Quando Maristela chegou em casa com Renato, tratou logo de fazer as bolsas com toda a roupa de Paulo. Não deixaram de colocar nem a escova de dentes e o pente que ele usava.
Antes das três e meia, já estavam com tudo pronto.
Renato olhou pela janela e avisou:
- Tem um carro da polícia parado aqui em frente.
- O delegado avisou que ia mandar uma viatura. Ele pode se tornar violento e é bom previnir.
- Mas ele não está impedido de vir aqui?
- Mas ele não pode ficar só com a roupa do corpo. Ele tem o direito de pegar as coisas dele.
- Já que a polícia está aí, posso me manter no quarto, quando ele vier?
- Ele não vai entrar. Vou entregar as coisas no portão. Pode ficar aonde quiser.
- Quero evitar discussão com ele.
- É bom mesmo. Tomara que ele tenha arrumado lugar para ficar. Vou lá falar com os policiais.
Maristela saiu e se dirigiu aos policiais:
- Ele marcou quatro horas.
- Pode chegar mais cedo e se trata de um covarde que gosta de bater em mulher. Nós vamos ficar aqui até ele ir embora.
- Tá bom. Querem aguardar lá dentro, tomando um cafezinho?
- Por enquanto vamos ficar aqui fora. Depois de tudo resolvido, a gente entra para um café.
- Tá bom.
- A senhora pode entrar e esperar com calma. Estamos aqui para lhe proteger.
- Eu estou um pouco nervosa.
- É natural. Acabar um casamento de anos não é fácil, mas entra e toma uma água com açúcar. Nós estamos aqui.
Maristela agradeceu e entrou. Foi na cozinha e tomou um copo d'água, depois se sentou na sala e ficou esperando.
Já era quase cinco horas quando Paulo apareceu.
Logo perguntou:
- O que esse carro está fazendo aqui?
- Caso você não se lembre, eu tenho medida protetiva contra você e eles estão aqui para se certificarem que tudo vai ocorrer em paz, sem você me agredir de novo.
- Você já pensou bem no que está fazendo?
- Pensei e só me arrependo de ter esperado tanto tempo. Você arranjou lugar pra ficar.
- Não te interessa. Isso agora é problema meu. Fui no advogado público e ele vai cuidar da partilha de bens.
- Você não vai conseguir. Não tem direito.
- Ele perguntou se o casal tinha algum bem e eu falei da casa. Ele disse que eu tenho direito.
- Você falou que a casa já era minha por herança quando nos casamos?
- Isso não faz diferença. Com o casamento, a casa se tornou nossa.
- Tenta então. Se a justiça decidir que você tem direito, eu acato, mas tenho certeza que você não vai conseguir.
- Vamos ver.
Os policiais, notando que a discussão estava se tornando acalorada, desceram do carro e avisaram:
- O senhor pega as suas coisas e sai daqui. O senhor sabe que esta senhora tem medida protetiva e o senhor não pode se aproximar dela. Estamos deixando apenas o senhor pegar as suas coisas.
Paulo com medo de ser preso novamente, pegou as bolsas e saiu sem dizer mais nada.
Assim que ele virou a esquina, Maristela convidou os policiais para entrar e tomarem um café.
Já dentro de casa, um deles falou:
- Se a senhora perceber que ele está rondando a casa, nos avise.
- Eu acredito que agora, ele vai tentar judicialmente. Não vai vir aqui de novo.
- Mas fique atenta. Na delegacia, estamos sempre lidando com gente teimosa e as vezes, acontece o pior. Ele não pode mais se aproximar daqui.
- Ele hoje foi no meu trabalho.
- Nem lá, ele pode ir. Se for, a senhora avisa na delegacia.
- Aviso sim, pode deixar. Agora vamos ao café.
Depois de tomar um bom lanche, agradeceram, entraram no carro e partiram.
Renato só saiu do quarto, quando percebeu que a mãe já estava sozinha. Se aproximou e perguntou:
- Como a senhora está se sentindo?
- Aliviada. Agora somos só nós dois.
- Não se preocupe que a gente vai dar conta. Afinal, nós dois trabalhamos.
- Não estou preocupada com isso. Eu tenho como manter a casa sozinha e você nem precisa me dar nada, o dinheiro dos aluguéis dá e sobra para as despesas da casa, mesmo porque a gente come no restaurante todos os dias.
- Eu faço questão de ajudar. Eu dava parte do dinheiro a ele.
- Pra mim, não precisa dar nada. Continua colocando as tuas economias na poupança e gasta o resto com o que você quiser.
- Agora a poupança já não é mais importante. Você não vai me botar pra fora de casa.
- Mas continua juntando. Sempre é bom ter uma reserva. Agora vai se arrumar que está na hora do colégio.
Renato trocou de roupa e saiu para estudar.
Depois de ficar sozinha, Maristela ligou a televisão e ficou se distraindo para aliviar a cabeça.