles me encorajaram a dar o meu melhor. Todos nós nos levantamos da mesa do café da manhã e seguimos Tobi até o final da sala de treinamento, onde ele tinha preparado um quadro branco. Ele fez sinal para nos sentarmos, e assim fizemos. Tobi saiu por um momento e voltou com uma lousa de vidro. — Bom, já faz uma semana e tenho observado cada um de vocês. Sei no que cada um precisa melhorar, e quero que se concentrem nisso. — Ele disse, abrindo o pincel atômico que estava segurando. Em seguida, ele desenhou um boneco que parecia uma garota. — Este aqui é o Mike. Ele é excelente com todo tipo de armas, bom em luta corpo a corpo, mas péssimo em lidar com seu poder. — Tobi falou, enquanto os outros, menos Mike, reprimiram uma risada enquanto ele escrevia tudo o que disse. Então, ele desenhou outro boneco. — Essa é a Abby. Ela é boa com algumas armas, péssima em luta corpo a corpo e excelente em lidar com seu poder. — Ele piscou para a filha. — Ah, pai. Lutar com murros e pulos e todas essas coisas não é para mim. — Ela gesticulou e fez caretas. Tobi ignorou e desenhou mais um boneco. — Esse é o Adam. Ele é bom com armas, bom na luta e bom lidando com seu poder. Mas lembrem-se, bom não é perfeito. Bom não vai derrotar a Diana. — Tobi disse. Adam tinha um sorriso presunçoso no rosto. E então, ele desenhou outro boneco. — Esta é a Tara. Ela é mais do que péssima com armas, porém é mais do que excelente em luta corpo a corpo. A esquiva dela é perfeita. Ainda não despertou o elemento, então não sabemos como ela será com poder. — Ele explicou. Descrever que sou mais do que péssima com armas era um eufemismo. Exceto em lançar facas, minha mira é excelente. — E este é o Will. — Tobi desenhou mais um boneco. — Will é péssimo com armas, péssimo em luta corpo a corpo e ainda não despertou o elemento. — Ele disse, e Will se encolheu. — Na verdade, Will tem uma força monstruosa. Vocês precisam ver o que ele fez com a porta do quarto dele. — Eu intervim para fazer Will se sentir melhor, e pareceu funcionar, pois ele me deu um pequeno sorriso. — Certo. Vou adicionar "força" às suas qualidades. — Tobi disse, corrigindo. — Que qualidades? O garoto é uma escória, não sabe fazer nada. — Adam, o novo recruta com quem troquei apenas duas palavras, debochou de Will. Tobi lançou um olhar de desaprovação a Adam. — Will nunca recebeu treinamento, é normal que ele esteja mais atrasado. — Tobi explicou, e Adam bufou. — Se soltarmos esse garoto numa luta, ele morrerá. Não temos tempo para treiná-lo. — Adam deu de ombros, ignorando os olhares de reprovação de Tobi. Adam era definitivamente o tipo de pessoa péssima que Will tinha descrito. — Você fala isso de Will, mas ao menos esteve em alguma luta de verdade? Sinceramente, entre você e ele, eu apostaria nele. — Eu falei, e uma explosão de sentimentos me atingiu. Eu tinha que começar a me acostumar com isso. Adam soltou fumaça pelo nariz. — Nenhum de nós esteve em uma luta de verdade. — Ele apontou. — Ahn... certo, isso é uma boa ideia. — Tobi ponderou. — Vou colocá-los numa luta de verdade. Toda a nossa atenção se voltou para Tobi. — Ahn... pai, você tem certeza? — Abby perguntou, apreensiva. — Está com medo, Abby? — Adam perguntou, abrindo um pequeno sorriso. — Jamais. — Ela, que antes parecia um pouco assustada, mudou de atitude. — Então está resolvido. Vou falar com meu contato da OMN, e ele vai me arranjar uma missão... mas antes, devemos treinar. Acho que podemos colocar essa rivalidade em prática. — Ele nos observou atentamente. — Uma disputa! Abby lutará com Tara. Will lutará com Adam. Os vencedores lutarão entre si, e o último lutará contra Mike. — Tobi se animou no meio de sua fala e, no fim dela, expôs um sorriso. A OMN, Organização de Missões Ninjas, era a nossa fonte de missões. Todos os ninjas de nível A, B e C trabalhavam para eles, realizando missões de todos os tipos. Mas a OMN não era apenas isso; hoje em dia, era a maior representação do