Capítulo 3

1103 Words
Emilly Tonson — Quem é você e o que faz no cemitério da minha família? Seu semblante suave permaneceu. — Desculpe-me os modos, sou Moisés Whetson ao seu devido dispor. Ele se aproximou cautelosamente, parou bem na minha frente e estendeu a mão, onde puder notar que era calejada, além de estar visivelmente suada e um pouco suja. Assenti aceitando o seu cumprimento. Seu sorriso se fez no seu rosto simpático. Assim que afastamos as mãos ele pegou um pano do seu bolso direito, me entregou, mas eu não aceitei. — Não precisa se incomodar caro Senhor, sou do campo, não tenho esses tipos de frescuras. Suor é suor e sujeira é sujeira, apenas isso. Ele usou o pano na sua testa e nas suas mãos. — Peço perdão novamente, porém não invadi suas terras, vim primeiramente pela entrada da fazenda, conversei com duas mulheres. Suas empregadas, eu presumo, elas duas me disseram onde encontrá-la. O olhei por uns segundos. Moisés guardou o pano no mesmo lugar que havia tirado, em seguida alisou o embrulho de lençol amarrado em seu corpo com muito carinho, achei estranho esse apego. — Compreendo. Então diga-me o que o Senhor quer comigo? — Deu-me um leve sorriso. — Como disse ao chegar aqui, vim no momento certo. Deus me enviou até aqui para ajudá-la na fazenda. Quer que eu me diriga ao seu esposo ou posso pedir emprego a Senhora? Achei graça internamente. Senti meus olhos se apertarem. — Até onde ouvistes quando chegastes aqui? — Somente a parte sobre as suas terras, os animais etc. Moisés Whetson entortou levemente a cabeça me observando. — Por acaso seu Deus não lhe avisou também que sou viúva!? E que meu esposo morreu a um ano atrás?! Se ele te guiou até aqui, porque razão não lhe forneceu todas as informações para se inteirar melhor da minha vida?! Empinei o queixo desafiando-o. Ele ficou perplexo. — Antes de tudo meus pêsames. Suavizei a minha irá por suas palavras soarem solenes e respeitosas. — Obrigada. — Digo. Vendo-o suspirar calmamente. — Porque ele preferiu assim Senhora... — Por favor! Nada de senhora pra lá ou pra cá, chama-me de Dona Tonson, acho o mais correto. — Retruco cruzando os braços, sentindo um ar frio chegar. — Como a Dona Tonson quiser. Estou inteiramente pronto para ser útil na sua fazenda, sei fazer de tudo. Seu sorriso voltou aos seus lábios. — Garanto-lhe que em poucas semanas vai chover, suas terras vão ser regadas pela águas, seus animais vão se recuperar e suas plantações serão tão imensamente fartas que terás que doar... — Fazemos queijos também. Sabia disso? Prever que venderemos tudo para pagar as contas? E que o banco emprestará dinheiro para nós reerguemos novamente a fazenda? — Pergunto sarcasticamente, todavia, Moisés permanecia em transe. — Sim. Pois tudo que me pedires em meu nome eu assim o farei, mas é necessário que me busques. Está disposta a segui-lo Dona Tonson? Estará a disposição para buscá-lo? Questionou-me sério, parecendo me desafiar. — Não estou disposta a nada mais por esse Deus que me tirou os meus bens mais valiosos, principalmente meu... meu. — Meus lábios tremeram, eu não queria chorar. Desviei o rosto. — Quer chorar, chores, se acabe nas lágrimas, mas não culpe Deus por ter tirado as vidas de quem amamos. O olhei intrigada. — Como assim? Ele apenas me enviou um olhar compassivo. — Isso é uma conversa para uma outra hora. — Sim. Tudo bem. — Considerei conformada pensando numa outra coisa. — É um andarilho? Ou tens um lar para onde voltar a noite? — Sou um andarilho quando Deus me diz aonde ir, e não tenho uma casa fixa por motivos pessoais. Declamou cheio de mistério. — Então temos um probleminha. — Qual? — Desde que meu Ulisses e o meu Jonh morreram eu moro sozinha, as empregadas que viu trabalham de dia e a noite voltam para as suas casas. Resumindo não é adequado. — Aponto para ele. — Sendo um homem desconhecido ou não, ficar no mesmo teto que uma viúva, não quero que as minhas vendas ou a fazenda seja prejudicada por isso. — Entendo, mas presuponho que a Dona tem um celeiro? Posso dormir com as galinhas não vejo problema nisso, faz semanas que estamos dormindo com a ajuda de pessoas que encontramos no caminho do trajeto, e sinceramente o único lugar que ofereciam era um celeiro ou um estábulo bem limpinho. Confessou se divertindo com aquilo que dizia. Um homem verdadeiramente humilde. — Sabe, o Senhor é cheio de mistérios. Revelei, sentindo uma certa incompreendida ligação com ele. — Por qual razão diz isso? Na verdade quando me conhecer melhor verás que sou bastante transparente. — A é? — Ponho a mão na cintura, vendo seu olhar divertido. — Por que fala de você no plural e não no singular? Seria mais o correto. Ou isso se dá ao fato de ser referir a Deus como se ele precisasse dormir normalmente como um humano? Moisés dá uma imensa gargalhada. Tanto que quase me contagiou. — Que foi? Contei alguma piada? — Não Dona Tonson. — Disse ele, se recuperando das risadas. — Não é isso. Diz apertando o embrulho. Meus olhos pousaram ali. — O quê tens ai? Posso saber? — Pode. — Seu tom saiu mais amoroso, intenso. — É o meu bem mais valioso. Meu conforto para os momentos de tristeza e tribulação. — Já sei, é a sua Bíblia, está no centro das suas roupas. Acertei? Um homem que fala como o Senhor deve carregá-la em todos os cantos que vai. — Eu a carrego sempre junto comigo, todavia, não é somente ela o que esta enrolado nesse lençol, é também a minha outra vida... quer vê-lo? — Sim. — Falo apressadamente, curiosa. Moisés soltou o graveto no gramado, pegou naquele embrulho com tanto carinho que me emocionou, e dali de dentro retirou... um bebê! — Oh! Céus! Rindo e chorosa aproximei-me deles já com os meus braços abertos. Implorando internamente que deixasse segurá-lo. Lembrando que ainda éramos dois estranhos me contive. Abaixei os braços temerosa, olhando o menino dormindo graciosamente nos braços de Moisés Whetson. Senti as lágrimas caírem molhando o meu rosto, fiquei emotiva, fazia tempo que eu não via um bebezinho, no entanto esse era especial. — Seu filho? — Com toda a certeza. — Sua voz soou alegremente. — Desculpe, estou nervosa. — Disse meio trêmula. Às minhas mãos coçaram para pegar essa cria. — Lindo menino. — Quer segurá-lo? Olhei para o rosto que me contemplava. — Sim... por favor... Continua...
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD