ALINE COOPER
Às vezes eu queria poder voltar no tempo e, pelo menos, ter tentado salvar James daqueles assaltantes. Só Deus sabe a saudade que sinto, a falta que ele me faz, a dor que sinto ao lembrar que ele deu a vida para me salvar... Já haviam se passado quatro anos desde aquela terrível noite e eu ainda não aceito a ideia de que ele se foi, sendo que havia me prometido sempre ficar ao meu lado; me recuso a acreditar que o grande amor da minha vida havia sido assassinado diante dos meus olhos.
James tinha acabado de me pedir em casamento, não se passaram nem dois minutos e ele foi retirado de mim de uma forma tão brutal e desnecessária... Minha mãe, Angel, e meu pai, Alex, meus irmãos, tios e primos, todos ficaram chocados com tudo que aconteceu. Sempre estiveram do meu lado para me ajudar a superar isso, mas eu não consigo, simplesmente eu não consigo. Entrei em depressão depois disso, tinha sempre pesadelos e só dormia à base dos remédios que o psiquiatra indicou; uma vez tentei me matar, tomando tudo quanto é tipo de remédio, fui parar no hospital e fiquei lá por um mês.
Desde esse dia, dois anos atrás, meus pais tiraram os remédios de mim. Eu queria que eles me entendessem... James foi meu primeiro tudo, primeiro beijo, primeiro amor, primeiro homem e primeiro namorado e estava caminhando para ser meu primeiro e único marido se não tivessem tirado ele de mim; fora também a culpa terrível que sinto, pois ele morreu para me salvar. A mãe dele ficou arrasada e até hoje me culpa pela morte do filho; ela nunca havia gostado de mim e tudo ficou pior depois da morte dele, mas a vida é assim, injusta e c***l, infelizmente.
— Aline, filha, posso entrar? — Escuto minha mãe perguntar do outro lado da porta.
— Sim, mãe — respondo, voltando a me concentrar nos meus desenhos.
Me formei em moda há dois anos e meu sonho sempre foi ser uma grande estilista; minha mãe tem uma boutique que faz muito sucesso em Nova York e tudo com roupas desenhadas por ela. Eu amava ir ver tudo de perto, mas hoje em dia não vejo mais sentido. Sei que deveria tentar seguir em frente, mas é muito difícil. James foi alguém extremamente importante na minha vida, é muito doloroso lembrar de como ele foi morto, do porquê, e me dói até a alma... Eu vi meu namorado morrer em meus braços!
— O jantar já está pronto, minha filha, Rita preparou seu prato favorito — diz ela, se sentando do meu lado.
— Obrigada, mãe, mas não estou com fome — respondo sem olhá-la.
— Mas você ama lasanha.
— Sim, mãe. Só não estou com fome.
— Já é a terceira vez, Aline. Você não comeu nada hoje, minha filha, só fica enfurnada nesse quarto, meu amor.
— Mãe, me deixa sozinha, por favor. — Peço, agora a olhando.
— Não, não vou deixar. Você é minha filha e me preocupo com você, pelo amor de Deus!
— Mãe, por favor, eu não estou bem, quero ficar sozinha.
— Aline Ferreira Cooper, não vou sair desse quarto até termos uma conversa civilizada e normal de mãe e filha como sempre tivemos.
— Não começa, a gente já conversou sobre isso. — E lá vamos nós de novo.
— Eu imagino a dor e a saudade que você tem de James, mas, você não pode parar de viver por causa disso.
— Não estou parando de viver, eu só não quero jantar, será que entende isso, dona Angel Cooper? — Caminho em direção à janela do meu quarto e sinto ela se aproximar.
— Não entendo mesmo. Eu sinto saudade da minha menininha que adorava passar o dia conversando comigo, ou na minha boutique, me ajudando com os meus desenhos. Sinto falta da menininha que amava sair comigo para tudo que era canto, eu sinto saudade da minha filha. — Ela desabafa, e eu digo sem olhá-la.
— Acontece que sua “menininha” cresceu e hoje é uma mulher de vinte e quatro anos.
— Não estou falando nesse sentido e sim de que você, desde a morte de James, se fechou para todos, incluindo a sua família.
— Ninguém nunca vai me entender — murmuro encarando o jardim.
— Eu entendo sim, meu amor. — Sinto seus braços me rodearem.
— Naquela noite, James havia me pedido em casamento. — Solto de uma vez e olho para ela, sentindo as lágrimas descerem. Minha mãe me olha surpresa, porque desse detalhe ela não sabia. Na verdade, ninguém sabia.
— Ele o quê? Mas por que você nunca nos contou isso?
— Não faria diferença, não iria trazê-lo de volta.
— Me desculpa filha, eu não sabia disso, deveria ter nos contado — murmura, me abraçando bem forte.
— Eu o amava e ainda o amo tanto, mãe, que chega doer no meu coração saber que nunca mais vou vê-lo; olhar suas fotos e ver que tudo que vivi com ele agora só são meras lembranças...
— James não iria querer te ver sofrendo desse jeito... Eu sei que jamais poderá esquecê-lo, mas você não deve parar a sua vida por isso. A vida continua e sei que aonde você for, ele sempre estará com você.
— Obrigada, mãe.
— É meu trabalho como supermãe, não é?
— Sim, só a supermãe. — Abro um sorriso discreto.
— Então, filha, promete para mim que tentará superar isso? Não só por mim ou pelo James, mas por você mesma...
— Posso tentar.
— É, já é algum começo.
****
Depois da conversa com a minha mãe eu me senti mais... leve, nunca me senti tão revigorada depois de quatro anos, e como havia dito que iria tentar, nesse momento estou jantando com a minha família depois desses anos e confesso que me sinto bem. Minha mãe não para de sorrir, é visível a sua felicidade em me ver reunida à mesa depois daquela terrível noite.