mundo ninja que existia, com filiais em diversos lugares, possuindo muitos recursos e poderes políticos, muito parecido com o sistema que os humanos tinham. Todos nós nos encaramos depois da sugestão de treinamento de Tobi. O que eu sentia eram vários sentimentos embaralhados: medo, raiva, presunção, ansiedade. — E qual o prêmio? — Adam questionou. Tobi pensou um pouco. — O prêmio... bom, que tal quem for o vencedor se tornar o líder na primeira missão de vocês? — Tobi sugeriu. Líder? Isso era ótimo! Mas o que aconteceria se alguém como Adam se tornasse líder da missão? Era preciso ser estrategista, ser esperto e colocar a equipe acima de si. Não achava que Adam conseguiria fazer isso. Eu daria meu suor e sangue para ganhar isso. Minha luta era contra Abby. Eu já tinha lutado com ela antes, e não acabou muito bem para mim. Isso seria interessante. Pela cara de todos, eles gostaram do prêmio. Até Will parecia estar gostando. — Bom, e quando começamos? — Adam perguntou. — Vou falar com meu contato hoje, e amanhã podemos ter as primeiras duas lutas. — Tobi disse. Todos concordamos. Ele nos mandou treinar e foi embora. Fui com Mike para o final da sala de treinamento, e mais uma vez ficamos frente a frente para lutar. — Então, o que tem para me ensinar em luta corpo a corpo? — Ele perguntou antes de darmos os primeiros passos. Ele queria que eu o ajudasse? — Depende. O que pode me ensinar com armas? — Perguntei. Podíamos ter um acordo que beneficiasse ambos. Ele deu um sorriso de lado, arqueando as sobrancelhas. — Está preocupada com a luta de amanhã? Sabe, aposto que você tem boas chances contra Abby, é só ficar longe da água sempre. — Ele aconselhou. — Não estou preocupada... talvez um pouco. Ela parece do tipo que não tem piedade. — Falei. Mike atacou. Ele veio pra cima de mim com um murro, e eu desviei. Tentei acertar sua barriga, mas ele se impulsionou para trás e me girou, passando um braço pelo meu pescoço. Ele começou a me enforcar lentamente, e eu podia sentir o orgulho dele. Aprendi a me livrar de enforcamentos por trás quando tinha 10 anos. Tirei meus pés do chão com um pulo, e com toda minha força, joguei Mike para cima de mim. Ele caiu de costas no chão, e eu subi em cima dele, forçando meu braço no seu pescoço. Ao contrário dele, não fui lentamente. Logo ele bateu no meu braço, e eu o soltei. — Você acha que ela não tem piedade? Já viu como você luta? — Ele perguntou ofegante. Soltei uma risada baixa. — Afaste mais as pernas quando pegar alguém por trás assim, vai te dar estabilidade se ela tentar algo como eu. — Disse. — Essa foi minha primeira lição? — Ele brincou, se posicionando para uma nova luta. — A primeira de muitas. — Falei, e ataquei. Corri e dei um salto, levando meu pé direito em direção à cara de Mike. Ele rapidamente desviou e segurou minha perna, me fazendo cair no chão. Ignorei a dor e tentei me levantar, mas ele veio para cima de mim e repetiu o que eu fiz com ele. Ele não podia deixar minhas mãos e pernas livres assim. Como ele fez antes, acertei sua barriga com o joelho, e ele afrouxou a mão. Entortei seu braço e dei um chute nele, fazendo-o voar longe. Corri para cima dele enquanto ele se levantava, tentando acertá-lo com um murro, mas ele segurou meu braço e me puxou. Quando percebi, minhas costas bateram no chão. Ele veio para minha frente, sorrindo. — É, talvez Abby tenha alguma chance com você lutando assim. — Seu sorriso era de pura confiança. Dei um sorriso de lado. — Regra número 2: Não baixe a guarda. — Dei uma rasteira nele. Mike caiu no chão, e eu fui para cima dele, imobilizando seus braços e pernas e ainda forçando em seu pescoço. — Ok. Você venceu essa. — Ele falou com dificuldade, e eu o soltei. — Mas quero ver você ganhar de mim com uma espada. Mike se levantou. — Eu também iria querer ver isso. — Brinquei. Ele foi até o arsenal, e eu o segui. O arsenal lá de casa não era tão grande, apenas algumas espadas do meu pai, um arco