Capítulo XIII

813 Words
No dia seguinte, durante o serviço, Maristela resolveu se aconselhar com Seu Mário: - Ontem conversei com o Renato e estamos pensando em ir na empresa que o Paulo trabalhava e pedir que não sujem a carteira dele. - É, apesar do que aconteceu, se sujarem, ele não vai conseguir trabalho em lugar nenhum. - O senhor acha que eu consigo? - Não sei. Não conheço o patrão dele. Mas se fosse comigo, mandava ele pedir as contas e não daria a justa causa. Um homem pode errar e se arrepender. - Vou lá com o Renato tentar. - O máximo que a senhora pode perder é tempo. Mas a senhora está pensando em perdoar ele? - De maneira alguma. Estamos com pena dele. É como o Renato falou, em um único dia ele jogou toda a vida dele fora. Perdeu tudo. - É verdade. Tomara que tenha aprendido a lição. Vocês vão quando? - Quando sairmos daqui hoje. - Vou torcer para que consigam. - Obrigada. Na cozinha, Renato também conversava com Maria, pedindo sua opinião. Ela também achou que valia a pena tentar, até porquê se ele não conseguisse outro trabalho, iria infernizar a vida deles. Na saída do restaurante, pegaram uma condução e foram na empresa. Quando chegaram, se dirigiram a recepção e explicaram o que haviam ido fazer ali. A secretária que fez o atendimento, apesar de lhes tratar com cortesia, deixou claro que conhecendo o patrão como conhecia, não acreditava que conseguissem, mas mesmo assim anunciou a visita: - Dr. Rogério, estão aqui a esposa e o filho do Paulo e gostariam de falar com o senhor. Após ouvir o patrão, respondeu: - Aquele que foi demitido essa semana. Novamente ouviu a resposta e desligou o telefone: - Aguardem um pouquinho que ele vai lhes atender. E já podem contar isso como uma vitória. Ele não costuma atender ninguém. Depois de alguns minutos, a moça atendeu o telefone, levantou e disse: - Venham comigo. Ele vai atender vocês agora. Seguiram a secretária por um corredor cheio de portas, até que ela parou em frente a última e bateu. A seguir abriu a porta e anunciou: - Esses são a esposa e o filho do Paulo. Assim que anunciou, se retirou. Maristela estava nervosa. Não gostava de pedir favores, mas aquele era muito importante. Dele dependia a sua própria paz. Dr. Rogério perguntou: Vocês querem falar comigo? Por favor, podem se sentar. Maristela e Renato se acomodaram e ela começou: - Dr. Rogério, eu vim aqui lhe pedir para que não suje a carteira do Paulo. Não dê justa causa a ele. - Mas o que ele fez foi grave. Bebeu em horário de serviço e ainda brigou aqui dentro com o supervisor. - Eu sei que o caso é grave, mas se ele ganhar a justa causa, nunca mais vai encontrar serviço em lugar nenhum. Afinal ele trabalhou aqui tantos anos e num único dia fez besteira a ponto de ganhar uma justa causa? - Eu sei disso. Sempre foi um bom empregado. Mas é meio destemperado. Se eu deixar passar a empresa vai virar um ringue. Todos os empregados vão achar que podem fazer o que quiserem. Não tenho como aceitar ele de volta. - Nem eu estou pedindo isso. - Então o que a senhora sugere? - Que ela peça demissão. Assim pode procurar outro emprego. Ele saiu daqui naquele dia, e continuou bebendo a ponto de chegar em casa e me agredir. Eu fui a polícia, dei queixa e ele está preso. O casamento não tem mais volta. - Eu lamento. Mas então, porquê a senhora veio pedir por ele? - Pra que ele possa arranjar trabalho e seguir a vida dele com alguma dignidade. No mesmo dia perdeu o emprego, a casa, a família e ainda acabou preso. O senhor não acha que ele é digno de pena? - A senhora pensa em reatar com ele? - De maneira alguma. Só que sei que se ele não conseguir mais trabalho, vai me atazanar a vida. - Entendi. A senhora quer que ele tenha a possibilidade de refazer a vida dele e lhe deixar em paz. - É exatamente isso. - Pela senhora e o rapaz aí, vou fazer o que está me pedindo, não quero ser culpado pelo que vai acontecer com o Paulo, mas ele vai procurar trabalho fora daqui. Não tenho como readmitir ele. - Isso já me basta. Eu lhe agradeço muito. - Espero que ele volte a ser o empregado que sempre foi aonde ele se empregar. - Obrigada. Se despediram e saíram. A secretária perguntou: - Conseguiram? - Sim. Ele vai pedir as contas e sair com a carteira limpa pra conseguir outro trabalho. - Parabéns. Seu Rogério é muito rigoroso. Não costuma voltar atrás numa decisão. - Obrigada. E ambos, com o coração mais leve, foram pra casa.
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