Capítulo III

642 Words
O expediente terminava as duas horas e Renato entrava a uma no colégio. Até que gostou porque assim os pais teriam que permitir que estudasse a noite. Quando terminou, Renato limpou toda a cozinha e lavou toda a louça. Foi efetivado. Não foi para o colégio, tinha que conversar com a mãe. Quando chegou em casa, Maristela se espantou, porque sabia que era horário do colégio. - O que houve? Tá sentindo alguma coisa? - Não. Fui aprovado no trabalho, só que o expediente termina as duas horas e eu pego no colégio a uma. - Então vou falar com teu pai que você não pode trabalhar. O horário não dá pra você. - Por favor, mãe, não faz isso. Você não vê que essa é a minha chance de me tornar independente? - Mas vai parar de estudar? - Não. Vou passar para o turno da noite. Ainda estamos no começo do ano e não vai atrapalhar em nada. - O colégio é perto de casa, mas e se seu pai não concordar? - Tenho certeza que ele vai concordar. Na idéia dele, ele acha que está me dando um castigo e não vai desistir de me castigar. - Se é assim, eu vou dar o contra para ele não notar que é isso que você quer. - E se ele desistir? - Se ele acha que está te castigando, não vai desistir. - É verdade, mas ele pode chegar a conclusão que vai atrapalhar nos estudos e escolher outra maneira de me castigar. - Eu não acredito nisso. Você sabe que ele é teimoso, mesmo errado, ele não volta atrás. - Espero que não volte mesmo. - E como foi o primeiro dia de trabalho? - Foi legal. A cozinheira me elogiou muito. - Tomara que dê tudo certo. - Tomara. Quando Paulo chegou em casa, já havia passado pelo bar e foi informado pelo amigo que o menino tinha apresentado um bom trabalho. Chegou menos zangado: - Boa noite. Renato, passei lá no bar e meu amigo falou que você foi bem e te contratou. - É pai, mas pra mim continuar, vou ter que passar para o turno da noite no colégio. - Porquê? - O trabalho é até às duas e eu pego uma hora na escola. Maristela: - Eu acho ele muito novo para estudar a noite. É melhor deixar esse serviço prá lá. - Não senhora. Eu comecei a trabalhar na idade dele, e por isso quase não estudei. Ele que aguente estudar a noite. Não vou permitir que ele pare no serviço. - Mas, que horas ele vai dormir? - O turno da noite é de sete as onze. Pode dormir um pouco quando chegar do trabalho e mais um pouco quando chegar do colégio. - E se ele não aguentar? - Ele para de estudar. De trabalhar é que não pode parar. E para Renato: - Está disposto com as condições. - Vou tentar fazer as duas coisas, mas um de vocês vai ter que ir no colégio fazer a transferência de turno. - Sua mãe que vá. Eu não tenho tempo pra isso. Enquanto ele foi tomar banho para jantar, Maristela comentou: - Eu não disse que ele não ia desistir? Se ele acha que é castigo que está te dando, até o colégio deixa de ser importante. E foi esquentar a janta. No dia seguinte, Renato levantou às cinco e meia, se arrumou e saiu para o trabalho. Quando os pais acordaram, ele já havia saído. Depois que o marido foi trabalhar, Maristela foi ao colégio do filho fazer a transferência de turno. Conseguiu passar Renato para o turno da noite, bastou explicar que ele tinha arrumado um emprego e o horário de saída do trabalho era as despesas duas horas e ele perderia dois tempos de aula todos os dias.
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