O expediente terminava as duas horas e Renato entrava a uma no colégio. Até que gostou porque assim os pais teriam que permitir que estudasse a noite.
Quando terminou, Renato limpou toda a cozinha e lavou toda a louça.
Foi efetivado.
Não foi para o colégio, tinha que conversar com a mãe.
Quando chegou em casa, Maristela se espantou, porque sabia que era horário do colégio.
- O que houve? Tá sentindo alguma coisa?
- Não. Fui aprovado no trabalho, só que o expediente termina as duas horas e eu pego no colégio a uma.
- Então vou falar com teu pai que você não pode trabalhar. O horário não dá pra você.
- Por favor, mãe, não faz isso. Você não vê que essa é a minha chance de me tornar independente?
- Mas vai parar de estudar?
- Não. Vou passar para o turno da noite. Ainda estamos no começo do ano e não vai atrapalhar em nada.
- O colégio é perto de casa, mas e se seu pai não concordar?
- Tenho certeza que ele vai concordar. Na idéia dele, ele acha que está me dando um castigo e não vai desistir de me castigar.
- Se é assim, eu vou dar o contra para ele não notar que é isso que você quer.
- E se ele desistir?
- Se ele acha que está te castigando, não vai desistir.
- É verdade, mas ele pode chegar a conclusão que vai atrapalhar nos estudos e escolher outra maneira de me castigar.
- Eu não acredito nisso. Você sabe que ele é teimoso, mesmo errado, ele não volta atrás.
- Espero que não volte mesmo.
- E como foi o primeiro dia de trabalho?
- Foi legal. A cozinheira me elogiou muito.
- Tomara que dê tudo certo.
- Tomara.
Quando Paulo chegou em casa, já havia passado pelo bar e foi informado pelo amigo que o menino tinha apresentado um bom trabalho. Chegou menos zangado:
- Boa noite. Renato, passei lá no bar e meu amigo falou que você foi bem e te contratou.
- É pai, mas pra mim continuar, vou ter que passar para o turno da noite no colégio.
- Porquê?
- O trabalho é até às duas e eu pego uma hora na escola.
Maristela:
- Eu acho ele muito novo para estudar a noite. É melhor deixar esse serviço prá lá.
- Não senhora. Eu comecei a trabalhar na idade dele, e por isso quase não estudei. Ele que aguente estudar a noite. Não vou permitir que ele pare no serviço.
- Mas, que horas ele vai dormir?
- O turno da noite é de sete as onze. Pode dormir um pouco quando chegar do trabalho e mais um pouco quando chegar do colégio.
- E se ele não aguentar?
- Ele para de estudar. De trabalhar é que não pode parar.
E para Renato:
- Está disposto com as condições.
- Vou tentar fazer as duas coisas, mas um de vocês vai ter que ir no colégio fazer a transferência de turno.
- Sua mãe que vá. Eu não tenho tempo pra isso.
Enquanto ele foi tomar banho para jantar, Maristela comentou:
- Eu não disse que ele não ia desistir? Se ele acha que é castigo que está te dando, até o colégio deixa de ser importante.
E foi esquentar a janta.
No dia seguinte, Renato levantou às cinco e meia, se arrumou e saiu para o trabalho. Quando os pais acordaram, ele já havia saído.
Depois que o marido foi trabalhar, Maristela foi ao colégio do filho fazer a transferência de turno. Conseguiu passar Renato para o turno da noite, bastou explicar que ele tinha arrumado um emprego e o horário de saída do trabalho era as despesas duas horas e ele perderia dois tempos de aula todos os dias.