Tudo por dinheiro - Parte 2

1576 Words
Eu grito, grito e grito para extravasar parte da minha frustação. Não conheço mais ninguém que poderia me dar esse dinheiro ainda hoje. Inferno, nem sei se ele estaria disposto a pagar tanto dinheiro só por um beijo. Pego o cartão com o número do telefone de Thomas em uma mão e o celular com a outra. Sinto como se estivesse segurando duas bolas de fogo, queimando minhas mãos. Desde que eu decidi ligar para ele todo tipo de pensamento já me ocorreu. Que tipo de homem sai por aí comprando beijos? Será que ele é apenas um pervertido? Ele vai querer mais que um beijo? Ele vai tentar me fazer algum tipo de mäl? E se alguém descobrir? E se meu pai descobrir? Tranco tudo dentro de uma caixinha na minha cabeça e digito a sequência numérica. Meu coração está batendo no ritmo dos toques de chamada até ele atender. “Quem fala?” uma pergunta simples que minha boca não conseguia responder “este é um número particular, se você não se identificar agora vou desligar” Thomas ameaça. “Oi, é a Rebeca” “Ah, pensei que você demoraria mais tempo antes de me procurar” ele ri baixinho e eu tremo inteira com o som. “Eu quero 7 mil dólares” digo sem pensar, sem dizer nada mais, apenas a espera dele negar. “Tudo bem. Nos vemos a noite então. Vou te passar o endereço” Ele responde na maior calma do mundo como se estivesse combinando um jantar. “Serão só beijos, nada além disso. Eu não sou uma prostituta. Não vou vender meu corpo” digo na defensiva com medo dele entender errado minhas intenções já que pedi um valor tão alto. “Ninguém aqui está dizendo que você é. São só negócios, lembra? Esteja no endereço indicado as 20 horas em ponto” ele diz e desliga o telefone sem me dar a oportunidade de dizer qualquer outra coisa. Não que eu quisesse seguir conversando. Me sinto tão m*l por fazer isso. Me prendo a ideia de que é para o bem do meu pai e eu faço qualquer coisa por ele. Até pisar no meu orgulho e na minha honra. Não sou do tipo que sonha com príncipe encantado ou coisa assim, apenas nunca tive tempo ou habilidade para lidar com garotos. Agora vou beijar um homem. Merda como vou fazer isso se eu nunca beijei? E se eu for tão r**m* que ele não vai querer me pagar? Sou quase a versão real da Drew Barrymore, uma quase adulta que nunca beijou. Não pensei no quanto isso é patético até agora. Como eu disse, nunca tive tempo para pensar nisso antes. As horas passaram voando. Pedi a Sra. Kovalski para ficar com os gêmeos novamente. A partir de amanhã preciso ver uma babá para ficar com eles quando estou fora de casa. O que vestir para esse tipo de situação? Posso não ser uma prostituta, mas me sinto me vendendo, mesmo que seja só um beijo. Escolho um vestido branco na altura dos joelhos e sapatilhas para caso eu tenho que sair correndo. Ainda estou com medo desse encontro, mas não posso fugir dele. Também não tenho coragem de contar para ninguém o que vou fazer. Coloco o endereço no GPS do celular, me encho de coragem e dirijo para minha condenação. O endereço que Thomas me enviou é de um condomínio residencial de luxo. Estaciono meu carro próximo da entrada do prédio. Entro na elegante recepção e sou recebida por um gentil senhor com roupas de porteiro. “Você é a senhorita Rebeca?” Ele me pergunta. “Sim” respondo sabendo que estou corada. ‘O que será que ele pensa que eu sou.’ penso cheia de vergonha. “Pode usar o elevador privativo. É aquele da esquerda. Ele vai te levar direto para a cobertura” ele me orienta. Agradeço e vou ao meu destino. Ele disse 20 horas e faltam só três minutos para dar o horário. Quero ser pontual. As portas se abrem para uma enorme sala de estar com um pé direito duplo. Esta toda decorada em tons de branco, cinza e preto. O único toque de cor são os quadros nas paredes. Baseado na riqueza que cada coisinha aqui grita devem ser obras de arte caríssimas. Thomas está sentado em um sofá em L com vista para o elevador. Ele está usando uma camisa branca com as mangas dobradas no braço e os dois primeiros botões abertos. Dá para ver o terno e a gravada jogados na ponta o que indica que ele também chegou a pouco tempo. Ele está balançando uma bebida escura na mão enquanto olha para