Capítulo 6 — DAVID

1069 Words
O trabalho me fez perder a noção que o dia estava se passando tão rápido. Joyce chegou de surpresa e me ajudou a terminar de moldar alguns quadros. — Você tem andando estranho, tem alguma coisa que esteja querendo me contar? Somos amigos também, ou não somos? Joyce é uma mulher legal, não merece ser enganada e muito menos viver em um relacionamento onde não tem amor pra ela. — Eu conheci uma pessoa… — Seu olhar parecia que já sabia de alguma coisa, pois ela não disse nada. — Eu não acho certo ficar com você sem poder te dar amor. Estamos saindo e eu quero que você saiba que não foi por sua culpa. Você é uma mulher maravilhosa, só que… — Só que ela faz um boquete tão bom que você se apaixona na mesma hora, incrível não é? — De propósito, ela derrubou a tinta que estava aberta em cima de alguns gráficos que estavam prontos e levantou-se furiosa. — Vai me deixar para ficar com uma qualquer, David? Vocês por acaso tiveram algum encontro depois que saímos daquela festa? — Não. A gente não teve encontro nenhum depois daquela festa. Mas eu não sinto amor por você, Joyce. Com ela eu me sinto vivo e… — Estamos juntos há mais de três anos e você vai jogar tudo fora por causa daquela mulher? — Sua indignação não era estranha, Joyce é explosiva e eu estava apenas esperando sua ira vir à tona. — Seu pai já sabe que está apaixonado por uma vagabunda? — O que se passa na minha vida pessoal não é do seu interesse, mas sim, meu pai sabe sobre a Giulia e isso é tudo que eu tenho a dizer. A gente nunca teve nada sério e eu sempre deixei isso bem claro para você, Joyce. — Aumentei o tom de voz e lhe respondi na mesma altura de sua audácia. — É… pelo visto vocês homens sempre escolhem o que não presta, não é mesmo? — Ela pegou sua bolsa e antes que saísse, fiz questão de “refrescar” sua memória. — Nos conhecemos em uma boate, você era dançarina e se exibia nua naquele pole dance. Não queira cobrar de alguém o que não é digna. Se hoje você tem uma vida feliz e estabilizada, dê graças a mim, porque eu não a deixei na rua quando chorou em meus pés dizendo que não tinha onde ficar e nem o que comer. Eu a acolhi mesmo nós dois não tendo nada. Agora por favor! — Abrir a porta e ela se foi, chorando, olhando para trás e me xingando. Meu pai estava atrás da porta, não o vi levantar e ele nem me chamou para que eu o ajudasse. — Pai… o senhor poderia ter caído. — Caminhei rápido até ele e ajudei a sentar. — O que ela te disse não é verdade. Os homens não são iguais, meu filho. Sabe por quê? — Ele me olhou e olhou para a cerveja no chão, peguei e entreguei para ele. — Porque eu quero ver onde ela vai encontrar alguém de bom caráter como você. O que vai fazer hoje a noite? — Vou trabalhar. Ela destruiu tudo que eu já tinha feito e precisava entregar hoje à tarde, tudo isso. — Estava com raiva da Joyce por ser tão infantil, mas mais raiva ainda por ela ter destruído minhas telas e gráficos. Ela sabe que esse é o meu trabalho e que eu preciso do dinheiro. — Eu sei de uma coisa melhor que pode te fazer relaxar, e não estou falando sobre trabalho. — Sorri olhando para ele que fazia menção com as mãos e tentava me distrair um pouco. — Chame a moça para jantar ou sair, ela vai gostar. — Eu não sei onde ela mora, pai. Mas eu também já não suportava mais ficar com a Joyce sem amor. Eu não sei se vamos nos ver mais, eu e Giulia, mas estou me sentindo aliviado por ter colocado um fim desse lance que a gente tinha. Quando meus amigos me falavam sobre amor a primeira vista, eu ria e zombava deles, tendo a certeza que era impossível acontecer algo do tipo. Giulia surgiu em minha vida e me fez enxergar o mundo diferente. Ela não se esconde atrás de quem ela não é, não finge ser uma pessoa superficial para agradar aos outros. Ela vive intensamente, sem medo ou segredos e isso que me atraiu. Me sinto livre e sendo eu mesmo quando estou com ela, sem ter que mentir ou tentar ser uma pessoa melhor, como eu tentava ser para a Joyce. O número do telefone dela estava pendurado no meio dos meus desenhos, seu nome escrito em letras grandes e os números marcados com verdes para ficarem visíveis quando eu procurasse com urgência. Meu pai me olhava com os olhos cheios de alegria, colocando expectativas em Giulia. — Vá em frente. Ligue! Eu vou ficar bem. Luís disse que vai vir beber comigo enquanto a gente acompanha o campeonato na TV. — Luís é um velho amigo do meu pai, sempre andaram juntos e até os dias de hoje, fazem merdas juntos. — Você sabe que não pode beber muito, não é? Três ou no máximo quatro e já chega. Eu vou confiar em você, mas estarei em casa antes que amanheça. Peguei o celular e digitei os número de Giulia, ela demorou um pouco para atender. Sua voz tem um efeito inexplicável, consegue ser sexy e doce ao mesmo tempo. “Giulia?” “Oi, David.” Ouvi o seu riso abafado do outro lado do telefone e senti meu lerior arder e o coração acelerar. “Você tem alguma coisa para fazer hoje?” Dentre tantas perguntas que eu poderia ter feito, eu fiz a menos provável possível. “Não. Acabei de chegar da casa dos meus pais, estou livre o restante da noite. E você?” “Também estou livre hoje. Eu queria te chamar para jantar comigo hoje. A gente pode fazer algumas coisas depois, o que você quiser.” Eu esperava ela dizer que eu poderia pegá-la, mas ao invés disso, sua reposta me pegou totalmente de surpresa. “Pode deixar, estarei na sua casa às 20:00 horas e vemos o que vamos fazer. Pode ser?” “Claro! Até mais, te espero ansioso.”
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