CAPÍTULO 03

2493 Words
BENJAMIN NIKOLAI Ao chegar ao palácio, vou direto para o meu quarto e me jogo na cama para pensar em tudo que aconteceu comigo quando esbarrei naquela mulher linda. E os olhos dela... São lindos e hipnotizantes! Seu toque me causou coisas que jamais havia sentido por uma mulher, foi muito estranho e ao mesmo tempo bom e, pelo que percebi, ela sentiu o mesmo, pois praticamente saiu correndo, deixando seu celular para trás. Peguei o seu celular e vi que o papel de parede do aparelho é ela e mais dois homens que são idênticos, devem ser gêmeos. Nunca fui um homem de me apegar ou ter relacionamentos, tais pensamentos nunca passaram pela minha cabeça; não por eu ser mulherengo, e sim porque não achei alguém que me fizesse mudá-los. — Benjamin! — Escuto minha tia gritar ao entrar no meu quarto, já sei que vem bronca. — Oi tia, estou bem e a senhora, como está? — ironizo ao me levantar para encarar uma Christa nada feliz. — Não me venha com essa. Onde você estava, menino? — Fui dar uma volta. — Seu olhar é mortífero. — Dar uma volta?! Benjamin, você é rei de um país! Não pode sair sem a guarda real. — E lá vamos nós de novo. — Detesto ser vigiado, e eu só fui dar uma volta pelas redondezas do palácio, não fui muito longe. — Vou até o meu closet para pegar uma cueca box. — Mesmo assim. Odeio quando sai sem a guarda e muito menos sem avisar, sabe que te tenho como filho e vejo vários líderes de países sofrerem atentados, e eu... — Tia, eu também a tenho como uma mãe, mas acontece que, às vezes, isso tudo se torna sufocante. — Me aproximo dela. Minha mãe morreu quando nasci; fui criado pelo meu pai, Eduardo II, e meus tios, que viviam aqui no palácio. Minha tia perdeu seu marido em um acidente de carro há seis anos e um ano depois meu pai veio a falecer por conta de um tumor muito avançado que ele tinha e jamais nos contou; só descobrimos no dia de sua morte. Foram perdas muito grandes e que juntos, minha tia, meu primo Raymond e eu, conseguimos superar e seguir em frente; a única coisa que prevalecia era a saudade e boas lembranças. — Da próxima vez que sair me avise, e deixe alguns dos guardas te acompanhar, nem que seja de longe, tudo bem? — Tenho escolha? — Sabe que não — disse sorrindo e eu, sem me conter, sorri também. — Tudo bem, Dona Christa, vou fazer o que me pediu. — Celular novo? — Se referiu ao celular da moça em quem esbarrei mais cedo, que ainda estava em minhas mãos. — Não. — Então? — Hoje mais cedo esbarrei em uma moça, ela deixou a bolsa cair, eu recolhi suas coisas e coloquei na bolsa, mas ela foi embora tão rapidamente que nem percebeu que havia deixado o celular no chão. — Ela falou o nome? — Não, eu me apresentei, mas ela não, m*l conseguia falar. Acho que nem daqui ela é, o sotaque era diferente e todos sabem que eu sou o rei. Ela teria me reconhecido se fosse deste país... — Pego o seu celular para olhar a foto do papel de parede mais uma vez, focando somente nela. — Aline Cooper. — O quê? — O nome dela — murmura naturalmente, olhando para a foto. — Como sabe disso? — A família dela é muito importante e conhecida no ramo de arquitetura nos Estados Unidos, e até mesmo fora. Ela é filha de Angel e Alex Cooper, se não me engano. Esses dois rapazes na foto são irmãos dela, eles são trigêmeos. — Olho surpreso para minha tia. — Nossa, isso explica porque ela parece tanto com os dois. Já ouvi falar dessa família, só nunca tinha visto ninguém dela. — Essa menina é muito bonita. — Olho para a foto mais uma vez. — Sim, ela é, os olhos dela são de um azul tão lindo! — Minha tia abre um sorriso. — Vejo que gostou dela. — Não comece, tia. — Ela ri. — O que será que ela veio fazer em Genovia? — Muda de assunto. — Não sei, mas tenho de arrumar um jeito de devolver o celular dela. — Veja na lista telefônica dela, talvez tenha algum número que você possa contatá-la. Está desbloqueado, pelo que percebi. — Não vou vasculhar o celular de uma mulher, isso é invasão de privacidade. — Se quer vê-la de novo, terá de fazer isso. — Ergo uma sobrancelha. — Por que senti um duplo sentido na sua frase? — Ela me olha com a maior cara de inocente. — Você que está ouvindo demais. Agora, se me der licença, vou ao meu quarto para ler um pouco. — Fica na ponta dos pés para beijar a minha bochecha e logo em seguida sai. Coloco o celular em cima da cama e vou ao banheiro tomar um banho. **** Ao sair do banho e colocar uma roupa, trato logo de ligar para Trevor, um amigo que pode me ajudar nesse caso. Peço para ele localizar Aline Cooper e meu amigo pede para eu aguardar uma hora; é o tempo para me dizer se achou ou não. Enquanto aguardo, pego