Capítulo XX

752 Words
Quando Pedro chegou do trabalho, chamou o irmão para uma conversa. Se trancou com ele no pequeno quartinho e perguntou: - O que houve aqui hoje? - O Renato também pediu medida protetiva contra mim. - O que você aprontou para ele tomar essa medida? - Eu, nada. Só fui pedir a ele, para conversar com a mãe pra ela me aceitar de volta. Sei que fiz besteira e quero mudar, mas pra isso, preciso ter minha vida de volta. - Então você acha que uma mulher que apanhou durante anos, finalmente toma uma resolução, vai voltar atrás. Esquece a tua antiga vida, que essa não volta mais. Segue o teu destino, porque quem traçou foi você. E se dê por satisfeito de eu não lhe colocar daqui pra fora agora mesmo. Você assustou minha mulher, com a sua atitude e ela ficou com medo. - Mas eu só fiquei nervoso, não fiz nada contra ela. - Foi o que ela me disse. Mas com seu histórico, está todo mundo pisando em ovos para lidar contigo. Eu quero paz dentro da minha casa. Procura um médico e trata dos nervos. - Todo mundo fica nervoso de vez em quando. - Mas Paulo, você não fica só de vez em quando. É sempre que alguma coisa não é do jeito que você quer. O mundo não gira de acordo com os teus desejos. Todo mundo tem dias ruins e nem por isso saem espancando as pessoas. O teu filho mesmo, é gay. E daí? É a vida dele. Todo mundo tem o direito de escolher o seu próprio destino. Ele tem atitudes promíscuas na sua frente ou na frente da mãe? - Claro que não. Se tivesse tido, já estaria morto. - Porque essa sua aversão a ele, se ele respeita a presença de vocês? - Porque homem tem que ser homem. - E você acha que ser homem é encher a cara e sair distribuindo p*****a por aí? Não é não. Isso é ser violento e covarde. O teu colega, com quem você brigou, na certa, só não retribuiu as porradas por estar dentro do trabalho e não ter que sair com uma justa causa também. Aprende a se controlar, procura um médico e faz tratamento, senão você não vai parar em lugar nenhum. Nem em trabalho e nem em família. Paulo não soube o que responder. No fundo sabia, que o irmão estava certo. Já tinha perdido muita coisa na vida por causa de seu gênio. Estava na hora de aprender a se controlar. Finalmente, no dia seguinte, seria o dia da homologação com a empresa. Acordou e foi direto para o sindicato, fazer a homologação. Dr. Rogério estava com o advogado da empresa e lhe avisou: - Espero que saiba que foi a santa da sua mulher que conseguiu que você não ficasse com a carteira suja e em homenagem a ela, eu estou te demitindo, para que você tenha condições de se manter. Mas, quero de você para isso uma promessa. - Qual é? - Que você deixe eles viverem a vida deles em paz. - Não posso prometer isso. Estou procurando me controlar e preciso que ela me aceite de volta. - Vai ser difícil. Eu vi o estado que ela ficou depois da agressão que sofreu. - Pode ser difícil, mas não é impossível. Não posso aceitar um acordo desses, se sei que não vou cumprir. - Dá pra ver que você realmente está tentando mudar. Vou te mandar embora sem justa causa. O advogado pediu: - Assina aqui! Era o aviso de demissão que lhe garantia todos os direitos. A homologação foi feita e devido Paulo ter muitos anos na empresa, saiu com dinheiro suficiente para alugar uma casa e colocar o necessário dentro dela, com tudo de segunda mão. Já estava acostumado com isso. Quando se casou, já pegou a casa mobiliada. Na verdade, não tinha gasto nenhum dinheiro naquele casamento, mas ainda tinha esperança de que com o tempo Mirella pensasse melhor e lhe aceitasse de volta. Sempre conseguiu tudo que queria e não acreditava que ela iria levar a separação adiante. Teria que resolver, como faria para pegar o dinheiro que Renato lhe dava para as despesas. Ainda não tinha idéia de como ia se arranjar dali pra frente e o filho tinha, segundo seu pensamento, obrigação de lhe ajudar. Até a Maristela estava trabalhando e estava pensando em pedir pensão a ela também. A mesma obrigação do homem também é da mulher.
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