—Eu vou te queimar vivo. — Adam falou entre os dentes.
—O que? — Will gritou e olhou em volta para ver se ninguém tinha notado. — Olha, querendo ou não, vocês precisavam de incentivo. Não chegaríamos até aqui se eu não tivesse dito que tinha um plano, então Mike, bota a cabeça pra funcionar e nos ajuda a entrar nesse hospital.
Will estava certo em uma coisa, nós não estaríamos aqui se não tivéssemos confiado no plano dele. Eu provavelmente teria tomado uma decisão impulsiva que colocaria todos nós em risco. Will não é tão bobão como aparenta.
Mike suspirou e olhou para o prédio.
— O hospital é bem vigiado, não conseguiríamos passar por tantos ninjas. Temos que ter uma abordagem silenciosa. Precisamos entrar e sair sem sermos percebidos. — Mike ponderou. Ele olhou para cada um de nós e assentiu para si mesmo. — Tudo bem, ouçam com atenção. Eu, Tara e Adam vamos entrar, somos bons lutadores e vamos acabar silenciosamente com quem aparecer no nosso caminho. Vamos pegar a mãe da Tara e daremos um sinal para Abby e Will. Vocês dois cuidarão da nossa saída. Quero que transformem o chão ao redor do hospital em uma lama que prenda qualquer um que passar por lá e nos dê cobertura. Ele tinha um plano, isso era bom. Poderíamos seguir aquilo. — E o plano B. Se formos descobertos, quero que o Will destrua todas as paredes que impeçam a gente de sair de lá.
Um plano B era bom. Por isso Mike era o líder. Ele tinha essa mente calculista que atribuía funções de acordo com habilidades e sempre pensava fora da caixa. Era um cretino insensível, mas era inteligente.
—Muito bom, mas como vamos entrar? — Adam perguntou.
— Diana tem um número excessivo de guarda na entrada, mas um total de zero no telhado. — Mike explicou.
Olhei para o telhado e percebi todos fazendo igual. O chão era de alvenaria como um telhado de prédio normal, e havia um cômodo que claramente levava às escadas. O plano era bom e tinha grandes chances de funcionar.
— Certo, é um bom plano e seguiremos à risca. Por mim, eu entrava lá agora mesmo, mas... — Comecei e fui interrompida.
— Mas o mais sensato seria entrar lá de madrugada. — Abby completou.
— Alguém tá com fome? — Will perguntou animado.
— Espero que eu não passe m*l de ter comido demais. — Will comentou.
— Se você passar m*l eu te aplico uma injeção. — Abby falou e Will olhou para ela horrorizado.
Um ninja com a resistência mais impressionante que existe, um verdadeiro saco de pancadas, o corpo de pedra, com medo de injeção. Will era uma figura. Ele havia comido 19 hambúrgueres e meio. Graças a isso, o tempo passou bem rápido, e às 2:30 da manhã, começamos nosso plano.
— Lembrem-se, fiquem atentos ao sinal. — Falei para Abby e Will.
Os dois assentiram.
Mike estava parado à nossa frente, transformado, esperando por mim e Adam.
— Cara, não precisa me carregar, só segura tua espada assim. — Adam pegou uma das espadas de Mike e a colocou em horizontal nas suas mãos. A espada estava com a capa, então Mike segurou bem no meio dela.
Adam segurou a espada com as duas mãos e respirou fundo.
— Você vem ou vai querer que eu vá até aí? — Mike me perguntou e eu revirei os olhos. Eu disse que trabalharia junto com ele e não que iria gostar.
Me aproximei de Mike. Ainda havia um passo entre nós quando Adam bufou e me puxou bruscamente fazendo eu me chocar com Mike, que por sua vez, passou o braço livre pela minha cintura e me apertou contra si.
— É melhor segurar em mim. — Ele disse.
Relutante, coloquei meus braços ao redor do seu pescoço. Ele olhava bem nos meus olhos, ele sabia que eu havia ficado chateada com tudo que ele me disse e parecia estar tentando decifrar o que eu estava pensando. E aposto que não ficou muito feliz quando descobriu, pois Mike deu um impulso tão grande do chão que jurei que minha coluna tinha ficado no ar.
Ele estava melhor com os poderes, era transportando duas pessoas para uma considerável distância.
Chegamos ao terraço numa aterrissagem bruta. Já estávamos transformados, com armas empunhadas e prontos para uma batalha.