e flecha e algumas facas. Não era nada comparado ao arsenal daqui. Havia espadas de todos os tamanhos, todos os tipos de facas, vários arcos, várias flechas, e outras coisas que meu cérebro estava tentando absorver. — Escolha sua espada. — Mike disse, pegando uma espada de cabo verde. Olhei cada uma delas e, por fim, escolhi uma espada curta. Voltamos para o lugar onde estávamos, e Mike começou a me explicar como eu deveria me posicionar, como deveria segurar a espada, como atacar e como defender. Nada que meu pai não tivesse tentado me ensinar por 13 anos. — Você escolheu bem. Você é uma lutadora de curta distância, uma espada curta é ideal. — Ele disse. — Mas Abby é de longa distância, o que você precisa é... — Acabar com essa distância. Preciso chegar perto o suficiente dela para a luta corpo a corpo. — Completei a frase de Mike. Ele arqueou as sobrancelhas. — Parece que já sabe de tudo. — Ele comentou e me atacou. Defendi o golpe de sua espada com a minha, mas ele conseguiu lançar minha espada para longe e apontar a dele para meu pescoço. — Você está na sua zona de conforto aqui, é mais fácil para você. — Falei. Ele ergueu a mão com a palma apontada para minha espada, e uma rajada de vento fez ela voar na direção de Mike. Ele segurou minha espada pela lâmina e ofereceu o cabo para mim. Exibido. Peguei a espada de sua mão e me preparei para a próxima luta. — Afaste os pés para te dar equilíbrio. — Ele disse. Foi a mesma dica que dei a ele. — Pense na espada como uma extensão do seu corpo. Não tenha medo de usá-la em mim. — Ele disse. Uma extensão do meu corpo? Não podia negar que seria legal que eu tivesse uma espada no lugar do meu braço. Segurei o cabo da espada com força e, dessa vez, o ataquei. Então eu olhei para seus pés. Lutar com espadas não requeria apenas habilidade com os braços; os pés de Mike se moviam tão rápido quanto ele. Me concentrei em defender seus golpes e procurei alguma brecha para atacá-lo, mas ele era rápido. Era quase impossível atacá-lo enquanto desviava de seus golpes, e quando percebi, estava no chão. Ele ficou em pé na minha frente, apontando a espada para meu pescoço. — Ahn... gente? — Will disse ao nosso lado, e Mike olhou para ele. Erro de iniciante. Dei uma rasteira nele como fiz há poucos minutos, e ele caiu no chão. Subi em cima dele e fiz o mesmo movimento, prendendo seu pescoço. — O que eu disse sobre baixar a guarda? — Falei. Senti uma sensação de raiva. Eu estava deixando-o bravo. Ele bateu no meu braço, e eu saí de cima dele. Nos levantamos e ficamos de frente com Will. — Sim? — Falei. — Tobi me mandou treinar com o Adam e a Abby, mas eles só sabem zombar de mim... e já que vou lutar com Adam amanhã, eu devia estar mais preparado... — Will estava apreensivo e parecia ter vergonha de pedir ajuda. — Você não vai lutar com a gente. — Mike disse, sem nem deixar o coitado terminar de falar. Olhei incrédula para Mike. — Claro que ele vai! Ele não tem chances contra Adam, mas se a gente ajudar... vai me dizer que não quer ver aquele i****a perder? — Apontei para Adam, sendo nada discreta. Mike pareceu considerar a ideia. — Tá certo, mas não fique no meu caminho. — Ele disse, e deu as costas, levando nossas espadas de volta ao arsenal. Will se aproximou de mim. — Ele muda rápido de humor. — Will disse. — O vento é instável. — Falei. Will concordou com a cabeça. Em alguns segundos, começamos a rir da minha frase i****a. Não havia nada que eu quisesse mais do que ver Adam sendo derrotado... bom, talvez eu quisesse deter Diana mais do que isso. — Então... por onde começamos? — Will perguntou. Will era mais baixo que eu e tinha mais peso também. Adam tinha duas vezes a sua altura e era magro. Ele tinha agilidade. Podia fugir dos golpes de Will facilmente e ainda acertá-lo. O que podíamos fazer até amanhã era torcer para que Will acertasse pelo menos um golpe, e esse golpe fosse fatal. — Vamos treinar sua força. — Falei, indo para onde Mike