Espíritos Trocados

A família está em festa. Nasceu um novo m****o da família. Há muito tempo que o casal tentava uma gravidez de sucesso, mas só aconteceu depois de seis anos de casamento. A criança foi crescendo e o casal notou que tinha algo que não estava de acordo com o gênero do menino. Para Maristela, a mãe, vinha um receio de que sua desconfiança se confirmasse, porque conhecia o marido o suficiente para saber que teria problemas. Paulo era muito grosseiro e não iria aceitar a situação com facilidade. O jeito era pedir ao Renatinho para disfarçar perto do pai. O menino não gostava de brincadeiras comuns de garotos e a coisa que mais gostava de fazer era ajudar a mãe na cozinha. Já uma vez, o pai chamou a atenção do menino, mas a mãe fez ele lembrar que a maioria de restaurantes, tem cozinheiro homem. Não muito convencido, Paulo ficou na espreita do já rapazinho. Chamava Renato para assistir jogos de futebol, lutas, corridas e todo o tipo de programação tida como masculina, mas o Renato não se interessava. Quando Renato fez quinze anos, se abriu com a mãe, que era a única pessoas em que ele confiava: - Mãe, não quero mentir pra você. Eu não gosto de meninas, e estou gostando de um rapaz que me aceita do jeito que eu sou. - Eu já tinha notado, meu filho, mas você conhece seu pai. Se ele descobrir é capaz de te expulsar de casa. - Eu sei, mas não posso ser diferente do que sou. Eu tento, mas não consigo. - Meu filho, cada um nasce trazendo uma missão de aprendizado. Nossa escolha de como vamos aprender é feita antes do nascimento. Não adianta tentar mudar depois do nascimento. Se você nasceu assim, é porque precisava. - Como assim? - Nosso espírito é eterno. Nós viemos muitas vezes ao mundo, até atingir o grau máximo de aprendizagem. Se você nasceu assim, é porque precisa aprender alguma coisa. - Que tipo de coisa? - Pode ser que em alguma vida passada, você não tenha respeitado pessoas que tivessem essa orientação s****l ou pode não ter respeitado os limites do corpo de mulher e veio como homem para aprender. - Mas, se a gente volta sem saber quem foi e o que fez, como podemos tirar aprendizagem na vida de agora? - Você como ser vivo não lembra, mas seu espírito sabe que lição precisa aprender com isso. Só procura não deixar seu pai ficar sabendo, pelo menos até você ter condições de levar a vida fora de casa. Estuda, se forma e trabalha. - A senhora sabe que eu procuro fazer isso. - Eu sei, mas tenho certeza que se seu pai souber, vai te expulsar de casa. - Se ele me expulsar, vai ter que me emancipar. - Porquê? - Porque sou menor de idade e isso é abandono de incapaz. Aí eu trabalho e me sustento. - Encontrar emprego não está fácil. - Quando se procura com vontade, sempre aparece alguma vaga. - Mas você vai trabalhar em quê? - Posso ser ajudante de cozinha ou mesmo cozinheiro em algum bar ou restaurante, ou até arranjar uma vaga em algum hotel ou motel, que além da cozinha, tem a arrumação dos quartos, recepção, telefonia, sempre vai aparecer alguma coisa pra fazer. - Tomara que não seja preciso. - Vou fazer de tudo para que não seja, mas se acontecer, eu me viro. Cato até reciclagem. - Vamos parar com esse assunto que está na hora do teu pai chegar. Foi só Maristela acabar de falar, para o marido entrar em casa.