Cidade dos desajustados

1667 Words
As pessoas voltavam às suas atividades normais quando me virei para Zhìzhě, muito curiosa sobre o que havia acabado de acontecer. —O que foi isso? —Eles precisavam de um norte, alguém ou algo para acreditar e dever… —Ninguém melhor que um sapo gigante!—falei debochando. —Minha espécie foi escravizada e dada como ser inferior por milênios, nossa força e longevidade foi utilizada contra nós por anos, mas, essas pessoas viveram acorrentadas a um sistema que as obriga depender de outro, então sim, escolheram o mais forte. —Me parece conveniente. —Respondi dando de ombro, eu senti uma estranha sensação como se duas brigarem dentro de mim, uma que confiavam no sábio e outra que sentia o cheiro de tramóia e eu sabia qual parte era qual, mas mesmo assim me deixou confusa. A ponto de apenas andar até a praça havia uma árvore bem no meio era gigante, seu tronco era de um tom de roxo haviam galhos fortes e em cada galho ramificações finas cheias de folhas que divergiam em verde e azul, pela finura do ramo as folha caem para baixo dando um toque especial na imensa árvore, que destoava das cores da pequena cidade. —Que linda. —Falei fechando os olhos para sentir a brisa agradável que soprava em meu rosto após bater nas folhas. — Sente-se calma? — Pergunta Zhìzhě, batendo a bengala. —Como se tudo estivesse em paz. —Falo inspirando aquele perfume. —Helling. —Aquela palavra parece formar um quebra cabeça em minha cabeça. —É esse chá? É dela não é? — Me viro para o sábio que mantinha sua expressão calma. —Por isso me trouxe aqui? Para me acalmar? —Até não reaver o controle, seus poderes são nocivos. —É aquela sensação de "em chamas" , não é nada agradável… —Por enquanto é nociva apenas a você. —Ele solta essa bomba e começa a andar, até mais próximo da árvore onde havia algumas crianças sentadas nos galhos. —Não pode fazer isso, sabia? Como assim aos outros? —Não está pronta para saber, ainda é uma criança um pouco menos burra do que quando chegou. —Enfezo minha cara para ele, o que o faz gargalhar. —Sábio, então me treine. —Porque acha que estamos aqui? Você precisa se recuperar de hoje, tivemos um pequeno progresso. —Zhìzhě fala ajudando uma criança a descer do galho, quântica levou os olhos novamente a árvore sinto como se ela me chamasse, aos poucos vou me aproximando dela até que meus dedos a tocarem, e sinto como se fosse lavada por uma cachoeira espiritual ou algo do tipo, então eu vejo uma mulher sentada no chão com as mãos na enorme barriga, as lágrimas incessantes molhavam seu vestido. —Quem é você— sussurrei, e seus olhos se voltaram para mim. —O que faz aqui? —Ela perguntou, limpando as lágrimas com os punhos, percebo que ela não estava falando comigo, mas sim com alguém atrás de mim, quando vou me virar senti minha calça sendo puxada, minha pequena viagem a algum lugar acaba e estou em frente a um garotinho com pequeno com os olhos violetas, um cabelo preto e a pele extremamente branca, mas com algumas escamas. —Você é a aprendiz? —Ele pergunta com uma cara emburrada. —Sim, quem me pergunta? —Perguntei me agachando para ficar do tamanho dele. —Sou Zê, tenho 15 anos. —ok… —Me levanto e sussurro a Zhìzhě. —Quantos anos são isso em vida humana? —A espécie de Zê é híbrida, sua idade atual equivale a de 5 anos na terra, ele pode atingir conhecimentos de mil vidas humanas sendo uma criança, com tamanho, biologia e psique de criança. —Responde o sábio que estava com cinco crianças penduradas. —Eu só queria uma idade, mas valeu. —Bato no braço do sábio e me volto para o garoto. —Zê, deixa eu adivinhar você queria ser o aprendiz? —Sim!o aprendiz pode sair da cidade dos desajustados… Imagine os lugares que poderia conhecer e os doces que comeria. —Ao falar dos doces seus olhos se enchem de alegria. —Não podem sair daqui? —Não, fora daqui não temos segurança, a não ser se formos aprendizes. —Ah… isso é muito triste, bem no momento posso apenas prometer que da próxima vez trago doces para você. —Está brincando? –Ele pergunta com um rostinho desconfiado. —Não estou. —Por Meraki! Vocês ouviram? Vamos ganhar doces! —Gritou o garoto sem se conter de tanta alegria, rodopiando junto com as demais crianças. Mas aquela frase me impactou, por Meraki? Como por Deus? É isso que ela é para eles? Porque? As perguntas se acumulam, mas o grande sábio está certo, não estou preparada para encarar a verdade. Mas sei lá o tempo é um dos meus inimigos e não tenho todo o