ALINE COOPER
Olhar as fotos de James é algo reconfortante, mas ao mesmo tempo perturbador. James foi e é alguém muito especial na minha vida, alguém que me mostrou o que é o amor, alguém que me fez feliz por cinco anos e que foi tirado de mim da pior forma possível.
— Amiga do meu core. — Sinto uma pessoa muito maluca se jogar em cima da minha cama, me tirando dos meus devaneios.
— Oi, Driana. — Driana é minha melhor amiga, ela me ajudou muito quando James morreu.
— Que oi Driana o quê, vaca, vim aqui te sequestrar. — Ela me encara com seus grandes olhos verdes.
— Deixa adivinhar. Minha mãe te ligou dizendo que eu não aceitei a viajem que ela e meu pai me deram de presente de formatura? — Ah, minha mãe é demais.
— Mas é óbvio que sim! Ir para a Genovia sempre foi seu sonho, porque não quer ir agora? — Sento-me na cama para poder encará-la.
— Não quero deixar minhas lembranças para trás. — Abaixo o olhar.
— Viajar para distrair a mente não quer dizer que você vá esquecer das coisas que te fazem lembrar do James, eu que o diga... Ele era o meu irmão, Aline. — Olho para ela, que agora tem um olhar triste.
— Me desculpe, Driana... Eu não queria...
— Tudo bem. James sempre vai fazer falta, sempre terá um lugar reservado para ele no meu coração, mas isso não significa que tenho de parar de viver. — Eu sei que ela está certa, só que...
— Parece tão errado. — Dou de ombros.
— Errado vai ser se você recusar esse incrível presente de formatura atrasado que seus pais estão lhe dando, e ainda vem com um brinde. — Abre um grande sorriso.
— Que brinde, furacão morena? — Ela me mostra a língua.
— Eu! — diz jogando seus cabelos longos e enrolados para trás.
Driana é uma n***a linda, de olhos verdes, assim como seu irmão era, cheia de curvas e com tudo na medida certa. Sempre com roupas de diferentes estilos e seu cabelo vira e mexe muda.
— Espera, você vai comigo nessa viagem? — pergunto surpresa.
— É claro que sim, sempre quis conhecer a Genovia. — Faz careta.
— Você disse que nunca iria para lá. — Lembro muito bem quando eu disse a ela que meu sonho sempre foi ir à Genovia e ela disse que jamais iria a um lugar não conhecido.
— Agora, mais do que nunca, eu quero ir. — Sinto cheiro de macho na história.
— Tem a ver com homem, não é? — questiono, já sabendo a resposta.
— Menina, por que nunca me falou que os genovianos são uma tentação? Ontem encontrei um naquela boate perto da minha casa... — Sabia.
— Já abriu as pernas para ele?
— Não, o cara é muito... Antiquado, certinho demais, pelo que percebi. — Faz careta.
— Ele não é antiquado, você só não está acostumada com caras tão cavalheiros — provoco.
— Talvez. Conversamos a noite toda, nem um beijinho de despedida ele me deu quando me levou para casa. — Faz beicinho.
— Sério? Qual o nome dele? — pergunto curiosa.
— Raymond.
— Um nome diferente e forte. — Ergo uma sobrancelha.
— Sim. Ele é tão lindo! Nunca vi tanta beleza assim antes, toda vez que eu o pegava me olhando muito, eu corava. — Olho surpresa.
— O quê? Você corando com o olhar de um homem? Isso é novo. — Esse cara deve ser bom mesmo.
— Eu sei, isso é muito estranho, jamais me senti assim com homem algum. — Tampa o rosto.
— Acho que isso foi amor à primeira vista. — Ela ri.
— Isso não existe, minha amiga, só você mesmo para pensar nisso. — Revira os olhos.
— Embora o mundo hoje em dia demonstre o contrário, eu acredito sim no amor à primeira vista. Geralmente esse amor é o que fica marcado em nossas vidas para sempre — falo me lembrando de James.
— Eu não acredito. — Dá de ombros.
— Quando você estiver amando alguém, virá até mim só para dizer que eu estou certa.
— Espere sentada. — Se levanta dando um sorriso sarcástico.
