Não vi como cheguei em casa. Acho que dirigi em piloto automático, minha mente repetindo em 'loop' as palavras de Thomas. Quem ele pensa que é? O que ele pensa que eu sou? E eu, como uma i****a, fiquei lá encarando ele em vez de ter dado um belo tapa no meio da sua cara. Minha reação aconteceu bem depois e apenas na minha mente.
Tomei um banho quente para aquecer meu corpo e limpar minha mente. Me permiti chorar um pouco mais no chuveiro por tudo que aconteceu hoje. Vestindo uma máscara de confiança fui buscar os gêmeos na sra. Kovalski que, graças a Deus, já deu janta para eles. Uma coisa a menos para me preocupar agora.
Sentei-me com eles no sofá da sala e contei da maneira mais leve possível que papai ficou doente e terá que ficar alguns dias no hospital. Mesmo sem entrar em detalhes a preocupação nos rostinhos deles quebrou meu coração.
“Papai vai ficar bem, não é Becky?” Liam pergunta com olhos suplicantes.
“Claro que vai seu bobo. Por que ele não ficaria? Tudo que ele precisa é de alguns dias de cuidados e tratamento.” Respondo com um sorriso.
“E se ele nos deixar assim como a mamãe.” Lucas fala fazendo com que Liam entre em pânico com esta ideia.
Logo, Liam começa a chorar e Lucas o acompanha. Abraço forte meus irmãos tentando tranquilizá-los.
"Parem de pensar besteiras. Papai ficará bem, escutaram? Ele vai ficar bem, e logo estará em casa. Amanhã vou perguntar ao médico se posso levar vocês dois ao hospital para vê-lo. Que tal?"
Aos poucos eles foram se acalmando e o medo foi passando. Fiquei junto dos meus irmãos até a hora que eles finalmente dormiram. Volto agora toda minha atenção ao principal problema que tenho neste momento. A garantia de internação do meu pai.
Procuro na gaveta da minha penteadeira pelo cartão reserva da conta corrente do meu pai. Ele me deu a uns 3 anos atrás para que eu tivesse como sacar ou movimentar dinheiro em caso de emergência. Esta é claramente uma emergência.
Na manhã seguinte, deixo os gêmeos na escola e me dirijo a agência bancária onde meu pai tem sua conta. Não faço ideia de qual é seu saldo então só posso rezar para que o dinheiro seja suficiente. Sinto meu coração disparar enquanto insiro o cartão no caixa eletrônico. Após selecionar algumas opções o valor aparece na tela. Oito mil dólares.
Não consigo evitar me encher de decepção. Isso é praticamente a metade do que eu preciso. Apesar de não ser a titular da conta peço para falar com o gerente. Quem sabe não consigo algum tipo de empréstimo?
Um senhor já de certa idade vem me atender. Explico para ele a situação do meu pai e a quantia que necessito.
"Sinto muito" ele me diz cheio de compaixão "eu realmente queria poder fazer algo para ajudá-la. Por você ser menor de idade e não ter um trabalho é impossível abrir um empréstimo no seu nome” Ele me explica.
“Eu não sei porque meu pai tem tão pouco dinheiro” murmuro em voz alta. “Eu pensava que estávamos bem”
“Seu pai tinha duas hipotecas em aberto conosco, a dívida de ambas estava se acumulando na forma de juros, pois ele ficou muito tempo sem conseguir quitar as parcelas em dia. Algum tempo atras ele tirou todo o dinheiro que ele estava guardando e as quitou. Acredito que isso limpou suas economias” o gerente conta. Fiquei pensando em suas palavras. Estas hipotecas devem ser da época que mudamos e depois da morte da mamãe. Ele sempre garantindo que nada faltasse e guardando dinheiro para quitar nossa casa. Se ele tivesse roubado algo cadê esse dinheiro?
"Você já pensou em penhora? Talvez alguma joia ou relógio? Você consegue algum dinheiro rápido e sempre pode voltar para recuperar suas coisas". O gerente me sugere, tirando-me dos meus devaneios.
"Não é uma má ideia. Só não sei se temos coisas de valores. De qualquer forma, obrigada pela sua atenção." Agradeço.
