— Não pode ser, Jesse. Eu não posso estar grávida. O que eu vou fazer agora? Eu estava começando a resolver minha vida, finalmente arranjei um emprego e estava esquecendo o David. O que eu vou fazer agora? — Após o teste dar positivo, eu tinha certeza que estava perdida. — Jesse, a gente não se vê há quase quatro meses. Eu não posso estar grávida. Eu m*l sei cuidar de mim, como vou fazer para cuidar de uma criança?
Não consigo pensar em nada além do que eu vou ter que fazer agora. Minha vida está desmoronando e eu me vejo perdida mais uma vez. Meu pai já não mora mais aqui, ele arranjou uma namorada e estão fazendo cruzeiro, não posso contar com a minha mãe, Jesse está casada e tem seus problemas e Sam está realizando seus sonhos de estudar medicina. Ou seja, isso é um problema meu, é um problema que cresce.
— Temos que marcar uma ultrassom, Giulia. Já não tem mais o que ser feito, esse bebê já deve ter mais de três meses aí dentro.
— Como é possível, Jesse? Minhas regras estavam corretas todos os meses, sem atrasar ou algo parecido e eu só fiz esse teste porque você me disse que não é normal os s***s crescerem tão rápido assim. — Eu deveria ter estranhado, talvez pudesse tomar alguma atitude a respeito disso.
— Olha, se acalma que já não tem mais o que ser feito, Giulia. Se acalme! — Não tinha como ficar calma, eu estou grávida e vou ter um bebê. Eu nunca quis ter um bebê, além disso eu não tenho namorado e não sei como se escolhe o nome para um bebê. Estou completamente perdida e sem saída. — Eu tô aqui, a gente prometeu que cuidaria uma da outra até a morte e é isso que eu vou fazer, cuidar de você. Agora você precisa ficar calma e a se acostumar com a ideia de que vai ter um bebê em breve e que precisamos resolver algumas coisas. Mas, você tem que avisar sobre isso ao David. Ele é o pai, ele precisa saber.
— Jesse. — Tomei sua atenção, desta vez séria sem expressão alguma. — Ele me acha uma v***a. Ele achava que eu transava com todos caras com quem eu dançava, acha mesmo que ele vai acreditar que esse bebê é dele? Eu não vou dizer nada, proíbo você de dizer alguma coisa e não quero que ele saiba.
O seu telefone não parava de tocar, Klay simplesmente tem medo que ela fuja comigo e ele nunca mais possa vê-la.
— Eu prometi ir com ele na casa da mãe dele hoje. É difícil, mas temos que fazer sacrifícios quando a gente ama. Me liga se precisar de alguma coisa.
— Obrigada! Te amo. — Nos abraçamos e ela foi embora.
Me arrumei e fui para o trabalho. O expediente foi pesado e passei m*l algumas vezes, senti minha cabeça gritando e o estômago embrulhar algumas vezes.
Estava tudo indo muito bem. Fiz as ultrassons, estou me consultando com o psiquiatra duas vezes ao mês e tenho ido às consultas com a psicóloga.
Minha barriga apareceu quando eu estava com sete meses, pequena, porém pesada e me deixava exausta facilmente. Não tive mais contato com o David. O deletei da minha vida e também não quis mais saber sobre ele.
Posso dizer com a mais completa certeza que esse bebê foi a melhor coisa que já me aconteceu na vida. Eu parei de usar drogas, parei de beber e me aventurar nos bares e boates e agora estava curtindo seus chutes e aprendendo a lidar com as minhas emoções diariamente. Posso afirmar que me sinto bem melhor que antes, porque eu nunca me senti assim, tão bem comigo mesma.
Estava nos últimos dias de gestação, pois estava apenas esperando o bebê nascer. Mas estava trabalhando mais leve e de preferência pela noite, assim eu dormia um pouco mais pela manhã e fazia as tarefas domésticas devagar. Estava prestes a entrar em uma loja de artigos para bebê, quando encontrei com Raul, o gerente da boate que eu frequentava.