— Quando vamos viajar? — Me levanto da cama, Driana olha-me assustada por minha atitude, mas logo vejo um enorme sorriso se formar em seus lábios carnudos; ela corre na minha direção e praticamente pula em cima de mim, me derrubando na cama. — Sua louca, você é pesada, sabia? — falei tentando tirá-la de cima de mim.
— Só não bato em você agora por dizer que sou gorda porque vamos ter nossa primeira viagem juntas e sem ninguém pegando no nosso pé. — Falou já em pé, pulando feito uma boba, e ao mesmo tempo batendo palmas.
— Você não respondeu a minha pergunta. — A lembro.
— Que pergunta? — Me olha confusa.
— Quando vamos viajar? Para quando a viagem está marcada?
— Bom, pelo que a sua mãe me disse, nosso voo sai amanhã bem cedo. — Arregalo os meus olhos.
— Amanhã? Mas tão rápido assim?
— Não me olha assim, seus pais que me disseram isso. — Faz sinal de rendição.
— Agora que estou pensando melhor, meu pai te acha uma louca sem juízo algum. Como ele aceitou que eu viajasse com você para outro país por um tempo indeterminado? — Meu pai gosta muito da Driana, a considera como uma filha, mas a acha muito irresponsável e que, de algum modo, ela possa ser uma má influência para mim. m*l sabe ele que a má influência era eu, quando adolescentes... Óbvio que mudei bastante de uns tempos para cá, mas tive meus motivos.
— Seu pai me ama —diz se jogando no pequeno sofá roxo que enfeita meu quarto.
Meu quarto é todo branco, com uma parede enorme de vidro que me dá uma bela visão do jardim da mansão. A cama king size, sempre com lençóis e travesseiros brancos e roxos, tem do lado um criado-mudo, um abajur e um porta-retrato com uma foto de todos os Coopers juntos. O piso é de madeira, um closet enorme do lado esquerdo do quarto e do lado direito uma porta para o banheiro. As paredes estão cobertas de quadros com desenhos de roupas feitas por mim.
— Vou sentir saudade daqui, Driana — murmuro olhando em volta.
— Eu também vou, Aline, mas precisamos dessa viagem, não é só você que precisa esvaziar a mente... Precisamos correr atrás dos nossos sonhos, viver mais a vida.
— Você filosofando? Vai acontecer o apocalipse. — Driana ri.
— Sua boba, estou falando sério.
— Sim, eu sei. Quem sabe na Genovia eu encontre algo que me ajude muito nessa minha jornada...
Sabe quando você sente que a partir daquele momento sua vida jamais será a mesma? Que tudo que você vai viver dali em diante será intenso e novo? Pois é, eu senti isso nesse exato momento. Tenho a sensação de que a partir do momento em que eu sair dessa mansão, a Aline que todos conheceram não será mais a mesma... Essa sensação foi uma das melhores e mais reconfortantes que já tive depois da morte do James.
****
Deixar lembranças ruins para trás e só levar as boas, é isso que venho repetindo em minha mente desde que saí de casa. Nesse momento, meus pais, o pai de Driana e meus irmãos estão no aeroporto para se despedir de nós; será uma viagem longa, mas que valerá muito a pena, eu sinto isso.
— Eu nem acredito que minha filha vai viajar pela primeira vez, e sozinha! Acho que vou chorar. — Minha mãe diz, escondendo o rosto entre as mãos.
— Nossa menina cresceu, temos de aceitar isso. — Olho para o meu pai.
— Ei, eu ainda estou aqui. — Christian e Theodore riem.
— Oh, minha filha, eu vou sentir tanto a sua falta. — Dona Angel me abraça.
— Eu também, mamãe — falo no seu ouvido.
— Eu também, minha filha. — Escuto Kendrick, pai de Driana, dizer e logo em seguida a abraçar.
Lindsay, sua mãe, não quis vir. Ela me odeia, me culpa pela morte do seu filho e não concordou com a viagem de Driana comigo. Mesmo todos dizendo que não tenho culpa, eu sinto que se James não tivesse entrado na frente, nada disso teria acontecido; era para eu estar morta e ele vivo, junto com a sua família.