Fomos até a porta que leva para a escadaria e estava trancada. Adam simplesmente destruiu a porta com sua espada revestida com relâmpago.
Descemos devagar e alerta. Mike e Adam na frente, por serem dois espadachins e eu com minha Yari atrás por poder lutar com uma distância considerável. Não combinamos isso, Mike apenas olhou para nós e já entendemos. Seu espírito de liderança estava a mil.
Descemos tantos degraus que perdi a conta, então chegamos a uma porta.
— Muito bem. Diana não está no saguão, é óbvio demais. E também acredito que o covil dela não seja nas salas de cirurgia. Eu acredito que ela está no segundo andar ou no terceiro. — Mike sussurra.
Era um bom pensamento, mas se eu fosse a Diana, colocaria o máximo possível de guardas entre mim e o lado de fora, então ficaria no andar mais longe do térreo, que seria exatamente o das salas de cirurgia.
— Vamos olhar o andar das cirurgias. — Decretei.
— Que? Você me ouviu? As salas não são grandes, ela iria querer espaço. — Mike diz relutante.
— Ela é uma criminosa mundial. Os melhores ninjas do mundo estão atrás dela... tem uma profecia contra ela! Diana quer ficar o mais longe da entrada e o mais perto de saída. — Falei olhando para Mike. Adam apenas observava tudo como se fosse um jogo de pingue-pongue.
Mike revira os olhos.
— E qual é exatamente a saída? — Ele pergunta debochando.
— A nossa entrada. — Falo e Mike bufa. Ele é tão teimoso, estamos falando da minha mãe! Eu não arriscaria tudo assim se não tivesse certeza. — Vamos lá, se eu estiver errada, eu te peço desculpas.
Ele levanta as sobrancelhas. Com certeza era uma proposta tentadora. Eu pedir desculpas sem ter feito nada, ele iria se gabar por meses.
— Tudo bem. Vamos seguir sua intuição. — Ele diz. Sua expressão já mudou. Ele não parece, mas com raiva, muito pelo ao contrário. Mike parece estar se divertindo.
Passo na frente deles e seguro a maçaneta da porta diante de mim.
— E se eu estiver certa, você me deve desculpas. — Acrescentei e antes que ele pudesse responder, eu abri a porta me deparando com dois ninjas de preto.
Aconteceu tudo muito rápido. Os ninjas estavam armados com facas. Antes mesmo que eles se transformassem, chutei um na barriga, dei uma cotovelada no rosto do outro, então agarrei na cabeça dele e dei uma joelhada na sua cara que o deixou inconsciente, o outro tentou me atacar com a faca, mas eu o desarmei e chutei ele novamente, suas costas bateram com força na parede e eu dei um murro tão forte que ele desmaiou.
Adam e Mike me olhavam e eu sei exatamente o que eles estavam pensando.
"Exibida."
— Temos dois ninjas uniformizados. Acho que sei como chegaremos à sala da Diana. — Falei.
Mike se abaixou e revistou um dos ninjas, e Adam fez o mesmo com o segundo.
— Eles só carregam facas. Você quer mesmo que a gente se disfarce? — Adam perguntou.
— É a maneira mais fácil de encontrarmos minha mãe... Se vistam e procurem, eu vou subir e ver se tem alguma ventilação que dê na sala dela. — Disse e eles assentiram. Eu já estava de saída quando me lembrei de algo. — Ah, se encontrarem ela, façam a luz piscar, sei lá. Me mandem um sinal.
E deixei os dois, que já estavam quase sem blusa.
Subi as escadas à procura da entrada para o sótão, ou seja, lá como se chama a parte entre o teto e o cômodo. Encontrei uma pequena janela de uns 80 cm² pelo menos. Abri e me esgueirei por dentro. Na verdade, não era nada apertado, o lugar era imenso com um teto baixo. Estava quente, mas é claro que isso não me afetava. Tinha poeira e fios por todo lado, mas no chão era possível ver as divisas entre as salas e a ventilação de cada cômodo. A iluminação era mínima, mas vinha luz de cada ventilação.
Sai engatinhando para a primeira ventilação. Sabia que se eu fosse muito brusca, poderiam me ouvir, então fui o mais devagar possível. Tinham brechas muito pequenas, mas era possível enxergar um pouco a sala.
