As luzes me deixam atordoada, não deveria ter vindo com o Sam. Os remédios me deixam mais lenta e sensível a certos ambientes, o que estava sendo o caso.
— Eu não estou me sentindo muito bem, Sam. Acho que preciso de algo para me refrescar. Pode pegar alguma coisa pra mim? — Talvez eu preciso de alguma coisa para me esquentar, mas não vou exagerar como antes e tenho que ir na casa de David.
Fui ao banheiro e quando voltei, Sam já não estava mais ali. Ele sempre faz isso, sempre me deixa sozinha e some como se eu não fosse um nada ali.
— Giulia, seu amigo pediu pra te dar isso.
— Obrigada, Raul. — Peguei o guardanapo de sua mão e ao abri-lo, tinha um recado de Sam, avisando que eu não precisava esperar por ele.
Bebi mais algumas doses e fui até a casa do David. Ao chegar eu o chamei, mas ele não respondeu e nem saiu, então decidi entrar. Havia uma mulher dormindo no sofá e Júlio estava em seu quarto. A TV ligada em um alto volume foi o que me permitiu entrar sem que meus passos fizessem diferença ali.
Pensei que ele poderia estar dormindo, mas me enganei ao abrir a porta. Sua cama bagunçada e uma mochila feminina me fazem entender tudo que estava acontecendo. Eu não sou nenhuma santa, mas não transo com ninguém desde que o conheci e mesmo confessando meus medos e problemas a ele, depois de dizer que gostava de mim, ele simplesmente me esquece quando seu verdadeiro amor aparece, Joyce!
Mas, quem sabe se ele souber que eu o amo e que eu estou me esforçando para tentar fazer isso dar certo, ele possa mudar e ne enxergue com os olhos que me olhou pela primeira vez. Talvez lembrando dos bons momentos que tivemos, ele lembre de alguma coisa e Sam pode ter perdido a razão ou não…
Agarrei sua camisa, que estava jogada em cima da cama. A trouxe para o meu rosto, fechei os olhos e pude sentir sua presença. Seu cheio ainda estava ali, impregnado como tudo que ele toca.
A peguei e coloquei em minha bolsa, determinada em ir até a boate que ele frequentava sempre.
Antes de chegar no local, parei em um bar e bebi algumas doses de vodka para me dar mais energia e não me deixar desistir do que eu tenho que fazer.
Eu estava me sentindo bonita, com meu vestido lilás quase transparente, que deixava os b***s dos meus s***s arrebitados e pontudos, deixando-os visíveis aos olhares alheios.
Cheguei na boate e lá estava ele, sentado nunca mesa com Joyce e suponho que uma amiga sua. Caminhei até ele, sem pudor algum, segurando minha bolsa e olhando fixamente em seus olhos. Parei em sua frente e comecei a falar, movida pela coragem que a cerveja me deu.
— Me perdoe por ter deixado você sozinho. Eu juro que nunca mais vou embora, David. Eu… me desculpe por ido sem avisar. — Ao levantar, minuciosamente segurou meu braço e me levou até um lugar afastado de onde ele estava sentado. — A minha casa está a venda e eu… a minha vida é uma droga e uma mentira, David.
— Calma! — Senti suas mãos segurarem firme meu rosto e me olhar. — Fala com calma. O que está acontecendo? Por que não me disse que sua casa está a venda?
— A casa dos meus pais está a venda. Eles estão se divorciando e minha mãe quer quer eu vá com ela, mas eu não quero perder você. Preciso de você, David. Me sinto feliz quando estou com você, me sinto eu mesma e eu preciso de você, por favor! — Toquei seus rosto de um jeito desesperado, para ter a certeza que eu não estava tendo alucinações e que tudo era real. — Eu quero te contar sobre mim. Quero que você me conheça, David. Eu te amo. Eu não sei para que serve essa palavra, mas se ela significar algo grande, eu amo você.