A família Miller se desfez de uma forma horrível depois disso, o casamento dos pais de Driana está indo ladeira abaixo e o relacionamento que Driana tinha com sua mãe, que era muito bom, agora se tornou r**m. As duas moram na mesma casa, mas m*l se falam, e tudo isso por minha culpa.
— Para. — Olho para Christian, assustada.
— Parar com o quê?
— De se culpar. — Dessa vez Theodore falou.
— Como sabem que estou fazendo isso?
— Somos irmãos e, ainda trigêmeos! Sentimos isso e também a forma como olha para Driana e Kendrick te entregou.
— Não importa o que digam; de alguma forma, na minha cabeça, quem destruiu essa família fui eu. — Sinto meus irmãos me abraçarem juntos.
— Nós amamos você, e você não tem culpa de nada. — Embora não pareça, Theodore, Christian e eu sempre fomos bem unidos, só nos distanciamos quando James morreu. Eu me fechei para o mundo a minha volta, incluindo a minha família, e só agora percebi o erro que cometi.
— Me desculpem por me isolar. — Me abraçam mais forte e logo depois se afastam um pouco para me olharem.
— Nós te entendemos, Aline, imaginamos como deve ter sido difícil para você lidar com tudo isso. Não podemos julgar, não sabemos o tamanho da sua dor, a única coisa que nós podemos fazer é estar ao seu lado — disse Christian.
— Vocês dois são os melhores irmãos que alguém poderia ter. — Abraço os dois mais uma vez.
— Nós sabemos — falam em uníssono.
— Prometem não fazer nenhuma burrada? — indago olhando para Theodore.
— Por que sinto que isso foi uma indireta? — Christian ri e diz.
— É porque não foi uma indireta, e sim uma direta.
— Hahaha, muito engraçado vocês dois.
— Senhor Cooper, o jato já está pronto para decolar. — Um dos seguranças avisa.
— Está na hora, meninas. Boa viagem para vocês. — Olho para meu pai e, sem me conter, praticamente pulo em cima dele para abraçá-lo. Ele me abraça forte, tirando os meus pés do chão, como sempre fazia quando me abraçava.
— Eu te amo, papai. — Sinto as lágrimas já tomarem conta dos meus olhos.
— Eu também te amo, minha princesa, com todo o meu coração. — Meu pai tem o dom de fazer tudo parecer que vai ficar bem. O seu abraço é igual ao da minha mãe, me transmite paz e me sinto muito protegida.
— Alex, as meninas tem de ir. — Minha mãe falou chamando nossa atenção.
— Às vezes eu ainda acho que você é pequena, quando cresceu tanto? — pergunta para si mesmo.
Saio dos braços do meu pai e, antes de me virar junto com Driana para dentro do jato, me despeço de todos dizendo:
— Até mais, amo vocês.
Saímos do aeroporto John F. Kennedy International Airport às oito horas em ponto, provavelmente quando chegarmos à Genovia já será o final da tarde.
Genovia, ou oficialmente República Parlamentarista da Genovia, é um país que existe desde 1950 e é uma pequena ilha localizada no Oceano Atlântico Norte. Embora seja um país pequeno, é bem desenvolvido e rico. Quando ouvi falar sobre essa pequena ilha eu simplesmente me encantei, comecei a pesquisar sobre ela e fiquei fascinada pela beleza e classe que esse pequeno paraíso exala. Soube também que o responsável pela criação do país foi o rei Eduardo. Ele morreu em 1980, deixando o trono na mão de seu filho, Eduardo II, que morreu de uma doença grave há alguns anos, e passou o trono a seu único filho, não lembro bem o nome. Pelo menos ele morreu sabendo que o seu projeto estava pronto e indo muito bem.
****
Acordo sentindo alguém me cutucar e vejo que é Driana.
— Ei, flor do dia, chegamos — disse ela, já pegando as malas.
— Dormi por quanto tempo? — pergunto retirando o cinto.
— Tempo suficiente para chegarmos aqui. No momento em que sentou nessa poltrona você dormiu, não te acordei para ir ao quarto porque você parecia tranquila.
— Nunca dormi tanto assim, mas acho que foi porque à noite eu m*l consegui pregar os olhos, estava muito ansiosa. — Pego minha mala e, com a ajuda do piloto e do copiloto, saímos do jato.
