Relutante em aceitar minha ajuda, ela insistia em fazer esforço com tudo, como se eu fosse uma peça insignificante ali. Seus medos eram reais, ela evita segurar o bebê com medo de derrubá-lo do seu colo. A insônia tem sido parte da rotina dela, mesmo eu passando a noite cuidando do nosso pequeno, ela diz que não consegue dormir.
Era mais um dia de chuva e estava faltando mantimentos. Ela se arrumava para sair e já havia arrumado o neném também.
— Tem certeza que precisa fazer isso? Eu posso ficar com ele, já que não você insiste em ir. — Disse vendo ela sorrir, mas um riso debochado.
— Não precisa, David. Eu agradeço pela sua ajuda, mas eu quero fazer isso. Eu parece que sou uma louca e você tem medo que eu faça alguma loucura com o meu filho.
— Eu não acho que você seja uma louca, só acho que está se sobrecarregando demais. O filho é nosso, eu entendo que esteja com raiva de mim e você tem toda razão de estar com raiva de mim. Mas isso não significa que eu seja um inválido que não posso ajudar você. Eu posso ficar com o bebê e você vai, ele vai estar vivo e inteiro quando você voltar. — Em seu lugar, eu também estaria chateado e lhe dou total razão, mas ela está se sobrecarregando e m*l se alimentando e eu tenho medo de ir embora e alguma coisa acontecer.
— Eu não quero ficar tomando o seu tempo, David. Você tem o seu pai, inclusive que levar nosso filho para que ele o veja. O nome é uma homenagem ao seu pai também. — Ela estava sendo gentil, mesmo com sua dificuldade em fazer tal coisa.
— Eu te amo, Giulia. Me dá uma chance, por favor? Só mais uma chance e eu juro que vou fazer valer a pena.
Disse olhando em seus olhos bêbados. Ela se permitiu chorar e quando estava prestes a desabafa em lágrimas, a campainha começou a tocar incessantemente. Corri para abrir a porta e ao abri-la, seu pai estava parado em pé na porta.
— Como ela está? — Ele me entregou algumas sacolas e foi em direção a Giulia, que estava sentada com a mão no rosto. — Giulia, como você está? Onde está o meu neto? A Jesse me disse e eu vim visitá-los.
Como se seu pai fosse um antibiótico, suas dores sumiram ao vê-lo e um sorriso bonito brotou em seus lábios. Quando seu pai pegou o bebê, seus olhos encheram d’água e seu olhar de amor e acolhimento direcionado a Giulia foi algo muito bonito de ser ver.
— A Jesse disse que está viajando e por isso não veio te ajudar, mas eu vim pra te levar pra minha casa. A Sônia gosta bastante de você e lá eu posso te ajudar com o que você precisar. — O seu pai fingia que eu nem estava ali, como se eu fosse algo invisível.
— Obrigada, pai mas estou bem aqui. David está cuidando bem de mim e do nosso filho, a gente pensou em um lugar maior para morar depois. Agradece a Sônia por mim, mas eu estou bem, de verdade. — Ela me olhava e seus olhos brilhavam, como se estivesse mudado de ideia do que estava certa há alguns minutos atrás.
— Espero que você não decepcione minha filha mais uma vez, rapaz. Ela te ama e isso é algo raro dela dizer. Bom… eu passei pra te ver e conhecer o meu neto, mas agora tenho que ir. Qual o nome dele?
— Júlio. — Giulia e seu pai sorriram na mesma hora. Abraçados, um chorava sua mágoa no colo do outro, enquanto o barulho do nosso pequeno chupando seu próprio dedinho. — É em homenagem ao avô, e ao meu irmão.
Parece até estranho, temos um filho juntos, mas eu não sabia nada sobre ela e nem seus pais sabem nada sobre mim. Eu não tive outro jeito a não ser ficar sem graça. Com um forte abraço, se despediram e antes que ele fosse embora, me pediu um minuto de atenção…
— Fico feliz que esteja ajudando a Giulia nesse momento tão delicado. Eu confesso que pensei que ela estava surtando agora. Quando a Jesse me ligou avisando sobre o nascimento, eu não soube o que dizer, eu achei que ela estava enlouquecendo e não estava sabendo lidar com isso. Porque nem eu mesmo sabiam sobre essa gravidez.
— Eu também não sabia sobre nada. A gente se encontrou em uma loja, ela estava escolhendo algumas coisas para o bebê quando, então a bolsa dela estourou e a gente nem deve tempo de conversar ou algo parecido. Foi uma surpresa saber que sou pai, estou tão assutado como você está.
