Depois de deixarem a casa em ordem, Renato foi tomar banho e quando saiu foi a vez de Maristela ir.
Quando se sentaram na sala para conversar, Renato perguntou:
- Já decidiu que resposta vai dar ao Seu Mário?
- Se você não se importa em trabalhar no mesmo lugar que eu, vou aceitar. Graças a Deus, não precisamos de dinheiro. Ainda tenho algum da herança depositado e as casas estão alugadas, mas vai ser bom sair todos os dias.
- Eu não me importo não. Acho até melhor saber que você está por perto e em segurança. Mãe, ele nunca soube das casas, né?
- Não. Logo no começo do casamento, eu desconfiei que tinha alguma coisa errada. Assim que voltamos de viagem, chamou os irmãos para conhecerem a casa dele e falava com tanto orgulho que eu não falei nem do dinheiro e nem das outras. Todo o dinheiro que recebo dos aluguéis, eu deposito.
- Se ele soubesse, ia querer que você tirasse um inquilino para ele morar na casa. Ele ainda vai dar trabalho na questão de dinheiro.
- Disso eu estou certa, mas ele ainda é novo e pode arrumar outro serviço.
- Se a justa causa estiver na carteira vai ser difícil arrumar alguma coisa.
- Nós não temos culpa dele ter feito besteira e não vamos pagar por isso.
Continuaram conversando até dar a hora de Renato se arrumar para ir ao colégio. Estava certo de que pelo menos hoje, o pai não ia ser solto e aparecer por ali.
Enquanto isso, Paulo fazia exigências de que falassem com os irmãos para avisar de sua prisão. Apesar de não serem muito enturmados, quando um tinha um problema, todos ajudavam. Mas o delegado não deixou comunicar a ninguém e disse que a única pessoa que ele poderia chamar seria um advogado. Somente seria dado o valor da fiança ao advogado dele.
Como não tinha, teve que ficar esperando que o Estado lhe mandasse um. Isso levou tempo.
Somente depois de alguns iria aparecer um defensor para ele.
Renato foi para o colégio e assistiu as aulas. Apesar de não se afinar com o pai, era difícil imaginar ele saindo de casa algemado sem sentir piedade dele.
Pensava que sua forma de pensar, ainda lhe trazer sérios problemas.
Sua mãe, pelo contrário, parecia que tinha resolvido um grande problema de sua vida.
Voltou para casa e encontrou tudo em paz. A mãe estava lhe esperando acordada.
Ele percebeu que ela queria conversar e apesar de cansado, sentou na sala.
Maristela perguntou:
- Você tem certeza que se eu for trabalhar no restaurante, não vou estar te prejudicando na sua privacidade?
- Tenho, mãe. Inclusive já falei que vou ficar mais descansado com você por perto. Não confio no meu pai quando bebe.
- Então, amanhã vou com você.
- Eu vou gostar de saber que você está em segurança, perto de mim e de pessoas que com certeza vão te defender se houver necessidade.
- Então, vamos dormir que já está tarde.
No dia seguinte, Maristela chegou junto com Renato no restaurante e começou a trabalhar. Ali todo mundo se tratava com carinho e respeito.
Foi muito agradável ouvir os elogios dos fregueses a respeito dos pratos que estavam sendo servidos. Sentia muito orgulho do filho. Afinal, ele só tinha dezesseis anos e já tinha conquistado seu espaço numa carreira. Paulo que pensasse o que quisesse, para ela o filho era motivo de orgulho.
Apesar de estar decidida a manter a separação, não podia deixar de pensar em como ele se arranjaria, sem casa e emprego para sobreviver.
Na volta pra casa, comentou com o filho:
- Pro seu pai, seria bom que ficasse preso por um bom tempo.
- Pra ele ou pra gente?
- Pra ele também. Já pensou como ele vai se virar pra arranjar um teto e trabalho?
- Você está pensando em ajudar ele?
- De maneira alguma, vou procurar um advogado pra resolver a nossa separação na justiça. Eu demorei muito pra agir, agora não vou voltar atrás.
- A gente tem que ver, que foi ele quem procurou por isso. Você sabia que a Maria não suporta ele?
- Porquê? Ele fez alguma coisa com ela?
- Não. Mas ela acha ele um homem muito grosseiro.
- Nem a família procurava ele por causa disso.
- Será que vão ajudar ele a se reerguer?
- Não sei. Pode ser que ajudem por causa da força do sangue, porque por amizade eu tenho certeza que não vai ser.
- Como uma pessoa pode chegar a esse ponto? Num dia só, ele jogou toda a vida dele fora. Perdeu tudo.
- Eu estava pensando em ir na empresa que ele trabalhava e pedir ao ex patrão dele para aliviar na justa causa.
- Ele não vai querer indenizar um cara que fez tanta besteira num dia só.
- Não estou falando de indenização. Estou pensando em pedir para não colocar a justa causa na carteira, pra que ele possa conseguir outro emprego e levar uma vida decente.
- Você acha que conseguiria?
- Não custa tentar, o máximo que pode acontecer é ele me dizer um não.
- Tem razão. Não custa tentar. Quer que eu vá com você?
- Você iria?
- Iria. Também estou com pena dele.