Era uma sala de cirurgia normal. Eu via uma maca, alguns aparelhos e só. Eu não conseguia ver muito, mas vi o bastante para saber que não era ali. Engatinhei até a próxima. Eu vi pessoas. Homens. Ninjas. Eles estavam... Oh meu Deus! Saí engatinhando rapidamente até a próxima, tentando apagar da minha mente a imagem do banheiro masculino.
A próxima era o banheiro feminino.
Então pulei para outra.
Era um quarto. Eu conseguia ver um tapete felpudo roxo e várias outras coisas em tom de roxo, e eu conseguia ver a metade de uma cama de solteiro e pés. Apenas isso. Eram pés pequenos, as unhas estavam pintadas de lilás. Pés delicados e femininos. Minha mãe não gostava de roxo, não era ela.
Mas aquilo me deixou intrigada. Continuei observando o quarto, na expectativa de que a garota se levantasse e eu conseguisse ver seu rosto. Mas ela apenas ficava parada. Comecei a perceber que sua pele era um pouco escura. Aquela garota era uma n***a de pele clara, um caramelo bonito de se ver. Eu sempre gostei dessa cor.
Então as luzes piscaram.
Rapidamente lembrei do porquê estávamos ali.
Adam e Mike acharam minha mãe.
Eu não podia sair correndo atrás deles e estragar o disfarce deles, fui engatinhando rapidamente para todas as ventilações procurando minha mãe, após umas 4, eu parei.
Havia achado a sala de Diana.
Era uma sala enorme. Tinha várias e várias janelas de ventilação, como se ela tivesse juntado várias salas pequenas. O lugar era até escuro, eu conseguia ver uma mesa de escritório de onde eu estava. E Diana sentada numa cadeira com as mãos em cima da mesa, olhando uma espécie de mapa.
Comecei a procurar nas janelas de ventilação da sala, algum sinal da minha mãe, mas ela não estava ali.
Então eu vi. Numa janela de ventilação distante, provavelmente uma das últimas que eu olharia, a luz que saia dela estava de outra cor. Um azul fraco e eu sabia exatamente quem tinha feito aquilo. Adam deve ter feito algo com sua habilidade de brilhar.
Fui rapidamente até lá e olhei pelas brechas. Vi o topo da cabeça de minha mãe, ela estava acorrentada, os cabelos loiros estavam molhados e suas roupas estavam sujas. Tinha mais gente naquela sala, mas eu não conseguia ver.
Eu entro? Eu espero?
Eu queria tanto salvar minha mãe. Queria quebrar aquela janela, pular lá dentro e levar ela embora dali, longe de todas aquelas pessoas ruins. Mike e Adam me deram um sinal e eu tinha que saber o que isso significava.
Então eu fechei os olhos. Me concentrei em todas minhas lembranças com Mike. Minha ligação com ele era mais forte do que com Adam. Pensei na primeira vez que eu o vi, em como ele parecia misterioso e eu senti uma certa admiração. Pensei na primeira vez que lutamos e eu perdi o controle. Pensei em como eu queria acabar com ele aquele dia. Pensei em quando eu o vi lutando. Em como eu queria que ele vencesse, em como eu senti orgulho dele, em como eu me senti feliz. Pensei nas vezes que compartilhei a dor dele, tanto quando Clariss tirou a faca cravada nele, quanto quando lutamos e nos sentimos um só.
Pensei em todos meus sentimentos por ele. E pensei nele agora. Onde ele está, o que está fazendo. O que está pensando.
Então consigo visualizar. Mike está aflito. Sua confiança está baixa, ele quer algo desesperadamente. A mim. Ele me quer desesperadamente.
Com toda minha força, esmurrei com as duas mãos a janela até ela quebrar e cair. Com um pouco de dificuldade, passei naquele buraco, ainda segurando com os dedos, o teto, balancei e acertei a primeira pessoa que vi na minha frente.
Era um ninja de Diana. Mike estava olhando para mim aliviado e cansado, como se pudesse desmaiar agora que cheguei. Ele estava algemado com uma algema diferente. Haviam cerca de 6 ninjas ali e Adam estava de joelhos no chão com um ninja prestes a cortar sua cabeça.
Todos olhando para mim assustados.
Eles claramente não sabiam que Adam e Mike eram ninjas da profecia, ou então Diana já estaria aqui, pensando ser somente ninjas do governo.
Haviam 6 ninjas. Um estava com Mike, o outro com Adam e quatro me olhando.