— Giulia, olhe para mim. — Me negava a fazer tal coisa, me negava olhar para o meu foco e acabar fazendo alguma besteira depois. Era muita adrenalina pra mim, olhar em seus olhos era impossível quando eu não estava preparada.
— Eu te amo. Eu quero que me conheça, eu quero que… — Eu tinha que escolher entre expressar meus sentimentos ou me manter calma, as duas coisas ao mesmo tempo eram quase impossíveis de serem feitas.
— Giulia, olhe para mim, por favor! — Ergui o olhar, engolindo em seco as palavras que eu queria dizer, mas não sabia como. Reparei em seu rosto e prestei atenção no momento seguinte, vendo sua feição séria demais para quem deveria estar feliz ou sei lá… — Eu não… eu não quero você. Não quero ficar com você. Eu não amo você, Giulia.
Me senti morta naquele momento. Como se o mundo estivesse desmoronando em cima de mim, como se todas as pessoas tivessem ouvido e me julgando pelo que eu ouvir.
Eu sei que tudo isso é minha, que minhas atitudes influenciaram para que isso acontecesse e agora eu já não posso fazer mais nada.
Me senti humilhada, desamada e como se eu estivesse vivendo o pior dia da minha vida.
— Eu sinto muito. Me desculpe! — Era sua escolha e eu não haveria de protestar, nem ir contra. Tenho apenas que manter distância de tudo isso.
— Você nunca mais vai me ver. — Senti seus dedos retirando minhas mãos do seu rosto, pois eu já não conseguia me mover normalmente. Aquilo era um chove para mim, um choque que eu não estava preparava para levar.
A cada passo que eu dava em direção ao bar, sentia como se estivesse flutuando, enquanto a humilhação caia sobre mim de forma avassaladora.
— Uma dupla de conhaque, por favor! — Ouvir sua voz distante, coisa de três metros distância. Seu olhar me reparava e eu bebi as doses que eu pedi rápido, para que eu saísse rápido daquele ambiente.
Eu queria estar nua, em um quarto com dois homens que fizesse tudo comigo, enquanto David apenas observava e os demais ouvisse eu gemer de prazer. Meus pensamentos são algo que me levam a minha perdição, mas são inevitáveis e eu não sei mais o que fazer agora. Passava no meio da multidão e antes de sair completamente do clube, olhei para trás uma última vez e o vi me olhando, aquilo me fez congelar de uma forma que me fez sair correndo dali.
(...)
Arrumei minha casa, arranjei um emprego e estava tentando conviver comigo mesma numa boa. Parei um pouco de frequentar baladas, clubes e bares e estou indo bem nas primeiras três semanas.
Meus pais venderam a casa, mas meu pai a comprou de volta e permaneceu morando lá e agora insiste para que eu vá morar com ele, assim as coisas serão melhores para mim. Porém, ele não parece tão bem, tenho medo que ele seja fraco igual a mim e alguma hora acabe fraquejando. Reparava em seu olhar distante e vazio, enquanto colocava o seu quadro favorito lugar. Minha mãe iria levar, mas eu o retirei da caixa alguns minutos antes do baú encostar para pegar as caixas.
— Filha, posso perguntar uma coisa? — Assenti que sim, mesmo sabendo que seria algo relacionado a homem ou algo do tipo. — Por que tem tanto medo de se relacionar com alguém? Eu nunca a vi com ninguém, mas tenho certeza que não é lésbica e… me desculpa por ter sido um m*l exemplo, eu sinto muito.
— Eu não preciso perder tempo com isso, pai. Eu sou cheia de problemas, eu durmo calma e não sei com qual humor é que eu vou me levantar no dia seguinte. Se eu tivesse um namorado, ele não iria querer namorar uma louca. — E não me diga que estou enganada, porque nós sabemos o quanto é difícil lidar com a troca de humor repentino.