Volto para casa e começo a revirar gavetas e armários em busca de tesouros escondidos. Nunca fomos materialistas então a busca está sendo um total fracasso. Já quase sem esperanças encontro uma caixa quase escondida no guarda-roupas do meu pai. Nela estão algumas fotos da minha mãe, um lindo pingente de rubis que parece valioso e sua aliança de casamento. Por mais desesperada que eu esteja eu descarto a possibilidade de penhorá-las. Essas coisas são muito especiais para o meu pai, pertenciam a mamãe e não posso arriscar perdê-las em uma casa de penhor.
Guardo a caixa no lugar em que a encontrei e me sento no chão para pensar nas minhas opções. 'Que opções?' Minha mente grita para mim.
Um lampejo de esperança cruza minha mente. Talvez eu consiga negociar a diferença com o hospital ou mesmo aumentar o prazo de p*******o se eu der a metade do valor. Agarrada a isso dirijo até o hospital para falar no administrativo.
"Você não entende" digo entre lágrimas "é muito pouco tempo para providenciar uma quantia tão alta. Afinal um hospital prioriza a vida ou o dinheiro?"
"Sinto muito senhorita Hoffman, mas a política de internações do hospital é bem rígida com relação a garantia. O máximo que posso fazer é prorrogar seu prazo em algumas horas assim você tem até o final do dia para acertar a diferença". A moça do administrativo me diz com simpatia.
Cada passo que eu acho que pode me levar para frente me leva mais para trás. Quem tem esse dinheiro que poderia me ajudar? Taylor?
Sim, minha amiga Taylor. O pai dela tem dinheiro. Ele me conhece a anos. Talvez se ela pedir ele pode me emprestar. Pego meu celular e escrevo uma mensagem para ela. A essa hora ela ainda está no colégio então não posso ligar.
Eu: Taylor, me liga urgente!!!!!
Vou até o posto de enfermagem do andar que meu pai está internado perguntar como ele está. Minha maior vontade era entrar para vê-lo, mas não quero que ele saiba que não fui para o colégio. Conhecendo-o como eu conheço sei que isso irá chateá-lo ou pior fazê-lo se sentir culpado. A enfermeira disse que ele acordou bem, com um pouco de dor, o que é normal para quem acabou de passar por um procedimento cirúrgico. Ele está descansando. As medicações dão sono então ele dormirá muito estes dias. Com a única boa notícia do meu dia volto para casa esperando que a Taylor me ligue logo.
Estou andando de um lado para o outro, ansiosa, quando finalmente meu celular toca.
“Ei, Becky, o que aconteceu? Por que você não veio hoje?” Taylor pergunta.
“Taylor, eu preciso te pedir um grande favor. Meu pai infartou ontem à tarde e está internado agora. Preciso arrumar 7 mil dólares para o hospital ainda hoje. Será que seu pai não pode me emprestar esse dinheiro? Prometo devolver o quanto antes” suplico para minha amiga.
“Nossa Becky, eu sinto muito pelo seu pai. Ele está bem? Corre algum risco?
“Ele está fora de perigo. Estável. Mas precisa ficar no hospital e está sem seguro saúde” digo tristemente. "Será que seu pai pode nos ajudar?"
“Becky, acho que ele ajudaria se estivesse aqui. Mas ele está fora do país a trabalho. É impossível conseguir esse dinheiro hoje para você amiga. Eu sinto muito” Taylor lamenta.
"E quando ele volta Taylor?" Pergunto sem saber por que já que não vai fazer diferença no momento.
"Daqui dez dias" Taylor responde "vou ver se minha mãe consegue algo amiga" ela diz tentando me confortar.
"Não se preocupa. Eu vou dar um jeito nisso. Sei que se você pudesse me ajudaria agora” falo com sinceridade.
“E o que você vai fazer?” Taylor pergunta.
“Vou pedir para um amigo do trabalho do meu pai" minto. "De qualquer forma muito obrigada Taylor".
“Desculpa mesmo Becky" Taylor lamenta novamente.
Desligo o telefone e me entrego novamente as lágrimas. Como eu vou conseguir 7 mil dólares em poucas horas.
Um nome me vem de repente a cabeça.
Thomas.