Capítulo VI

802 Words
Quando chegou em casa a mãe estava na cozinha e perguntou: - Como foi o dia hoje? - Não poderia ter sido melhor, fui promovido a cozinheiro e vou ganhar mais. - Como foi isso? A cozinheira faltou? - Não. Ela me dá a maior força lá no bar e falou pro patrão que eu sei cozinhar, aí ele pediu pra ela fazer uns testes comigo pra ver se eu sabia vários pratos e eu fiz o almoço todo hoje e todo mundo elogiou a comida. Era pra ele dar folga pra gente, porque o bar abre todos os dias. Aí eu ia folgar uma semana no Sábado e a outra no domingo e ela também. Mas a comida foi tão elogiada que ele me colocou como cozinheiro também e o serviço de ajudante nós vamos fazer juntos. - Que bom. Mas teu pai vai perceber que o castigo não deu certo. - O Seu Mário não vai contar pra ele. Você não conta também. - Mas, eles não são amigos? - São conhecidos. O papai vai lá tomar umas cervejas de vez em quando e o Sem Mário me prometeu que não vai contar, mas quer falar com você amanhã. - Pra quê? - Disse que eu sou menor de idade e um de vocês tem que saber tudo o que se passa comigo. Pra ele não falar com o papai, ele quer falar com você. - Está certo, amanhã eu vou lá assim que seu pai sair pra trabalhar. Agora vai descansar um pouco que a noite você tem colégio. - Conseguiu a transferência de turno? - Consegui. Você vai estudar de sete as onze horas. - Tá. Vou tomar um banho e descansar um pouco. Será que são os mesmos livros? - Deve ser. É a mesma escola. - Não sei o que levar. Não tenho o horário das aulas noturnas. - Então leva só um caderno e caneta e pega o horário hoje. Amanhã tudo já vai estar normalizado. - Vou fazer isso. Renato foi tomar um banho e deitou para cochilar um pouco. As seis horas levantou e se arrumou para ir ao colégio. Sabia que a noite não tinha uniforme. Iria gastar muito em roupas. Na certa o pai iria preferir que parasse de estudar do que comprar roupas para ele. Saiu de casa antes do pai chegar. Isso ia ser um benefício, não ia ter que conviver tanto com o pai e ia ser mais fácil disfarçar. Renato percebeu que o ensino noturno era mais fraco do que de dia, mas não se importou. Se tudo corresse bem, pretendia ficar com seu trabalho atual por muito tempo. Gostava do que fazia, dos colegas de trabalho e do patrão. Não tinha muito contato com o rapaz que atendia no balcão com o patrão, mas tinha lhe tratado com simpatia nas duas ou três vezes que se falaram rapidamente. Chegou em casa e o pai já tinha ido deitar. Melhor não poderia ser, era o único dia em sua lembrança que não tinha tido nenhum aborrecimento com ele. Tomou outro banho e foi deitar também. No dia seguinte, por volta de umas oito horas, Maristela chegou ao bar para conversar com Seu Mário: - Bom dia, sou a mãe do Renato e ele me disse que o senhor queria falar comigo. - Bom dia. É que o Renato está se dando muito bem aqui com a gente e nós gostamos muito dele. Eu promovi ele a cozinheiro e com isso, ele vai ganhar mais. Como ele é menor de idade, um responsável tem que tomar conhecimento de quanto ele ganha e ele me pediu que não falasse com o pai, por isso chamei a senhora. - Eu lhe agradeço. Eles não se dão e vivem em pé de guerra. - Mas, porquê? O Renato é um bom menino. - Isso é com o Paulo. Ele é doido pra botar o filho pra fora de casa. - O Renato me disse isso. Então é verdade, mesmo? - É sim. - Desculpa me intrometer, mas é porque ele é homossexual? - Exatamente por isso. Mas o Renato se abriu com o senhor? - Não, mas dá pra perceber. Eu tenho um filho que também é. Por isso percebi logo. - O Paulo não aceita de jeito nenhum. - Não sabe o pecado que está cometendo. Mas o que eu queria falar com a senhora era isso. Não tinha certeza do que ele queria fazer com o resto do dinheiro e tinha que falar com um de vocês. - Eu lhe agradeço. Então vou indo. - Não quer falar com ele? - Não, deixa ele trabalhar. - Até outro dia. - Até e obrigado. Maristela foi embora contente. Percebeu que o filho estava entre amigos que gostavam e respeitavam ele.
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