Espíritos Trocados

Capítulo IX

Renato chegou em casa depois do trabalho e foi ajudar a mãe a fazer o jantar, mas Maristela não estava passando bem e ele fez ela se deitar e fez a comida sozinho. Quando deu a hora de se aprontar para o colégio, tomou um banho e apanhou o material. Estava saindo de casa quando o pai chegou. Estava vindo mais cedo do trabalho. Apesar de ter ficado curioso, não perguntou nada. Até porque percebeu que ele havia bebido. Ficou preocupado com a mãe, que além de estar adoentada, ainda ia ter que aturar o gênio dele, que piorava muito quando bebia. Mas achou melhor sair logo, antes que se aborrecesse.

Quando retornou da escola, estavam dormindo. Mas a casa

estava toda bagunçada, com jeito de que havia tido briga ali. Ficou mais preocupado ainda. Quando chegou no seu quarto para se trocar e dormir, o pai estava dormindo na sua cama. Pegou suas coisas e foi se trocar no banheiro. Depois foi ao quarto dos pais, ver se a mãe estava bem e percebeu que ela estava bem machucada.

Sua intenção era de dormir na sala, mas deitou-se ao lado da mãe para tentar dormir um pouco. Porém a revolta era tanta, que custou muito a pegar no sono.

Não entendia porque a mãe continuava a viver com aquele homem que não respeitava ninguém. Sua mãe era tão doce, incapaz de fazer uma grosseria que fosse para qualquer pessoa.

O que teria unido aquele casal?

Os casos de violência, já haviam acontecido naquela casa, mas há muito tempo que tinham acabado. Porque tornaram a acontecer?

Foi de cabeça quente que Renato saiu para o trabalho no dia seguinte. Embora estivesse com receio de deixar a mãe sozinha, não podia faltar ao trabalho. Agora, mais do que nunca, iria precisar daquele emprego.

Quando chegou para trabalhar, Seu Mario já havia chegado e perguntou:

- O que aconteceu? Você está com uma cara!

- Ontem, meu pai chegou mais cedo do serviço e completamente embriagado e quando cheguei do colégio, a casa estava uma bagunça e ele dormindo na minha cama. Quando fui ver se mamãe estava bem, encontrei ela dormindo, mas muito machucada.

- Ele bateu nela?

- Bateu, e pelo visto, bateu muito. Quase não vim trabalhar hoje, com medo de deixar ela sozinha com ele?

- Ele já tinha usado de violência antes?

- Já, mas há muito tempo que não acontecia.

- Ele já bateu nela estando sóbrio?

- Não. Todas as vezes, estava bêbado.

- Então, ele vai acordar sóbrio e você não deve voltar pra casa, senão pode piorar a situação. A gente não sabe a causa da briga e é melhor você ficar de fora, mas se quiser voltar, eu te dispenso por hoje.

- Não. O senhor tem razão. A maioria das brigas, foram por minha causa. É melhor eu não voltar.

- Fica descansado que ele não vai bater nela de novo, agora de manhã. Quando acordar, o porre já vai ter passado e ele deve estar até arrependido.

Renato foi para a cozinha, aonde Maria já estava. Era a primeira vez que chegava depois dela. Ficou muito tempo no dilema de sair ou não de casa.

Maria comentou:

- Escutei a tua conversa com o patrão. Tua mãe está muito machucada?

- Eu não quiz acender a luz, porque ela estava dormindo, mas está sim.

- Você não sabe o motivo da briga?

- Não. Só sei que ele chegou em casa ainda no horário que deveria estar no trabalho e já bêbado.

- Então, ou ele saiu mais cedo, ou bebeu durante o expediente.

- Seja lá o que tenha acontecido, quem pagou o pato foi a minha mãe. Eu não sei porque ela ainda vive com ele.

- Eles não vivem bem?

- Não. Ela tem medo dele. Há muito tempo que deixou de gostar dele.

Nisso, Seu Mário chega na cozinha e avisa:

- Renato, vem no salão que sua mãe quer falar com você.

Renato foi logo atender e assim que chegou perto da mãe ela afirmou:

- Estou indo na delegacia dar queixa do teu pai e vou me separar dele.

- O que aconteceu?

- Ele chegou de porre em casa ontem e me agrediu f**o.

- Você sabe o motivo.

- Foi mandado embora do serviço por justa causa.

Seu Mário que estava perto, escutou e perguntou:

- Justa causa, por quê?

- Embriaguez e briga no local de trabalho.

- A senhora quer que o Renato lhe acompanhe?

- Não. Só vim avisar para o caso de ele aparecer por aqui.

- A senhora me desculpe, mas se ele aparecer querendo confusão, vai encontrar.