tempo para salvar Kundale, se eu conseguir salvar. Era estranho a maneira como eles me faziam sentir mais em casa do que no imenso castelo. Há muita história em Kundale, com certeza muito mais do que eu sabia. —Você é minha nova pessoa favorita! —Fala o garotinho pegando algo do bolso da bermuda de couro. —Isso é pra você! É uma coisa que ganhei da minha vó, ela me deu três então essa é sua. —Ele fala estendendo a mão era um colar com uma concha, ela era diferente, era mais dura e as cores eram mais vivas. —Obrigada! —Falei com os olhos já se enchendo de emoção da pureza do coração daquele garoto, peguei o objeto o puxando para um abraço demorado. —Eu sei quem é você. —Ele sussurra ao meu ouvido. —Você deve fugir dele. —O que? —Perguntei assustada. Antes mesmo de me responder o garoto sai correndo, em direção a casa, eu coloco o colar junto que as trigêmeas me deram. —O que foi? —Pergunta Zhìzhě, percebendo minha inquietação. Havia uma possibilidade do garoto estar falando dele, e se fosse não iria ser x-9. Mesmo que ele já pudesse saber. —Conhece esse garoto? —Perguntei, tentando entender. — Sim, sua avó é uma antiga amiga. —Ela ainda vive? —Sim… Não faça isso. —Responde ele, colocando a bengala à minha frente. —Sabe que me dizer para não fazer, é o maior impulso que poderia me dar… —Falei empurrando a bengala em seguindo a trilha do garoto, o sábio continuou no lugar sem me dar qualquer outra ordem. Ao chegar em frente a casa encontro uma senhora enrugada sentada à mesa, com uma bolsinha de couro à frente. —Entre. —Ela fala, virando seu rosto para mim, os seus olhos eram completamente brancos, assim que dou meu primeiro passo em direção a ela a porta atrás de mim se fecha não por nenhum tipo de mágica, mas por tecnologia. —Quer sentar? —A senhora sabe quem sou? —Perguntei aflita. —Sim, pequena guerreira. —Ela fala abrindo a bolsinha e tirando algumas peças de um jogo. As peças eram retangulares com desenhos talhados. — Que jogo é esse? —Perguntei sentando ao seu lado. —Não é um jogo, crianças… é o seu destino! —Como assim? —Perguntei arregalando os olhos. — A milhares de anos, Andrômeda era um lugar diferente do que é hoje, as pessoas eram boas e sabiam viver em harmonia, os Eroin-noi, estavam lá para acabar com qualquer injustiça, mas quando um deles se deixou influenciar, acabou por deixar a balança em falta, permitindo o início de uma guerra que nos trouxe aqui,ao seu destino. —Ela falava enquanto organizava as peças me lembrava mahjong. —Está falando de quando os homo vieram para cá? —Não criança, muito antes… expulsamos os Lóng yīng, eles vieram para essa terra que era habitada por um povo muito hostil e que vivia separado. —Sine Ores… —Sim… É uma garota esperta, quer saber seu destino? —Não. —Não? —Saber iria fazer eu sentir que não tenho escolha, seja lá qual for o desfecho. —Falei fechando os olhos para qualquer spoiler que pudesse haver nas peças. —Então por que veio aqui? —Porque eu devo fugir? E porque me deu esse colar. —O passado é algo que não podemos mudar, precisamos pagar nossas dívidas. —Ela fala guardando vagarosamente as peças, era possível escutar o barulho delas arrastando na mesa. —Pode ser mais direta? —Tem que descobrir sozinha. —A senhora agora mesmo queria me mostrar o meu destino por que não contar? — Você não quis saber porque acredita que irá influenciar suas decisões. – Ela se levanta vagarosamente indo pegar uma chaleira que estava em cima do fogão. —Tudo bem, já entendi que todos os vozinhos dessa galáxia são muito mistériosos! — Falei movendo as mãos como fantoches para demonstrar meu descontentamento. — Eu conheci sua mãe… —Ela fala colocando duas xícaras de chá pareciam ser de um barro roxo, meus olhos se arrecadaram pensando em qual pergunta deveria fazer primeiro as dúvidas insanas que tinha sobre ela,mesmo tendo quase que certeza que em uma vida eu fui quista e amada por uma mãe. —Ela me amava? —Perguntei segurando aquelas xícaras com a intensidade que se o faminto segura um pedaço de pão. A senhora abre um leve sorriso e senta servindo o chá, até dizer: —Mais que tudo— Em seguida ela bebe o chá, naquele momento eu estava extasiada pela segurança repentina que saber com certeza daquele fato me provocou. –Beba seu chá. Eu balanço a cabeça confirmando a ação meus olhos marejados da pura realização, eu fui amada por mãe… era como se violinos estivessem tocando em lugar do meu coração.
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