— Senhorita Cooper e senhorita Miller, há um carro aguardando vocês. — A aeromoça nos avisa.
— Vamos logo, estou louca para ver mais desses homens lindos. — Driana fala não só me fazendo rir, mas também a aeromoça.
Minha mãe havia nos dito que comprou uma casa na capital do país, em um bairro com bastante segurança.
— Sua mãe disse que a casa já está toda mobiliada e com os mantimentos na despensa, ela disse também que contratou uma mulher para nos ajudar na organização da casa. Nesse caso, nós só precisamos nos preocupar em aproveitar esse tempo. — Estávamos dentro do carro, olho pela janela e a primeira impressão que tenho desse lugar é de ser muito acolhedor, aqui parece ser bem tranquilo. Tudo aqui é moderno, mas ao mesmo tempo simples e lindo, estou mais encantada ainda pela Genovia.
Quando o carro passa pelos enormes portões de grade escura, constato que a casa que meus pais haviam comprado não era uma casa, e sim uma mansão, em um bairro onde somente há mansões, umas mais bonitas que as outras.
— Era de se esperar que a casa que meus pais compraram não era uma simples casa, e sim uma mansão de milhões — falo ao entrar na suposta casa.
— Mas devemos admitir, sua mãe tem bom gosto. — Driana tem razão, minha mãe teve um excelente gosto ao escolher essa mansão. Na verdade, tudo que tem o dedo da minha mãe é de bom gosto.
A mansão é enorme, por fora é toda branca, por dentro as cores são variadas, em tons mais escuros, indo do vinho ao preto até chegar na cor mais clara, que é o branco. Os móveis são rústicos e ao mesmo tempo lindos e luxuosos.
— Senhoritas? — Uma senhora surge na sala. Ela está com um uniforme, aparenta ter uns quarenta anos, pele morena e olhos negros, o cabelo preso em um coque perfeito e um sorriso simpático no rosto.
— Olá. — A cumprimentamos.
— Me chamo Norma, sou a pessoa encarregada de ajudá-las com a organização da casa.
— Por favor, não precisa dessas formalidades. Eu sou Aline e ela Driana; minha mãe havia nos avisado sobre a senhora.
— Me chamem de Norma, me sinto mais velha do que já sou quando me chamam assim. — Driana e eu rimos.
— Tudo bem, Norma. — Abro um sorriso simpático.
— Estou fazendo o jantar, em uma hora ele ficará pronto. Só vim me apresentar e perguntar o que gostariam de beber durante o jantar...
— Vinho — disse Driana.
— Sinto informar que o vinho está em falta, é o único item que não tem.
— Deixa que vou comprar, então. — Pego a minha bolsa.
— Quer que eu vá com você? — pergunta Driana.
— Não precisa, quando estávamos vindo avistei um mercado; não é longe, então dá para ir andando. Norma, pode levar as minhas malas para o quarto, peça para um dos seguranças te ajudarem.
— Claro, Aline, e pode andar tranquilamente, por aqui é quieto e seguro. — Me despeço das duas e saio de casa.
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Pelo que percebi, esse é um bairro nos arredores do palácio. Estava tão distraída que acabo esbarrando em alguém, minha bolsa cai e rapidamente me abaixo para pegá-la, mas antes que eu faça isso, a pessoa em quem esbarrei a pegou.
— Desculpe, eu machuquei você? — Uma voz grossa e forte fala. Olho melhor para o dono da voz, ele retira o capuz e quase caio para trás quando o vejo.
Isso não é um homem, é um deus grego.
— Não, eu também estava muito distraída. — Ele sorri.
Nossa, que sorriso lindo.
— Mesmo assim, peço desculpas.
— Tudo bem.
Como pode um homem ser tão lindo assim?
— Me chamo Benjamim. — Estende a mão, eu a pego e, nesse momento, sinto uma sensação estranha, uma eletricidade, um formigamento pelo meu corpo. Rapidamente tiro minha mão do seu toque.
— Me desculpe... Eu... Eu tenho de ir. — Saio o mais rápido possível de lá, indo logo ao mercado.
Enquanto vou ao caixa e p**o pelo vinho, aquele homem me vem à cabeça. A sensação que tive, jamais havia sentido antes.