Quando chegaram em casa, estavam cansados. Quase não tinham dormido naquela noite e ainda foram tentar resolver os problemas de Paulo. Renato pediu:
- Mãe, posso faltar a aula hoje?
- Não está se sentindo bem?
- Só estou me sentindo muito cansado.
- Tem certeza que não vai se prejudicar?
- Amanhã eu pego a matéria com os colegas.
- Pode sim. Hoje, além de acordar cedo e trabalhar em pé o tempo todo, ainda saiu comigo para resolver os assuntos do teu pai. Você merece, mas não acostuma. O estudo é importante.
- Eu sei. É só hoje.
Passaram alguns dias e a família de Paulo, conseguiu através de uma vaquinha, pagar a fiança. Ele logo foi para casa e quando tentou abrir a porta, não conseguiu. Bateu várias vezes e ninguém atendeu. Resolveu ir ao bar falar com Renato. Quando chegou lá, viu Maristela trabalhando, e ficou possesso.
- O que você está fazendo aqui?
- O que você devia estar fazendo. Trabalhando.
- E desde quando você trabalha.
- Desde que nos separamos.
- Deixa de besteira e vamos pra casa.
- Lá você não entra mais. Esqueceu que eu tenho medida protetiva contra você?
- Você vai levar isso adiante?
- Vou sim. Acabou e segue a tua vida que eu vou seguir a minha.
- Mas eu não tenho aonde ficar e nem trabalho.
- Devia ter pensado antes de se fazer de valente. Arranja um emprego e se vira. Dorme na casa de um dos teus irmãos ou então no bar que você encheu a cara.
- Eu nunca vou conseguir um emprego com a carteira suja.
- A tua carteira não vai ficar suja. Você vai pedir demissão e pode procurar outro trabalho. Eu falei com o seu Rogério e ele atendeu o meu pedido.
- E você fez isso a troco de que? Se você diz que quer levar adiante a separação, não devia ter se metido nesse assunto.
- Foi pra que você tivesse meios de se manter e nos deixasse em paz.
- Nós somos casados no papel e você não vai se livrar assim. Você vai vender a casa e me dar metade do dinheiro da venda.
- Você não tem esse direito. A casa já era minha antes do casamento. E eu vou procurar um advogado pra cuidar da nossa separação judicial.
- Eu também vou procurar um. Eu quero tudo que eu tenho direito.
Seu Mário, que estava assistindo a discussão, resolveu se meter:
- Paulo, vai na empresa e acerta a tua situação. Procura um emprego e deixa a Dona Maristela em paz. Eu vi o estado que ela ficou quando você bateu nela.
- Ela é minha mulher e você não tem nada a ver com isso.
- Ela é minha funcionária e está em horário de trabalho. Espera o final do expediente se quiser continuar com a discussão. Faça o favor de se retirar.
- Mas você é meu amigo. Até arranjou uma vaga pro meu filho.
- Eu coloquei o seu filho aqui, porque estava precisando de gente para trabalhar. Você não é meu amigo. É apenas um freguês que eu respeito enquanto você respeitar o meu estabelecimento. Vai embora e não volta mais aqui.
Deixa a tua família em paz e vai viver a tua vida.
- Eu tenho o direito de ficar aqui aqui porque o seu estabelecimento está aberto.
- Está aberto para atendimento aos fregueses. Não para discussão.
Ao chegar nesse ponto, os rapazes que trabalhavam ali, se colocaram ao lado do patrão, dispostos a expulsar Paulo se fosse preciso.
Ao perceber a intenção dos rapazes, Paulo falou:
- Eu estou só com a roupa do corpo, preciso entrar na minha casa e pegar as minhas coisas.
Maristela afirmou:
- Vou sair daqui às duas horas. Eu arrumo as tuas coisas e lá pelas quatro, você passa pra pegar, enquanto isso, vai procurar um lugar pra ficar.
Paulo não respondeu. Virou as costas e foi embora.
Renato não tinha ido para o salão a pedido de Maria, que achou melhor ele não aparecer para não piorar a situação que já estava r**m.
Depois que Paulo saiu, Maristela se desculpou com todos que responderam que ela não precisava se desculpar, já que não tinha feito nada. Quem foi ali criar caso foi o ex-marido.
Todos voltaram aos seus afazeres como se não tivesse acontecido nada.
Seu Mário declarou:
- Quando eu lhe convidei para trabalhar aqui, eu sabia que isso ia acontecer. Está tudo bem. Já pensou se a senhora estivesse sozinha em casa?
- Ele ia me agredir de novo.
- É bom a senhora voltar na delegacia e avisar o que aconteceu.
- Não vai dar tempo. Ele vai passar as quatro horas, pra pegar as coisas dele.
- Dá um tempinho pra ele se distanciar daqui e vai. Não precisa ficar até às duas.
- O senhor acha necessário?
- Acho prudente, ele é um homem violento.
Maristela, aguardou uma meia hora e saiu para passar na delegacia. O delegado de plantão era o mesmo que havia atendido da outra vez e visto o estado que ela tinha ficado e depois de pensar um pouco, determinou que na hora marcada, uma viatura estaria na sua porta para acompanhar a entrega das coisas do ex-marido.
Maristela voltou para o bar, pra não ficar sozinha em casa e retomou o trabalho normalmente.