Capítulo 20 -O grande plano de Will

4035 Words
—Eu tenho um plano!—Will falou quando estávamos na estrada. Ficamos todos em silêncio esperando-o falar sobre o plano, mas nada veio por um longo minuto, até Adam dar um t**a na orelha de Will.—Ei! Eu não posso contar agora. Primeiro precisamos descobrir onde é o covil da Diana, então eu contarei meu grande plano! —É um bom plano?—Mike perguntou ao meu lado. Eu geralmente não ficava nervosa dirigindo, mas toda vez que Mike mexia um dedo ao meu lado, suas palavras ecoavam na minha mente. “Eu não posso perder você.” —É um ótimo plano! Acredite em mim. Planos geralmente ficavam por conta estávamos todos sem ideias, então misterioso plano de Will. de Mike, mas seguiríamos o —Então... pra onde estamos indo agora?—Adam perguntou. —Vamos para a casa do meu padrinho. Ele é um dos contatos do meu pai e deve saber onde é o covil da Diana.—Abby falou. Todos concordamos. Assim que chegamos à cidade, Abby nos guiou até a casa do seu padrinho e não demorou muito para chegarmos. Foram longas duas horas, Will bocejava de sono, Adam reclamava de dor e Abby estava brava por Adam não aceitar sua ajuda. E ao meu lado, Mike apenas olhava para fora. O caminho inteiro ele nem sequer passou seu olhar por mim. Parei o carro em frente a uma casa enorme. Apenas as luzes públicas das ruas iluminavam o lugar. Saímos do carro e deixamos as espadas e armas maiores. Apenas eu e Will ficamos com nossas armas que diminuíram bastante para não serem notadas. Tranquei o furgão, seriam um baita prejuízo se roubassem as armas que ficaram lá. Abby foi até o interfone e o tocou. Depois de alguns segundos, ouvimos alguém atender. —Quem é?—Uma voz grossa e sonolenta perguntou. —Tio Carlton! Sou eu, Abby.—Ela disse e não sei ouviu mais nada. Logo ouvimos um barulho se aproximando de dentro da casa e o portão se abriu revelando um homem de dois metros, 130 quilos de músculos, tatuagens por cada centímetro de pele e uma barba enorme e espessa. O homem parecia que havia sido deixado por 10 anos numa ilha deserta com uma academia e um estúdio de tatuagem. —Abby? É você mesmo, peixinha?—Ele deu um abraço enorme em Abby levantando-a do chão. —O que está fazendo aqui? Cadê seu pai? Abby não se respondeu e ele a pôs no chão. Então olhou para cada um de nós. —Relâmpago.—Ele falou passando os olhos por Adam.— Vento.—Foi a vez de Mike. Então ele olhou para Will e sorriu.—Terra!— e então ele me olhou. De cima até embaixo e seu sorriso se alargou.—Fogo. —Ele voltou a olhar para Abby, ainda sorrindo. —Entendi tudo. Entrem, eu vou ajudar os 5 elementos! O cara parecia um urso enorme e musculoso, mas claramente era um cachorrinho por dentro. Sua casa era perfeitamente limpa e bonita. Tons de marrom e pastéis enfeitavam a sala que acendia a luz cada vez que o padrinho de Abby batia palmas. Ele nos mandou sentar no seu sofá marrom enorme. Obedecemos e antes de agradecer pela hospitalidade, ele sumiu e voltou logo depois com uma bandeja com várias xícaras. —Aceitam chá verde?—Ele perguntou. Abby foi logo pegando um, mas todos os outros recusaram. —Eu sou Carlton Green, padrinho dessa coisa travessa aqui.—Ele disse bagunçando o cabelo de Abby, que não pareceu nada incomodada. —Tio, esses são Adam, Will, Mike e Tara.—Ela indicou cada um de nós. —Precisamos de ajuda. Carlton pegou uma xícara de chá e se sentou numa poltrona próxima a nós. —E suponho que seu pai não saiba do paradeiro de vocês.—Ele falou e Abby assentiu firmemente. —O que vocês querem? Abby tomou um gole do seu chá e olhou para seu padrinho. —Precisamos saber onde Diana está escondida.