— Pai, quero aproveitar que estão todos reunidos aqui e dizer uma coisa — diz meu irmão Theodore, chamando nossa atenção.
— Pode falar, filho. — Minha mãe incentiva.
— Bom...como sabem, meu avô quer se aposentar do ramo dos cassinos e queria alguém para assumir seu posto no...
— A resposta é não. — Meu pai diz sério.
— Alex! Você nem o deixou terminar.
— Eu já sei o que ele vai dizer, Angel, e não quero meu filho metido com essas coisas.
— Mas pai, o senhor sempre disse que era para seguirmos nossos sonhos... Meu sonho é assumir os cassinos do meu avô John.
— Sim, eu disse isso, mas parece que você levou ao pé da letra. Christian falou que quer seguir meus passos, porque você não pode ser...
— Igual ao Christian? É sempre assim, o senhor está sempre me comparando com ele pai, mas acontece que não sou ele. Posso me parecer com ele, já que eu, ele e Aline somos trigêmeos, mas querer que eu seja ele já é demais.
— Alex, meu amor, ele está certo, você sempre o está comparando com Christian e isso não se faz.
— Angel, mas...
— Mas nada, assim como Christian e Aline decidiram o que querem ser eu acho que Theodore também tem esse direito. — E essa é minha mãe, sempre a justa e compreensiva.
— Obrigado, mãe.
— Não pense que eu estou de acordo com isso, mocinho. Sabemos que mexer com esse tipo de negócio pode trazer problemas, mas não posso te impedir. Você já é um homem, é formado em Administração, terá meu apoio porque sou sua mãe e meu dever é te orientar a ir pelo caminho certo.
— Eu não concordo. — Meu pai protesta.
— Pai, a mamãe está certa, ele tem direito de escolher o que quer. — Christian se manifesta.
Meus irmãos são lindos, eles se parecem muito com o meu pai, altos, fortes, com o cabelo escuro; Theodore deixou o dele crescer, ficando na altura dos ombros e tem uma barba rala, pele levemente bronzeada, queixo quadrado e peitoral e ombros largos, Christian tem o cabelo curto e barba. Ambos com olhos iguais aos da minha mãe, claros, e já perdi a conta de quantas meninas se aproximaram de mim só para chegar perto deles. Christian sempre foi bem responsável e o mais reservado, digamos que ele é uma versão do lado sério do meu pai. Já Theodore é mais extravagante, nunca ligou muito para a vida alheia e sempre está discutindo com o meu pai. Ele é mais farreiro, sempre fora brincalhão e rodeado de mulheres, e, por incrível que pareça é também bastante responsável; digamos que ele é o lado extrovertido do meu pai. Eu já puxei mais a minha mãe, fico sempre entre ambos, não sou muito séria e nem muito brincalhona, digamos que sou o equilíbrio entre ambos.
— Eu já deixei a minha opinião sobre isso, Theo, sou seu pai e só quero te proteger. — Vejo Theo abrir a boca para dizer algo, mas minha mãe o corta.
— Theo, mais tarde eu e seu pai vamos conversar sobre isso, não é, amor? — indaga a minha mãe, lançando um olhar do tipo “se você não concordar eu te bato”.
— Sim, amor — responde meu pai, se dando por vencido.
— E você, Aline, sabe o que pretende fazer? — pergunta meu irmão Christian.
— Eu ainda não sei.
— Mas você estudou moda, meu amor, não quer abrir seu próprio ateliê como sempre disse que faria? — questiona minha mãe com um certo brilho no olhar.
— Talvez, mas eu ainda não me sinto preparada para isso, eu acho que no momento não seria bom.
— Claro, minha filha, nós te entendemos e eu fico muito feliz de ver você jantando conosco e interagindo também, estou muito orgulhoso. — Meu pai fala e me dá um grande sorriso.
— Obrigada, pai.
— Seu pai e eu estávamos conversando sobre uma possível viagem — murmura minha mãe.
— Uma terceira lua de mel? — pergunta Christian.
— Não. Apesar que a ideia não é nada m*l, mas não é para nós — explica meu pai.
— Então é para quem? — Dessa vez quem pergunta é Theodore.
— Para Aline. — Olho assustada para eles.
— Eu? Viagem para onde?
— Genovia. Sempre soubemos que era seu sonho visitar lá, então resolvemos te dar essa viagem de presente — diz meu pai.
— Fora também que vai lhe fazer muito bem ficar um tempo longe daqui — acrescenta minha mãe.
— Espera, vocês decidiram isso sem ao menos me consultar antes?
— Claro que não, Aline, estamos te dando essa viagem de presente de formatura, seus irmãos ganharam e nada mais justo você ganhar também — explica meu pai.
— Mas eu me formei há quase dois anos, está um pouco tarde para isso...
— Na época não falamos nada porque você ainda estava em fase de luto, mas agora, vendo você comendo conosco, eu não vejo motivo para não fazer essa viagem.
— Mãe, eu não sei se estou...
— Filha, por favor, você disse que tentaria melhorar por você mesma.
— Sim, mãe, mas uma viagem? Olha, eu sei que vocês têm feito de tudo para me ver melhor e eu agradeço muito, mas não posso aceitar essa viagem — digo já me levantando da mesa.
— Aline, aonde você vai? — Meu pai pergunta.
— Para o meu quarto, perdi a fome. — Saio sem me importar com os meus pais me chamando.
Eu sei que pode parecer ignorância minha, mas eu não posso aceitar pelo simples fato de não querer sair deste lugar. Aqui é onde tenho várias lembranças de James e eu não quero deixá-las nunca. James sempre foi e sempre será o homem da minha vida e nada e nem ninguém mudará isso.