Capítulo 3 — GIULIA

1308 Words
O dia era sempre tedioso, e agora tudo estava ficando ainda mais sem cor. Na noite anterior não tive bons sonhos, m*l consegui dormir e o dia foi corrido. Após sair do trabalho, passei na casa dos meus pais onde o encontrei na varanda fumando e olhando as flores. — Está tudo bem? Onde está a mamãe? — Não sei, ela saiu hoje cedo sem nem mesmo falar comigo. — seu longo suspiro me deixou de certa forma preocupada, ele estava muito quieto e embora ele fosse calmo, não era para tanto. — Ei, vai ficar tudo bem. Eu prometo. Jantar hoje às 21:00 em minha casa, o que acha? — perguntei sentando no balanço que tinha ao lado de fora da varanda, tentando acender um cigarro. — Eu adoraria. — seu sorriso embora não fosse tão alegre, me deixava feliz. — Filha, por que você nunca me apresentou um namorado seu? Você é… — era visível o que ele queria saber e não, eu nunca senti atração por mulheres. — Não gosto de mulheres. Nunca lhe apresentei ninguém simplesmente porque acho o amor uma mera ilusão. O que o amor agrega na vida de uma pessoa? Porque o que se pode conquistar em duas, pode se conquistar em uma também e no final das contas, poupa a tal frustração e a dor do amor. — Acha que o amor é uma droga? — assenti o fazendo sorrir da cara que eu fiz. — Você não está errada, mas não pode pensar assim para sempre. Não relacione o casamento da gente como fonte de inspiração, foram bons anos ao lado de sua mãe e acredite, eu faria tudo novamente. Eu ainda não entendia o porquê e de verdade, era algo que eu não queria me aprofundar sobre. Meu pai tinha lágrima nos olhos enquanto relembrava os bons momentos de casamento, que para ele foram os melhores de sua vida. Eu também já amei, amei uma única vez e o perdi da pior forma possível, era Júlio, meu gêmeo. — Eu não entendo como uma pessoa pode conviver com outra por tanto tempo sem enjoar delas, por exemplo: ver a mesma pessoa todos os dias, fazer sempre as mesmas coisas e… — neguei com a cabeça pensando no que mais poderia ser r**m em relação ao amor e eram tantas coisas que eu nem mesmo conseguiria pensar em tantas com rapidez. — Eu acho que não nasci para isso. Acho que eu vou morrer sozinha e tentando aproveitar o máximo a minha vida. Quero aproveitar a vida ao seu lado, o que eu poderia ter de melhor que meu pai? As risadas acabaram quando a porta fechou e tínhamos certeza de que era minha mãe, que já entrou cantarolando e com um largo sorriso no rosto, coisa que desconhecíamos. O clima não havia mudado entre mim e eles, mas me causava um grande incômodo ver a forma como ela o rejeitava, nada tirava da minha cabeça que havia traição, mas eu não sabia de qual das pertes e até que soubesse de alguma coisa, queria conseguir ficar calada, como sempre foi. — Filha! Que surpresa agradável! — ela me abraçou tão forte como se fizesse dias que eu não viesse em sua casa, ontem mesmo estive com eles. — Desculpe não ter nada pronto para lhe oferecer, como pode ver, acabei de chegar. — Não precisa se preocupar, mãe! Eu vim apenas para ver vocês e dizer que eu sinto muito pelo que está acontecendo. — meu pai me olhava com um olhar de esperança, ele via em mim alguma coisa boa, que nem eu mesma sabia o que era. — Giulia, eu sei que está triste meu bem, mas é uma decisão que nós tomamos há alguns dias atrás e acredite, vai ser bem melhor assim. — ela aproximou seu rosto do meu, como se fosse me dar um beijo no rosto, mas aproximou sua boca do meu ouvido e disse: — Eu já não o amo há muitos anos. Seria inútil acabar com o restante de sua vida alimentando uma coisa que já acabou faz tempo. — Olhei para ela e sorri, como se compreendesse aquilo, mas a verdade era que eu estava me sentindo péssima por ele, quanto a ela, bem… meu pai sempre foi minha base, então… seria sempre ele a quem iria cair toda minha preocupação. — Eu compreendo, mãe. Foi bom ver vocês, mas agora já estou indo. — olhei para o meu pai e não disse nada, não queria falar sobre nosso combinado na frente dela, às vezes eu me sentia infantil, mas a presença dela na maioria das vezes me deixava desconfortável. [...] Faltava apenas algumas horas para a anoitecer e eu já estava exausta. Minha casa estava uma tremenda bagunça, então seria esse o meu passatempo de hoje. Pensando melhor, eu não deveria ter convidado meu pai hoje, pois meu corpo pede alívio e ao lado dele eu me limito. Mas não gosto de desmarcar jantares, pelo menos não com o meu pai. Estava terminando de arrumar algumas coisas antes de fazer o jantar quando bateram na porta, então logo iria ter que pedir alguma coisa. — Oi! — disse ao ver que não se tratava do meu pai, mas sim do encanador que ficou de vir há duas semanas atrás e eu já não precisava mais. — Eu já resolvi o problema, obrigado por vir. — ele pareceu chateado mas foi embora sem falar nada, apenas acenou com a cabeça. Respirei fundo e voltei ao que estava fazendo, quando de repente pensei no cara de ontem, sentindo alguns calafrios pelo meu corpo, como se fosse possível sentir seus toques em meu corpo. Uma grande ilusão da minha mente. E finalmente eu havia acabado de fazer uma torta, acompanhada de uma pizza de queijo, meu pai queria apenas um motivo para falar sobre a minha mãe e como ele a ama. Eu amo ter momentos com ele, então o vejo como uma boa companhia, assim até consigo pensar em alguma coisa para ajudá-lo. — Tá bonitão. — disse ao vê-lo parado na porta esperando que eu dissesse exatamente o que eu acabei de dizer. — Você também está uma gata. — ele me olhou sem graça e entrou, me entregando uma caixa de presentes e uma aliança em seu dedo. — O que está aprontando desta vez? — perguntei fechando a porta atrás e tentando adivinhar o que tinha dentro da caixa. — É pra sua mãe pensar que eu estou me relacionando com outra mulher. — nesse momento eu não consegui segurar o riso e rir até o estômago doer. O coitado ficou sem graça, mas aquilo era ridículo. — Pai… sabe que não vai valer seu tempo essas coisas. Se já acabou, o que lhe resta é seguir em frente, assim como ela está fazendo. — disse lhe entregando uma taça e pondo vinho em seguida. — Não vale a pena se desgastar por algo que não tem mais volta. Foi bom enquanto durou, mas agora é hora de seguir em frente. — Eu vou tentar… — então, ele retirou o anel de seu dedo e o guardou dentro do bolso de sua calça. — Tem certeza que vai ficar tudo bem? — seu olhar triste foi voltado a mim e eu senti a solidão no mesmo. — Eu garanto que sim! — enquanto ele escolhia alguma fita para reproduzir, eu pus a mesa e assim como ele, eu também estava pensativa. Jantamos, assistimos alguns vídeos de quando eu e meu irmão éramos crianças e depois de chorar um pouco, ele estava restaurado e de despendido para ir embora. E por fim, estava apenas eu e minha solidão absoluta remoendo minhas dores por dentro, como se as coisas pudessem ser ainda piores do que já foram algum dia.
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