—Ela disse e Carlton quase cospe o chá que tinha na boca. —Ela sequestrou a mãe da Tara, e nós vamos resgatá-la. Carlton pôs os olhos em mim, como se me culpasse por colocar sua doce afilhada em perigo. E então ele se voltou para Abby, que olhava para ele como se fosse sua única solução. Carlton suspirou. —Como seu padrinho de sangue, eu diria não. Mas como seu tio, que entende seus sentimentos com a situação, eu vou ajudar. —Ele falou calmamente. Abby quase deu um gritinho de alegria. —Obrigada, tio Carlton! Você não sabe o quanto isso significa pra mim!—Ela disse feliz. Eu sei que ela está feliz. Eu pude sentir. —Sua mãe ficaria orgulhosa.—Ele disse. Abby deu um sorriso para ele e os dois ficaram de olhando por um instante até Carlton quebrar o clima.—Certo. Antes de tudo, vocês têm um plano? Will estufou o peito ao meu lado. —Eu tenho um grande plano que será revelado assim que chegarmos ao covil de Diana. —Will falou orgulhoso. Carlton assentiu. Ele nos disse para esperar um minuto e sumiu por uma porta. Abby estava radiante e feliz. —Tio Carlton é irmão da minha mãe. Ele me ama mais que tudo, podemos confiar nele.—Abby avisou animada. —Ele disse que é seu padrinho de sangue...—Falei. Abby deu de ombros. —Sim, você sabe como é feito.—Ela disse tranquila degustando seu chá. —Não, eu não sei.—Falei. Abby me olhou franzindo a testa. —Você não tem um padrinho ou madrinha de sangue?—Ela me perguntou e eu balancei a cabeça.—Ele morreu? O que diabos ela está falando? —Não, ele não morreu porque nunca existiu. Eu não tenho um e não sei o que é!—Falei. —Não, você tem. Todo ninja tem.—Adam falou. —Quando um ninja nasce, o ninja que sua mãe mais confia se torna seu padrinho de sangue. É automático. Todo mundo sabe disso, e não é nada demais.—Abby contou. —Até eu que nasci numa família humana tenho um, é meu avô.—Will falou. —O meu é meu tio.—Adam revelou. Olhamos todos para Mike. Ele suspirou. —Um grande amigo do meu pai.—Mike disse. Então não precisam ser parentes? Eu nunca quis saber quem era minha mãe, mas agora que descobri sobre essa coisa de padrinho de sangue, fiquei curiosa. Quem seria próximo a ela o bastante para ser meu padrinho ou madrinha? Será que ela tinha irmãos e irmãs? Pais amorosos? Eu nunca quis saber disso. Carlton apareceu me tirando dos meus pensamentos. Ele trazia um mapa enorme dos 5 países. Eu nunca soube nem porque chamavam nossa nação assim, pois tecnicamente eram 6 países se contarmos o País central. Ele coloca o mapa na mesa de centro e podemos ver que está todo rabiscado. —Temos rastreado ela nesses últimos meses, ela fez algumas aparições no país do relâmpago, e algumas pessoas alegam que viram essa aqui no país central, mas de acordo com nossos ninjas rastreadores, Diana está escondida em Caveland, no país do fogo. Melhor facilidade de conseguir armas e faz fronteira com a capital. É uma viagem de 6 ou 7 horas, ela está escondida num hospital abandonado. —Se sabem onde ela está, por que não invadem e a matam?—Perguntei. Carlton levantou o olhar para poder olhar nos meus olhos. —Eu realmente espero que vocês tenham um plano, pois nem todos nossos melhores ninjas conseguiriam chegar à sala de comando de Diana. O lugar é uma fortaleza. Um hospital abandonado que ela tomou de conta—Ele explicou. —Ah, pode deixar. Meu plano vai fazer todos nós voltarmos vivos, eu garanto!