O Sábio era uma criatura estranha que me deixava confusa a cada vez que abria a boca, era rude, rabugento, sabia me irritar e me fazer sentir muita raiva por para fora toda a raiva que eu tinha ele conseguia fazer isso sem ao menos esboçar arrependimento não sabia se isso fazia parte de algum tipo de teste ou plano nada convencional ou então ele era apenas um b****a, embora as hipóteses não se anulem.
—Nós somos, não é? —Ele diz se virando e indo preparar algo na cozinha.
—O que você disse? —Como ele ousava me chamar de c***l, eu não sei se sou uma pessoa boa, mas tenho certeza de não ser c***l.
—Somos cruéis… Na verdade você é c***l, eu venho te tratando como você mesmo se trata desde que entrou por aquela porta, está tão acostumada a ser condescendente com sua própria dor… talvez você até goste desse papel, ele te cai bem sabe como foi que o governador te chamou? Ah sim salvadora…
—Você é psicólogo? Acha que me conhece, acha que gosto que me chamem de salvadora? Que me tratem m*l? Já sei dizer que tenho complexo de herói.
Ele se vira com uma xícara de chá eu reconhecia o cheiro da lembrança de Meraki, era estranho como aquele cheiro já me deixava menos dolorida do que ainda estava.
—Está aqui, beba.
—Não entendo porque você fala assim comigo— Eu falei pegando a xícara e sentindo o aroma parecia com o de um limão caído do pé na terra com a força da chuva e sua coloração vermelha— Sabe me ensinaram lá na terra, no orfanato a respeitar os idosos, mas você dificulta a minha vida.
Enquanto eu dou um gole no chá, Zhìzhě solta uma gargalhada enquanto segura a barriga, será que se eu tivesse um avô ele seria desse jeito?
—Para que eu possa te ensinar o que você precisa saber para reivindicar seu lugar, você precisa abrir seus olhos Meraki.
— Abrir meus olhos para o que?
—Sobre quem você é.
—Eu sei quem eu sou.
—Não, não sabe.
—E o que eu preciso para saber quem sou?
— Você não é uma pessoa comum e Maha ou até mesmo Anánke não sabem como lidar com isso, eles anulam a vida dos outros na terra, mas você não é assim nunca foi, você não abandona ninguém que precisa de você, você…
—Prefere morrer lutando.
—Não existe ela, só você.
As palavras de Zhìzhě como sempre me soavam grego, como eu poderia ser ela? Eu poderia fingir até Anánke e Maha conseguirem dar um jeito no tal imperador, mas como poderia ser uma rainha guerreira? Como poderia ser daquela galáxia, ter pais que a amam,um povo inteiro que a ama, era absurdo e assustador somos diferentes de mais para sermos a mesma pessoa, eu sou uma hospedeira e não dona deste corpo.
—Eu não sou ela.
—Então já perdemos, se quiser posso levá-la de volta à terra.
Por vários motivos a frase me trazia sentimentos ambíguos, eu queria mais que tudo voltar para casa e proteger Margo com todas as minhas forças, mas perder… isso eu já conhecia o que significava e as pessoas de Kundale também não queria que sofressem mais.
—Eu… —Ainda estava tentada a aceitar a proposta de Zhìzhě. —Como você faria isso? Ela não voltaria mais né?
—Cali, antes de ser diretora ela era pesquisadora e médica da Melium.
—Eu já ouvi falar desse lugar, são os criadores dos Noths?
—São bárbaros que fingem ser deuses.
—E Cali é uma deles? Digo não que ela pense ser uma deusa… ela é do planeta deles?
–Sim… Os Meliuns são divididos em três espécies inteligentes, Bada, Ausat e Thoda, os Bada não possuem pelos, são altos, eles tem algumas escamas, são os líderes parecem inofensivos mas são mortais, depois tem os Ausat sua amiga Maha é uma delas eles foram limitados a espiões, guardas, ou seja, a p******o, e por último os Thoda são criaturas pequenas e peludas e muito inteligentes.
—E por que toda essa briga entre Kundale e Melium?
—Venha, vamos um pouco à biblioteca.
—E se alguém me reconhecer?
—Eles não vão, acham que você está morta a 200 anos.
