Capítulo XI

792 Words
Maristela ficou sem saber o que responder. Nunca tinha trabalhado fora. Seus falecidos pais eram de classe média e quando se foram, deixaram dinheiro em contas bancárias, a casa que morava e mais duas que mantinha alugadas. Por outro lado, seria bom ter uma ocupação fora de casa. Paulo no momento estava preso, mas poderia sair a qualquer momento sob fiança e ela não tinha dúvida de que ele cumpriria a ameaça que havia feito. Seu Mário estava lhe oferecendo, uma maneira de não ficar sozinha em casa. Pensou um pouco e perguntou: - Posso lhe dar a resposta amanhã? É que eu nunca trabalhei, e não tenho certeza de dar conta de assumir um compromisso de trabalho. - O trabalho é o mesmo que a senhora fez hoje, quando ofereceu ajuda. A rotina do restaurante é sempre a mesma. Um restaurante não tem muita diferença de uma casa. É fazer comida, servir e limpar. - Isso eu sei fazer, mas poderia pensar até amanhã? E quero também conversar com o Renato e saber a opinião dele. De repente, ele pode não gostar de me ter no trabalho dele todos os dias. - A senhora pode pensar. O movimento está aumentando muito e vou ter que contratar mais pessoas. Desde que o Renato passou a fazer a comida, até nos finais de semana estamos tendo muito movimento e eu não quero sacrificar a folga deles. - Se eu aceitar, posso folgar junto com ele? - A gente dá um jeito. Depois do que aconteceu, não é seguro a senhora ficar sozinha em casa. - Vou trocar todas as fechaduras e reforçar a segurança das janelas. - Faça isso. Com homem violento, todo o cuidado é pouco. - Pode ficar tranquilo, vou cuidar disso hoje mesmo, afinal a noite o Renato vai para o colégio e eu fico sozinha em casa. - Ele tem alguém que possa pagar a fiança? - Ele tem irmãos, mas não sei se algum deles pagaria. O jeito grosseiro dele, afastou todo mundo. - Mas numa situação dessas o sangue pode falar mais alto, e se são muitos podem até se juntar para pagar. - Mas pelo menos, hoje eu sei que ele não sai. Renato veio da cozinha, junto com os outros. Tinham voltado depois do almoço para fazer a limpeza para o dia seguinte. Mesmo com ajudantes, saiam todos juntos, depois de colocar tudo em ordem. Se despediram e saíram. Seu Mário não falou mais nada do convite para deixar que a mãe conversasse com o filho. Já no caminho de casa, Maristela começou o assunto: - Seu Mário me perguntou se eu não queria trabalhar no restaurante também. - Acho que seria uma boa idéia. Pelo menos, você não vai ficar em casa sozinha até eu chegar. - Eu vou trocar as fechaduras das portas e reforçar as janelas. - É bom. Se ele te ameaçou, com certeza vai tentar alguma coisa. - Eu acho que ele falou em questão a casa. Ele quer que eu venda e dê a metade do dinheiro a ele. - Não tem nem cabimento. A casa já era sua antes do casamento, ele não entrou com nada lá. - Eu sei que se ele tentar, não vai conseguir nada, mas pode partir para a violência de novo. - Esse negócio de protetiva, impede ele de se aproximar de você. Se ele desobedecer, vai preso. - E você acha que ele tem medo? Quando bebe, não pensa nas consequências do que faz. - Mãe, porque você se casou com ele? - Porque quando nós namorávamos ele não bebia. Pelo menos até me deixar em casa. Depois de uns meses de casado, é que começou a beber e levou mais alguns meses para começar com as brigas, mas aí, eu já estava grávida e acreditei que a fase ia passar. Já estavam no portão de casa. Uma vizinha chamou e perguntou: - O que aconteceu com teu marido, me disseram que ele saiu daqui algemado? - Foi. Ele me agrediu e eu dei queixa. - Demorou muito a tomar uma atitude. Agora você vai começar realmente a viver. Nós te conhecemos desde menina e você não merecia um marido daquele. - Agora já foi. - Cuidado com ele quando sair. Vai vir atrás de vingança. - Vou trocar as fechaduras das portas. Aqui ele não entra mais. - Qualquer coisa, grita. A gente não se metia enquanto ele morava aqui. Depois vocês faziam as pazes e a gente é que ficava m*l, mas agora que você se separou, conta com a gente. Maristela agradeceu e Renato também. Pediram licença e entraram. A casa continuava bagunçada e os dois começaram a arrumar. Agora, a vida deles ia ser outra. Finalmente teriam paz.
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