—Will falou. Caveland ficava a mais ou menos 700km da capital. Pegamos estrada assim que amanheceu, Carlton nos deu um bolo de dinheiro para a gasolina e comida. O dinheiro é superestimado pelos ninjas. O governo paga muito bem os que protegem a população, a maioria dos ninjas tem tanto dinheiro que simplesmente sai dando. Nossa vida não é muito longa, nos arriscamos todos os dias, do que adianta tanto dinheiro se podemos morrer a qualquer momento? Abastecemos num posto na saída da cidade e Abby foi dirigindo. Se ela se cansasse, eu ou Mike assumiríamos o volante. Will foi na frente com ela e Adam, Mike e eu ficamos atrás no furgão. Era uma sorte terem bancos num furgão de entregas, mesmo que sejam apenas dois encostados na parede e um vão enorme no meio para as entregas. Eu me sentei com Mike de frente para Adam. Mike poderia até não estar falando comigo, mas isso não faria ele sentar com Adam, o cara que ele relativamente odeia. —Vocês acham que já notaram nossa ausência?—Adam perguntou quando saímos do posto. Eram 6:30 da manhã, pelo menos. —Acho que Clariss já chegou na casa de campo e deve estar enviando um falcão para Tobi avisando sobre nosso sumiço.—Mike falou ao meu lado. Ele estava afiando as espadas, uma prática que eu achava perigosa dentro de um furgão sem cinto de segurança. —Meu pai vai enlouquecer.—Falei. —Acho que Tobi não vai contar a ele.—Adam disse. Talvez ele não conte. Ele não me contou sobre minha mãe. Ficamos calados por duas horas, pensando sobre o que fazer, até Adam querer ir no banheiro e Abby parar no posto de gasolina mais próximo. Abby foi pegar água para nós e Will disse que também estava apertado. Eu estava bem, tenho uma ótima bexiga. Então fiquei no furgão e Mike ao meu lado. Apenas nós dois. A cena de Mike falando que não podia me perder começou a repetir na minha cabeça. Caramba. Eu queria tanto saber o sentido daquilo. Ele é esse mistério todo, eu deveria ao menos ter o direito de saber quando é algo relacionado a mim. —Você está bem?—Ele perguntou fazendo uma pausa no que estava fazendo. Eu não respondi. Não havia entendido exatamente o sentido dessa pergunta. Eu estava bem, sem ferimentos e saúde em dia, mas não parecia ser isso que ele estava perguntando.—Sobre sua mãe. —Aflita, ansiosa e até com medo. Mas eu estou bem. Não vou me precipitar, sei que a Diana quer nos atrair, ela não mataria minha mãe.—Falei. —É um bom jeito de pensar.—Mike falou. O silêncio tomou conta do lugar. Meu coração acelerava e desacelerava. Eu queria chegar logo e a demora dos outros estava me deixando impaciente, mas então Mike olhava pra mim com um olhar reconfortante. —Eu vou dirigir agora, quer sentar comigo?—Perguntei. —Eu dirijo e você senta comigo.—Ele declarou. O pensamento de ele querer assim por eu ser mulher passou pela minha cabeça, mas logo descartei. Mike não era assim. Nenhum dos homens que eu conhecia era assim. Após alguns minutos, ouvirmos Abby e Will conversando, o que significava que estavam chegando perto. Mike se levantou, saiu do furgão e eu fui atrás dele. Acenando para Abby, a garota de cabelos e sobrancelhas brancas que nos olhava sem entender. Mike entrou pela porta do motorista e eu sentei ao seu lado. Ouvimos os outros se ajeitarem atrás. —Adam tá quase chegando, esperem só mais um pouco.— Will falou. Mike ligou o carro, deu ré para mais perto dos banheiros e acelerou com toda força sem sair do lugar. Não demorou para Adam aparecer correndo até nós e entrar no furgão. —Se vocês fossem sem mim, eu jogaria um raio em vocês.—Ele disse emburrado e segurando a costela. —Isso ainda não sarou?—Perguntei. Eu apenas conseguia vê-los por entre os bancos, mas pode observar bem Abby indo até ele, levantando sua blusa e revelando a parte machucada da sua pele coberta por folhas verdes. Mike começou a dirigir. —Preciso trocar as folhas. Mike, se você puder ir um pouco devagar enquanto isso, até a noite o Adam não vai tá sentindo nada aqui.