— Você sumiu, como você está? Nunca mais te vi por lá, nem em lugar nenhum. — Seu abraço gentil me aqueceu e relembrou os velhos tempos em que ele me dizia se David havia ido lá ou não. — Meu Deus, você está mesmo grávida? O David ainda continua indo lá, agora ele vai todos os dias e bebe duas doses de conhaque depois vai embora. Se certifica que você não está lá e vai embora triste e desanimado.
— É… eu tenho evitado falar sobre ele, pensar nele e vê-lo. Foi ótimo te ver aqui, mas eu tenho que ir trabalhar agora. A gente se vê outra hora, qualquer dia eu vou lá novamente.
— De quantos meses você está? — Ele gritou antes de eu me afastar, queria não responder, mas olhei para trás e lhe respondi no mesmo tom.
— Nove meses, estou apenas esperando o bebê nascer agora.
Fingi que iria seguir em frente, mas quando ele se afastou o suficiente, entrei na loja e respirei ofegante quando vi o David ali, com um babador em suas mãos enquanto olhava alguns ursinhos.
Eu simplesmente congelei, não soube reagir e nem o que dizer, ele ainda não tinha me visto e eu só consegui falar quando uma atendente veio até mim, me ajudar com as sacolas que eu tinha em mãos.
— Posso ajudá-la? — A moça gentil me ajudava todas as vezes que eu vinha aqui, ou seja, sempre que eu recebia eu vinha comprar alguma coisa.
— Eu queria um berço, mas queria daqueles que encaixamos ao lado da cama. Quero também um trocador e algumas peças de frio. — Ao ouvir minha voz, David olhou surpreso para trás e esperou que a atendente se afastasse para procurar o que eu estava precisando e veio até mim.
— Oi… — Seu riso sem graça fez meu coração acelerar e eu sorri de volta. — Pensei que estivesse ido embora, mas que bom que não foi.
— É… eu só mudei de casa, precisei ir para uma com mais espaço. Parabéns! — Lhe desejei, tentando sair de perto dele, mas sem conseguir.
— Pelo quê?
— Pelo seu filho ou filha. Parabéns por ser pai.
— Giulia, eu não vou ser pai. Eu sou padrinho do filho do meu amigo, vim somente fazer meu papel de padrinho. Mas você deve estar feliz e estar bonita. De quantos meses está?
— Estou na reta final, nove meses. — Vi seu rosto paralisar, seu olhar perdido tentava encontrar uma solução enquanto olhava os arredores. — Está se sentindo bem?
— Ótimo! Com certeza seu marido deve estar feliz. Foi bom te ver, até mais.
— Eu não tenho marido, nem namorado e nem ninguém e é tão desprezível que você continue agindo como se fosse um santo e eu fosse uma p**a, David. Você nunca vai crescer?
Finalmente ele estava caindo na real e comentando a raciocinar o que estava de fato acontecendo.
— Esse filho é meu? Por que não me disse quando descobriu? Por que mentiu pra mim todo esse tempo?
— Não menti para você, eu só não te procurei quando descobri. Você não iria acreditar mesmo do que adiantaria? — Senti uma dor forte no pé da minha barriga que me fez curvar o corpo, colocando a mão nas costas e tentando respirar enquanto sentia umas puxadas em baixo da minha barriga.
Ele iria responder, mas quando me viu colocando as mãos nos joelhos, logo veio me amparar e ajudar. Senti o líquido quente escorrer por entre minhas pernas, enquanto a dor se intensificava e eu não sabia como reagir a tudo.
— Eu não sinto minhas pernas, David. Me ajuda, por favor! — A fadiga estava me tomando e a dificuldade para respirar era horrível.
Ele não saiu do meu lado nem por um minuto até chegarmos ao hospital. As coisas para levar para a maternidade já estavam arrumadas, Jesse se encarregou de arrumar todo o quarto e todas as coisas do bebê que eu não sei se é um menino ou uma menina, só sei que é meu filho e que eu o amo.
Ele entrou comigo na sala de parto e eu já estava com seis centímetros de dilatação. As contrações estavam me matando e me deixando fraca, sem força e atordoada.
