Foi o que eu havia pensado, até que sinto o ar entrando em meus pulmões novamente. E meus olhos voltarem a ver a majestosa mãe em minha frente e talvez por impulso eu a abracei e ela retribui com amor.
—Você está bem?Mesmo sabendo que ninguém morre aqui fiquei preocupada. —Ela fala arrumando meu cabelo o colocando atrás da orelha.
—Eu… não sei. Só… por que você ficou tão brava? —Perguntei ainda tentando esclarecer meus próprios pensamentos.
—É uma história e tanto, pequena, não acho que esteja preparada para escutar.
—Olha, eu meio que morri a alguns segundos atrás no mundo das consciências, para onde eu fui enviada por uma senhora esquisita em uma outra galáxia no corpo de uma rainha de 300 anos que parece ter uns 20, então acho que eu estou preparada.
—Eu sou a razão para essa guerra, Meraki! Eu e minha família… —Ela fica cabisbaixa e senta em uma grande pedra.
—Como poderia? Você apesar do gigante ataque de raiva a momentos atrás não me parece ser alguém r**m ou capaz de iniciar uma guerra! —Eu não conseguia aceitar, ela era minha única chance de ter uma mãe como a dos meus sonhos.
—Oh criança… —Ela fala tocando em meu rosto com sua mão que cobria ele todo. —Esqueceu que minha espécie pode ler mentes?
Eu sorrio envergonhada, tentando esvaziar minha mente o mais rapidamente possível, mas seu toque me leva para o corredor do castelo de Meraki , onde vejo as pinturas e a mulher que lá está não era ela, era uma mulher branca de olhos azuis e um cabelo castanho cacheado. Era como se ela me avisasse que nem eu ou a rainha a tínhamos como mãe. Além dessa lembrança seu toque acaba por me fazer sentir a enorme dor que aquele ser poderoso sentia em seu íntimo, acabo por me afastar não conseguia sentir aquele vazio embora eu o reconhecesse não existia mais espaço para dor dentro de mim, a minha já tomava espaço demais.
—Meraki… eu sou sua mãe, meu nome é Yuna, e você estar aqui é a prova de que falhei com você. –Seus rosto transparecer seriedade e angústia.
—O que isso significa? Que eu não deveria existir? —Seus olhos se abaixam e ela apenas confirma com a cabeça. —Nossa… —Eu conseguia ouvir meu coração se partindo mais uma vez. —Eu só não esperava por essa, mas não me admira, deveria estar esperando por isso, afinal se eu e Manu Gavassi temos algo em comum é que somos a garota errada.
—Meraki, não é isso… eu amo você, mas… —Ela procurava as palavras certas, eu já havia visto isso….
Galáxia via-láctea, há nove anos atrás…
Eu estava sentada em uma sala de espera para crianças, havia uma enfermeira muito agradável, ela segurava minha irmãzinha nos braços. Ela me deu giz de cera e umas folhas de ofício, havia sido um longo dia, uma assistente social estava na porta tomando coragem para entrar, ela respira profundamente e finalmente entra.
—Olá! Você deve ser Meraki! —Ela fala sorrindo.
—Sou sim e você? —Pergunto concentrada no desenho.
—Soube que você teve um dia difícil! —Ela fala um pouco sem jeito, era o primeiro dia dela, ela transpirava por ter pego um caso tão difícil.
—Mamãe matou ele e depois tomou muito remédios, assim que limparem o estômago dela vamos voltar para casa e vai ficar tudo bem. —Respondi sem nem ao menos piscar, eu estava aliviada por toda aquela dor finalmente acabar, pode parecer estranho ou um tanto mórbido, mas eu era uma garotinha que só queria ser protegida e finalmente foi.
