Já entrou criando confusão. Vinha machucado e explicou que havia brigado na rua, porque um rapaz ficou encarando muito ele.
Maristela perguntou:
- E o que isso tem demais?
- Não gosto de ninguém me encarando, principalmente homem.
- Vai ver que ele achou você parecido com alguém que ele conhece.
- Então seria mais fácil, ele perguntar e não ficar olhando fixamente pra minha cara.
- Você implica com todo mundo.
- Você sabe que eu não tolero gays e tava na cara que ele estava me paquerando.
- Você tem certeza que o rapaz era gay?
- Pra ficar me encarando daquele jeito, só podia ser. Vou tomar um banho que eu estou com fome.
- É muito cedo pra jantar.
- A hora de comer é aquela em que a fome bate e eu quero jantar agora.
Maristela, para evitar confusão, concordou, mas avisou:
- Vou colocar a tua janta, mas não estou com fome agora e acredito que pela hora, o Renato também não vai querer jantar.
- Vai todo mundo comer junto. Quem determina a hora aqui de casa, sou eu.
- Você está com fome e nós não estamos.
- Todo mundo vai sentar na mesa e comer.
Maristela olhou para a cara do filho que fez sinal para ela concordar.
Paulo foi tomar o banho e Renato falou baixinho:
- Melhor concordar, ele está procurando confusão aqui também.
- Mas amanhã vai dar fome muito cedo.
- A gente toma um café reforçado.
- Vou esquentar a comida.
Quando saiu do banho, veio demonstrando que estava procurando briga:
- Amanhã o Renato vai num bar de um amigo meu e fazer um teste para trabalhar de ajudante de cozinha.
Maristela reclamou:
- Mas ele está estudando.
- Vai estudar e trabalhar, já que ele gosta tanto de cozinhar, que ganhe dinheiro com isso.
Renato ficou empolgado:
- Vou sim, pai. A que horas eu tenho que estar lá?
- Você estuda de tarde, então vai pegar no trabalho de manhã e já leva o uniforme e o material, para ir direto para o colégio.
- Que havia hora abre o bar?
- As seis. Eu vou te levar lá e te apresentar, o resto é contigo.
- Vamos sair daqui, que horas?
- Quinze para as seis. É perto daqui e você vai almoçar lá antes de sair.
- Estarei pronto.
Renato estava vendo o seu sonho de independência, se tornar mais fácil do que pensava. Se o pai estava tentando lhe dar um castigo, não sabia o quanto estava ajudando o filho.
As cinco e meia, Renato estava pronto na sala, esperando pelo pai.
Rezava para que tudo desse certo.
Ajudaria na despesa da casa e o que sobrasse, guardaria para o dia que o pai o expulsasse, porque tinha certeza que isso aconteceria.
Quando chegaram no bar, foi apresentado ao dono que o apresentou a cozinheira, que chegava cedo.
Renato, perguntou o que tinha que fazer e Maria, a cozinheira, mandou que cuidasse dos legumes que seriam servidos no almoço.
Renato perguntou:
- O que vai ser o almoço?
- Porquê? Está com fome?
- Não. É que cada tipo de prato, requer um corte diferente dos legumes.
Maria concordou:
- Vai ter maionese, jardineira e rabada com agrião.
Renato apanhou três bacias e começou a trabalhar.
Cortou o conteúdo de cada bacia em tamanhos diferentes.
Maria perguntou:
- Já trabalhou em bar?
- Não. É a primeira vez que estou fazendo um teste.
- Mas você entende de cozinha.
- É que gosto de ajudar a minha mãe.
- Por mim, você está aprovado.
Renato ficou satisfeito. Pois sabia que quem ia aprovar ou reprovar era ela, já que o patrão nem chegou perto da cozinha.