A vizinha de Maristela, além de ser chegada a uma fofoca, gostava dela, que conhecia desde criança e logo começou a contar para Marlene o que tinha acontecido com a vizinha e o filho para que chegasse ao ponto da separação do casal.
Para isso, bastou que Marlene perguntasse:
- A senhora perguntou se eu vinha aborrecer minha nora. Tinha muita briga na casa com meu filho?
- O Paulo tem um jeito muito grosseiro e quando bebe então, não tem quem segure. No dia em que foi preso, bateu muito na Maristela e ela ficou bem machucada, aí depois de apanhar por muitos anos e não aguentando mais a violência dele, foi na polícia e deu queixa. Lá ficou sabendo que ele tinha agredido uma outra pessoa no trabalho e tinha sido demitido por justa causa por bebedeira e agressão a um colega de trabalho durante o expediente.
- Então foi isso?
- Isso acontecia sempre. O menino então, sofre nas mãos do pai. Não tinha um dia que ele não criava confusão em casa. Tanto, que o Renato arrumou um emprego e está estudando a noite, para lidar com o pai o menos possível.
- Já fiquei sabendo o que eu queria, mas vou esperar Maristela para ver ela e o meu neto. Ela chega que horas?
- Vem junto com a Maristela. Eles trabalham junto. Pouco depois das duas, estão chegando. Só no dia que eles foram na empresa pedir pra relaxarem na justa causa do Paulo, é que chegaram mais tarde.
- Eles fizeram isso?
- Fizeram. Minha filha trabalha lá e me contou. Ela foi lá e pediu para o patrão que não aplicasse a justa causa nele, senão, ele não ia arrumar mais trabalho em lugar nenhum.
- Como meu filho é mentiroso. Lá em casa se faz de vítima. Disse que ela pediu a separação porque ele ficou desempregado.
- Mas os irmãos sabem que ele foi até preso. Foram eles que pagaram a fiança pra tirar ele de lá.
- Mas não me contaram nada.
Na hora do almoço, foi convidada a almoçar e pouco tempo depois deu a hora que esperava.
Agradeceu a bondade da mulher e saiu para aguardar a chegada da nora.
Logo avistou Maristela e Renato caminhando em direção a casa. Vinham conversando e não haviam percebido a sua presença. Só perceberam quando já estavam bem perto.
Renato falou:
- Oi vó. Veio nos visitar?
- Vim conversar com a sua mãe. Como vocês estão.
Maristela que respondeu:
- Apesar de tudo, estamos bem. Vamos entrar e conversar lá dentro.
Entraram na casa e Marlene percebeu que pouca coisa tinha mudado naqueles quase vinte anos, quando esteve lá pela última vez. O mobiliário era praticamente o mesmo e notou que estava muito bem conservado. Porque já estavam ali quando Paulo se casou. Comentou:
- Não mudou praticamente nada.
- Não houve necessidade. Nós preservamos tudo com muito cuidado e o Paulo não gostava de esbanjar dinheiro com as coisas da casa. Dava o estritamente necessário e gastava o resto com a diversão dele.
- Eu já estou sabendo o que aconteceu.
- Pois é, Dona Marlene, eu aguentei o quanto pude. Mas no dia que ele chegou em casa, completamente bêbado e disse que tinha sido demitido por justa causa porque tinha brigado no serviço, eu falei que aquele gênio dele só podia terminar nisso, ele me bateu tanto que eu tive que tomar uma atitude.
Agora estou em paz. Até o Renato evitava a presença dele, porque só saía discussão.
- Eu já fiquei sabendo.
- Ele está com a senhora?
- Está. Só que chegou lá em casa, se fazendo de vítima. Falou que você pediu a separação só porque ele ficou sem trabalho. Mas, te conhecendo do jeito que eu conheço, vi logo que a verdade não era essa. E ouvi ele falando ao telefone com um advogado. Disse que vai tirar tudo de você.
- Ele vai perder a causa. A casa já era minha quando casamos e a senhora mesma percebeu que nem móveis novos ele comprou. Somos casados em regime parcial de bens. Tudo que cada um tinha antes do casamento, não tem que ser dividido.
- Então, como o advogado aceitou a causa?
- Na certa ele não disse que a casa já era minha. O advogado é p**o?
- O irmão contratou. Disse que quando ele recebesse o dinheiro da venda casa, pagaria a ele.
- Ele não tem direito algum a essa casa.
- Realmente, não tem. Vou conversar com ele e mostrar que ele tem que ir pela justiça gratuita, apenas pela separação.
- É o melhor a fazer, mas toma cuidado quando falar com ele. Não esquece que é um homem violento.
Conversaram mais um pouco e Marlene se despediu.
Renato pediu:
- De vez em quando, vêm ver a gente. Com ele morando lá, eu não vou na sua casa.
- Vou aparecer.
Virou as costas depois de dar beijinhos nos dois e foi embora.