Prazeres em jogo

Aquela de quem todos falam

Claro que minha “paz” não durou muito.

Não parei de receber olhares e escutar cochichos por todo meu caminho até o refeitório. Já diz o ditado que não há nada mais rápido do que a fofoca e para alguém como eu, invisível até poucas horas atras, a atenção extra está sendo incomoda. Mantive a cabeça erguida e a expressão neutra. Não sei exatamente o que estão falando, mas com certeza está bem longe da verdade e eu me recuso a me esconder como se eu tivesse feito algo errado. Se olharmos para o lado positivo das coisas eu me formo em menos de 6 meses e nunca mais vou ver a maioria das pessoas que estão aqui.

Peguei minha refeição e fui me sentar com meus amigos como faço todos os dias. m*l cheguei à mesa e Julia me puxa toda apressada para sentar ao lado dela, perguntando "Você estava matando aula com o Adam Carter? Que mundo paralelo é esse Becky."

Nesse momento, Taylor se junta a nós na mesa e me fala "Minha dupla na aula de biologia disse que viram vocês se pegando na frente de todo mundo"

"Eu escutei que a Jen fez o maior escândalo quando ficou sabendo" Julia acrescenta.

'Que maravilha' penso. 'Só me faltava agora ter problemas com a namorada do Adam'. Jen era a típica líder de torcida, loira, linda e maldosa. Ela e Adam namoram, ou ao menos tinha algo rolando entre eles. Não sei por que ela corre tanto atras dele sabendo que ele fica com tantas garotas que é difícil acompanhar.

“Gente, não aconteceu absolutamente nada entre nós. Como vocês puderam ao menos cogitar tal possibilidade. Olhem para mim, eu com certeza não faço o tipo dele." Tento começar a explicar.

Você faz o tipo de quase todos os meninos daqui Becky só que como você vive como uma freira nerd acaba ficando fora do radar" Julia diz, rindo alto do próprio comentário. "Então, o que foi exatamente que aconteceu?"

Conto o melhor que posso toda a história desde levar meus irmãos a escola deles, parar na vaga do Adam, perder a prova, a diretoria e a semana de detenção.

"E como foi que você acabou nos braços dele?" Taylor questiona com um olhar interrogativo.

Na verdade, nem eu sei explicar essa parte direito então acho mais fácil omitir algo da verdade "Bem na hora que estávamos falando sobre os trabalhos que ele quer que eu faça por ter estacionado na vaga dele eu perco o equilíbrio sem querer e ele me apoia para que eu não caia no chão."

"Você sabe que a não ser que o Adam explique essa situação ninguém vai acreditar que não rolou nada entre vocês, ou melhor, que você não se jogou pra cima dele." Taylor fala com um toque de pena em sua voz. Eu concordo com a cabeça em silêncio porque sei que isso é verdade.

"Vou tentar falar com ele hoje depois da detenção. Por mais que ele ache divertido esse boato com certeza ele não vai querer ficar m*l com a Jen por uma nerd como eu" olho tentando passar uma confiança que não tenho nesse momento. Apesar de nunca termos cruzado antes, Adam tem uma fama complicada na escola. Uma fila de namoradas, outra maior ainda de problemas. Nada que uma família com muito dinheiro não resolva. Quem sabe o que se passa na cabeça de alguém que não tem medo de desafiar nada nem ninguém porque tem o papai como garantia.

"Mudando de assunto, e o Ben? Não vi ele hoje na aula de cálculo." Pergunto as minhas amigas.

"Ele foi visitar uma faculdade na costa com os pais e só deve voltar depois de amanhã." Julia disse.

Nosso grupo é pequeno mais unido. Eu, Julia e Taylor somos amigas de infância. Julia é uma linda morena clara com olhos castanhos e um corte chanel no cabelo. Taylor é a mais rica e popular de nós três, na minha opinião também a mais bonita com longos cabelos loiro-escuro e olhos verdes. Mesmo tendo vários amigos populares ela nunca nos virou as costas apenas para agradá-los. Devido ao seu status eles não mexem com ela por isso. Ben foi transferido para nossa escola ano passado. Ele é um rapaz doce e inteligente com adoráveis covinhas, magro mas com músculos, cabelos e olhos negros, e por algum motivo inexplicável decidiu ser nosso amigo.