estava. Ele estava admirando as espadas. — Onde estão os blocos de madeira? — Perguntei. Ele olhou para mim. — Vai apostar na força dele? — É a única chance dele. — Falei. Mike suspirou. Parecia entender. Ele também não gostava de Adam; sabia como seria incrível se Will vencesse. Mike olhou para mim. Ele sentia o que eu sentia. Esse d****o de ajudar Will a vencer Adam. — Não usamos blocos. Temos uma área de treinamento com troncos de madeira lá atrás. — Ele disse. — Meu Deus, qual o tamanho desse lugar? — Perguntei, olhando em volta. Estava ciente de que estávamos no subterrâneo, mas ainda assim era enorme. Mike começou a andar, e eu chutei que deveria segui-lo. Acenei para Will nos seguir. Andamos até o fim da sala de treinamento, e vi uma porta ao lado de um painel com dois botões. Mike apertou um botão, e ela se abriu. Uma escada foi revelada. Ele começou a subir, e Will e eu fomos atrás. Não sabia quantos lances de escada subimos até chegar na superfície. Era um local bonito, um pouco maior que um quintal. Tinha vários troncos um pouco surrados e dois bonecos de madeira com alvos no peito. — Você treina arco e flecha aqui? — Perguntei. Mike não disse nada, apenas foi até os troncos, e Will e eu o seguimos. — Bom, vamos ver sua força. — Mike disse a Will, me ignorando completamente. Chato. Will assentiu. Ele se posicionou em frente ao tronco. Ele deu um murro, e seu punho entrou no tronco. Ele tirou e deu outro, seguido de outro, e de repente fomos atingidos por pedaços do tronco que foram completamente destruídos. — Eu não sabia que você era tão forte! — Exclamei. Will se acanhou, mas parecia bem consigo mesmo. — Isso foi bom. — Mike disse. — Bom? Isso foi incrível! Desse jeito, ele pode derrotar Adam com apenas um soco. — Falei. — Para derrotar Adam com apenas um soco, ele tem que destruir esse tronco com apenas um soco. Ele não é forte o bastante. — Mike, o estraga-prazeres, disse. Mike era tão negativo. Eu acreditava que Will pudesse ganhar de Adam. Eu acreditava nele. Por que ele não podia dar esse voto de confiança a ele? — Ele vai conseguir. — Pisquei para Will. Mike se posicionou de frente para Will. — Lute comigo. Se me derrotar, consegue derrotar Adam. — Ele desafiou. Will olhou para mim. Mike estava certo. Ele era o melhor dali. Era o melhor com armas, deixava a desejar no combate corpo a corpo, mas era esperto, sempre sabia o que fazer. Se Will derrotasse Mike, ele derrotaria Adam. Will assentiu, e Mike se preparou. — Vou ser gentil com você. — Ele disse. Eu e Will trocamos um olhar, e então Mike atacou. Ele foi rápido, tão rápido quanto antes, mas Will não estava a fim de perder. Ele desviou de todos os socos e chutes de Mike, e de repente, Mike estava no chão. Will o derrubou com um soco. Eu pulei e corri para ele. — Você conseguiu! — Falei, entusiasmada. Will sorriu, mas Mike se levantou. — Parabéns, você conseguiu. — Ele disse, e piscou para Will. — Ei, o que eu disse sobre baixar a guarda? — Perguntei, e Will se virou, mas foi atingido pelo tronco que Mike havia derrubado. Will foi arremessado para longe, mas não bateu em nada. Apenas o chão parou sua queda. Mike correu até ele. — Está tudo bem? — Ele perguntou, e Will assentiu, se levantando. — Por que você fez isso? — Perguntei a Mike. — Ele não aprendeu. — Foi a única coisa que Mike disse. Eu olhei para Will, que parecia estar com dor. — Vamos parar por hoje. — Falei. Will concordou e seguimos de volta para o subterrâneo. Eu não sabia o que faríamos com Adam amanhã. Eu sabia que Will não era forte o suficiente para derrotá-lo, mas acreditava que ele podia ganhar de Abby. E eu? O que eu faria amanhã? Eu teria que lutar com Abby e ganhar, claro, mas eu tinha que despertar meu elemento. Tobi já estava planejando missões para todos nós, então não podia mais esperar. Eu tinha que saber se meu elemento era Terra ou Fogo. Eu tinha que fazer isso agora
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