—Abby disse. Senti o carro desacelerando e continuei observando Abby. Ela retirava as folhas com cuidado, sem olhar para Adam. Já ele, observava cada ação dela. Pude ver as mãos de Abby e o quanto elas estavam trêmulas. Abby estava nervosa, ela estava ciente do olhar de Adam e estava nervosa com isso. Após tirar todas as folhas, Abby pôs suas mãos aberta a uns 2 centímetros do ferimento e se transformou. Adam observou o cabelo dela se trançando e sua roupa mudando. Então seus olhos foram para o rosto dela e eu decidi que aquele momento era íntimo demais, então me virei para frente. —Ela já está acabando?—Mike perguntou baixo ao meu lado. —Acho que vai demorar um pouco.—Falei. Eu só queria chegar logo. Cada minuto que demoramos, minha mãe fica mais tempo com Diana fazendo não sei o que com ela. Será que ela estava t********o-a? Tentando arrancar informações sobre mim... minha mãe nunca me entregaria, ela morreria, mas nunca diria nada. Se Diana estiver interrogando minha mãe, temos que chegar bem rápido. Então Mike colocou a mão na minha perna. Eu congelo com esse gesto. —Calma. —Ele disse. Mesmo acostumada com a ligação, eu ainda esqueço que Mike e Abby me sentem mais que os outros.—Minha mãe já foi capturada por alguém r**m. Eu tinha uns 6 anos, eles a levaram da nossa casa. Meu pai e meu irmão mais velho foram atrás dela e me deixaram cuidando da minha irmã de 2 anos. —E o que aconteceu?—Perguntei. Eu nem sabia o que sentir, faz tempo que queria saber mais sobre Mike e cogitei até a ideia de perguntar para Tobi, e ele está me contando tudo sem eu nem perguntar. —Meu pai e meu irmão morreram naquela noite, mas minha mãe voltou pra casa. —Ele disse. —Ela deve estar orgulhosa de você hoje em dia.—Falei. É óbvio que ela estaria, Mike é um ninja excelente, tem uma mente incrível e ainda é parte da profecia dessa geração. —Ela estaria se estivesse viva. Ela se matou depois que meu pai e meu irmão morreram. Minha irmã foi para um orfanato e eu fugi.—Eu fiquei em silêncio. De repente, eu fiquei arrependida de querer saber disso. Ele é um órfão que nem eu. Sua irmã poderia até ter ido pro mesmo orfanato que eu, se a diferença deles era de 4 anos, teríamos a mesma idade, provavelmente eu poderia ter ficado no mesmo quarto que ela. Mas crianças pequenas são mais fáceis de ser adotada, ela não deve ter ficado muito tempo lá. E a mãe dele se matou. Essa é a maior desonra para um ninja. É conhecido como um ato de covardia e os ninjas prezam muito a coragem. Mas eu acredito que precisa ter muita coragem para ir contra a ideologia da sua espécie e tirar sua própria vida. —Eu também sou órfã, e tenho certeza que sua irmã foi adotada por uma família boa.—Falei após um tempo. —Também tenho certeza. Ela não era uma ninja. Pelo menos tudo indicava que não. Meu pai a trouxe pra casa quando ela nasceu. Ela era uma bastarda, mas sua mãe verdadeira ela louca, então ele implorou o perdão a minha mãe pela traição e pediu que ela criasse o bebê como se fosse seu. —Ele falou pensativo. Que história. Eu não estava feliz por finalmente saber de onde vinha a dor de Mike. O pai e o irmão morrerem numa missão, a mãe tirar a própria vida e ele abandonar a meia-irmã para viver... na rua? Ele apenas disse que fugiu. Ainda era uma criança... Olhei para Mike. Ele tinha um olhar sereno olhando para a estrada. Não parecia que tinha acabado de me contar a trágica história da sua vida. Mas Mike era parecido comigo, Adam mesmo já disse isso e eu posso ver no que. Mike não quer a pena de ninguém. Ele trabalhou duro para chegar onde está, para ser lembrado pelo que é, e não pelo que aconteceu com ele. —Você se deu bem, né? O grande ninja do vento, líder da equipe dos ninjas da profecia...