SURGIT

Pad

Maha não sabia responder aquela pergunta, mas consegui perceber um livro destacado naquela multidão, era inesquecível aquela capa rasgadinha no final, eu conseguia sentir o cheiro do bolo de chuva que vinha da cozinha e do cheirinho de lavanda que haviam passado no chão a minha mão tão pequena indo em direção aquela estante e pegando aquele belíssimo exemplar de Alice nos país das maravilhas.

Ao abri-lo vi as páginas amareladas e a marca da gota de café que havia derramado logo levei o ao nariz e consegui sentir o cheirinho do café, o nome da dona daquele tesouro que teve a humildade de passá-lo a outro.

—É ele! —Falei vibrante a Maha —Como pode ser? —Meus olhos se encheram.

—Eu nunca vi esse livro em minha vida.

Algumas lágrimas desceram e por algum momento como um relâmpago passou pela minha cabeça a ideia de que se naquele dia houvesse lido um livro diferente poderia isso não ter acontecido, era ridículo, mas coisas ridículas acontecem todos os dias.

—Ele era meu! Foi meu melhor amigo durante dias chuvosos, meu primeiro livro —Respondi secando as lágrimas.

A mão de Maha tocou meu ombro e foi como se eu visse o universo inteiro em menos de um milésimo de segundo, eu não escutava mais, a explosão de cores e formas e por fim o mais silencioso vácuo e então senti como se outro coração batesse em meu peito. Uma sensação de estar voando usando as asas dela como suporte, mas Pad era muito mais do que um simples Lóng yīng, era parte de mim. Sua pele dura e alva, com os olhos como diamantes, suas enormes asas. Eu poderia dizer a Mag que dragões existem.

Aquela névoa me encobriu novamente e ao abrir os olhos estava cara a cara com Maha novamente. Ela estava com uma cara de quem encontrou seu maior ídolo.

Foi quando percebi que meus braços brilhavam como no sonho e todo meu corpo começou a acender como uma árvore de Natal. Todas as linhas desenhadas no meu corpo e uma dor começou a me consumir me fazendo dar um grito que fez com que Maha tapasse minha boca.

—Desculpa, mas ninguém pode saber que estamos aqui.

A sensação de queimar viva, sua pele sendo derretida, mas era apenas uma sensação.

— Eu vou tirar a mão, por favor não grite.

Sinceramente eu queria gritar, mas a única coisa que pensei foi em correr para a cachoeira e a sensação foi a de um alívio imediato.

—Oh Lóng yīng! Guias do reino das almas! —Pulou Maha —Sei que a dor deve ser insuportável, eu estudei sobre isso! A deusa abençoada com o poder e amaldiçoada com o sofrimento, tem vários poemas sobre isso.

—Maha, por favor, apenas não faça isso agora!

—Tem razão, eu sei o que pode!

—Desembucha mulher!

—Pad, você e ela tem essa conexão cósmica que podem ajudar uma a outra, e agora eu consigo saber exatamente onde ela está, o único lugar onde alguém como Utham e os rastreadores poderiam encontrá-la o descanso dos deuses, o topo da montanha próxima a seu castelo, aliás esse é o motivo do castelo ter sido feito naquela localização —Ela fala rápido que não tinha certeza ter entendido.

A dor era insuportável e estava apertando tão forte meu punhos fechados que minhas mãos estavam sangrando, foi quando lembrei do que Meraki fez no sonho era o que eu precisava ou não aguentaria mais.

Me ajude a sair, por favor —Pedi a Maha que me puxou para a margem, ela me segurou pela cintura para que conseguisse ficar em pé —Preciso de sua ajuda Pad—Sussurrei, fechando os olhos —Vamos lá garota, me dê uma ajudinha. Eu senti a temperatura do meu corpo subir mais era como se o fogo iniciou se em meu diafragma, tornando mais difícil respirar.

Os meus olhos queimavam e meu corpo parecia pesar uma tonelada.

Senti algo se formar dentro de mim sair que pedia para ser cuspido, naquele momento a única coisa que tentava me lembrar era qual o movimento de mão do Doutor estranho, tentei de alguma maneira produzir uma versão da deep web dele.

Foi libertador e o pior era tentar não gritar enquanto estava pegando fogo e mantive o movimento até a última gota do que estava entalado o que acabou em uma queda direta para o chão, eu havia conseguido criar um portal, foi uma das coisas mais dolorosas, mas valeu a pena.

Maha me pega do chão e atravessamos o portal, ela estava em minha frente e eu senti que ela pertencia a mim e eu a ela, juntei minha forças e corri em sua direção, delicadamente Pad abaixou o rosto e o encostou no meu fechei os olhos e senti sua dor ela ficou sozinha aqui durante muito tempo, aguardando a minha volta.

Pad em seu olhar trazia lembranças que não eram minhas, mas era quase tão tangível acessá-las que me assustou, não era algo que queria mexer. E de alguma forma ela entendeu e me fez lembrar de quantas vezes eu havia pensado em ter um dragão e o quão mágico seria voar junto a ele.

Porém ela estava tão frágil e fraca, não aguentaria uma luta contra Utham e seus rastreadores, ela precisava de mim tanto quanto eu, dela. Sei que Pad teria todas as respostas para esse quebra cabeça, mas seria tão egoísta submetê-la a isso.

—Eu não sei como te proteger —Sussurrei para ela que pareceu não se importar —Foram anos difíceis, não foram? —Me afastei um pouco para conseguir visualizar seus olhos eram como se ela confirmasse.

—Utham montou uma equipe de rastreadores para m***r todos eles, um a um… não sei como ela sobreviveu —Disse Maha.

—Ela se escondeu aqui durante séculos sozinha, ela lutou contra seus instintos para estar aqui quando eu precisasse.

—Como vamos tirá-la daqui —Maha estava comovida e tentava não chorar.

—Não sei, acha que fora da cúpula ela sobreviveria?

—Sim, eles são nativos daqui, sobrevivem à radiação, acha que consegue abrir um portal para fora daqui? Não é garantia de que ela sobreviveria.

—Ela precisa sair daqui, se não vai morrer! A única chance dela é fora daqui.

—O que você decidir.

Toque novamente no rosto de Pad, uma energia ligava a nós e era expelida pela testa de Pad onde havia o desenho de uma marca de caracol que parecia com as minhas, um enorme portal de formou e Pad se deslocou devagarinho, mas causando grande impacto no chão por seu imenso tamanho antes de dar o último passo em direção ao portal ela olha para trás pedindo a minha permissão para ir embora. Ela sabia o quanto era difícil para mim simplesmente deixar ir, mas era o melhor,então confirmei com um gesto com a cabeça e Pad seguiu seu caminho, sabia que se eu precisasse ela viria imediatamente ao meu encontro.

Já não sentia mais dor e minha pele havia voltado ao normal aparentemente porque nunca havia me sentido tão amada, era como se Pad tivesse colado um pedaço do meu coração no lugar, uma brisa bateu em meus cabelos e me fez seria errado quer ser a rainha, não que em toda minha vida eu nunca tivesse sido amada, Mag é a melhor pessoa em demonstrar seu amor, só que isso era completamente diferente acho que nunca havia amado uma parte minha.