— Por isso eu peço que não a deixei sozinha. Ela está…
— Giulia não é nenhuma louca, ela é bastante lúcida e só precisa de alguém que não a deixei sozinha. Se depender de mim, o senhor por ficar tranquilo, eu cuidarei da sua filha como ela merece ser cuidado. Eu a amo mais que tudo. Eu amo a Giulia e eu vou cuidar dela. — Nunca senti tanta firmeza em minhhas palavras como senti agora. Eu falava tudo que estava vindo de dentro de mim. Me emocionei enquanto falava, olhando para trás e a vendo amamentando nosso filho. — Sua filha é a melhor coisa que poderia entrar em minha vida. Não sabe o quanto ela é especial para mim.
— É bom saber disso, porque eu gostei de você. Você parece ser um bom homem e tenho certeza que será um bom pai também. É isso! Ah, qualquer dia vamos marcar um almoço em família, você leva seus pais e a gente pode comemor o nascimento do nosso netinho.
— Eu não tenho mãe. Quer dizer, tenho mas ela não me criou. Meu pai tem demência e está cada dia se agravando um pouco mais, mas obrigada pelo convite, foi gentil da sua parte.
— Então você leva o seu pai e iremos está em família do mesmo jeito. A mãe da Giulia também não vai estar lá, quem sabe a sua mãe e a dela se mereçam, com todo respeito! Não consigo pensar como um pai ou uma mãe consegue abandonar um filho, por exemplo: eu dou a minha vida pela Giulia sem pensar duas vezes.
— Eu também! — Respondi sem pensar, porque eu não pensaria duas vezes em ajudá-la. — Obrigada pelo convite, vamos assim que Giulia estiver se sentindo bem para andar. Foi um prazer conhecê-lo.
Ele foi embora e quando procurei por Giulia, ela já não estava mais nada sala. Subi para o quarto e ali estava ela, de frente para o espelho, sem roupa e reparando em seus detalhes. Júlio estava dormindo calmamente, enquanto ela parecia preocupada com alguma coisa em seu corpo. Pelo jeito ela desistiu de ir até o mercado, mas ainda estamos sem mantimentos e ela tem que se alimentar bem.
— Acha que eu vou ser uma boa mãe? Eu não sei nada sobre bebê e não caiu a ficha que eu tenho um filho e sou responsável pela vida de alguém. — Fiquei por trás dela e lhe abracei.
— Eu te acho uma ótima mãe e tenho certeza que o nosso pequeno Júlio também vai achar isso quando entender alguma coisa. — Quando ela citou que vamos nos mudar para uma casa maior, eu não pude deixar de prestar atenção nos detalhes e fiquei bobo quando ela disse tal coisa. — Estava falando sério quando disse que vamos ter que ir para uma casa maior?
— Claro! Júlio vai precisar de um quarto só dele, a gente de um quarto somente nosso e o seu pai de um quarto acomodado para ele. Você disse que me ama mesmo me vendo desse jeito, horrível. E eu sempre quis ficar com você, dormir e acordar com você, mas eu tinha medo da sua aceitação. Tem dias que eu acordo quebrando tudo, irritada com o barulho que os pássaros fazem quando acordam. Imagina você acordar me dando bom dia e eu mandar você se f***r? — Rir imaginando a cena romântica e ela não conseguiu se manter séria por muito tempo. — Estou falando sério, David. Você vai me achar estranha quando isso acontecer.
— Não vou te achar estranha, porque se você não fosse você, eu não te amaria e quando você acordar em seus dias ruins, eu vou rir quando você mandar eu ir me f***r. Eu te amo, a única coisa que eu me importo é de estar perto de você. — Beijei seus pescoço e a virei de frente para mim. — Estou feliz que estamos tentando, eu de amo, Giulia. — Beijei sua testa e lhe abracei, ouvido o barulho dos murmurinhos de choro dela enquanto me abraçava.
— Eu te amo, David. Obrigada por nunca ter desistido de mim, obrigada por ter ficado e me aceitado do jeito que eu sou. Eu te amo. Amo o que construímos juntos.
E esse é o nosso recomeço. Depois de idade e vindas, finalmente, ela veio para ficar e eu não me imagino com uma vida melhor que essa. Com meu pai ao meu lado, vendo seu neto crescer e lembrando de Giulia como se estivesse lhe vendo pela primeira vez. Essa é vida que eu sempre desejei e eu me orgulho de tudo que construí ao lado da mulher que eu amo.
F.I.M