—Comecei e Mike me interrompeu. —Sim, eles estão orgulhosos. —Ele disse, mas não de forma grossa como achei que faria, estava mais pensativo. —E seus pais verdadeiros? Suspirei. —Não faço a mínima ideia de quem são.—Disse. Mike levantou as sobrancelhas, mas continuou olhando para a estrada. —Se eles são ninjas do bem, do mal...se estão vivos...você não tem interesse?—Ele me perguntou. —Não importa quem eles são, e sim quem eu sou.—Falei. Mike revirou os olhos e olhou para mim. Fiz a maior cara de interrogação que consegui e ele bufou. —Você acredita mesmo nisso que disse? Tá na cara que é daí que vem essa sua dor.—Ele disse. Mike estava completamente errado. Eu não tinha o menor interesse nos meus pais biológicos. —É claro que acredito, e não sei que dor foi essa que você viu, eu tenho pais maravilhosos.—Falei e me senti culpada, afinal, Mike não teve a infância que tive. —Estamos quase chegando na próxima parada, que tal você me contar sobre sua vida e eu te revelar de onde vem sua dor?—Ele propôs. Não tem como aquele garoto saber mais de mim do que eu mesma. —E se você errar?—Perguntei. Mike abriu um sorriso. —Aposta? Involuntariamente, sorri também. —Você já está me devendo uma. —Então serão duas se vencer, mas se eu vencer, posso fazer a pergunta que eu quiser e você terá que responder a verdade.—Ele propôs novamente. Mike sabia como chamar minha atenção. O que interessava tanto a ele, eu responder sua pergunta? —Fechado.—Falei. Eu estava tão curiosa quanto um gato. —Comece.—Mike falou e segurou minha mão. Eu levei um susto e ele riu.—Para intensificar a ligação. Pensei em começar pela minha infância com meus pais, mas resolvi começar pelas minhas primeiras lembranças de vida. —Eu não me lembro de quando cheguei ao orfanato. Para mim, eu sempre estive lá. Eu não conhecia outra realidade, então era legal morar com tantas meninas. Eu tinha amigas, tinha uma melhor amiga, até que meus pais apareceram. Eu fiquei um pouco ansiosa quando eles entraram no salão. Eles poderiam ter escolhido qualquer uma das outras 100 meninas naquela sala, mas eles me olharam e vieram até mim. Minha mãe sorriu para mim e eu fiquei bastante desconfiada, então eu vi uma faca na bolsa de perna dela. O vestido longo escondia, mas era possível ver o volume quando ela se abaixava. Eu peguei e eles se assustaram. Era uma faca linda folheada a ouro branco. Eles me deram quando eu completei 10 anos. Enfim, eles me escolheram. Eles viram algo de especial em mim e nunca me abandonaram. Eles já tinham um filho sem o dom, e ele me odeia, mas foi divertido crescer com ele. Eu comecei a frequentar a escola no ensino médio, mas eles acharam melhor eu não ter contato com tantos humanos. Eu até fiz uma amiga nesse tempo. Eu treinei minha vida toda e eles sempre estiveram ao meu lado. Fim.