"Sorte ele não estar aqui hoje para ver essa confusão. Ele iria tentar ajudar e do jeito que está minha sorte seria arrastado junto.” Eu digo, imaginando como meu amigo tentaria buscar limpar meu nome. Pessoas como ele são raras por isso com certeza ele será um ótimo advogado no futuro.

Terminamos nosso almoço e eu respiro aliviada por ter sido mais tranquilo do que eu pensei que seria. Estou caminhando em direção aos armários quando alguém esbarra contra meu corpo. Sinto algo pegajoso contra mim antes de abaixar a vista e ver que estou coberta por iogurte. A menina que esbarrou em mim, uma líder de torcida, segue em frente sem nem se incomodar em pedir desculpas. As risadinhas do seu grupo me fazem pensar que isso não foi um acidente.

"Que i****a" Julia diz revoltada. "O que você vai fazer agora?" Ela me pergunta.

Eu tenho duas alternativas correr até os vestiários e pegar a minha camiseta de ginástica que está por lá ou ficar com um cardigã que tenho no armário. Pensando que não posso me dar ao luxo de me atrasar novamente opto pela segunda.

Pego meus livros e meu cardigã no armário e vou voando até o banheiro tirar essa blusa nojenta. O cardigan é de um linho branco levemente transparente e espero que ninguém note meu sutiã.

Passo pelas próximas aulas firmemente ignorando tudo e todos. Infelizmente, o sinal do final das aulas não representa o final do meu tormento escolar já que estou em detenção. Vou até a sala onde devo cumprir meu castigo e encontro o sr. Potter com olhos entediados e uma expressão cansada. " Sente-se longe dos outros, a tarefa está no quadro. Você está liberada a partir das 15 horas."

"Posso, por favor, telefonar para uma vizinha para pedir a ela pegue meus irmãos? Eu que teria que buscá-los na escola." Eu pergunto.

"Você tem três minutos." Ele declara m*l me olhando. Ligo para a sra. Cooper e peço para ela dar uma carona para os gêmeos em seu caminho para casa. Apesar de seu filho ser um ano mais novo, ele e os gêmeos já brincaram juntos várias vezes e nesses encontros a Sra. Cooper mais de uma vez se ofereceu para ajudar quando precisássemos. Ela mora a poucas quadras da nossa casa. Não gosto de pedir ajuda, mas dessa vez é necessário.

Resolvido o problema dos gêmeos, coloco meu celular no silencioso e me preparo para começar a tarefa. Escolhi um lugar perto da janela o mais perto possível de Adam. Não esqueci que tenho que passar as respostas da tarefa para ele.

Começo a responder as questões rapidamente. Tenho que escrever duas respostas para cada, ambas certas, mas descritas diferente para ninguém suspeitar que trapaceamos.

Começo com as dele porque com certeza ele deve querer ir embora o antes possível. Assim que termino faço uma bolinha de papel e espero o momento ideal para jogar em sua direção. Sinto as batidas do meu coração na boca o que me diz que meu lado rebelde não é tão valente assim. Sinalizo para ele pegar o papel a seus pés assim que ele me olha. Um brilho de divertimento em seu olhar.

Respondo outro jogo de questões para mim. Não é tão difícil quando você acabou de fazer tudo a poucos minutos atrás. Entrego a atividade ao sr. Potter e espero ele me liberar. Um pouco depois Adam entrega a dele. Esperamos mais alguns minutos até que finalmente o sr. Potter diz que os que entregaram as atividades estão liberados. Pego minhas coisas e procuro meu celular para checar se a sra. Cooper ou os meninos me ligaram após chegarem em casa.

Aparecem várias chamadas de um número desconhecido e uma nova mensagem na caixa postal. Estranho. Antes que eu tivesse chance de escutar sou interrompida por Adam. “Ei, raposinha, bonito sutiã.”

Tenho certeza de que meu rosto está mais vermelho que um tomate. Aproximo a mochila do meu peito numa tentativa de me cobrir e respondo com uma voz fria “Você pode, por favor, não me chamar de raposinha, meu nome é Rebeca.”

“Mmmm, acho que não. Raposinha combina mais com você.” Ele diz rindo enquanto caminha até a porta.