BENJAMIN NIKOLAI
Ao chegar ao palácio, vou direto para o meu quarto e me jogo na cama para pensar em tudo que aconteceu comigo quando esbarrei naquela mulher linda.
E os olhos dela...
São lindos e hipnotizantes! Seu toque me causou coisas que jamais havia sentido por uma mulher, foi muito estranho e ao mesmo tempo bom e, pelo que percebi, ela sentiu o mesmo, pois praticamente saiu correndo, deixando seu celular para trás. Peguei o seu celular e vi que o papel de parede do aparelho é ela e mais dois homens que são idênticos, devem ser gêmeos.
Nunca fui um homem de me apegar ou ter relacionamentos, tais pensamentos nunca passaram pela minha cabeça; não por eu ser mulherengo, e sim porque não achei alguém que me fizesse mudá-los.
— Benjamin! — Escuto minha tia gritar ao entrar no meu quarto, já sei que vem bronca.
— Oi tia, estou bem e a senhora, como está? — ironizo ao me levantar para encarar uma Christa nada feliz.
— Não me venha com essa. Onde você estava, menino?
— Fui dar uma volta. — Seu olhar é mortífero.
— Dar uma volta?! Benjamin, você é rei de um país! Não pode sair sem a guarda real. — E lá vamos nós de novo.
— Detesto ser vigiado, e eu só fui dar uma volta pelas redondezas do palácio, não fui muito longe. — Vou até o meu closet para pegar uma cueca box.
— Mesmo assim. Odeio quando sai sem a guarda e muito menos sem avisar, sabe que te tenho como filho e vejo vários líderes de países sofrerem atentados, e eu...
— Tia, eu também a tenho como uma mãe, mas acontece que, às vezes, isso tudo se torna sufocante. — Me aproximo dela.
Minha mãe morreu quando nasci; fui criado pelo meu pai, Eduardo II, e meus tios, que viviam aqui no palácio. Minha tia perdeu seu marido em um acidente de carro há seis anos e um ano depois meu pai veio a falecer por conta de um tumor muito avançado que ele tinha e jamais nos contou; só descobrimos no dia de sua morte. Foram perdas muito grandes e que juntos, minha tia, meu primo Raymond e eu, conseguimos superar e seguir em frente; a única coisa que prevalecia era a saudade e boas lembranças.
— Da próxima vez que sair me avise, e deixe alguns dos guardas te acompanhar, nem que seja de longe, tudo bem?
— Tenho escolha?
— Sabe que não — disse sorrindo e eu, sem me conter, sorri também.
— Tudo bem, Dona Christa, vou fazer o que me pediu.
— Celular novo? — Se referiu ao celular da moça em quem esbarrei mais cedo, que ainda estava em minhas mãos.
— Não.
— Então?
— Hoje mais cedo esbarrei em uma moça, ela deixou a bolsa cair, eu recolhi suas coisas e coloquei na bolsa, mas ela foi embora tão rapidamente que nem percebeu que havia deixado o celular no chão.
— Ela falou o nome?
— Não, eu me apresentei, mas ela não, m*l conseguia falar. Acho que nem daqui ela é, o sotaque era diferente e todos sabem que eu sou o rei. Ela teria me reconhecido se fosse deste país... — Pego o seu celular para olhar a foto do papel de parede mais uma vez, focando somente nela.
— Aline Cooper.
— O quê?
— O nome dela — murmura naturalmente, olhando para a foto.
— Como sabe disso?
— A família dela é muito importante e conhecida no ramo de arquitetura nos Estados Unidos, e até mesmo fora. Ela é filha de Angel e Alex Cooper, se não me engano. Esses dois rapazes na foto são irmãos dela, eles são trigêmeos. — Olho surpreso para minha tia.
— Nossa, isso explica porque ela parece tanto com os dois. Já ouvi falar dessa família, só nunca tinha visto ninguém dela.