— Matem a garota. — O ninja que estava com Adam disse.
Então esses quatro me atacaram. Peguei minha Yari e me defendi dos golpes com faca, desarme um deles e dei um chute na boca do seu estômago, eu estava levando golpes, mas estava dando mais. Eram quatro contra um, e eu
estava dando conta. Mas eu não sabia por quanto tempo. Se eu incendiasse algo, poderiam deduzir que éramos ninjas da profecia e então num instante, a guarda toda de Diana, mais a própria, estaria aqui.
Por que diabos Mike não se solta e acaba com o ninja ao lado dele?
— Preciso de ajuda. — Falei quase sendo acertada por uma faca bem no pescoço.
Mike olhou para mim. Eu conseguia ver cada vez que enfrentava o ninja número três. Seu olhar era quase morto. Supliquei a ele ajuda com meu olhar, mas não foi ele que fez alguma coisa.
De algum modo, Adam desarmou o ninja que estava com uma espada no seu pescoço e o desmaiou. Eu consegui ver cada vez que enfrentava o ninja número um.
Eu já estava ficando tonta. Tinha a plena certeza que tinha alguns cortes superficiais de faca, mas o lado direito da minha barriga doía. E eu sabia que ali não foi superficial.
Adam veio ao meu socorro, ele enfiou a espada nas costas de um dos ninjas e tirou rapidamente, dando uma cotovelada na cara de outro. Aproveitei a distração e perfurei a perna de um deles com minha Yari e usei a ponta do cabo para bater na cabeça do outro e desmaiar ele.
O ninja que segurava com Mike estava com uma de suas espadas e Adam foi lutar com ele.
Quando ele se distanciou de Mike, corri até ele e tentei tirar as algemas. Mike estava mole. Ele me olhava ainda com o olhar morto e respirava com dificuldade.
— As chaves... estão com ele. — Mike disse com dificuldade.
— Adam, acaba logo com isso antes que apareçam mais ninjas. — Falei não muito alto. Então a espada de Mike voou até nosso lado e quando vi, Adam segurava a katana com as suas mãos enquanto ela pegava choque e o ninja de Diana caía no chão. — Solta o Mike e vigia a porta, eu vou soltar minha mãe.
Adam assentiu. Corri até minha mãe. Meu coração se despedaçou quando pude vê-la realmente. Ela levantou o rosto para mim com dificuldade e pude ver seus lábios tão rachados que tinha uma crosta em cima. Seu rosto estava pálido, era possível ver suas veias no b***o, olheiras debaixo dos olhos e o mesmo olhar morto de Mike.
— Mãe! Mãe, eu estou aqui! Eu vou tirar a senhora daqui e levá-la até o papai. Você vai ficar bem, ta bom? — Falei tentando soltá-la e ela apenas deixou a cabeça cair. — Adam, preciso de ajuda aqui, ela não está bem.
— São as algemas. Elas parecem drenar a vitalidade do ninja. O Mike tá acabado, não poderemos sair daqui voando — Adam disse.
Droga. As algemas da minha mãe eram as mesmas de Mike.
— Tem alguma chave? — Perguntei.
— O ninja aqui tava com uma... — Adam faz uma pausa. — Certo, soltei Mike.
Eu estava de costas para ele, minha atenção era toda na minha p***e mãe quase morta na minha frente.
— Adam! — Falei um pouco alto. Eu estava quase entrando em desespero.
— Aqui. — Adam apareceu do meu lado e me entregou a chave. Por sorte, era uma chave universal e abriu as algemas das correntes. Minha mãe caiu no meu colo totalmente sem forças, mas seus pés ainda estavam acorrentados, não com algemas, mas com aço puro.
Puxamos, batemos, tentando abrir, mas nada funcionava. Somos apenas eu e Adam. E eu estava começando a me desesperar. Se Will tivesse aqui, ele poderia quebrar as correntes, mas elas tinham a espessura de um braço, nem mesmo meu fogo derreteu.
Olhei para Adam. Ele deveria estar vigiando a porta, mas estava me ajudando.
Puxamos as correntes com toda a nossa força. Estávamos desesperados e até com medo, mas concordamos com uma coisa: não sairíamos dali sem minha mãe, mesmo que nos capturassem e nos colocassem aquelas malditas algemas.
Então, a porta foi arrombada e dezenas de ninjas de Diana passaram por ela.