o celular dela e, quando dou por mim, estou acessando a galeria e começo a ver suas fotos. Acabo parando em uma na qual o foco é seu rosto; seu sorriso é lindo e o brilho que seus olhos transmitem é hipnotizante. Não sei por quanto tempo fiquei olhando para essa foto, mas sou interrompido quando Ava, uma das empregadas do palácio, avisa que o jantar será servido; digo que já vou descer e que assim que estiver pronto pode servir. Logo escuto o meu celular tocar e vejo que se trata de Trevor, ele me diz que ela havia chegado hoje em Genovia e que estava em uma mansão próxima ao Palácio Real de Pyrus , me passa o endereço e eu agradeço. Desligo o celular em seguida e fico ponderando se somente mando alguém entregar em suas mãos ou se eu mesmo devo fazer isso. Até que vê-la de novo não seria uma má ideia. Antes mesmo que eu perceba, já estou pedindo para um dos motoristas preparar um carro para mim e mais um de escolta, para ficar de longe. Saio do palácio e vou direto para o carro que me aguarda na saída. Vou ver novamente aqueles lindos olhos azuis hipnotizantes. ALINE COOPER Jogo praticamente tudo de dentro da minha bolsa em cima da minha cama e nada, meu celular sumiu ou deve ter ficado no chão quando eu esbarrei naquele estranho. “Ou ele roubou” ... — Penso. Não! Pare com isso, ele não parecia ser um ladrão. Embora estivesse vestido de calça e casaco com capuz, ele tinha boa aparência e me ajudou a pegar minhas coisas que caíram no chão; definitivamente aquele homem não me roubou. Aqueles olhos. Só em pensar nesse cara que logo sinto meu corpo todo se arrepiar. É estranho, jamais fiquei desse jeito por causa de um homem e menos ainda por um desconhecido. O toque dele foi algo inexplicável e intenso, algo que nunca havia sentido, e aqueles olhos, aquele sorriso em meio àquela barba loira bem-feita... Não vão sair da minha cabeça tão cedo. — Ainda não achou o celular? — pergunta Driana ao entrar no meu quarto. — Não, com certeza deve ter ficado no chão. — Pego as coisas que joguei na cama e recoloco na bolsa. — Então vamos voltar para ver se ficou por lá. Você disse que é bem perto daqui. — Está louca? É tarde e obviamente alguém passou por lá e pegou o meu celular. Amanhã vou em uma loja e compro outro. — Me jogo na cama depois de guardar tudo. — E esse cara que você esbarrou? Será que ele... — Para ser sincera, eu não sei. Se ele quisesse me roubar, teria levado tudo, incluindo a minha carteira, não só um celular. E ele não parecia ser um ladrão, me falou até seu nome. Benjamin. — Aline, tem uma pessoa querendo vê-la — avisa Norma, entrando no quarto. — Me ver? Se identificou? — Acho melhor você ir lá baixo ver. — A expressão de Norma é bem estranha, ela parece nervosa e surpresa com algo. Driana e eu saímos do meu quarto praticamente correndo para saber quem é essa pessoa. Quando chegamos no final das escadas vimos um homem de costas, alto, vestido de calça jeans e jaqueta de couro. Sinto um arrepio pelo meu corpo, mas assim que o homem se vira, sinto minha respiração falhar e meus olhos se arregalarem. — Benjamin. — Ele sorri e se aproxima. Puta merda! Que sorriso é esse! Olho para Driana, que está boquiaberta olhando para ele. — Aline, é um prazer revê-la. — Seu sorriso se abre mais e eu quase derreto. — Vossa Majestade, deseja algo? — pergunta Norma ao meu lado. Majestade? — Não, muito obrigado. — Norma sorri nervosamente e se retira. — Vossa Majestade? Como assim? — Driana tirou as palavras da minha boca. — Sou Benjamin Eduardo Nikolai Dostoiévski Petrov III, rei de Genovia. — Agora é minha vez de ficar boquiaberta. Ele é um rei! — Nossa, eu pensava que o rei era mais velho — comenta Driana. — Devo levar isso como um elogio. — E mais uma vez ele sorri, só que dessa vez, me olhando bem nos olhos. Não me olhe assim. — Bom, mas entre, fique à vontade, Majestade. — Olho para Driana, entrevendo um sorriso malicioso em seus lábios. — Não será necessário e, por favor, me chamem de Benjamin. — Claro, Benjamin, mas assim como eu, minha amiga deve estar se perguntando o que você está fazendo aqui? — Percebo que Driana está olhando maliciosamente para Benjamin. — Bom, mais cedo eu esbarrei na sua amiga e ela acabou deixando o celular cair e eu vim trazê-lo. — Estende o celular para eu pegar, mas nesse momento nossas mãos se tocam e aquela eletricidade vem junto, ainda mais forte do que mais cedo. Rapidamente recolho minha mão. — Muito obrigada. — Sorrio sem graça. — Disponha. — Ficamos por alguns segundos em silêncio, olhando um para o outro, eu engulo em seco, sentindo minhas bochechas ruborizarem. O olhar desse homem é muito intenso e