Emilly
Alisei, afagando o cachorro que apareceu nas minhas terras após termos retornado do banco.
Entardeceu, olhava para a fazenda suspirando em paz depois de muito pesar. Sendo agraciada pela brisa suave em meu rosto contente.
Sentada na grama junto do meu novo amiguinho, divagava nos meus pensamentos.
Antes de sair do banco, fiz os pagamentos dos antigos empregados, depositando o dinheiro nas suas contas que tenho guardado no antigo bloco de anotações de Ulisses.
Paguei os sete homens, desde os salários atrasados até os fins recisorios trabalhistas. Como prometido. Além disso dei nas mãos de Cris, Jorna e Crivilan, meu fiel escudeiro; os seus devidos pagamentos, e um bônus por causa do atraso. Eles se fizeram de difícil, porém minhas palavras persuasivas fizeram efeito, sendo assim acabaram aceitando de bom grado.
Eles merecem.
Amanhã, Crivilan irá na prefeitura, fazer os pagamentos dos impostos, a tempo deles mudarem de atitude e não quererem forçar que assine alguma hipoteca referente a fazenda.
Fazendo aumentar a dívida dela.
Agora não mais.
Observei o dia se acabando, se findando, mais um dia indo-se, às nuances do céu, várias tonalidades; azul, cinza, uns riscos de nuvens brancas salpicadas separadamente, o sol se pondo... lentamente. Uma pintura, digna de um excelentíssimo pintor.
Recolhi a mão que acariciava o Totó, notando que adormecerá aos meus carinhos acolhedores.
Continuei mirando este céu, às luzes naturais se diminuindo pouco a pouco.
Acendi o lampião do meu lado, adorando ver a paisagem.
Ulisses meu amor, ajude-me nessa empreitada...
Se tudo de certo, não iremos mais acumular tanta dívida, e haverá sempre a prosperidade, essa que sempre tivemos...
— Prevejo muito mais a frente.
Moisés apareceu, sentando bem-humorado... como de sempre ao meu lado... Indaguei isso em meus pensamentos aleatórios.
— Por acaso lestes a mente?
Sorri pela sua inspeção na minha pessoa.
— Por que pensas isso? Não entendi.
— Ora essa. — Falei puramente absorta pela sua voz intrigada.
Ainda permanecia animada olhando o dia virar noite. Contemplando a magia do anoitecer.
De soslaio percebe-o me vigiando, analisando-me, fitando a minha face com bastante atenção.
Ao invés de ficar incomodada, me senti plena, embora não fosse o certo sentir-me desta forma.
— Poderias ao menos parar de tanto me olhar?
— Não. — Declarou baixinho.
E quando menos esperava pegou pela ponta uma madeixa de cabelo e o carregou devagarinho às suas narinas, respirou fundo, o som dele inalando o perfume dos fios, fizeram-me ter sensações indescritíveis para se dizer.
Eu não me permiti selar os olhos naquele momento emocionante, pois desejava ver a noite chegar, no entanto no meu íntimo, no meu interior, no profundo do meu ser, eu definitivamente estremeci... por inteira.
— O que queres de mim... — Balbuciei atropelando as palavras.
Moisés desceu a mão soltando aquele chumaço de cabelo nas minhas costas.
— Perdoe-me, és difícil não admirá-la. Tens a graça harmoniosa de um anjo, a força de uma guerreira e a beleza inatingível.
Extasiada fiquei, entretanto esse entusiamo guardei no meu coração.
Não deixando transparecer nada no meu semblante.
Ele se remexeu inquieto, parecia querer saber algo, sobretudo se encontrava perdido ou tímido em me perguntar.
— Posso questioná-la sobre uma...
— Diga-me.
Incentivei.
Moisés buscando coragem... Incrível isso, tenho que admitir, um homem como ele...
— Dona Tonson gostaria de saber se o tal xerife possui intenções matrimoniais contigo? — Interrogou de supetão.
O olhei possessa.
— Onde quer chegar com essa pergunta invasiva, Sr. Whetson?!
Falei levantando raivosamente do gramado, ele me acompanhou, todo calmo. O olhar doce se manifestou mas não amoleceu o meu coração.
— Responda-me. Eu lhe rogo. — Enunciou devagar.
Como não respondi buscou minhas mãos, afastei-as bruscamente, respirando agitada por esse atrevimento.
Moisés congelou, às mãos solitárias na tentativa frustrada de me tocar. Em seguida empertigou-se, ficando maior do que era, olhando-me mais profundamente do que jamais havia olhado. E vi nas dimensões dos seus olhos esverdeados uma desilusão.
Essa era a palavra correta.
A noite nublou o que jas se tornara escuro.
Nossos olhares não se desgrudavam.
Ele queria muitíssimo a minha resposta, então daria algo para se aquietar.
— Não penso em me casar novamente, nem com o xerife ou qualquer outro homem.
Enfatizei o "qualquer" assim não haveria dúvidas entre nós, estabelecendo uma barreira plausível.
— Está bem claro para o senhor?
Expressei visivelmente o meu amargo.
— Claro como a... água da chuva...
Assim que acabou de proferir, do nada fomos envolvidos por ela, regando fortemente os nossos corpos distantes. Rindo, surpresa, olhei para cima, tocando o abundante liquido, despejado nas minhas mãos, escorrendo entre os meus dedos.
Fascinada e feliz, pulei saltitando alegremente nas poças que rapidamente se formaram nos meus pés, passando as mãos nos meus cabelos molhados afoitamente, sentindo a resplandecente gratidão de... Mirei Moisés ali parado, com o seu olhar amistoso e amigo.
Me aproximei gratificada por tê-lo junto a mim, acabando a distância entre nós, no meio da chuva, molhados, nossas roupas ensopadas.
Ele olhou os meus lábios sorridentes, encantado.
Maravilhada, pelo calor do momento, sem pensar, permitindo-me ultrapassar aquilo que almejava embarreirar, no impulso eu o abracei fortemente.
Imediatamente seus braços fortes me envolveram, entrelaçando nossos corpos molhados, sentindo além do tecido encharcado, ouvindo sua voz terna murmurar algo inaudível. Embalada, apertada naquele homem, sentindo sua respiração ofegante em meu pescoço... tremi.
Continua...