Capítulo 13 — GIULIA

1142 Words
— Giulia, acorda! — Sam me balançava de um lado para o outro na cama, mas a única coisa que eu queria era ficar deitada até esquecer daquela cena que vi ontem. — Levanta, eu fiz aqueles crepes que você adora. — Me deixa aqui, Sam. Eu não tenho mais emprego, não tenho mais nada, somente você que ainda continua comigo, mesmo depois de toda a merda que eu já fiz. — A Jesse ligou e disse que estava vindo pra cá com o noivo dela. — Hilário, vou ter que fingir que minha melhor amiga o ama e que não sente saudades do seu. Jesse me faz passar por cada situação, o bom é que depois vira motivo de risadas. — Não faz essa cara porque eu fiquei exatamente do mesmo jeito quando ela disse que ele iria vir com ela. — Se não fosse por causa dela eu nem levantaria daqui hoje. Busquei coragem onde já não tinha mais e levantei, me arrumei e após o desjejum, Sam se habilitou em fazer o almoço e todo o restante. Dois desempregados morando juntos poderia dar certo? Pelo menos ele não é tão ferrado quanto eu sou. — Acha que ele ainda vai querer me ver? — Perguntei ao amigo experimente em homens que eu tinha, melhor em conselhos amorosos e achismo do que eu queria saber. — Acha que eles voltaram? Ele só esperou eu sair da casa dele. Não posso culpá-lo, pois eu mesma disse que ele não se apegasse porque eu não tenho pretensão de me prender a alguém, mas ao vê-lo com sua ex-namorada eu me senti um lixo, como se fosse descartável e facilmente substituível. Ontem eu estava me sentindo neurótica, não tomei meu remédio e tenho certeza que fiz coisas vergonhosas, eu me conheço. — Sam, além de beber até não lembrar meu nome, você sabe mais o que eu fiz? — Há quanto tempo parou com seus remédios, Giulia? — Carinhoso, cuidadoso e atencioso, isso era tudo e mais um pouco de tudo que o Sam era na minha vida. O lítio em minha vida é o que me mantém firme, sóbria e lúcida, mas é altamente viciante e eu me sinto dopada e como se estivesse vivendo no automático. É horrível, como se a gente não pertencesse a nós mesmos. — Eu não parei, só dei um tempo. Estava me sentindo sem ânimo, lenta e como se as coisas não fizessem sentido. Mas acho que foi um grande erro, eu poderia ter evitado estar nessa situação. — Larguei o que estava fazendo e sentei sobre a mesa. — Agora me conta o que eu fiz ontem a noite! — Você se esfregou em dois caras ao mesmo tempo. Seu amante ou namorado, não sei o que ele seja, te viu e ficou irritado com aquilo. Assim que eu te vi naquela situação, te trouxe para casa e você dormiu ainda dentro do carro. — Coisas como essa são constrangedoras e acontecem com mais frequência do que eu gostaria. Não que eu me sinta uma santa, gosto de ser assim, livre e libertina, mas as vezes sinto falta de alguém ao meu lado, principalmente nos momentos difíceis. Sam buscou o remédio e água, eu fiz o que ele me pediu e em seguida fui até o quarto, ligar para o David. Ele não me atendeu nas três primeiras vezes que eu tentei, iria desistir, mas Sam insistiu para que eu tentasse por uma última vez e milagrosamente, ele atendeu. “David? Como você está?” Perguntou assim que ele atendeu, mas ao invés de ouvir sua voz, tive o desprazer de ouvir a voz de sua namorada, Joyce. “O David não quer falar com você, querida. Você só serviu como algo usável e feito para descartar.” Sua risada me deixava nervosa e eu não consigo controlar isso. Ela me deixa nervosa! Sam tomou o telefone da minha mão e levou ao ouvido, mas desta vez, não era Joyce quem estava ao telefone. “Giulia? Eu peço que não me ligue mais, por favor. Achei que você não estava falando sério quando se referiu a você como uma v***a, mas eu deveria ter acreditado no que verdadeiro eu.” “David?” Após a confirmação, Sam se preparou para falar e trancou-se no banheiro, impedindo que eu entrasse e lhe atrapalhasse. “Você pode pensar o que você quiser da minha amiga, mas não pode fazer isso com ela. Se você soubesse o quanto um homem como você mexe com a mente de uma mulher como a Giulia, não fazia suas promessas vazias a ela. É melhor ficar com a sua v***a loira e deixar Giulia em paz.” Antes de desligar ele falou algo mais, porém eu não consegui ouvir e não soube o que dizer quando ele saiu do banheiro, indo em direção ao gancho do telefone, onde pendurou o mesmo e voltou para a cozinha no momento seguinte. — Vai se arrumar, daqui a pouco a Jesse chega e você tem que parecer uma pessoa normal. Quando ao David, ele é um babaca e não te merece. — Eles passaram a noite juntos, Sam. Acho que a i****a dessa história sou eu. Subi as escadas desanimada e pensativa em tudo que estava acontecendo. Meus pais se divorciando, minha mãe jogando toda a culpa da morte do meu irmão em mim, meu pai que não está sabendo lidar com o divórcio e acha que eu sou a melhor pessoa para lhe dar conselhos. Estou mais perdida que nunca, agora essa maldita emoção decidiu fazer morada em minha cabeça e eu não consigo tirar David dos meus pensamentos. Jesse acabará de chegar com seu noivo, tão desconfiado do ambiente em que estava entrando, como se isso fosse a coisa mais estranha do mundo a se fazer. — Caramba, eu senti sua falta. Você mudou desde a última vez que nos vimos, e nem faz tanto tempo. O que houve com você? — Sam mostrava a casa ao Klay que estava surpresa com as coisas diferentes que via por ali. — Como o seu pai está com tudo isso? — Estou de certa forma sentindo o peso do divórcio deles. Meu pai continua acreditando que eu sou a filha perfeita dele, a conselheira que sempre o ajuda nos momentos difíceis e minha mãe está se revelando novamente. — Sim, se revelando, pois ela parecia que já tinha aprendido a lidar com a morte do Júlio e estava me entendendo, mas não era isso, ela estava mesmo era guardando tudo para ir jogando em minha cara aos poucos. — Você vai ficar bem… — Não era uma suposição, eu preciso ficar bem comigo mesma ou irei enlouquecer daqui alguns meses. — Vem, eu trouxe algumas coisas para você e tenho certeza que você vai gostar.
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