—Disse sorridente. Eu não tinha uma história triste. Muito pelo contrário, eu fui muito feliz. Mike ficou um longo tempo em silêncio. Um silêncio desconfortável e eu quase o questionei, mas decidi ver aquilo como sua derrota. Então 5 minutos depois, Mike ainda segurando minha mão, sua pele quente tocando a minha e por 5 minutos, foi impossível ignorar aquilo, ele resolveu falar. —Você tem medo do abandono. Seu país te abandonou e você teve que morar com estranhos. Você os ama, mas aposto que nunca quebrou uma regra, nem desobedeceu a uma ordem por puro medo. Não deles te machucarem, mas de te abandonarem como os seus pais biológicos fizeram. Você viveu a infância e a adolescência presa, treinando, tentando ser boa para eles não te abandonarem. Você nunca foi feliz, Tara. Você viveu a sua vida à procura da aprovação deles, você morre de medo de eles te rejeitarem. Você morre de medo do seu pai te culpar pelo sequestro da sua mãe, você viveu a vida inteira com medo de voltar a ser a garota esquecida no orfanato. E você odiou todo o tempo que esteve lá. Passou noites e noites chorando se perguntando por que seus pais não quiseram você. Tara Baker, aposto que você nem se sente dona do seu sobrenome. Soltei a mão de Mike bruscamente. Meus olhos estavam vidrados na estrada e minha mente filtrava todas as palavras de Mike. A forma como ele me fez lembrar de todas as vezes que fui infeliz. Eu estava com raiva dele por ter verdade naquelas palavras. Ele não tinha o direito de invadir meu passado assim. A nossa parada estava à nossa frente e Mike desacelerou. Olhei para ele. Mike estava relaxado. Como se ele não tivesse me ofendido profundamente. Abri a porta do furgão e pulei. Com o carro em movimento. Saltei para fora e ativei minha Yari para me ajudar a aterrissar. Observei o furgão parando no enorme posto de gasolina à minha frente. Sai andando bruscamente rumo ao posto, porém bem longe do furgão e em direção à conveniência. Ah sim, eu estava soltando fogo pelo nariz de tão brava. Observei todos saírem do furgão e me olharem como se eu fosse louca, mas ninguém ali teve que ouvir um sabichão resumindo sua vida em infelicidade e dor. Apontando todas as suas inseguranças como se não fosse nada demais. Quando estava chegando perto, Abby abriu os braços para mim. —Pirou?—Ela perguntou dramaticamente. Mike apareceu ao seu lado. —Tara, se foi algo que eu falei...—Ele foi se aproximando e sem pensar, apontei minha Yari para o chão e ele começou a pegar fogo. De verdade. Todos me olharam assustados. —Mais uma palavra e eu explodo esse posto de gasolina, saio vivinha por ser imune ao fogo e vou resgatar minha mãe e derrotar Diana sozinha.—Falei e continuei andando até a conveniência. —Se o fogo está alto, o vento apenas vai fazê-lo se espalhar e queimar tudo mais rápido —Ouvi Will dizer. Mais uma de suas metáforas envolvendo os elementos. Ele tinha razão, eu queria queimar tudo que visse pela frente, mas me contentei em beber um refrigerante e voltar para o furgão, atrás, bem longe de Mike. —Uau, quantos guardas.—Adam diz. Na entrada tinham no mínimo uns 12 e ainda tinha pelo menos 2 ninjas a cada metro quadrado ao redor do hospital abandonado. Estávamos em cima de uma árvore a uns 30 metros do covil de Diana e Mike estava a pelo menos 2 metros de mim. Garoto esperto. —Tem tantos quartos aí... é, precisaremos de um bom plano. —Abby disse e suspirou. Todos olhamos para Will. Ele infla o peito. —Muito bem, meu grande plano tem apenas dois passos muito importantes. Prestem atenção.—Will falou e todos olhamos para ele com muita atenção. Aquele não era um momento para briguinhas. Se eu e Mike ou Adam e Abby tivéssemos que trabalhar juntos, faríamos sem reclamar. Às ordens de Will.—Primeiro passo.—Ele fez o número um com o dedo.—Entrar ali. Segundo passo, porém não menos importante.—Ele fez o número dois com os dedos.—Não morrer. Will nos olhava ansioso. E nós também estávamos, mas nossas feições mudaram para fúria assim que nos demos conta que viajamos 700 km confiando num plano que tinha apenas uma frase. Não morrer.
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