mim com aqueles olhos tempestuosos. Fico parada, em silencio, apenas o encarando de volta assim como no dia em que nos conhecemos. Sua voz aveludada quebra meu transe “você não vai entrar?” “Sim, claro, vou sim” gaguejo como uma boba. Caminho lentamente até o sofá sentando-me na ponta oposta a que ele está. Ele ri e o som mexe comigo como se borboletas dançassem na minha barriga. “Você já jantou?” ele pergunta. Faço que não com a cabeça. “Ótimo, o jantar deve estar sendo servido agora” diz estendendo a mão para mim. Me levanto e coloco minha mão sobre a dele. Seu toque me arrepia como se eu tivesse tomado um choque. Sinto um leve puxão quando ele me leva para o ambiente ao lado. É uma sala de jantar. A enorme mesa lindamente disposta com uma infinidade de pratos como se fosse receber uma dúzia de convidados, mas apenas dois lugares foram preparados. Ele puxa um dos lugares para mim me convidando a sentar e se senta no outro. Noto seus olhos sobre mim e devolvo com um olhar confuso. Por que vamos jantar? Eu pensei que viria aqui para ele me beijar. Será que ele quer algo mais preparando tudo isso? Acho que meu medo começa a se refletir em meus olhos porque ele diz em seguida “É só um jantar Rebeca. Eu não comi, você não comeu, vamos apenas desfrutar dessa refeição juntos. Relaxe. Como eu não sabia suas preferencias pedi para o chef preparar um pouquinho de tudo.” “Eu como de tudo. Obrigada” começo a analisar a mesa. Tinha arroz, vegetais grelados, cordeiro, peixe e bife. Eu nunca comi cordeiro, só sei o que é porque gosto de assistir masterchef então decido me servir de um pedaço de cordeiro com os vegetais. Ele pega o bife. Thomas começa a servir duas taças de vinho. “Eu não bebo” digo tentando não soar indelicada. “Que garota não ama beber na sua idade?” Ele me pergunta rindo. “Eu estou dirigindo” digo “Além disso ainda tenho dezessete então tecnicamente não deveria beber.” Escuto ele se engasgar com a minha resposta. Acho que ele pensava que eu era mais velha. Será que ele vai cancelar nosso acordo? Não posso ter vindo até aqui por nada. Meu pai depende desse dinheiro. “Dezessete?” ele repete “Vou fazer dezoito em dois meses” Enfatizo agora que falta pouco para eu ser maior de idade. Assim ele não pensa que sou uma menininha ou algo assim e desiste. Eu realmente estou mais para adulta do que outra coisa, ao menos na minha mente eu devo ter uns 60 tavez. “Ainda assim a maioria dos jovens fazem muitas coisas... interessantes, antes dos dezoito” “Interessante não é uma palavra que eu usaria para definir minha vida” ri. Eu usaria aposentada, mas isso é patético demais para confessar em voz alta. “Vou deixar essa taça aqui caso você queira provar o sabor de um bom vinho, mas não vou te oferecer outra” ele me diz, sem fazer piadinhas como a pouco. Tento pensar em uma maneira de tornar o clima no jantar mais leve e decido iniciar uma conversa com assuntos mais banais. “Seu apartamento é lindo. Você mora a muito tempo aqui?” pergunto a primeira coisa que me veio à mente. “Não moro aqui. Esse apartamento eu uso apenas para... relaxar.” Ele responde. Quem tem um apartamento desse tamanho só para relaxar a não ser que esse ‘relaxar’ dele quer dizer ‘namorar’. Deve ser isso, esse lugar é o abatedouro dele e eu sou mais uma das ovelhas na fila. “Entendo” eu digo. “Você deve ter um cargo importante na empresa para ter duas casas” deduzo mais afirmando do que perguntando. “Mais ou menos” ele responde de maneira vaga. Uma ideia cruza a minha mente e olho para ele cheia de expectativa. “Você poderia me ajudar a achar quem incriminou o meu pai? Quero poder esfregar sua inocência na cara do chefe dele.” “Desculpe querida, isso não passa pelas minhas mãos” Não consigo esconder a decepção que cruza meus olhos então decido terminar o jantar em silêncio. Quando ambos terminamos nossos pratos, Thomas enche outra taca de vinho para ele e toma quase em uma golada só. Ele se levanta e novamente estende a mão para mim, assim como quando ele me trouxe para cá. Seguro a mão estendida e sou puxada para perto dele. “Muito bem. Agora vamos para a sobremesa” ele sussurra em meu ouvido.
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