Entramos no elevador que nos leva direto a biblioteca, eu ficava arrepiada apenas de colocar meus pés naquele lugar, o cheiro dos livros era inebriante a vontade era de morar ali junto a ele, enquanto eu admirava cautelosamente a paisagem Zhìzhě, já estava a vários passos à minha frente, ele parecia procurar algo, era impressionante o quanto de cabeças abaixadas focando todas as suas atenções ao que estavam lendo.
—Venha criança, é por aqui. —Ele vira para direita entrando no corredor entre as estantes e eu o alcanço com uma pequena corrida. —Está vendo esse livro? —Ele fala apontando para um livro azul e dourado que ficava bem na altura dos meus olhos, ele era de uma grossura ele o puxa com delicadeza e coloca em cima da mesa mais próxima, folheia um pouco e mostra um capítulo chamado a guerra do início.
—Guerra do início?
—Sim, chamamos de guerra do início pois foi a primeira vez que os humanos foram vistos em nossa galáxia Andrômeda.
—Humanos?
—Sim, você e Anánke até mesmo Ravi são descendentes de humanos, mais evoluídos sem dúvida.
—Mas que? Como?
—Andrômeda e a Via láctea são galáxias vizinhas, Meraki… a vida não é como parece os humanos não são da terra, eles são de um planeta chamado Homo eles eram bem evoluídos ciêntificamente e culturalmente, acontece que um meteoro ia se chocar com o planeta a fulga da maioria deles em diferentes naves com destino a terra, entretanto algumas naves se perderam e acabaram entrando em um buraco de minhoca e de alguma maneira chegaram até aqui.
—Meu Deus, eu sinto meu cérebro sendo reduzido a uma noz, você ta de caô para cima de mim não né?
Zhìzhě dispara outra gargalhada que desperta rápidos olhares para nós.
—Isso não faz nenhum sentido. —Falo me abanando com a minha blusa, eu estava desnorteada com aquela informação era como, na verdade é exatamente como se meu mundo virasse de cabeça para baixo.
—Bem, a verdade é essa. —Ele fala dando outra gargalhada, por algum motivo ele achava engraçado a minha cara de trouxa.
—E o que aconteceu depois? Como ninguém encontrou nenhum rastro sobre isso? Porque se foi há milhares de anos, por que eles não usaram as tecnologias desde o início?
—Eu não sei bem o que aconteceu na terra, mas sei que assim que descobrimos que havia humanos lá os Meliuns deram um jeito de apagar qualquer rastro de tecnologia vinda de Homo, enquanto as naves foram levadas diretamente para Eroin, o planeta em que Anánke nasceu, o gran-mestre decidiu que o melhor seria dividir os humanos em planetas diferentes para acompanhar a evolução e ver em qual lugar eles se desenvolverem melhor, os que ficaram em Eroin foram tratados como iguais, os que foram para Eva tiveram que conquistar seu próprio espaço, e por fim os de que foram Melium… tiveram um destino c***l de estudos e e********o, com o passar do tempo, a mudança de ambiente, a mescla de espécies variantes foram sendo criados, até que os humanos como eram quando chegaram não existem mais aqui.
—Isso é tão insano que acho que tenho um tumor no cérebro, essa a explicação mais plausível, eu aceitei de boas… a viagem entre galáxias, estar em um corpo muito parecido com o meu, mas que é outro, ter essa tatuagens que são algum tipo de maldição do dragão, a existência do dragão e estar falando com um cara que parece um sapo gigante do naruto, eu não sei para você, mas para mim saber que vim de outro planeta que não a terra é a gota d'água. —Eu falei me colocando de pé e batendo com a mão no livro, sem perceber todos os olhos vidrados em meu desabafo.
—Desculpe, eu odeio os humanos, sempre achei ser uma thoda. —Me sento quase desmaiando de vergonha na cadeira que estava atrás de mim.
—Uma Thoda? —Sussurra Zhìzhě contendo o riso.
—O que devia dizer? –Coloco a mão entre meus cabelos puxando minha cabeça para deixar os olhos arregalados.
—Não faço ideia, mas não se preocupe, eles apenas acham que você é maluca. —Ele fala rindo.
—Nossa que engraçado. —Digo revirando os olhos, então uma pequena lembrança me fez dar um sorriso.