— Você não é louca, Giulia. — Minha mãe a vida toda foi narcisista comigo, eu tinha que ser o exemplo de filha perfeita, mas nada que eu fizesse seria o suficiente para ela e mesmo assim, eu insistia com a melhora dos meus atos a cada dia que se passava. Meu pai, por outro lado sempre esteve comigo, mas ele era tão deprimido quanto eu. Tenhamos nos ajudar como podemos, a vida inteira foi sempre nos dois. — Você é bonita, inteligente e esforçada, minha filha. Merece ser feliz, não deixe que alguém lhe diga o que é certo ou errado, siga apenas o seu coração.
E se eu me abrisse com o meu pai? Sempre fomos melhores amigos um do outro e eu nunca falei sobre ninguém com ele, porque até então eu estou sentindo meu peito doer com saudades do David. Tenho dobrado turnos só paga não pensar nele quando não estiver fazendo nada e isso tudo está me enlouquecendo.
— Eu me apaixonei por um homem, não faz muito tempo. Há seis meses atrás eu pensava que eu nunca ia me sentir assim, que eu nunca iria gostar de alguém até que aconteceu. Eu me apaixonei por ele, disse sobre meu transtorno e quando disse que o amava, fui rejeitada e ele agora deve estar com a ex-namorada que ele sempre disse que não sentia nada. Essa coisa de amor não é pra mim, pai. Eu não quero viver sofrendo o resto da minha vida por causa de alguém que não me quer. Agora me diz: como eu faço pra esquecer ele? — Como se fosse um pedido de socorro, meu pai me olhava sem saber se ficava supreso, se sorria ou se tentava me ajudar, mas ele não fez nenhuma das três coisas e permaneceu ali parado.
— Eu pensei em uma coisa melhor, vamos sair para jantar e a gente discute isso assistindo ao jogo que vai começar daqui a pouco, o que você acha? Essa casa tem um peso terrível e eu já estou arrependido de tê-la comprado. Pensei aqui eu fosse me senti mais perto de você e da sua mãe, mas a verdade é que eu vou chorar quando você for embora e amanhã vou acordar sem saber o que fazer.
— Pega suas coisas e vamos para minha casa. Amanhã a gente coloca uma placa de vende-se. Chega de memórias tristes e vazias. Eu vou tomar um banho e vamos jantar, mas o senhor quem vai pagar. E nem adianta dizer que vai ficar aqui, porque eu não quero.l perder o meu pai também. A angústia da solidão doí na alma e o senhor não está sozinho, ainda tem a mim, sua filha, sua pequena Giulia. Por isso, o senhor vai morar comigo até que esteja pronto para recomeçar.
Chagamos em minha casa, que estava mais que organizada e eu me sinto até nem por isso, por ter essa disposição para colocar as coisas em ordens. Lhe mostrei o quarto onde ele irá ficar e em seguida fui me arrumar. Olhei para o telefone, que ficava aí lado do banheiro e pensei em ligar para David, para saber do seu pai, mas me mantive quieta e entrei no banheiro sem olhar para trás. Fiquei prontas em questão de minutos e meu pai também, o banheiro em seu quarto ajudou a se arrumar mais rápido que eu.
Coloquei uma roupa formal e me senti melhor. A Giulia do passado era reprovada e gostava de abusar dos decotes e tecidos finos e olhando bem para trás, vejo que eu estou evoluindo aos, mesmo que isso seja quase nada ainda.
— Então, o que você pensar em fazer depois que eu for embora? Não pretende viver assim para sempre, não e? Você tinha um sonho, lembra?
— Pai, eu já não escrevo nada há anos e eu duvido muito que alguém cimlrayi alguma das porcaria que eu escrevo. Não me vejo fazendo mais isso, eu não sou uma escritora e tenho que ralar dia e noite naquele restaurante. Anotado e servindo pedidos com se aquilo nunca fosse acabar. Mas eu não sou escritora e não quero falar sobre isso, tudo bem?