Aquela mulher ficou sem reação e sem saber o que responder ou como explicar o que estava acontecendo, ela queria chorar e me abraçar me proteger de todo o mundo, enquanto eu só estava interessada em acabar meu desenho, e só desfoquei dele quando ouvi Margo chorar, ela tinha dores de barriga constantemente, então me levantei e perguntei a enfermeira se poderia acalmá-la, ela me entregou Margo no colo, eu a segurei de barriga para baixo enquanto cantava uma música que estava tocando na sala.
Após Margo parar de chorar a entreguei novamente para a enfermeira que estava perplexa, quando o doutor entrou na sala, ele falou com a assistente social, ela colocou a mão na testa e estava tremendo, eu pude perceber que havia algo errado, ela e o doutor foram para outra peça, eles conversam por alguns minutos e ela volta para a sala, se ajoelha diante de mim e segura uma das minhas pequeninas mãos.
—Você é incrível… —Ela para e faz extremamente a mesma cara que Yuna fez, fecha e abre os olhos, arruma o cabelo e respira. —… Sei que, o que vou te dizer agora vai doer muito, mas Meraki sua mamãe é uma estrelinha agora.
Era como se eu tivesse levado um soco no estômago, minha esperança de ter uma família finalmente havia sido arrancada de mim e não havia nada que eu pudesse fazer, então me lembrei que mesmo que estivesse quebrada de todas as formas que uma pessoa pudesse estar eu tinha a chance de fazer por alguém algo que por uma vez mamãe fez por mim.
—Eu posso ficar com minha irmã? —Perguntei olhando em seus olhos, ela estava assustada tentando entender o que se passava.
—Claro, Claro, eu te garanto! —Ela sorri e eu tento retribuir o sorriso.
De volta ao mundo das consciências
—Meraki, a muitos anos atrás os homos descobriram que havia uma forma de ter mais longevidade ainda, eles passam por muitas guerras e mudanças, acreditavam que o povo precisa de líderes que duraram muitos anos para que Kundale se tornasse uma enorme potência! Foi quando descobriram através de um Boga, são sapos gigantes cheios de conhecimentos que vivem por milhares de anos…
—Está falando de Zhìzhě?
—Você o conhece? É claro, aquele sábio maluco, só poderia ainda estar vivo! —Ela fala rindo.
—Digamos que ele é meu mestre jedi eu sua padawan!
Ela ergue a sobrancelha não entendendo a referência, admito que a falta de conhecimento deles pela cultura pop da terra me irritava um pouco.
—Certo, padawan! Vamos voltar ao assunto… Zhìzhě levou a líder da invasão até os registros dos Bogas que deveriam estar no planeta dos heróis, mas estava escondido em Kundale.
—Espera, mas Zhìzhě disse que ele foi escravizado e que era o único vivo de sua espécie!
—Sim e não, os Bago eram seres que viviam em Eroin, mas Melium queria alcançar a sabedoria deles por isso invadiram Eroin atrás dos registros, eles mataram quase todos os Bago, menos um que conseguiu escapar com os registros e se escondeu no menor e mais temido planeta, o que ele não sabia é que anos depois um grupo de homos faria a mesma coisa…
—Ok, mais aula de história Kundeliana, mas o que isso tem haver comigo?
—Quando a líder conheceu o Bago, sua mente se expandiu, ela encontrou uma forma de tornar Kundale uma grande potência preparados para que quando Melium viesse atrás deles eles estariam prontos! —Em sua voz trazia o peso de uma escolha errada que pode ter trazido muita dor.
—Yuna, o que aconteceu? O que eles fizeram? — Ela pega o colar que a velhinha havia colocado em meu pescoço, ela o balança de um lado para o outro. —O que você está fazendo?
—Aqui esse tipo de objeto funciona como um portal entre consciências ele permite que você veja o passado de alguém desde que a pessoa esteja assim como nós, em estado de hibernação.
—Então você não está morta? —Perguntei sentindo algum tipo de fagulha de esperança.
—Ainda não… —O colar para de se mexer.—Está pronta?
—Para o que? —Ela nem ao menos me perguntou e encostou aquela pedra em minha testa.