A situação de Renato em casa, também tinha melhorado muito. Quase não via mais o pai.
De noite, quando chegava da escola, ele já estava dormindo e saia muito cedo e ele ainda não tinha levantado. Assim os aborrecimentos tinham desaparecido. Quando estava de folga, Seu Paulo saía e passava o dia inteiro fora.
Até Maristela, estava mais tranquila. O ambiente estava mais calmo e todos estavam sendo beneficiados com isso.
Seu Paulo, acreditando estar dando um castigo ao filho, havia dado condições para que ele tivesse mais independência. Ele ficava com a metade do salário que achava que o rapaz ganhava. Ainda não sabia que de ajudante, o Renato tinha sido promovido a cozinheiro e por isso, ganhava mais.
Renato já estava trabalhando, no agora restaurante, há oito meses e como almoçava no serviço e dormia em casa, estava fazendo uma poupança para quando tivesse que morar sozinho. O único receio que tinha, era se fosse colocado pra fora, perdesse o emprego também.
Conhecia o pai o suficiente, para saber que se ele tomasse essa decisão, faria de tudo para que Seu Mário lhe dispensasse.
Resolveu que teria uma conversa com o patrão, para conhecer suas intenções, se o pai tentasse lhe pressionar.
Foi pensando nisso, que chegou em casa, após mais um dia de trabalho. Era bom chegar e encontrar a mãe sozinha.
Ficavam conversando por bastante tempo. Um se inteirando do que estava acontecendo com o outro.
Para Renato, agora mais acostumado a rotina de trabalho, só o dono noturno bastava. Já não se sentia tão cansado. As vezes achava que o cansaço que sentia antes, era por causa da grande pressão mental que sofria na época que tinha muitos aborrecimentos em casa.
Ajudava a mãe na cozinha, que tinha passado a fazer a comida fresca para a janta e guardava um pouco para o seu almoço do dia seguinte, já que almoçava sozinha.
Renato não jantava. Fazia apenas um lanche quando chegava do colégio, mas as vezes, comia alguma coisa antes de sair para as aulas, afinal de contas, estava contribuindo com parte do seu salário, para o sustento de todos e não queria gastar dinheiro com lanches na rua.
Quando o bar passou a restaurante, Seu Mário pediu para todos usarem os novos uniformes que havia mandado fazer, mas ele mesmo, arcou com a despesa. No colégio, continuava a usar a roupa que tinha. Todos os colegas de classe, vinham direto do trabalho e eram muito simples.
No dia seguinte, saiu mais cedo de casa, disposto a conversar com o patrão.
Logo que ele chegou, após a troca de cumprimentos, perguntou:
- Você está querendo conversar comigo?
- Estou sim, mas, como o senhor sabe?
- Já conheço você. Toda a vez que chega mais cedo é porque está querendo me falar alguma coisa. O que foi?
- Sabe o que é? O ambiente lá de casa melhorou muito porque quase não vejo mais meu pai.
- E isso não é bom?
- É divino. Mas eu tenho certeza que um dia, nós vamos nos aborrecer de novo e eu queria saber do senhor, se ele me colocar pra fora de casa e vier exigir que o senhor me dispense, qual vai ser a sua atitude?
- Olha Renato, eu respeito o seu pai como freguês, mas não vejo aonde ele teria autoridade para exigir nada de mim. Se ele tiver uma postura de colocar um filho para fora de casa, mesmo esse filho sendo menor de idade. não vai querer ir a justiça, reclamar qualquer coisa, a menos que se i****a.
- Porquê?
- Porque além de ter que responder por abandono, ele vai ter que se declarar homofóbico e isso é crime. E eu não vou te dispensar porque o seu pai quer. Você me trouxe muita sorte. Depois que você começou a trabalhar aqui, tudo se transformou para melhor. Pra eu te mandar embora, só se você fizer alguma coisa muito grave e vai ser entre nós. Seu pai aqui não manda. A única coisa que eu devo a ele, foi ter te trazido pra cá.
- É, eu também tenho essa dívida com ele. Posso ficar mais descansado, então?
- Claro que pode. E fiquei contente em saber que a situação de casa melhorou. Estava com pena da tua mãe, ter que ficar entre vocês dois.
- Ela está mais alegre também.
Maria e André chegaram para o trabalho e pararam de conversar. Foram tomar um café para começar a trabalhar.