Capítulo XIV

904 Words
Quando chegaram em casa, estavam cansados. Quase não tinham dormido naquela noite e ainda foram tentar resolver os problemas de Paulo. Renato pediu: - Mãe, posso faltar a aula hoje? - Não está se sentindo bem? - Só estou me sentindo muito cansado. - Tem certeza que não vai se prejudicar? - Amanhã eu pego a matéria com os colegas. - Pode sim. Hoje, além de acordar cedo e trabalhar em pé o tempo todo, ainda saiu comigo para resolver os assuntos do teu pai. Você merece, mas não acostuma. O estudo é importante. - Eu sei. É só hoje. Passaram alguns dias e a família de Paulo, conseguiu através de uma vaquinha, pagar a fiança. Ele logo foi para casa e quando tentou abrir a porta, não conseguiu. Bateu várias vezes e ninguém atendeu. Resolveu ir ao bar falar com Renato. Quando chegou lá, viu Maristela trabalhando, e ficou possesso. - O que você está fazendo aqui? - O que você devia estar fazendo. Trabalhando. - E desde quando você trabalha. - Desde que nos separamos. - Deixa de besteira e vamos pra casa. - Lá você não entra mais. Esqueceu que eu tenho medida protetiva contra você? - Você vai levar isso adiante? - Vou sim. Acabou e segue a tua vida que eu vou seguir a minha. - Mas eu não tenho aonde ficar e nem trabalho. - Devia ter pensado antes de se fazer de valente. Arranja um emprego e se vira. Dorme na casa de um dos teus irmãos ou então no bar que você encheu a cara. - Eu nunca vou conseguir um emprego com a carteira suja. - A tua carteira não vai ficar suja. Você vai pedir demissão e pode procurar outro trabalho. Eu falei com o seu Rogério e ele atendeu o meu pedido. - E você fez isso a troco de que? Se você diz que quer levar adiante a separação, não devia ter se metido nesse assunto. - Foi pra que você tivesse meios de se manter e nos deixasse em paz. - Nós somos casados no papel e você não vai se livrar assim. Você vai vender a casa e me dar metade do dinheiro da venda. - Você não tem esse direito. A casa já era minha antes do casamento. E eu vou procurar um advogado pra cuidar da nossa separação judicial. - Eu também vou procurar um. Eu quero tudo que eu tenho direito. Seu Mário, que estava assistindo a discussão, resolveu se meter: - Paulo, vai na empresa e acerta a tua situação. Procura um emprego e deixa a Dona Maristela em paz. Eu vi o estado que ela ficou quando você bateu nela. - Ela é minha mulher e você não tem nada a ver com isso. - Ela é minha funcionária e está em horário de trabalho. Espera o final do expediente se quiser continuar com a discussão. Faça o favor de se retirar. - Mas você é meu amigo. Até arranjou uma vaga pro meu filho. - Eu coloquei o seu filho aqui, porque estava precisando de gente para trabalhar. Você não é meu amigo. É apenas um freguês que eu respeito enquanto você respeitar o meu estabelecimento. Vai embora e não volta mais aqui. Deixa a tua família em paz e vai viver a tua vida. - Eu tenho o direito de ficar aqui aqui porque o seu estabelecimento está aberto. - Está aberto para atendimento aos fregueses. Não para discussão. Ao chegar nesse ponto, os rapazes que trabalhavam ali, se colocaram ao lado do patrão, dispostos a expulsar Paulo se fosse preciso. Ao perceber a intenção dos rapazes, Paulo falou: - Eu estou só com a roupa do corpo, preciso entrar na minha casa e pegar as minhas coisas. Maristela afirmou: - Vou sair daqui às duas horas. Eu arrumo as tuas coisas e lá pelas quatro, você passa pra pegar, enquanto isso, vai procurar um lugar pra ficar. Paulo não respondeu. Virou as costas e foi embora. Renato não tinha ido para o salão a pedido de Maria, que achou melhor ele não aparecer para não piorar a situação que já estava r**m. Depois que Paulo saiu, Maristela se desculpou com todos que responderam que ela não precisava se desculpar, já que não tinha feito nada. Quem foi ali criar caso foi o ex-marido. Todos voltaram aos seus afazeres como se não tivesse acontecido nada. Seu Mário declarou: - Quando eu lhe convidei para trabalhar aqui, eu sabia que isso ia acontecer. Está tudo bem. Já pensou se a senhora estivesse sozinha em casa? - Ele ia me agredir de novo. - É bom a senhora voltar na delegacia e avisar o que aconteceu. - Não vai dar tempo. Ele vai passar as quatro horas, pra pegar as coisas dele. - Dá um tempinho pra ele se distanciar daqui e vai. Não precisa ficar até às duas. - O senhor acha necessário? - Acho prudente, ele é um homem violento. Maristela, aguardou uma meia hora e saiu para passar na delegacia. O delegado de plantão era o mesmo que havia atendido da outra vez e visto o estado que ela tinha ficado e depois de pensar um pouco, determinou que na hora marcada, uma viatura estaria na sua porta para acompanhar a entrega das coisas do ex-marido. Maristela voltou para o bar, pra não ficar sozinha em casa e retomou o trabalho normalmente.
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