— Essa menina é muito bonita. — Olho para a foto mais uma vez.
— Sim, ela é, os olhos dela são de um azul tão lindo! — Minha tia abre um sorriso.
— Vejo que gostou dela.
— Não comece, tia. — Ela ri.
— O que será que ela veio fazer em Genovia? — Muda de assunto.
— Não sei, mas tenho de arrumar um jeito de devolver o celular dela.
— Veja na lista telefônica dela, talvez tenha algum número que você possa contatá-la. Está desbloqueado, pelo que percebi.
— Não vou vasculhar o celular de uma mulher, isso é invasão de privacidade.
— Se quer vê-la de novo, terá de fazer isso. — Ergo uma sobrancelha.
— Por que senti um duplo sentido na sua frase? — Ela me olha com a maior cara de inocente.
— Você que está ouvindo demais. Agora, se me der licença, vou ao meu quarto para ler um pouco. — Fica na ponta dos pés para beijar a minha bochecha e logo em seguida sai. Coloco o celular em cima da cama e vou ao banheiro tomar um banho.
****
Ao sair do banho e colocar uma roupa, trato logo de ligar para Trevor, um amigo que pode me ajudar nesse caso. Peço para ele localizar Aline Cooper e meu amigo pede para eu aguardar uma hora; é o tempo para me dizer se achou ou não. Enquanto aguardo, pego o celular dela e, quando dou por mim, estou acessando a galeria e começo a ver suas fotos. Acabo parando em uma na qual o foco é seu rosto; seu sorriso é lindo e o brilho que seus olhos transmitem é hipnotizante.
Não sei por quanto tempo fiquei olhando para essa foto, mas sou interrompido quando Ava, uma das empregadas do palácio, avisa que o jantar será servido; digo que já vou descer e que assim que estiver pronto pode servir. Logo escuto o meu celular tocar e vejo que se trata de Trevor, ele me diz que ela havia chegado hoje em Genovia e que estava em uma mansão próxima ao Palácio Real de Pyrus , me passa o endereço e eu agradeço. Desligo o celular em seguida e fico ponderando se somente mando alguém entregar em suas mãos ou se eu mesmo devo fazer isso.
Até que vê-la de novo não seria uma má ideia.
Antes mesmo que eu perceba, já estou pedindo para um dos motoristas preparar um carro para mim e mais um de escolta, para ficar de longe. Saio do palácio e vou direto para o carro que me aguarda na saída.
Vou ver novamente aqueles lindos olhos azuis hipnotizantes.
ALINE COOPER
Jogo praticamente tudo de dentro da minha bolsa em cima da minha cama e nada, meu celular sumiu ou deve ter ficado no chão quando eu esbarrei naquele estranho.
“Ou ele roubou” ... — Penso.
Não! Pare com isso, ele não parecia ser um ladrão. Embora estivesse vestido de calça e casaco com capuz, ele tinha boa aparência e me ajudou a pegar minhas coisas que caíram no chão; definitivamente aquele homem não me roubou.
Aqueles olhos.
Só em pensar nesse cara que logo sinto meu corpo todo se arrepiar. É estranho, jamais fiquei desse jeito por causa de um homem e menos ainda por um desconhecido. O toque dele foi algo inexplicável e intenso, algo que nunca havia sentido, e aqueles olhos, aquele sorriso em meio àquela barba loira bem-feita... Não vão sair da minha cabeça tão cedo.
— Ainda não achou o celular? — pergunta Driana ao entrar no meu quarto.
— Não, com certeza deve ter ficado no chão. — Pego as coisas que joguei na cama e recoloco na bolsa.
— Então vamos voltar para ver se ficou por lá. Você disse que é bem perto daqui.
— Está louca? É tarde e obviamente alguém passou por lá e pegou o meu celular. Amanhã vou em uma loja e compro outro. — Me jogo na cama depois de guardar tudo.
— E esse cara que você esbarrou? Será que ele...
— Para ser sincera, eu não sei. Se ele quisesse me roubar, teria levado tudo, incluindo a minha carteira, não só um celular. E ele não parecia ser um ladrão, me falou até seu nome.
Benjamin.
— Aline, tem uma pessoa querendo vê-la — avisa Norma, entrando no quarto.
— Me ver? Se identificou?
— Acho melhor você ir lá baixo ver. — A expressão de Norma é bem estranha, ela parece nervosa e surpresa com algo.
Driana e eu saímos do meu quarto praticamente correndo para saber quem é essa pessoa. Quando chegamos no final das escadas vimos um homem de costas, alto, vestido de calça jeans e jaqueta de couro. Sinto um arrepio pelo meu corpo, mas assim que o homem se vira, sinto minha respiração falhar e meus olhos se arregalarem.
— Benjamin. — Ele sorri e se aproxima.
Puta merda! Que sorriso é esse!
Olho para Driana, que está boquiaberta olhando para ele.
— Aline, é um prazer revê-la. — Seu sorriso se abre mais e eu quase derreto.
— Vossa Majestade, deseja algo? — pergunta Norma ao meu lado.
Majestade?
— Não, muito obrigado. — Norma sorri nervosamente e se retira.
— Vossa Majestade? Como assim? — Driana tirou as palavras da minha boca.
— Sou Benjamin Eduardo Nikolai Dostoiévski Petrov III, rei de Genovia. — Agora é minha vez de ficar boquiaberta.
Ele é um rei!
— Nossa, eu pensava que o rei era mais velho — comenta Driana.
— Devo levar isso como um elogio. — E mais uma vez ele sorri, só que dessa vez, me olhando bem nos olhos.
Não me olhe assim.
— Bom, mas entre, fique à vontade, Majestade. — Olho para Driana, entrevendo um sorriso malicioso em seus lábios.
— Não será necessário e, por favor, me chamem de Benjamin.
— Claro, Benjamin, mas assim como eu, minha amiga deve estar se perguntando o que você está fazendo aqui? — Percebo que Driana está olhando maliciosamente para Benjamin.
— Bom, mais cedo eu esbarrei na sua amiga e ela acabou deixando o celular cair e eu vim trazê-lo. — Estende o celular para eu pegar, mas nesse momento nossas mãos se tocam e aquela eletricidade vem junto, ainda mais forte do que mais cedo. Rapidamente recolho minha mão.
— Muito obrigada. — Sorrio sem graça.
— Disponha. — Ficamos por alguns segundos em silêncio, olhando um para o outro, eu engulo em seco, sentindo minhas bochechas ruborizarem. O olhar desse homem é muito intenso e intimidador.
— Preciso terminar de arrumar minhas coisas, vou deixá-los sozinhos, com licença. — Quando vou protestar, Driana logo se vira e sai rapidamente, subindo as escadas.
Vaca!
— Sua amiga é muito simpática — fala de repente.
— Sim, ela é. — Desvio o olhar.
— Eu estou te incomodando?
— Não, é só que... Bem... Como descobriu o meu endereço? — Mudo de assunto.
— Tenho contatos. Sempre consigo o que quero, senhorita Cooper.
— Parece que não descobriu só o meu endereço. — Ele riu.
— Precisava te entregar seu celular e a senhorita é de uma família bem conhecida, foi fácil achá-la. — Olho para o meu celular e percebo que ele está desbloqueado.
Será que ele...
— Seu celular já estava desbloqueado quando o deixou no chão, eu não mexi — responde minha pergunta interna.
— Tem certeza que não deseja nada? Algo para beber ou...
— A única coisa que desejo é que saia comigo amanhã à noite. — Arregalo os meus olhos.
— O quê?
— Quero que saia comigo amanhã à noite, passo aqui às vinte horas. — Ele se vira para sair e eu me apresso em dizer.
— Como pode dizer que quer sair comigo e nem sequer perguntar se eu aceito? — Sorriu.
— Perguntou o que eu desejo.
— Sim, mas eu...
— Não vou te morder ou fazer nada demais, só quero que saia comigo amanhã à noite.
— Por quê? Nem nos conhecemos. Sei que você é um rei, mas... — Me assusto quando ele leva uma de suas mãos até o meu rosto e coloca fios do meu cabelo atrás da minha orelha, tudo isso olhando nos meus olhos. Sem dizer mais nada se vira e sai, me deixando igual uma i****a perto da porta.
— Ei, ele já foi? — indaga Driana, parando do meu lado.
— Sim. — Me viro para sair e ela me segura pelo braço.
— O que aconteceu? Você está estranha.
— Não é nada... Vamos jantar? Estou morrendo de fome. — Mais uma vez ela me segura.
— Sabe que é uma péssima mentirosa. — Me dou por vencida e começo a falar.
— Ele me chamou para sair amanhã à noite. — Assusto-me quando Driana dá um grito, pulando feito uma louca.
— O rei da Genovia te chama para sair e você fica com essa cara de quem comeu e não gostou?
— Não é porque ele é um rei que sou obrigada a sair com ele... — Dessa vez consigo me afastar, mas ela vem atrás de mim.
— Você disse que viria para cá para se distrair.
— Sim, mas não esse tipo de distração. — Vou até a sala de jantar e vejo a mesa posta.
— Aline, não custa nada.
— Não vou e ponto final. — Me sento à mesa e ela faz o mesmo, se sentando de frente para mim.
— Você vai sim porque amanhã à noite vou sair, também tenho um encontro. — Olho para ela, surpresa.
— Estamos aqui só a algumas horas e já tem um encontro? Como conseguiu se nem de casa você saiu? — Ela ri.
— Lembra daquele cara da boate que eu tinha falado?
— Sim, Raymond, não é?
— Isso mesmo. Hoje, quando você saiu, ele me ligou, se desculpou por não ter ligado antes, disse que estava muito atarefado com o trabalho e, no meio da conversa, disse que estava na Genovia e eu falei que também estava. Marcamos de sair amanhã à noite e dei o nosso endereço a ele. Sete e meia da noite ele estará aqui. — Pega o vinho e se serve, quase enchendo a taça de cristal.
— Você pode até sair amanhã, mas eu não. m*l conheço esse cara.
— Deixa de ser chata. Pelo menos uma vez nesses quatro anos, se dê uma chance.
— Uma chance? Olha, ele só me chamou para sair, não vai querer algo sério comigo. — E mesmo se quisesse, eu não ia querer.
— Então não custa nada sair com ele amanhã.
— Custa muita coisa — digo me lembrando de James.
— Eu sei que sente falta do meu irmão, Aline, mas acontece que a vida continua. Você não o estará traindo se sair com Benjamin.
— Você não entende? Eu nunca tive outro homem em minha vida a não ser James, sair com outro vai ser muito estranho. Ainda amo muito ele. — Respiro fundo para não começar a chorar.
— Vamos mudar de assunto. Viemos para cá para nos distrair e esquecer um pouco dessa tristeza, não ficar lembrando dela, certo?
— Certo.
— Só me responde uma coisa.
— Sim.
— Benjamin te causa sensações estranhas? — Automaticamente fico vermelha e eu nem preciso dizer nada, Driana já entendeu.
— Eu não acho certo — falo de repente.
— E eu não acho certo com você.
— Se eu sair com ele, não vou estar cometendo algum erro?
— Estará cometendo um erro se não sair com ele — bufo, me sentindo derrotada.
— Está bem, mas só será dessa vez. — Vejo um enorme sorriso se formar em seus lábios.
— Algo me diz que você não vai se arrepender. — Começo a rir.
— Prevendo o futuro agora? — Pego o vinho e me sirvo.
— Só intuição mesmo — diz ela, colocando um pedaço de carne na boca.
Espero mesmo não me arrepender.