— Você tem que fazer força, Giulia. Tem que fazer força para o bebê nascer. Eu estou aqui, eu não vou embora.
Segurei a mão de David com força, enquanto dava o máximo de mim com as pernas abertas. Sentindo minha alma sair do corpo a cada segundo que se passava. Eu não sabia se chorava, se sorria por ele estar aqui nesse momento ou se eu apenas tentava reagir.
— Ela está perdendo muito sangue, se o bebê não nascer vamos ter que induzir o parto. Ela está sentindo muito dor, embora não pareça. Ela está perdendo forças. — Tentava não pensar na dor e pensar que isso pode ser pior, me deixa assustada.
Segurei firme nas mãos de David, que estava quase chorando por mim naquele momento e fiz força. Gritei o mais forte e alto que eu já gritei na vida, enquanto fazia força e apertava com força a mão de David.
— Vamos, Giulia. Você consegue, você é forte e eu sei que vai conseguir. Estou aqui com você. Só mais um pouco e você consegue.
Respirei fundo, brigando forças que eu já não tinha mais, fechei os olhos e por uma última vez eu fiz força e de repente senti o alívio imediato. O choro foi ouvido e eu me senti aliviada por saber que eu consegui, mas já não tinha mais forças para ficar acordada e muito menos consciência. Adormeci ouvindo o chorinho fino e os beijos de David em minhas mãos.
Acordei com David conversando com o neném. Olhei para seu rosto e o vi feliz e radiante, enquanto eu me sentia fraca e sonolenta.
— É um menino e ele parece com você. — Desajeitada e dolorida, eu me ajeitei na cama para segurar meu filho, mesmo não fazendo ideia de como seria fazer aquilo.
O peguei sem jeito e medo, mas quando sentiu o calor do meu corpo, ele procurou pelo meu seio e quando o encontrou colocou a boca tão rápido e a sucção chegou a me assustar pela força que ele já tinha.
— Você parece melhor agora. — Ele tentava conversar e eu queria que essa conversa acontecesse, mas estava sem saber o que dizer, porque eu não tenho mesmo o que explicar para ele. — Sua mãe deve estar muito feliz, ela já sabe?
— A gente não se fala há alguns meses. Não temos uma boa relação desde que meu irmão se foi. Mas meu pai ainda não sabe, vai ser um choque pra ele também.
Era tudo surpresa, somente a Jesse, o Sam e o Klay, além das meninas das lojas que eu frequento. Ah, e meu patrão, claro. Meu pai vai surtar quando souber que é avô, minha mãe vai odiar a ideia e principalmente quando souber que meu filho se chamará Júlio. Eu não tenho quem me ajude nos primeiros dias e não sei como David vai aceitar essa nova ideia de ser pai.
— Você tem algum acompanhante para ajudá-la no banho? — A enfermeira com cara de poucos amigos, olhava por cima dos seus óculos e encarava David com a ponta da caneta encostada na prancheta.
— Eu sou o acompanhante dela. Sou o pai do bebê. — Ele falava com naturalidade, evitando me olhar.
— Ótimo! O jantar será servido daqui há meia hora. Pode tomar um banho, mas com a ajuda do seu marido, para que não haja acidentes. A médica já vem examinar o bebê, qualquer coisa estarei aqui.
Após mamar um pouco, meu Júlio dormiu e então foi hora de previsa da ajuda de David para ir até o banheiro. Sendo meu corpo doer por inteiro quando levantei, como se uma cachoeira de sangue descesse pelo meio das minhas pernas, eu me senti com nojo de mim mesma naquele momento.
— Não precisa fazer isso, David. É sério, eu consigo sozinha. — Me apoiei no corrimão e tentei manter meu corpo de pé, mesmo sendo dolorido.
— Eu sei que consegue, mas me deixa ajudar você agora. Você acabou de ter um bebê, Giulia. Você pariu o meu filho, o meu sonho. Me deixa cuidar de você e compensar todo o tempo que eu fui i****a.