intimidador. — Preciso terminar de arrumar minhas coisas, vou deixá-los sozinhos, com licença. — Quando vou protestar, Driana logo se vira e sai rapidamente, subindo as escadas. Vaca! — Sua amiga é muito simpática — fala de repente. — Sim, ela é. — Desvio o olhar. — Eu estou te incomodando? — Não, é só que... Bem... Como descobriu o meu endereço? — Mudo de assunto. — Tenho contatos. Sempre consigo o que quero, senhorita Cooper. — Parece que não descobriu só o meu endereço. — Ele riu. — Precisava te entregar seu celular e a senhorita é de uma família bem conhecida, foi fácil achá-la. — Olho para o meu celular e percebo que ele está desbloqueado. Será que ele... — Seu celular já estava desbloqueado quando o deixou no chão, eu não mexi — responde minha pergunta interna. — Tem certeza que não deseja nada? Algo para beber ou... — A única coisa que desejo é que saia comigo amanhã à noite. — Arregalo os meus olhos. — O quê? — Quero que saia comigo amanhã à noite, passo aqui às vinte horas. — Ele se vira para sair e eu me apresso em dizer. — Como pode dizer que quer sair comigo e nem sequer perguntar se eu aceito? — Sorriu. — Perguntou o que eu desejo. — Sim, mas eu... — Não vou te morder ou fazer nada demais, só quero que saia comigo amanhã à noite. — Por quê? Nem nos conhecemos. Sei que você é um rei, mas... — Me assusto quando ele leva uma de suas mãos até o meu rosto e coloca fios do meu cabelo atrás da minha orelha, tudo isso olhando nos meus olhos. Sem dizer mais nada se vira e sai, me deixando igual uma i****a perto da porta. — Ei, ele já foi? — indaga Driana, parando do meu lado. — Sim. — Me viro para sair e ela me segura pelo braço. — O que aconteceu? Você está estranha. — Não é nada... Vamos jantar? Estou morrendo de fome. — Mais uma vez ela me segura. — Sabe que é uma péssima mentirosa. — Me dou por vencida e começo a falar. — Ele me chamou para sair amanhã à noite. — Assusto-me quando Driana dá um grito, pulando feito uma louca. — O rei da Genovia te chama para sair e você fica com essa cara de quem comeu e não gostou? — Não é porque ele é um rei que sou obrigada a sair com ele... — Dessa vez consigo me afastar, mas ela vem atrás de mim. — Você disse que viria para cá para se distrair. — Sim, mas não esse tipo de distração. — Vou até a sala de jantar e vejo a mesa posta. — Aline, não custa nada. — Não vou e ponto final. — Me sento à mesa e ela faz o mesmo, se sentando de frente para mim. — Você vai sim porque amanhã à noite vou sair, também tenho um encontro. — Olho para ela, surpresa. — Estamos aqui só a algumas horas e já tem um encontro? Como conseguiu se nem de casa você saiu? — Ela ri. — Lembra daquele cara da boate que eu tinha falado? — Sim, Raymond, não é? — Isso mesmo. Hoje, quando você saiu, ele me ligou, se desculpou por não ter ligado antes, disse que estava muito atarefado com o trabalho e, no meio da conversa, disse que estava na Genovia e eu falei que também estava. Marcamos de sair amanhã à noite e dei o nosso endereço a ele. Sete e meia da noite ele estará aqui. — Pega o vinho e se serve, quase enchendo a taça de cristal. — Você pode até sair amanhã, mas eu não. m*l conheço esse cara. — Deixa de ser chata. Pelo menos uma vez nesses quatro anos, se dê uma chance. — Uma chance? Olha, ele só me chamou para sair, não vai querer algo sério comigo. — E mesmo se quisesse, eu não ia querer. — Então não custa nada sair com ele amanhã. — Custa muita coisa — digo me lembrando de James. — Eu sei que sente falta do meu irmão, Aline, mas acontece que a vida continua. Você não o estará traindo se sair com Benjamin. — Você não entende? Eu nunca tive outro homem em minha vida a não ser James, sair com outro vai ser muito estranho. Ainda amo muito ele. — Respiro fundo para não começar a chorar. — Vamos mudar de assunto. Viemos para cá para nos distrair e esquecer um pouco dessa tristeza, não ficar lembrando dela, certo? — Certo. — Só me responde uma coisa. — Sim. — Benjamin te causa sensações estranhas? — Automaticamente fico vermelha e eu nem preciso dizer nada, Driana já entendeu. — Eu não acho certo — falo de repente. — E eu não acho certo com você. — Se eu sair com ele, não vou estar cometendo algum erro? — Estará cometendo um erro se não sair com ele — bufo, me sentindo derrotada. — Está bem, mas só será dessa vez. — Vejo um enorme sorriso se formar em seus lábios. — Algo me diz que você não vai se arrepender. — Começo a rir. — Prevendo o futuro agora? — Pego o vinho e me sirvo. — Só intuição mesmo — diz ela, colocando um pedaço de carne na boca. Espero mesmo não me arrepender.
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